quinta-feira, maio 31, 2007

Ella escreve, ele desenha…

Por Ella Spotlessmind
(to my dear friend with benefits)


Ele desenha, ela escreve...
E é por isso que a vida é risonha quando se falam.
Cada palavra soa para ele como um painel de traços finos e cores vivas, enquanto para ela, cada traço é um novo parágrafo de uma história boa de contar.

A cada nova frase ele risca mais um detalhe do grande retrato que vem sendo pintado, cuidadosamente, nas cores que ela imagina. A cada pincelada ela escreve mais um pequeno conto, transformando tinta em romances, princesas, amores e jardins secretos.

Ele descreve facetas escusas, sombras e reflexos que ninguém percebe. Ela enxerga seres abissais em florestas encantadas, e uma batalha de titãs pelo tesouro escondido do templo.

Ele escolhe as fontes, ela a concordância. Ele cria tons, ela hipérboles. Ele padrões, ela sintaxe. E assim misturam imagem e sonhos. Figuras e lendas. Cores e contos.

Com frases certeiras ela camufla as entrelinhas que escapam de um desejo ou outro, e ao percecebê-las, ele as escancara em cores fortes fosforecentes.
Com o traço preciso ele camufla o vermelho que escapa de um desejo ou outro, e, ao recebê-lo, ela os expõe em pensamentos que escorrem pelos dedos tocando o papel.

Para ele, tudo não passa de um simples desenho.
Para ela, frases com eternas reticências…

photo, etc by Mgmyself

Ella Spotlessmind é esquizofrênica e colaboradora deste blog com textos eventuais.
Ella também nos impõe sua loucura em outras paragens: Terceira Porta à Direita

terça-feira, maio 29, 2007

I write shit.


Não sei se estou deprimida ou feliz. Eu tinha como regra de sobrevivência para o meu blog, não ler blogs alheios. Era dura no cumprimento desta regra. Muito dura mesmo.
Cheguei a escrever sobre isso uma vez no TPM, declarando aos sete ventos que "Não! eu não leio blog alheio."
Mas sabe como é, o tempo passa, você vai amolecendo. Começa a não achar justo que o link para o seu blog esteja em tantos outros sem você dar um retorno. Amigos blogueiros vem comentar e você fica sem jeito de nem saber sobre o que ele escreve, e tal. Então eu amoleci. Amarelei. E saí pelo mundo lendo a tudo e a todos.
Confesso que descobri o prazer disso. Muitas vezes sou inspirada por textos alheios. Muitas vezes leio e fico quietinha, maravilhada com as palavras que encontrei. Outras vezes me rasgo de tédio! Me revoltam os blogs cheios de musiquinhas bregas e coisinhas piscando. Me causam arrepios, engulhos, náuseas, aqueles cheios de poesias e textos dos outros, em que o único trabalho do blogueiro foi teclar "control+C control+V", e tudo o que eu quero teclar quando encontro um desses é "alt F4" e correr!

Mas depois de muitas visitas a blogs, comecei a encontrar aqueles a quem realmente chamamos de "blogueiros". Os grandes. Os que são patrocinados, cheios de anúncios, já foram no Jô, ganharam Ibest, ostentam um web counter de mais de 6 dígitos.
Wow!...Inveja danada! Ou não. Ou não porque eles são sérios. Eles lêm trinta e oito jornais todos os dias e correm para falar do que acontece no mundo, no país, falam de deputados, de corrupção, jogam tomates na cara da câmara e do senado, e dá-lhe foto de homem feio com gravata ruim! E dá-lhe realidade atirada contra a minha pobre facezinha tratada com D-mae e filtro solar caríssimo.
Pera aí. Eu acordo todos os dias e a primeira coisa que faço é ler o jornal enquanto tomo café e faço carinho nos gatos com os pés e tudo aquilo que eu já contei. Neste momento, a realidade já me atingiu em cheio. Assim que fecho o jornal, ligo para a minha mãe, pra saber como eles estão e lá vem mais realidade na face. Eu ainda dou a outra face: ligo para a minha sogra, veja só. Depois da realidade nua e crua antes das 9:30 da manhã, me diz: alguém precisa mesmo que eu fale do Renan Calheiros? Será que já não repetem o nome dele nos 800 jornais televisivos diários e suas reprises na Globonews e Bandnews? Eu ainda preciso falar do Bush, e da mentirama que o envolve, e a desgraceira nos campos de refugiados palestinos, do Iraq, da fome na áfrica, das navalhas e furacões e do presidente da Venezuela - o meu o seu o nosso Chapolim Colorado?

