terça-feira, dezembro 18, 2007

Grande mosaico de mim


And so this is Christmas…
Época em que eu entro em conflito comigo mesma. Fico dividida entre querer ser criança e só esperar – esperar papai noel, esperar a chegada dos primos, esperar a ceia, esperar os presentes – e ser mãe de todos.
Ano passado a mãe de todos estava exausta e nem quis saber de Natal.
Mas no final das contas, ser mãe de todos é lindo.

Eu sempre gostei demais de Natal, mesmo tendo passado, como todo mundo, por aquela fase adolescente besta de dizer que Natal é triste. Triste nada! Natal é uma delícia. Ele só é triste quando você ainda é novo demais e acha que família é um saco, que ficar trocando presentes não faz sentido – cheio de idéias revolucionárias “super novas” anti-capitalismo - , que a ceia podia ser mais cedo porque você está com fome, e que seria muito mais legal ir pra balada com seus amigos do que ficar ali com um monte de gente que não tem nada em comum com você.
Mas aí você cresce…aí você envelhece…aí todo momento que você pode dividir com a família vale ouro e, meu deus!, como essas pessoas têm coisas em comum com você! É bom ver seus pais felizes por ter todos os filhos outra vez em volta da mesa. É bom lembrar histórias da infância e dar risada. É bom trocar presentes lembrando de como era antigamente quando se era feliz com tão pouco…ou quando sua avó ainda era viva e fazia baba-de-moça para a ceia.
A avó dos meus filhos faz fios de ovos. E não há nada como natal com fios de ovos sobrando para que se possa comer puro, assim, enrolado no garfo, feito macarrão! Não quero nem pensar como vai ser quando houver menos amarelo na mesa, provavelmente neste dia também haverá menos sorrisos.

Um Natal com “menos” coisas marcantes seria mais ou menos assim:
Sem minha mãe: menos amarelo de fios de ovos, menos porto-seguro, menos perfume bom.
Sem meu pai: menos conversa, menos tranquilidade, menos cumplicidade, menos alegria.
Sem meu irmão: menos gargalhadas altas, menos abraços apertados e menos lágrimas de emoção.
Sem minha irmã: menos conversas altas, menos passos fortes pela casa, menos lágrimas de emoção também, é claro.
Sem meu cunhado: menos fotos, menos piadas de última hora, menos olhares com risadas.
Sem meu marido: menos risadas sem fim, menos confusão na hora dos presentes, menos comentários hilários, menos inner jokes repetidas.
Sem meus sobrinhos: menos alegria, menos alegria, menos alegria.
Sem meus filhos: menos abraços, menos felicidade, menos brilho nos meus olhos.
A pior parte é que meus Natais são, quase sempre, sem minha irmã mais velha e sua família inteira que é o máximo. Logo, é sempre sem grande parte de mim.

Eu já disse uma vez que depois que a gente cresce a gente muda os óculos.
Se na adolescência a família era um saco e Natal também, depois tornam-se imprescindíveis. Não pode faltar uma única peça. Todas aquelas pessoas que antes habitavam seu mundo e conturbavam seus planos, são agora parte do grande mosaico que faz de você uma pessoa inteira.
Na confusão de uma noite de Natal, com os olhos meio nublados de pequenas luzes e enfeitezinhos vermelhos, eu vejo cada uma dessas peças desfilando em minha frente, e elas ajudam a compor um quadro muito muito claro de quem eu sou. Às vezes paro na porta e fico observando essas almas que andam para lá e para cá, e falam alto, e comem, e bebem, e têm o vício incorrigível de lembrar histórias de natais passados…e eu sorrio ali parada. Não é a árvore ou a comida, os presentes ou a champanhe que fazem o meu Natal ser Natal. São os pedaços de mim.
Sem eles eu sou bem pouco. Sem eles eu não tenho memória, pois minha história não tem testemunhas para existir. Sem eles eu seria vazia, pois neles nasce meu conhecimento, minha consciência e meus valores. Sem eles não há motivos, nem alegrias, nem “porquês”. Sem eles muito pouco valeria a pena.

