quinta-feira, setembro 27, 2007

Atire a primeira pedra!


Somos todas loucas.
Você não? Hm...não ainda! Ou é ex-louca. O fato é que toda mulher já surtou um dia, ou está a ponto de, ou vai surtar mais tarde. SURTAR é verbo feminino. Prerrogativa de mulher.
Homem não surta. Quer dizer...surta, mas diferente. Tem ataque de pelanca! Surto de homem inclui gritos, coisas quebradas, soco na cara do opositor, chute em objetos no caminho, cantada de pneu, essas coisas mais patéticas.
Surto de mulher é silencioso. Ta, ok, nem sempre. Antes do silêncio talvez a gente quebre um telefone na parede, atire o celular pela janela, quebre um copo. Mas sozinha, amiga...sem escândalo. Mulher que é mulher surta quando é traída ou acha que foi, ou tá num momento rejeição imaginária, mas não mostra pra ninguém. Você quebra seus copinhos, sua mantegueira do aparelho, aquele pato country que você não sabe porque ainda está enfeitando a estante...mas ninguém vê nem os cacos. E depois da tempestade vem o silêncio. Ah, momento perigoso este!

Surto silencioso inclui flores mandadas para si mesma. Vai querer me convencer que você nunca fez isso? Ha! Me engana que eu gosto...Nunca mandou um buquê de flores imenso com um cartão anônimo escrito pelo moço da floricultura? Du-vi-d-o-dó! Se você quiser mentir eu respeito, mas nós duas sabemos, querida...Assim como sabemos que funcionou. Ele ficou furioso, queria saber quem é o mané, desconfiou de uns dois amigos seus e uns três clientes, queria quebrar o mundo, e você foi pra casa com um sorriso delicioso nos lábios. Sweet revenge...

Surto silencioso inclui festas imaginárias. “O que você vai fazer hoje?” “Tenho uma festa.” Hm...ele fica ali quietinho esperando você convidar e nada...Você ouviu um telefonema estranho marcando um futebol suspeito, e resolveu colocar atrás da orelha dele uma pulga maior do que a que está te mordendo agora. Ele vai pro futebol, você vai para a casa da sua irmã ver a novela. Aff...que horror. Mas não atende o celular. E ainda faz hora! Bom é chegar bem tarde, depois dele! E quando você finalmente atender o celular, já está chegando em casa! “ah...esqueci o celular no carro.”
Você também nunca fez isso. A-hã. Acreditei. E nunca apagou nenhum nome da agenda do celular dele. E nunca vasculhou as mensagens de texto. Não sabe a senha da caixa postal dele, nem a do e-mail. E nunca respondeu o e-mail daquela “amiga fofa” que ele tem, dizendo:
“Oi,
O fulaninho nunca lê os e-mails dele, por isso eu resolvi responder.
Tudo bem com você?
Saudade...”

Claro! Você é uma mulher equilibrada, esqueci. Você jamais mandaria a secretária dele passar para você a ligação quando aquela mocréia que vive dando mole pra ele ligar. “Ele não está. Quer falar com a esposa dele?” Imagina. Quem faria uma coisa dessas?

Surto silencioso pode ser o mais perigoso dos momentos de surto. É nesta hora que você liga compulsivamente para “a mulher dele” e desliga na cara. É nesta hora que você liga para o seu ex para matar a saudade. É nesta hora que você planeja um dramalhão, tipo um sequestro relâmpago... e você tentou ligar para ele milhões de vezes... e está tão chocada que precisa que ele fique ao seu lado. É nessa hora que você compra uma lata de cerveja, joga o líquido fora, e coloca a lata no bolso da porta do carro, do lado do passageiro. “O que? Pensa que só você tem amiguinhas para dar carona? Nada! E os meus caronas bebem!”
Ele sai de casa sem celular, você não faz idéia de onde ele esteve, mas jura de pé junto que uma tal CARLINHA ligou no celular dele! Ele fica nervoso, furioso, não conhece nenhuma Carlinha, mas vira um anjo nas próximas duas semanas para não te irritar.
Confessa que você já se deu presente de aniversário, já se mandou cesta de café da manhã no aniversário de casamento dizendo que era da turma do escritório, já inventou festa, amigo imaginário, um cliente que te irrita porque fica se insinuando, um momento de fragilidade extrema, um cabelo novo inimaginável que faz ele pensar que é influência do cara alternativo que trabalha com você. Vai...pode falar. Todas nós somos loucas. Já nascemos assim.
Eu conheço uma que compra sapatos quando se sente rejeitada. Muitos sapatos. Deixa todos escondidos no porta-malas do carro. Quando usa um e o marido diz: “Wow! Sapato novo?” Ela tem um chilique histérico dizendo que o sapato é velho e isso prova que ele nunca repara nela! Conheço outra que cada vez que o marido faz uma viagem suspeita, sai e compra um jóia. Assim, tipo uma vingança inexplicável. I don’t get it! Mas ela ainda tem a manha de escrever o valor mais baixo no canhoto do cheque, só pra irritar.
Não são só as casadas e mais velhas que surtam, não. Vai dizer que você aí, mais novinha, nunca teve um pití e bloqueou a criatura no MSN e ficou vendo se ele estava online ou não, só para dar uma gelada básica e fazer ele te ligar? Nunca abriu um Orkut fake para testar a fidelidade dele? Ou pior, um Orkut fake masculino para fazer ciúme? Duvido! Duvido! Somos todas loucas! Desde pequenas. Desde que batemos na priminha porque ela tava brincando com o nosso brinquedo. Desde que odiamos aquela menina loira da sexta série porque o Flavinho, o Cauê, o Fernando, sei lá quem, estava conversando com ela. Ha!