Eu aceito. Eu admito. Eu me rendo. Sim sim, I write shit! Eu escrevo sobre "O mundo cor-de-rosinha de Mercedes Gameiro", e daí? Eu escrevo sobre amores impossíveis e borboletas no estômago. Eu escrevo sobre lembranças da infância, sobre amigos queridos, sobre a minha vida que não é nada na ordem geral do universo, sobre desejos e vontades, sensações de euforia, tristezas profundas... e tudo o que gira em torno no meu próprio umbigo que jamais viu a cor de um piercing.
Não tenho patrocinadores, em compensação você nunca vai ter um pop-up abrindo na sua telinha.
Nunca fui no Jô, em compensação ainda respondo aos comentários e e-mails que recebo.
Não fiquei famosa, em compensação tenho um prazer imenso de entrar aqui, todos os dias, e dividir com esses pinguinhos no google map o escapismo e esquizofrenia nossos de cada dia.

Sim sim...eu escrevo bobagem...mas e daí?

segunda-feira, maio 28, 2007

Uma placa de proibido na porta.

Hoje eu fiquei pensando…
(Isso, como fato isolado, já é preocupante).
Fiquei pensando em como o amor acontece. E como o amor errado acontece. E se existe amor errado. Como as pessoas conseguem mandar em seus corações? Elas mandam mesmo, ou é só o que elas contam por aí para não ficar feio?
Se elas vivessem numa cidade bem pequena e confessassem uma vez por semana, será que elas contariam para o padre tudo TUDO o que sentem?

Um amigo me disse que as mulheres têm medo dele. Entrei no Orkut dele e avisei por msn: “Não…elas têm medo da sua mulher.”
Ele tem no orkut um depoimento maravilhoso escrito pela mulher, que não só avisa a todas que ele é o máximo, mas também avisa que ELA é o máximo. Ela praticamente foi lá e fez xixi nos cantinhos, como os mamíferos machos fazem para demarcar o território. E pelo que ele diz, acho que deu certo.
Mas aí me pergunto: e se não houvesse essa placa de proibido na porta? Ele não se apaixona por ninguém porque não se apaixona, ou porque ninguém ousa tentar despertá-lo do conforto de seu relacionamento com a moça do xixi nos cantinhos?

Como seria? Será que ele teria tido algum diálogo tórrido por msn? Será que ele teria saído para conhecer alguém para ter um rosto, um cheiro, uma voz, alguma coisa para lembrar fora palavras e fotos? Não sei. Ele também não sabe. Na verdade ninguém sabe se consegue fazer a razão falar mais alto na hora que o corpo inteiro resolve se apaixonar. Há pouquíssimo lugar para atividade cerebral quando a hormonal está gritando.

E de onde vem a desgraça da paixão irracional? Não venha me dizer que a pessoa tem que estar querendo, estar predisposta, ser sacana, mal caráter, etc etc. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O fato é que basta ser humano para um dia ser balançado – você e tudo o que você pensa, quer, deseja, acredita – por uma paixonite aguda irremediável. Mesmo que num surto de lucidez você consiga dizer “NÃO!” , ela pode acontecer. Acontecer e acabar. Mas pode. Algumas pessoas adoram me dizer que só acontece com quem está aberto a isso, mas eu tenho amigos que estão abertos há 300 anos e nunca sentiram isso. Tenho outros, acima de qualquer suspeita, que já me chamaram num canto para dizer: “Ai. Ferrou! Socorro!”

Alguns cientistas dizem que a paixão é um fenômeno químico. Na verdade uma disfunção química. Mas toda atração não é? Nós temos um desejo incontrolável de acordar e dormir ao lado da pessoa que amamos, e nos casamos até, para ter certeza de ficar ali, naquele calorzinho delicioso, para o resto de nossos dias. E isso se dá por uma cegueira momentânea, que só pode ser uma disfunção química. Uma deliciosa disfunção química que vem sendo responsável pela preservação da nossa espécie pelo decorrer dos séculos. O problema é que não está escrito em nenhum manual que isso só pode acontecer uma vez, e depois é errado ou pecado. Quer dizer…está, mas o manual não garante que só teremos uma disfunção dessas na nossa vida adulta.

