Por Felipe Belão Iubel
Eu não tenho nada melhor pra dizer, além da verdade:
"Antes de trazer as palavras de volta, os mesmo transeuntes efêmeros e inconstantes passaram pela casa. Foram sozinhos em busca da paz que a realidade não traz. Foram e voltaram em silêncio. A porta não rangeu, pois no imaginário do imaginário, na fantasia da fantasia, tudo é mais simples. Mais silêncio e mais melancolia. Solidão. Intensidade. Fuga. Aliás, a tal fuga era a principal desculpa para que a casa do lago fosse utilizada por ele, sem que ela estivesse por lá também. Fugir de um mundo difícil de compreender e ainda mais complicado de se fazer compreendido. Um planeta de água salgada das lágrimas que escapavam nas noites mais escuras. Porém, não na casa do lago. Mesmo na fantasia da imaginação, o lugar era cheio de silêncio, magia e paz. Paz. Magia. Silêncio..."
Por Flávia Melissa
Ocasionalmente o silêncio era quebrado por um ou outro suspiro mais profundo, pois a casa era viva e sonhava. E quando ela sonhava, as imagens confusas e borradas mostravam os sonhos que eles tinham; primeiro ela, depois ele, os sonhos se misturando já que a casa era parte viva da imaginação dos dois. Um espaço-brecha no tempo e no espaço, contraditória intersecção da fantasia de ambos, que se misturavam e se transformavam em unidade, naquela casa.
A casa se sentia só, as plantas sentiam frio e a ausência daquele cheiro de café a atormentava; ela desejava ser preenchida de novo, de que vale uma casa se ninguém a habita?
Seus sonhos mostravam cenas difusas de borboletas coloridas voando, insetos rodopiantes no ar em busca de luz, um caminho sinuoso ladeado de pedrinhas coloridas, e ela, sempre ela, com seus cabelos dourados agitados pela brisa que brotava do lago e se espalhava pelo vale. Logo em seguida as cenas mudavam, imagens dela sentada em uma sala muito clara, sozinha, bebendo de um café que não tinha gosto e nem cheiro. Olhando pela janela, fitando o nada, o olhar perdido em uma selva feita de pedra. O cigarro queimando no cinzeiro, folhas de papel amassadas jogadas pelo chão, num branco-nuvem que aguardava pelo amarelar.
Em seguida vinha a imagem de um ele atormentado, tentando se encontrar num mundo brutal e sem aconchego. Seus pensamentos o entorpeciam e ele tinha vontade de voltar para casa, sem saber, entretanto, onde é que ficava esse lugar. Um lugar no qual se sentisse feliz de ser quem era, no qual não precisaria temer seus próprios pensamentos. No qual não precisava ter, bastava ser.
Em uma noite de outono, a casa dormia um sonho intranqüilo. Sonhos dela olhando para o lago, borboletas coloridas enroscadas no cabelo, enquanto ele ligava o velho gramofone que tocaria, em breve, a música que era de seus sonhos em comum. A música começava a tocar, e de repente um vento forte soprava, forte demais para que ela continuasse a admirara névoa que surgia do lago, forte demais para que ele pudesse ficar dentro da casa sem que todos os papéis amarelados voassem por todo o canto.
A casa do lago acordou do sonho, poesia que se tornou pesadelo e aflição. Sonolenta e confusa, identificou dois pontos luminosos, brilhando na parede, bem ali, onde deveria estar a janela.
Com esforço fixou o olhar, e percebeu que os dois pontos luminosos eram, na verdade, dois olhos. Dois olhos de um gato, que não se sabe como ali havia entrado e se sentado na janela, fitando-a enquanto dormia, guardando seu sono.
E de repente, naquela noite de outono, a casa se sentiu tranqüila; as plantas não mais sentiram frio, a despeito do vento forte e ruidoso que soprava lá fora. A lareira se acendeu como por mágica, aquecendo o ambiente. Saindo pela chaminé, uma fumaça suave e brilhante atraiu a atenção dos insetos.
O vento parou, e o que antes era angústia e incerteza se transformou em silêncio. Magia e paz.
A casa do lago estava viva novamente.
Um comentário:
Ai...ai!!!!
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