Se você nunca teve um surto silencioso com trejeitos de vilã de novela, atire a primeira pedra. E mesmo que você atire, eu não vou acreditar. Eu atiraria também...só pra negar!

segunda-feira, setembro 24, 2007

4.6



O dia chegou com chuva, diferente do que foi há 46 anos, e sem festa, diferente do que foi também quase sempre. Não festa festa. Só festa assim, de barulho e gente festejando.
Pela primeira vez em muito tempo, acordei sozinha. Ninguém na minha cama, ninguém na minha casa. Não não! Isso não quer dizer que eu esteja ou seja sozinha....só uma contingência de momento. Só porque não se faz aniversário numa segunda-feira, catzo! Que dia besta!
Claudio há milhares de kilômetros, Diogo na casa quase dele, Natasha na escola. Pois é...assim são os aniversários das mães. hahahah! Dramalhão! Mentira! Só quando é segunda-feira, este dia besta, catzo!
Então adivinha qual foi a primeira voz que eu ouvi hoje? A do meu pai. Ufa! Já falei longamente uma vez, o quanto é maravilhoso ouvir a voz dele me dando parabéns todos os anos, principalmente quando ninguém acreditava que isso pudesse continuar acontecendo. Se isso não é felicidade, não sei o que é. Mais uma vez, aquela voz forte e sorridente nos meus ouvidos logo cedo. Isto é um presente!
E agora, enquanto eu escrevia, minhas duas empregadas perguntaram se podiam subir para falar comigo e me deram mais um presente e tanto: elas me interromperam para me felicitar e dizer, nestas palavras: "uma patroa como a senhora, ninguém nunca mais vai ter. A senhora tem sido muito mais do que uma mãe para a gente, e a gente veio agradecer, porque não existe ninguém no mundo capaz de fazer tudo o que você faz. A gente não tem nada para dar, mas tem muito para agradecer."
E eu chorei! E ainda estou chorando. Elas não fazem a menor idéia do quanto "me dão" todos os dias com o carinho com que cuidam de mim, da minha família e da minha casa. (Fora a paciência que têm comigo).
Eu, que comecei a escrever querendo brincar sobre fazer 46 anos, agora estou afogada em lágrimas. Ia pedir um botox e um super-lift-alguma-coisa, talvez uma conversa com o Dr. 90210, agora só quero uma caixa de klinex.

Uma vez eu contei para vocês que talvez apareçam amigos estranhos no meu velório: a caixa da padaria, o moço do estacionamento...pois é mesmo...assim que eu sou. Existem essas pessoas na minha vida, que muita gente não dá valor, mas que costumam encher o meu coração de um sentimento muito bom, e me mostram todos os dias que o que existe dentro de mim faz pequenos milagres por aí. E são essas pessoas que fazem pequenos milagres em mim. Pessoas que os outros não conseguem olhar nos olhos, como a sogra, a empregada, o moço da floricultura, a secretária, são as pessoas com quem eu não me importo de perder algum tempo e dar a elas o que elas precisam, que é um pouco de atenção e um olhar dentro dos olhos. Em troca, elas me dão uma força incrível para ser quem eu sou e me dizem, com um sorriso apenas, que aquele não foi um tempo perdido.

Ao fazer 46 anos - o que não é mais 40 e poucos, mas já quase 50 - eu posso dizer que até este momento da minha vida eu sou completa. Tive a sorte de realizar muitos dos meus sonhos. Tive perseverança para terminar trabalhos que eu nem sabia que era capaz de começar. Nunca fui santa, mas nunca fui cruel. Tenho dois filhos incríveis e um marido que me fez ficar e amar e perceber que a vida pode ser tranquila e não precisa ser, para sempre, um turbilhão de acontecimentos para se ser feliz. Tenho uma casa linda, que pode sim ser chamada "home", e muitos outros lugares onde também me sinto em casa. Tenho uma família que vive em paz e soube resolver todas as velha picuínhas para poder se amar para sempre. Consegui ser um tipo de "fator de união da família" e manter todos debaixo do mesmo teto nos Natais e aniversários. Usei todos os meus talentos e todos eles me deram prazer: tenho fotos feitas por mim nas paredes da minha casa, vasos pintados por mim no meu jardim, textos escritos por mim publicados aqui e em outros lugares, pensamentos meus circulando por várias outras cabeças, pessoas que me chamam de "irmã" em vários países e cidades. E quando todos esses corações estão em recesso, eu sou a melhor das companhias para mim mesma. Acho que isso deve ser "ter uma vida plena".
Por isso, e por tantas outras sortes, felicidades, alegrias, pessoas, momentos, amores, etc, etc, etc...eu agradeço!
Um dia disseram que eu sou como a luz da varanda atraindo pessoas, como insetos que gostam de voar ao redor da luz nas noites de verão. Mas eu acho que tive a sorte de viver cercada da luz imensa de todos estes "insetos" que fazem de mim uma pessoa melhor.