Ok. E onde eu quero chegar com tudo isso? Nem quero. Nem sei. Só tenho muita pena. Muita pena das pessoas que pensam que alguém acredita que nunca, nunquinha, nunca mesmo, elas olharam para o lado e pensaram: "ai ai, como eu queria ficar grudado ali para sempre". Ou daquelas que acham que estão pecando, traindo, sendo horríveis. Gente…é só uma disfunçãozinha rápida. Já passa... se você tiver uma placa de proibido muito bem escrita por uma pessoa maravilhosa, pregada bem ali na porta. Senão…ai ai ai!


quarta-feira, maio 23, 2007

15 anos depois... e quem há de ouvir?

Se eu fosse um daqueles adultos, morreria de vergonha tanto naquele momento, quanto hoje, por não ter feito nada.

E eu pergunto: e nós? Estamos fazendo o que?

ECO 1992


domingo, maio 20, 2007

Tão normal...

Se alguma vez passou pela sua cabeça que, na minha casa, ao menos os animais são normais, aqui vai a prova de que você estava redondamente enganado!



Mini e Madona num abraço de amigas.

quarta-feira, maio 16, 2007

Crescer só por fora

gêmeas no cabo keneddy - 2005 - by myself
Meus pés nunca são muito limpos porque eu ando descalça - gosto de acordar e sentir a grama gelada nos pés.
Gosto de tomar café da manhã devagar. Pego fruta com a mão, lambo o dedo sujo de requeijão, lambo a gota que escorre pela xícara de café, tudo isso fazendo carinho nos gatos com o pé debaixo da mesa e o lendo jornal que fica na cadeira ao lado.
Depois escovo os dentes descalça e meio dançando e com tanto sono que mal abro os olhos. Olho os dentes no espelho como a gente faz quando é criança. Lambo pasta de dente. Uso enxaguante bucal, mas detesto, então eu roubo (de mim mesma ).Toda vez eu roubo. Não fico com aquele troço ruim dentro da boca o tempo que deveria...mas finjo que fico e to linda.
Vou para a minha mesa, de camisola. Só paro de conferir meus e-mails, meus blogs, e os blogs dos meus amigos, quando minha gata escala as minhas pernas, arranhando tudo, pedindo carinho. Eu paro tudo, todas as vezes que ela faz isso. Então eu falo com ela como se eu fosse criança e ela fosse uma boneca. Falo fino. Falo como se ela fosse um nenem. Eu, a mamãe de 10 anos de todos os gatos.
Depois eu dou risada lendo as coisas que eu gosto. Escrevo alguns e-mails bobos e outros eu não respondo. Deleto coisas sem abrir porque não vou ler corrente nem ver slideshow de power point - a vida é curta demais para perder com coisas burras.
Neste ponto, já estou atrasada faz tempo. Corro para o banho, canto no chuveiro, fico pronta pra treinar. Treino reclamando e rindo muito. Uma hora e pouco fazendo força, contando histórias e rindo um monte. Faço manha como se fosse criança. Reclamo de fazer ginástica de soldado e digo que sou menina...meninas não gostam disso. E rio mais.
Almoço sozinha quase sempre. Quase todos dias. E meu almoço é verde. Verde e azedo. Almoço alface temperada com limão, azeite e sal. Muito azeda é como eu gosto. Devoro todo o potão de salada como se fosse o manjar dos deuses e depois olho para ver se alguém está olhando. Nunca tem ninguém, então eu pego a saladeira e viro, bebendo o tempero escondido. Escondido de quem? Escondido de mim. Se eu - mais velha - vejo isso, ai ai ai. Se ninguém aparece eu ainda passo o dedo no fundo do prato para pegar uns pedacinhos de alface que ficaram, esfrego bem eles no tempero e lambo o dedo. Ai ai...adoro.
Jogo bubble trouble. Estourando bolhinhas coloridas eu penso na vida, crio histórias e corro para escrever. Às vezes não tenho paciência. Meus olhos se embaralham e é hora de jogar pirâmide. Dama e áz igual a treze, seis e sete, nove e quatro, oito e cinco, três e dez, quatro e nove, valete e dois. Ai, maldito valete. É sempre ele que empaca o jogo. Se não é ele é o dois, que não deixa de ser culpa do valete. Me irrito com o valete e escrevo mais uma cena.