Assim eu queria que fosse para sempre. Eu rezo para que meus filhos cresçam unidos, e minha nora e genro aprendam a nos amar, e que seus filhos sejam amorosos, e seus amigos sejam meus amigos, para que nunca nunca nunca eu precise ver um Natal com poucas vozes, pouca música e poucas lágrimas de emoção. Ser feliz é compartilhar. É ter os olhos nublados de pequenas luzes e enfeitezinhos coloridos, e o coração cheio de pessoas para amar.

Meu Natal começa amanhã.
Que todos vocês tenham dias cheios de vozes, música e lágrimas de emoção.
Feliz Natal.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Confesso a minha intolerância

As coisas em que acredito ferem menos as pessoas do que aquelas nas quais eu não acredito. E este meu “não acreditar” vem de algum lugar escondido dentro de mim. Eu já tentei acreditar com todas as minhas forças, e quanto mais tento, mais meu raciocínio lógico me faz cética e eu caio no pensamento de sempre: será que eu não mereço acreditar?
Depois disso meu lado científico – ou sei lá como devo chamar – grita ainda mais alto, me mostrando que este é um pensamento reflexo da minha formação judaico-cristã, que beira o ridículo…e eu fico sem resposta para ele.
Mas eu me lembro de ser criança e querer acreditar; lembro também de ver meus pais sofrendo e perguntar por que. De pequenos questionamentos infantis, em pequenos questionamentos infantis, fui procurando as respostas e elas nunca foram suficientes. Nunca! Eu nunca consegui descobrir a relação que pode existir entre o big-bang e Deus, entre a evolução e a religião, entre a história e a fé cega. A história então…céus!…essa me fez descrer ainda mais, e a cada incursão minha nessa coisa fascinante que é a história eu encontro mais um furo nos fatos que o mundo insiste em se basear para ter fé em algo maior.
Trabalhando em propaganda eu passei a desacreditar na Igreja de uma vez. Foi entendendo o mecanismo da persuasão que eu entendi a grande lavagem cerebral que as religiões fizeram e fazem em seus fiéis. Seja católica, protestante, evangélica, judaica, muçulmana…tudo me parece um claríssimo tabuleiro de xadrez, e as pessoas meros peões desesperados por algo que as lidere e as impeça de pecar e, conseqüentemente, perecer.

Depois veio a vida…e durante a vida precisei parar muitas e muitas vezes para perguntar como um Deus onipotente e onipresente permitiria as cruzadas em seu nome. E a Inquisição? Como deixaria nascer um Idi Amim, um Sadam Hussein, um Mao, um Stalin, um Costa e Silva, um Médici, um Pinochet, e tantos outros ditadores desequilibrados? Com que critério Deus escolheu os 288.826 mortos e mais de 120.000 desaparecidos da Tsunami em dezembro de 2004? Eles eram todos maus? Eram todos ímpios? Eram todos infiéis? E para matar os pais de uma criança de seis meses? E baseado em que pecados terríveis permitiu que 6 milhões de Judeus, homossexuais, paraplégicos, míopes, e outra pessoas com “defeitos” fossem mortas em nome de uma raça pura, durante o Nazismo; e pior!, permitiu que Hitler crescesse? E por que permite que a América invada o Iraque, Israel e Palestina permaneçam em guerra por 50 anos, e Católicos e Protestantes na Irlanda até outro dia, etc etc etc….Quem é esse Deus?

E mais do que isso, por que as pessoas precisam tanto acreditar em algo mais forte do que elas, que possa puní-las se agirem errado e dar-lhes um lugar no céu se forem bons? Elas não sabem agir certo simplesmente por ser certo? Não sabem que não se pode prejudicar o próximo? Não entendem que para toda ação existe uma reação? Que você recebe o que dá e colhe o que planta? Não dá para simplesmente agir direito porque a gente deita a cabeça no travesseiro e dorme tranqüilo? Não sabem que só a paz de espírito é o verdadeiro paraíso?
Que tipo de animais nós somos?