Bom dia, flores do meu dia. E obrigada por me fazerem existir.

sexta-feira, setembro 21, 2007

...

A internet está lenta. Chata. E chata estou eu com essa falta de paciência latejante. Existem sinais de revolta bastante claros que piscam em neon verde limão quando eu me olho no espelho. Unhas com esmalte descascado (quem me conhece sabe o que isso quer dizer), cabelo meia boca, depilação pra lá de pavorosa, fios de sobrancelha ajoelhados pedindo pelo amor de deus para serem retirados com urgência… e por aí vai. A visão do inferno.
Para não ver o inferno de frente, eu não me olho no espelho. Mas quando sento de frente para essa página em branco, tudo aparece com mais força. Meu tédio fala muito sobre minha dificuldade com rejeição. Eu deveria estar reescrevendo as partes que precisam mudar no meu roteiro, mas lá no fundo do alma, não conte pra ninguém, eu sei que não consigo escrever porque detesto o fato de quererem mudar o que eu escrevi.
Só de raiva não escrevo nem isso nem nada mais. E não posso nem dizer que estou me esforçando. É mentira de novo. Estou muito além da fase de esperar o disk-vontade. Estou em plena não-querência. No quiero! No quiero! Socorro!
E também não quero conversar com as pessoas. Parece que se eu fizer isso, vou dizer o que penso, e o que penso não é muito bacana neste exato momento. É uma daquelas fases em que as mulheres com mais de 50 começam a tomar remédio para dormir. Eu entendo a razão: elas querem desligar do mundo. Claro. Se eu dormir eu não tenho que fazer nada, se não fizer nada não fracasso. Olha só que simples!
Eu sempre disse que a insanidade é o caminho mais fácil. E não é? Insana eu posso me dopar e dormir. Insana eu posso não lembrar de nada, porque faz parte do pacote. Insana eu não me arrumo, não participo de compromissos familiares ou profissionais, e só aguento o que e quem eu quiser. Olha que fácil!
Pena que eu sou teimosa demais para entrar nessa….
Mas que a vontade hoje é essa é! Juro!
Hm…inferno astral. Pode ser. Meu aniversário é segunda-feira, dia em que isso tudo tem que acabar. Dizem que são 52 dias de inferno. Gente!! Acho que foi mais ou menos isso. 50 e poucos dias de “não fale comigo”, “não me faça perguntas”, “não me peça nada”, “não me force a existir”. E eles passaram com a violência de um furacão. Sim sim, eu consegui viver 50 e poucos dias inexistindo, enquanto o mundoe o tempo voavam á minha volta. Grande vantagem!….

Well …estou aqui para, em público, me comprometer a sair deste limbo onde me enfiei. Quem tiver uma corda, ajude a puxar.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Delírio - O Mago das Palavras

25 Setembro 2003


Terminei de escrever o que seria a introdução de um livro que nunca escrevi. Li e reli, imprimi, li de novo e fui fumar um cigarro na varanda antes de dormir.
Lá fora, sentada na cadeira de balanço, me imaginei sentada no sofá de um talk show falando sobre o meu livro – O Mago das Palavras - recém-lançado, sucesso absoluto de vendas.

Entrevistador: - Me conta uma coisa, aqui só pra nós dois: Quem é o mago das palavras?
Eu respondo: - Bem... Minha terapeuta.

Ent. - Como assim? A Maga das Palavras? É uma mulher? Tua terapeuta é um travesti, ou eu não estou entendendo nada?

Eu: - Não, calma. Quando eu era normal e fazia terapia, minha terapeuta dizia que eu vivia com o Mago das Palavras. Porque eu falava, justificava, teorizava...Mas não executava nada. Embora soubesse convencer a qualquer um, e até a mim mesma de uma verdade nem sempre verdadeira. Por exemplo: eu sempre disse que ia escrever um livro. Ela sempre me cobrou isso, dizendo que me servia muito bem ficar só dizendo que faria...Pois olha só! Ta aqui o livro. Pronto, nas lojas. Já que eu finalmente consegui, nada mais justo que dedicar o livro a ela.

Ent.: - Ta certo...Mas porque será que eu acho que tem mais alguma coisa ai?

Eu: Não sei. Talvez porque você esteja entrando na minha história como eu entrei na história da rainha da Branca de Neve, e como ela própria entrou na história da Branca de Neve! Você pode! Você senta aí e muda a minha historia. Pode ser divertido.