Às vezes choro quando escrevo. Às vezes rio tanto, que tenho medo de publicar e ninguém achar graça...às vezes fico chocada com os comentários de um texto bobo. Acho que escrever é coisa do diabo! Atinge as pessoas de uma forma incrível. O que elas pensariam se imaginassem que eu escrevo descalça, com os dedos sujos de limão, com um gato no colo e de camisola? As pessoas que me levam a sério não podem saber que eu dirijo cantanto e bebo o tempero da salada no pote. As pessoas que se emocionam comigo não podem saber que eu tenho Orkut fake pra infernizar as comunidades e as pessoas que eu gosto. Se elas sabem que um personagem meu já despertou paixões avassaladoras e teve que morrer pra não me colocar em encrenca, vão pensar: "Mas que idiota! Parece que não cresceu..."

Parece. É verdade. Parece que eu não cresci.
Mas eu olho para as minhas mãos e acho que elas ainda têm o gosto da pipoca que eu lambi quando tinha 10 anos.
Eu olho para os meus pés e acho que eles ainda sabem gostar do toque da grama gelada de manhã.
Eu olho meus olhos no espelho, e mesmo com essas rugas e pés-de-galinha persistentes em volta deles, ainda vejo o mesmo brilho que tinham aos 14, quando eu tinha uma idéia genial para conquistar um menino do clube, fazer uma brincadeira, fazer um desenho engraçado ou escrever uma história.
Eu vejo meu cabelo quando o vento bate, e ainda vejo a menina que andava pela Comendador Araújo até a Aliança Francesa sentindo o vento encanado que só essa rua tem. E que parava na esquina - onde o vento enlouquecia - rindo dos cabelos para cima, rindo das saias das senhoras.
Eu olho para dentro de mim e vejo a mesma pessoa, ouço a mesma voz, sinto as mesmas vontades. Mesmo adulta, ainda rio da vida e não levo muito a sério o que penso. Exatamente como sempre...só levo a sério o que sinto.

quarta-feira, maio 09, 2007

Frio

foto by mg - ny/2005
O inverno veio quietinho e quase fez a gente esquecer que viria.
Estava bom daquele jeito... Ou fui eu que perdi o jeito?
Quando é assim, no começo do frio, os dias ainda são cinzentos. Parecem tristes. Parecem solitários. Não que sejam, mas é do que eu tenho vontade.
Em dias assim meu corpo permanece na temperatura da cama e acho que meu cérebro segue o mesmo padrão. O dia passa e eu estou sonolenta como na hora que acordei. Não importa se eu fiz ginástica. Não importa se lavei o cabelo e senti a cabeça gelada quando desliguei o secador.
A casa está mais fechada. Até o gatos estão mais quietos. O cheiro do café traz com ele um tipo de saudade. O céu cinza traz melancolia. É como se eu tivesse chorado. Como se eu precisasse sonhar.
É em dia frio que a gente se apaixona. É em dia frio que as mãos são mais aconchegantes. É em dia frio que um ventinho quente na nuca fala mais alto do que qualquer canção de amor.
Tem cheiro de adolescência. Tem cheiro de frio na barriga. Cheiro da casa dos outros. Cheiro de tardes estranhas , quando novos amigos preenchem espaços mas na verdade não "pertencem". Meus amigos de inverno foram sempre passageiros. Minhas paixões de inverno se perderam quando o sol chegou mais forte.
Em dias assim, sinto vontade de não me mexer. Está ficando escuro mas não vou acender a luz. Está ficando frio mas não vou sair daqui. Está acabando o dia e eu torço para que seja assim...porque nestes dias eu sinto saudade. E dói.

quinta-feira, maio 03, 2007

A Esperança.