Hoje assisti pela TV a um culto – sei lá se é um culto – de um pastor….putz...Alzheimer deve ser o nome dele, porque eu esqueci! Bom... o sermão dele era parte de um DVD chamado “Grávidos de Avivamento”, que ele, obviamente, estava vendendo e oferecendo o dinheiro de volta se você comprasse e um milagre não ocorresse na sua vida. Eu olhei todo aquele povo apinhado e tive pena. Muita pena. Tive pena dele por ser podre. Tive pena do povo por ser tão frágil e fraco a ponto de se render àquele discurso medíocre com fanatismo, com histeria, com sei lá que nome se pode dar para tanta indigência mental. E eu pensei: “o que foi feito do espírito do homem? Que desespero pode ter tomado essa gente para que ela espere que aquele baixinho brega que mal fala português (e ainda finge falar aramaico) venha a salvá-la?” E eles gritam, e desmaiam, e pulam feito descontrolados e choram compulsivamente por que estão sendo salvos.
Ai meu deus! Que tipo de animais nós somos?

Eu fui ficando mais velha e perdendo a paciência. Eu tenho respeito pela fé alheia mas não respeito quem tenta doutrinar alguém. Não consigo nem começar a ouvir todos os blablablas que eles têm a dizer. Tenho arrepios quando alguém me diz que encontrou Jesus. Ai! Deus! Me salva de verdade agora! Eu encontrei um Jesus uma vez... mas ele era muito melhor e mais inteligente do que essa coisa que fizeram dele. Ele quis que seu povo entendesse coisas que até hoje ninguém se dignou a ouvir, coisas que foram deturpadas! Então não me venha com essa balela de encontrar Jesus, porque me irrita profundamente, simplesmente porque eu odeio gente burra, e essas pessoas não encontraram Jesus: encontraram um pastor que manipula almas desesperadas a quem elas pagam dizimo. Acredite: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Ele ficaria muito furioso se visse a quantidade de dinheiro que circula nas mãos desses pastores, e do Vaticano, e em tantas outras Igrejas por aí que usam indevidamente o nome de um homem nobre para explorar pessoas. Eu li o que ele fez no templo, revoltado com o comércio. O que ele faria se visse este comércio de almas correndo solto por aí?
E eu me revolto com isso aqui no meu metro quadrado de existência, como me revolto com guerras santas, sejam elas travadas em casa ou em campos de batalha. Guerra Santa é oximoro: são duas palavras com sentidos absurdamente conflitantes!

No decorrer da vida conheci pessoas de boa vontade. Outras nem tanto. As de boa vontade nasceram com a alma limpa e o coração grande. Algumas delas são religiosas, outras nunca entraram numa igreja, e o que há em comum entre elas é a boa fé em nome da boa fé, em nome da vida, em nome de um mundo decente.
Outras vão à missa/culto/célula Domingo/sábado/quinta, rezam, têm um terço na beira da cama, fazem retiro, estudam a Bíblia...e odeiam a própria família. São pessoas incapazes de um gesto que não traga um pagamento de alguma forma. São mal intencionadas, agem como insetos que derrubam sua casa pelos alicerces sem que você perceba. Seus corações são cheios de inveja, soberba, ganância... e sim, lógico, elas precisam de um Deus, de um pastor, de um Pajé, um Xaman, um Rabino, de um alguém a quem confessar, a quem pagar por um lugar no céu no dia do arrebatamento. Precisam demais! Eu as vi com meus próprios olhos, e as reconheço de longe.
(É lógico que existem pessoas de boa vontade em todas as religiões, não resta dúvida, mas não é sobre elas que eu estou falando.)


É verdade. As coisas em que acredito ferem menos do que aquelas em que eu não acredito. Trust me. Se eu fosse pedir alguma coisa a Deus, pediria para ser ignorante.


segunda-feira, dezembro 03, 2007

Mentira!


Hoje eu li no blog do Solda um texto do Karam onde ele dizia o que é mentira. Adorei e resolvi imitar assim, descaradamente mesmo, provavelmente com alterações que levam os dois textos para lados completamente distintos, porque ele é ele e eu sou eu, e eu sou muito mais boba do que ele.
Lá vai:

É mentira que quando eu era pequena eu quebrava tudo. Eu só era estabanada, e quebrava tudo sim! Mas sem a intenção que as pessoas gostavam de narrar ao contar para a minha mãe ou ao fazer um "comentário inocente" na frente de uma criança (eu) que devia ser surda. Isso fez com que eu começasse a esconder as partes das coisas que eu quebrava. Mas é mentira que eu era sonsa: eu só não queria que as pessoas deixassem de gostar de mim.
É mentira que aquelas férias no Rio eu roubei o perfume francês da minha prima. Eu só abri a caixa minúscula do perfume e ele voou, aterrissaando dentro do vaso sanitário e eu nunca mais consegui pegar. Até hoje eu não tinha contado isso para ninguém, mas acho que isso faz parte da história ali de cima.