Ent.: (Olhando pra mim desconfiado): - Mercedes...

Eu: Okay. Vou contar. O Mestre das Palavras é um mendigo que eu conheci em Zuma Beach quando eu morava em Los Angeles. Eu ia andar na beira da praia todas as manhãs, depois de levar as crianças para o colégio, em Chatsworth. Meu marido ficava dormindo e eu ia pra praia caminhar. Longe...Dirigia um tempão pelos lugares que eu mais amo em Los Angeles. Malibu Canyon, PCH... Um dia, vi este homem, um homeless, e ele me deu bom dia “Good Morning, beautiful lady.” Eu respondi com um sorriso, porque o tom dele foi lindo. Segui andando. Isso aconteceu vários e vários dias seguidos. Um dia, eu estava alongando no muro da praia – aquele muro que parece feito de areia, cheio de golfinhos em relevo, e o homeless se aproximou. Começou a falar da neblina que cobre Zuma até o final da manhã e disse que isso lembra a idéia que ele tem de paraíso. Que os bombeiros que vêm treinar na praia de manhã deviam ser os anjos, os cães que ficam esperando seus donos nas carrocerias das camionetes dos surfistas (que são sempre brancos ou dourados) são os guardiões das portas do céu.
Assim acontecia toda manhã: “Good morning, beautiful lady”... E conversávamos um pouco. Eu ia embora pra casa e ele se despedia dizendo que estaria ali, mantendo meu paraíso seguro pra outra manhã. E assim foi. Ele contava historias lindas. Mantinha meu paraíso só meu, e quando eu ia embora, me despedia dele dizendo: Até amanhã, Mago das Palavras.
É isso. Este era o meu Mago das Palavras.

Ent.: - Nossa...Que bonito isso. É verdade?
Eu: - Não.
(A Platéia vem abaixo!)
Ent.: Como você pode ser assim?
Eu: - Ai, como é que eu vou te explicar?
Ent.: - Que tal tentar com a verdade?

Eu: - Ok. Três fatos, três pessoas me influenciaram e me deram coragem pra escrever e pra assumir pra mim mesma esta mania de inventar historias que eu tenho.
Uma foi a minha terapeuta, que realmente dizia que o mago das palavras regia o meu mundo. E que disse (a irresponsável) que não interessa a explicação que você tem pra dar...a justificativa, porque isso sai da boca pra fora. E da boca pra fora não interessa. Interessa o que você sabe da situação que você está passando. Isso tem que ser verdade. O que você vai dizer para as pessoas tanto faz.
Outra foi uma conversa do Egberto Gismonti num programa de TV. Ele disse que adora inventar historias sobre ele mesmo. Ele viaja muito e as pessoas em viagens longas têm mania de perguntar de onde você é, o que você faz, e ele nunca conta a verdade. Toda viagem ele inventa um novo personagem e reinventa a própria vida pra contar pra quem pergunta. Eu achei isso o máximo! Me diverti muito ouvindo a historia dele. É loucura? Será? Kind of. Mas uma loucura saudável que não machuca ninguém.

Ent.: - Você falou que eram três. Falta um.

Eu: - Ah claro...O principal. O homem que cochichou no meu ouvido: “Hey! Você pode escrever...Não precisa ter medo!”

Ent.: Quem?
Eu: - Kurt Vonnegut
Ent.: Nossa! Ele é maravilhoso!

Eu: - É. Eu sou apaixonada por ele! Amo a forma como ele escreve. Quando há muitos anos eu li o Matadouro Cinco, fiquei encantada. Ele é completamente louco, escreve sem ordem cronológica, divagando, perdendo o raciocínio, interrompendo e voltando pra historia...Uma delicia. E o pior é que ele te CONTA a historia. Ele é livre!

Ent.: - Esse sim é um mago das palavras.
Eu: - Com certeza!
Ent.: Ta...Mas e aí? Ele cochichou mesmo no teu ouvido?
Eu: Quem?
Ent.: O Kurt Vonnegut

Eu: Ah...Uma longa história! Eu estava em Nova York, logo depois da segunda guerra. Descendo a Madison, acho que indo numa livraria, não me lembro bem. Estava bem tranqüila quando ouvi um barulhão! Um táxi tinha atropelado um homem...

Ent.: Mercedes! Você nem era nascida logo depois da segunda guerra!

Eu: Não? Nossa...É mesmo...

Ent.: Eu não vou encerrar antes de saber uma coisa!
Eu: xii...Lá vem...
Ent.: Mercedes! E o mago das palavras? Quem é essa criatura?
Eu: - Um pai de santo que eu conheci em Berlim.
Ent.: Não!
Eu: Um escultor leproso?
Ent.: Não!
Eu: O amor secreto da minha vida...
Ent.: é?