Well...hoje me dei conta de quem pode realmente influenciar a vida de uma criança...
Lógico, seus pais podem... Seus irmãos... programas de TV, apresentadores, seriados... Muita gente pode. Mas quem realmente vive com as crianças? Quem tem uma influência invisível, e às vezes nociva? Quem substitui a mãe? Quem está com ela nas refeições, no banho e no caminho para a escola?
Ha! Isso mesmo: a empregada!
Então, somos todos tão exigentes: meu filho não pode isso, não pode aquilo, não fale palavrão na frente da criança, precisa de boas escolas, seus amigos serão escolhidos a dedo... E por falar em dedo, quem limpa o último dente com o dedo indicador e depois olha e põe aquele filé de volta na boca? Quem limpa o nariz no pano de prato? Quem coça a perna com o pé e lava louça com o palito na boca? Ela! Aquela!
Aquela que passa a maior parte do dia com seus filhos. Aquela que cozinha para eles, chama para o banho, conversa durante algumas refeições, ajuda a escolher a roupa. Genial! Somos mesmo super exigentes!
Demoramos muito tempo para convidar um amigo para entrar na nossa casa. Mesmo assim, ele ainda demora mais para poder entrar no nosso quarto. Talvez nem nunca entre! Pedimos uma parafernália de documentos e referências para contratar um assistente. Mas não a empregada! Essa não!
Essa, a gente liga pra agência, ela aparece em casa, conversa, combina salário, a agência até tenta que você veja uns três papéis, mas a vida sem ela é tão terrível que se a cara for mais ou menos, opa! É minha! Ou pior... a empregada da amiga da vizinha conhece uma moça "limpinha e de confiança" e você nem quer saber o nome da criança. Começa amanhã às oito!
E lá vai aquela pessoa sem passado ou família habitar a sua casa, lavar as suas calcinhas, fazer a sua comida, limpar o seu banheiro. E você acha lindo! No dia seguinte, você sai para trabalhar, deixa um bilhete explicando os horários da casa e o que é para fazer para o almoço, e ah...como a vida é melhor assim!
Ela vai ser a pessoa que pronuncia mais vocábulos nos ouvidos do seu filho de três anos. Com ela, ele vai aprender a conjugar mais verbos do que com você:
. eu vou ir
. nós fumo
. não cabeu
. nós punhémo
. eu trúce
. a gente vamos

Com ela, ele vai aprimorar o gosto musical: Sertanejo, pagode, muito Daniel, Grupo Molejo. E vai aprender a dançar funk carioca e querer ser dançarina do Gugu. Bom demais! Sem falar na programação de TV. Não! Não aquela que você determinou. A outra! A de quando você vai pro trabalho. Adoro!

Eu sou uma sobrevivente. Ou a prova de que esta influência não é tão terrível, ou pelo menos não dura pra sempre. Minha experiência com empregadas na infância vai além do imaginável.
Não posso deixar de citar a Esperança.
Esperança era uma alegria! Negra, negra, azul de tão negra. Uma vasta dentadura branca que não se sabe se era própria ou comprada. Trabalhava na casa da minha avó paterna, onde eu vivi um tempo depois dos acidentes financeiros da família. Eu chegava da escola e me grudava no quarto da Esperança - melhor programação para uma menina de 8 anos naquele apartamento na Visconde de Pirajá. Lá eu peguei gosto pela foto-novela e pela foto de galã na porta do guarda-roupa. Chique demais! Lá eu desenvolvi um requintadíssimo gosto por esmaltes de unha, cílios postiços e perucas. Sim, Esperança tinha várias perucas! E eu morria de inveja. Bonito mesmo eram os óculos escuros da Esperança. Ela achou na rua. Era francês, lindo demais mesmo, mas tinha grau - muito grau - e ela usava mesmo assim. De peruca lisa, óculos e calça branca bem justa, lá ia Esperança pela a rua, sem enxergar nadinha...feliz da vida!
Mas o que eu mais achava lindo, era quando eu saía com ela no domingo, em Petrópolis. Ela se arrumava toda, colocava o rádio de pilha dentro da bolsa e me levava para a praça, onde ela ia encontrar o namorado militar - reco mesmo! - Me dava uma nota de "um cruzeiro real", me mandava comprar um picolé na carrocinha.
E ee radinho ligado na bolsa, toda rebolante, Esperança namorava encostada no muro do quartel...e eu com ela!
Isso é fundamental para a formação de uma mulher! Sem dúvida!

Ai ai...adoro me lembrar dessas coisas! Chato demais não poder mais ser brega.
Alguém quer ir comigo pra praça domingo? Tem um radinho?