É mentira que eu namorei a cidade inteira. Só seria verdade se dissessem que eu me apaixonei pela cidade inteira. Aí sim! Porque dos 13 aos 16 eu trocava de paixão uma vez por semana e tive mais amores eternos e doloridos do que toda a história do cinema de hollywood e onde mais alguém tenha feito um filme de amor.
É mentira também que nos áureos tempos eu era incrível e irresistível, porque na história acima mencionada era eu a personagem que vivia com o coração partido.

É mentira que eu aprontei demais. Uma vez ou outra eu fui escondido a uma festa, mas nunca alguém me viu com drogas, me esperou até o amanhecer ou teve que ir me buscar num motel ou na delegacia. Se comparada às mulheres da minha geração, eu era quase uma freira, só que com cara de santa do pau oco.

É mentira que eu sou uma mulher super culta. Eu sou mais Zelig do que culta. Eu sou o Peter Petrelli de Heroes -- que absorve os super-poderes alheios mesmo sem querer. Eu só cresci e amadureci entre pessoas interessantes, inteligentes e de cultura muito superior à média. Assim, com meus super-poderes, eu passei a entender um pouco da especialidade de cada um e sempre tive ouvidos para ouvir e olhos para ver. Depois eu fiz uma média dos "poderes que absorvi" e passei a usar todos em minhas próprias experiências. É mentira também que eu sei o bastante para conviver com reis e plebeus: eu só nasci com a lábia maior do que o universo. Este sim talvez seja o meu super-poder.

É mentira que eu sou capaz de fazer qualquer coisa direito. Eu sou capaz de fazer qualquer coisa superficialmente e minha fome de pesquisa é gigantesca. Em pouquíssimo tempo eu posso saber quase tudo sobre um determinado assunto e, se o caso for sobrevivência, acho só não posso ser engenheira e cirurgiã.

É mentira que eu sou uma fortaleza. A verdade é que sou frágil como todo mundo, só que com essa cara de poderosa. Isso fez com que eu passasse sozinha pelas piores situações da minha vida, já que as pessoas costumam achar que eu prefiro ficar quieta comigo mesma.
Ser forte não me ajudou em momentos tristes e de carência. Parecer forte não me salvou de chorar sozinha no escuro. Parecer poderosa não evitou que eu afundasse com o meu barco sem uma bóia para me agarrar. Ser e parecer forte fez com que algumas pessoas abusassem tremendamente de mim, achando que eu aguentaria melhor do que elas próprias. Em compensação, a máscara de forte me permitiu levantar todas as vezes parecendo ter poucos arranhões.

É mentira que eu sempre assumi meus erros. Eu assumi a consequência deles, o que já é pesado demais, obrigada. Alguns dos meus pecados estão guardados numa caixa com etiqueta escrito: NÃO MEXER. São os meus esqueletos no armário. São os corpos enterrados no meu quintal. E não há cristo que me faça abrir a tal caixinha e olhar para eles de novo. Eu sei que existem, conheço um por um, não me envergonho deles, mas não vejo necessidade de ficar remexendo em coisas que, no mínimo, não cheiram muito bem. São erros, e como erros devem servir para aprender e fim. Eu estudei numa escola que não nos permitia apagar ou rabiscar os erros. Quando uma palavra estava errada, devíamos colocá-la entre parênteses e escrever corretamente em seguida. Assim, os erros não deixariam de existir, mas era possível seguir em frente. Assim eu faço com a vida. Lugar de erro, seja ele lama do passado ou só um acidente de percurso, é entre parênteses. Não vou apagar, mas também não vou viver deles.

É mentira que eu vivi incríveis histórias de amor. Eu só sei conta-las melhor do que a maioria das pessoas, dando a elas a importância que eu gostaria que tivessem tido.
Ok....isso é mentira! Vou colocar entre parênteses.

É mentira que todas as mentiras foram explicadas nesse texto. Existem milhares de mal entedidos a meu respeito, milhões, centenas de milhares! Eu só não estou com vontade agora de abrir o baú dos misunderstandings para esclarecer um por um. Um dia quem sabe...
Mas é mentira!