Eu: Não. O Mago das Palavras é esse dom que você tem, que eu tenho, esse poder de usar as palavras pra encantar, pra fazer rir, pra sonhar, pra dar vida ao mendigo de Zuma, pra apaixonar, pra chorar na frente do espelho...

O entrevistador fica me olhando calado e a platéia aplaude.

Ent.: A Gente volta já!

(Aplausos... muitos aplausos!...).

Ha!

Fragmentos


Blues ao fundo

Ele Pink Floyd, ela Billy Holliday.
Ele Elvis Costelo, ela Nina Simone.
Ele Talking Heads, ela Chet Baker.

Ele frases de efeito,
ela dito e feito.

ºººººººººº
. Tenho uma amiga que recortava estrelas para colar na parede. Ela mesma era uma delas.

. Detesto pobreza de espírito e a definição disso é minha particular. Pode ser que eu ache você um milionário. Pode ser que não. Só eu vou saber.

. Não guardo mágoas. Ao invés disso, prefiro enterrar pessoas. E quando enterro não volto nem para trocar as flores do túmulo.

. Passo a vida distribuindo pérolas a quem precisa. Lá vou eu entregando minhas pérolas a cada um que passa. Começo então a colecionar fotos de pessoas de costas.

. Não gosto de quem não aperta a mão com força. Não gosto de quem dá abraço mole. Não gosto de quem não é capaz de um carinho. Tenho medo de quem não se entrega.

. Mudo de idéia. Dou-me esse direito como libriana que sou. E agora, depois dos 40, vejo que quem tem raiz é árvore. Se eu tenho pés e me movimento, porque não meus pensamentos?

. Amar profundamente é a melhor das verdades passageiras.

. Restos mortais
Por natureza são chamados restos. Ninguém quer ficar com restos. Nem a terra merece. Então, minhas cinzas não devem ser guardadas. Quero que sejam jogadas no Malibu Canyon, sentido sul, na primeira curva onde o Pacífico aparece -- o lugar onde minha cabeça aprendeu a voar mais longe, meus olhos aprenderam a ver o invisível.

. Fadas madrinhas existem e agem de forma maquiavélica. Sim, elas não são boazinhas. Ficam se divertindo em sua invisibilidade enquanto nós, pobres mortais, ficamos nos debatendo a procura de uma vida menos ordinária.

. Os únicos homens capazes de me prender a um livro foram Wooddy Allen, Manoel Puig e Kurt Vonnegut. O primeiro pela inteligência deliciosa, por me fazer rir e parecer meu amigo. O segundo por encarnar um escritor diferente a cada livro. O terceiro por tudo!

. Tive uma amiga que me roubou um livro. O livro tinha entrevistas com sete grandes diretores de cinema. Ela me pediu emprestado e desfilava pelas agências de propaganda com o livrão debaixo do braço pra impressionar os meninos da criação. Mas nunca leu uma linha sequer e nunca me devolveu. De alguma forma, o livro foi útil pra ela. Quando a gente não tem talento, usa roupa de artista. Certo?

. Os hereges de hoje são queimados na fogueira das revistas científicas. Na fogueira dos teóricos e dos cegos. A ciência – na figura dos cientistas teóricos com viseiras – tornou-se a igreja de antigamente. Eles estão aí para dizer para qualquer louco que ele devia trabalhar no circo e não se meter onde todo mundo sabe tudo. Deuses...Deuses que pregam o monoteísmo... a monociência, a monovisão. Que riem e torturam com falta de verbas os hereges que ousam discordar do grande deus.

. Mercedes não pode ser frágil. Ninguém com um nome desses poderia. Seria mais ou menos como usar biquíni na neve. Não é apropriado. Não combina. Não seria aceito.
Ou ser franzina...Ridículo! É vedado às Mercedes o direito de ser pequena, magrinha, mignon, frágil, fresca, whatever. Nem pensar em roupas rendadinhas, tons pastel, saltos baixos, visual light. Mercedes nascem fadadas a cooperar com o equilíbrio e a coerência na face da Terra: Combine seu nome com seus atos! Não desalinhe a natureza! Como as Anas são tristes, Reginas são barulhentas, Marias são bonitas, Giovanas são magras, Veras são gordinhas, Mercedes são fortes!


Carta aberta a Edson Perin

Encontrei este texto hoje, vasculhando velhos arquivos. Ele foi publicado no TPM em 2003, e serve ainda hoje como uma luva. Um presente de amiga velha para amigo nem tanto.
Enjoy:



Mano,

Como se escreve uma carta aberta? Se é aberta, precisa de muita explicação, porque a historia de duas pessoas, só duas pessoas sabem.
Li seu comentário e reli meu texto. Depois voltei a ler seu comentário. E me emocionei.
Você contou no seu e-mail que faz 40 anos em Fevereiro – essa amiga relapsa - nunca sei se é fevereiro ou novembro, mas tudo bem porque você também liga sempre em algum dia de setembro pra saber se eu já fiz ou vou fazer aniversário. A amizade e o amor que nos unem não seriam tão frágeis pra deixar isso atrapalhar.
Anyway, a gente se conheceu quando você tinha 23 e eu 26. Isso? Oh my god! O Diogo tinha três anos. (Um dia ele entrou no Sir e encontrou a Meri. Ela perguntou: “quem é a sua mãe?” Ele respondeu: “A Micerrdis.” Hahaha!)
Lembra que a nossa sala na Exclam tinha parede bem brega de cortiça? Lembra dos papos intermináveis com o Ernani? Lembra do Barco dos Chatos? E La Nave Va...Com você sabe quem no comando? Hahaha!
Nossa... Que saudade! Mesmo nos matando de trabalhar a gente tinha muito tempo. Pelo menos você tinha muito tempo pra escutar as minhas historias apaixonadas e bem bobinhas.
Lembro que eu terminava de contar uma super-hiper aventura emocionante de alguma paixonite aguda e você suspirava dizendo: como a minha vida é aborrecida! (bobo)
Lembra da Festa de Babette? A gente já tava até mais velho. Dos cinco pobretões você era o milionário: tinha um apartamento 3x4 e um carro 1x1. Pão duro... Dizia que não queria ir ao cinema.
Lembra quando eu contei que não sabia por que porta entrava no ônibus e a Silvinha me fez ir pro cinema de ônibus a força pra aprender? Foi nesse dia que a gente viu “A Festa de Babette” e batizou nosso jantar pobrinho com o nome do filme.
Minha geladeira era um deserto. Tinha as coisinhas do Diogo, esmalte de unha na porta e meia de nylon do congelador. Diziam que meia de nylon durava mais se guardasse no congelador. Que coisa mais Ana Maria Braga! Hahaha! Aquela meia do Paraguai que às vezes desfiava na horizontal e simplesmente caía. Eu e a Pat Castilho tínhamos truque maravilhosos de reaproveitamento de meia calça desfiada. (Era muita pobreza. MESMO!).
A gente sentava pra jantar o empadão congelado da Dona Marilia, ou a lasagna de tudo do Franc, tomava coca-cola e ria a noite inteira como se tivesse fumado e bebido todas. Lembra da lasagna de tudo? Um queria a bolognesa, outro de presunto e queijo, outro de molho branco. O Franc resolveu fazer todas em uma! (baita banquete praqueles tempos bicudos) Depois ninguém conseguia servir a lasagna porque tinha acesso de riso quando pegava a colher! E os cabelos no prato? Hahaha! Eu tinha aquele aparelho de jantar que tinha uns fiozinhos bem finos desenhados...Um por um foi tentando tirar os fiozinhos do prato discretamente, achando que era cabelo!
E a Mery Penas, deitada na almofada no chão vendo “Meu Tio da América”, se partindo de rir e reclamando entre as gargalhadas: “- Que filme chaaaaato! Quá Quá Quá Quá!!!”.
Como a gente se divertia barato... Pena que acabou...
E o teste de admissão para a Festa de Babette que a gente fez praquela moça que me roubou o livro! Sabe aquela do outro texto? Então.
O que e a Marselhesa?
a) Um prato?
b) Uma puta francesa?
c) O hino da França
d) N.D.A.
Não vou me lembrar das respostas. Uma tremenda bobagem, mas a gente deu risada meses do teste. “Dona Fulana foi à feira, comprou 10 tomates, cinco cenouras, três berinjelas, duas cabeças de alface, não sei o que, não sei o que mais (durava 3 horas o probleminha). Baseado nas informações acima, responda: - Quem matou Odete Roitman?
Meu Deus...Como a gente tinha tempo!
Eu sei te dizer que foi uma época feliz. Os anos de Exclam foram felizes. Nossa! Quanto filme ruim! Hahahahaha! Lembra daquele filme do Leminski que a gente fez um pacto de nunca contar que fui eu que fiz? Shhhhhh...O pacto foi tão sério que eu fiz a produtora apagar o filme da matriz. Falar mal de poeta cult que já morreu é feio né? Então não vou falar. Só vou dizer que ele devia ter sido só poeta!
Lembra do Ernani preenchendo 850 fichas de inscrição no Colunistas e inventando todos os nomes da ficha técnica? E a salinha da mídia? Vocês fizeram um cartaz com a capa do Analista de Bagé, colocaram o nome do meu namorado dizendo: vamos buchar o..... E cada um que passava fazia um bigode, um chifrinho, escrevia alguma coisa. A campanha foi tão grande que vocês venceram. Que feio...
Lembra que eu tinha complexo de perna grossa e nunca tinha usado um vestido curto até os 26 anos? E cheguei num workshop num dia de verão, de bermuda e você me mandou um bilhete dizendo: Estou muito orgulhoso de você!
Que amor...
A vida foi colando a gente. Foi grudando um no outro. Você se tornou o guardião dos meus segredos, meu padrinho de casamento, padrinho da minha filha, meu irmão que mora longe, mas que nunca nunca nunca vai deixar de ser meu irmão.
Lembrei do casamento...Ai ai ai!
Eu casei com meu namorado novo. Acho que namoramos uns três meses e resolvemos fazer uma festa de casamento. Ta. Acho que não dá pra contar a parte do “Segura na mão de Deus...” Eu queria matar a Pat Castilho! Nunca mais consegui olhar pra cara da velhinha! Ai! Desculpa, pessoas...Não dá pra contar essa parte do casamento.
Então...Vamos ao outro caso do casamento:
Eu nunca tinha visto tantas velhinhas na minha vida! Muitas velhinhas muito velhas! Todas tiazinhas curiosas pra saber quem era a moça que estava tirando o caçulinha de casa. Todas medindo cada centímetro e analisando cada movimento meu. Na fila dos cumprimentos, lá vem meu melhor amigo Edson Perin. Logo atrás dele, uma velhinha bem velhinha e bem curiosa. O Edson me abraça, assim...Oito minutos...E fala no meu ouvido: Você sabe que eu te amo, né? Eu daqui, toda noiva emocionada respondo, de olhinhos fechados: Eu também te amo.
Quando eu abro os olhos, dou de cara com os olhos esbugalhados da velhinha. Em choque! Hahaha! A velhinha ficou estarrecida! Até hoje ela deve pensar que eu convidei o meu amante pra padrinho de casamento!
E pra variar, nós passamos anos rindo dos olhos esbugalhados da velhinha!
Ah...E o casamento? Não deu certo. Nem a festa deu! Lá pelas tantas, o Diogo resolveu brincar com os interruptores do salão. A luz começou a apagar e acender, apagar e acender...As pessoas acharam que era o toque de recolher e a festa acabou em minutos. (to morrendo de rir às 3 horas da manha na frente do computador! Hahaha) Vocês tinham que ter visto isso! Que trágico!
Meu Deus! Quanta coisa boa a gente viveu junto. Quanta brincadeira de mímica...E a Drica cantando...Hahaha! E as secretárias da diretoria! Quanto filme a gente viu juntos. Quantas vezes reclamamos que o Luc Besson fez Subway com 25 anos e a gente ainda estava longe de fazer alguma coisa louvável na vida.
E os meus amores! E a minha vida dando oitocentas viradas radicais e você lá. Espectador numero 1. Fã de carteirinha. Já meu viu chorar, já me viu ir embora, já me viu feliz, já segurou meus filhos no colo. Já teve que ouvir a Natasha olhar pro presente que você deu e dizer: Há. Que REDICULO!

Acho o tempo e a vida muito ingratos por afastarem a gente assim aos pouquinhos. Mas ao mesmo tempo acho a vida maravilhosa por ter me dado um presente tão valioso. Um cúmplice tão leal. Um amigo assim, pra sempre. Tive sempre tanta dificuldade com a palavra SEMPRE. Você me fez perder o medo dela.
Queria lembrar as histórias...Queria dizer que te amo...Queria me sentir mais perto. Acho que funcionou. Até hoje você não dirigiu um filme e eu não escrevi o meu (mais ou menos. A gente sempre fez essas duas coisas indiretamente).
O garotinho de jeans e tênis, meio barrigudinho, com a barba por fazer, pão duro (hahahah!) hoje é um homem bonito, sarado, viajado, analisado, brilhante, que sabe o que quer e dirigiu a vida muito bem, obrigada.
E quanto ao seu comentário, nós tivemos o privilégio de conviver com pessoas brilhantes, fáceis de se admirar. Tivemos o privilégio de ver alguns mitos como simples seres como nós. Tivemos o privilégio de fazer parte e ter uma vida muito mais interessante do que a maioria jamais sonhou ter acesso. Mas ter passado anos da minha vida tendo você por perto foi o maior dos maiores privilégios.
Foi um prazer enorme lembrar tudo isso. Vou dormir sorrindo.

Um beijo enorme e (esbugalhem seus olhos, tiazinhas) não esquece que eu te amo.


quinta-feira, setembro 13, 2007

...


Querido diário,

Ando meio estranha. Um tédio meio chato, uma falta de vontade.
Misteriosamente meus vícios estão indo embora, e quando o vício é o seu grande companheiro, fica difícil encarar a vida sem ele. Não, eu não estou parando de fumar. Eu estou entrando menos na internet. Quem diria?
São 5:47 da tarde e eu estou sentando na minha cadeira pela primeira vez hoje. E quer saber o pior? Eu não abri o msn. Eu não corri para ver meus e-mails. Eu só sentei e olhei em volta. Sabe aqueles dois CD's que eu larguei em cima de uma lista telefônica há 3 dias? Estão ali, no mesmo lugar. O Movie Plot Generator que eu tirei da estante pra brincar com o Cláudio de criar o plot do filme que vai dar um Oscar para ele? Continua aqui ao meu lado direito, onde eu larguei naquele dia. E o zippo preto continua sem fluído, alguns envelopes não foram abertos, o aspiradorzinho vermelho está jogado aqui do lado desde o dia que eu resolvi limpar o meu teclado.
Assim...bem desse jeito, como se o tempo tivesse parado pra mim. Mais um café e olho em volta. Preguiça de escrever, preguiça de entrar online, preguiça de colocar a vida em dia.
Em compensação eu assisti, só hoje, dois DVD's da primeira temporada de Heroes. Do jeito que eu gosto: sozinha lá embaixo, sem ser interrompida por nada. Quando resolvi parar de ver, fiquei mais um tempo na sala pra não ter que levar minha empregada até a portaria. Preguiça de ser simpática com ela também.
Hoje acordei no susto. Meu celular tocou e me avisaram que o Rafael já tinha chegado. Dizem que me acordaram as 9:15. Ele também me mandou um torpedo as 9 dizendo pra eu acordar. Não vi nada. Estava apagada. Levantei no piloto automático, me vesti, subi, alonguei e disse para ele que eu queria comer amora. Amora! Amora? Já estamos em setembro e eu não senti ainda meu chão ser tirado dos meus pés? Já tem amora lá fora e me sinto como se fosse abril ou maio? Isso é ainda mais chato e estranho do que não querer entrar online ou escrever.
Fomos correr. Demos uma volta nos 3 lagos do parque e depois paramos de amoreira em amoreira, para comer. Duas crianças com os dedos sujos de roxo e os lábios manchados de batom natural num dia lindo de sol.
Ok. Voltamos pra casa, abdominal, alongamento. Quando o Rafa saiu, o normal seria eu sentar na minha cadeira e ligar o computador. Nem. Não tive vontade. Assim como não tive vontade de conversar. Passei o almoço meio calada, sem nem uma palavra querendo escapar da boca, nenhuma idéia querendo percorrer a cabeça. Depois desci e já contei... vi Heroes. O dia está acabando.
Onde eu compro vontade para fazer as coisas que eu preciso? Existe algum disk-vontade que entregue em casa?
Eu não gosto de ficar assim. Esse estado me remete ao texto ali embaixo. Medo! Medo! Medo do vazio, mesmo que momentâneo.
Ontem eu não quis ver o jornal. Eu sabia desde sempre que o Renan Calheiros seria absolvido e quis me poupar desse constrangimento. Hoje, olhei a primeira página da Folha e hã...quanta novidade, não? Acho que a esta altura seria mais honesto dar as notícias da seguinte forma:
"Renan Calheiros paga suas contas e as de sua amante com dinheiro de lobistas e empreiteiras, ele vai mentir sobre vacas e notas frias quando questionado mas no final será absolvido, por isso mudaremos de assunto." E com letras miúdas: "queremos evitar que a amante dele fotografe nua". Fim de história, vira a página.
Acho chato demais ficar sendo forçada a acompanhar o corre-corre da mídia e da polícia para depois ver que tudo acaba como a gente sabia que acabaria. Palhaçada sem fim. A Nazaré cair da escada na novela das 8 era menos óbvio do que qualquer final de novela em Brasilia.
Fora isso, tem o remédio carézimo do meu pai. Diz a lei que o governo do estado e a prefeitura têm obrigação de fornecer medicamentos a doentes com câncer. Sim. Tem sim. O plano de saúde também. Então é preciso tentar. Sim, é preciso acreditar... tá. Quem não sabia desde o primeiro dia que isso só acontece em propaganda de campanha? Tudo acabou como eu previa, de novo, outra vez, ai que saquinho.
Eu devia tentar usar este dom para salvar o mundo. Mas hoje não estou com vontade.
Mais um café.
Acabei de guardar um dos CDs que estavam aqui jogados ha dias. Era "The Other Side of Round Midnight" do Dexter Gordon - assunto para mais um "Coisas da Vida" que eu conto outro dia, quando o disk-vontade chegar.

Besitos.

terça-feira, setembro 11, 2007

Sobre envelhecer

When I'm 64

Eu não tenho medo de envelhecer.
Na verdade não se pode ter medo do que é inevitável. Nunca entendi por que as pessoas temem a morte, ou o parto, assim como a velhice. Não seria mais óbvio ter medo de atropelamento, assalto, casamento, emprego ruim, ou outras coisas que a gente nasce sem ter idéia de que podem acontecer?
Eu tenho medo de amigo falso. Tenho medo de gente que sente raiva. Tenho medo da inveja alheia. Tenho medo de sentir dor, seja ela física ou não. Tenho medo da natureza humana, da guerra, da perda, da solidão irreversível. Mas não de envelhecer.
Na velhice o que me assusta sou eu mesma. Eu olho os velhos que conheço e acho que quero ser só um pouco como eles. Tenho medo de uma velhice melancólica. Medo de ficar chata demais, de reclamar mais do que devo, de sentir a vida esvaziar sem encontrar um sentido novo para ela.

Até aqui foi fácil. Foi fácil recomeçar mil vezes com energia e uma vida boa. Até aqui as perdas foram pequenas. Eu perdi meus avós - que não eram muito próximos de mim - alguns tios que não vejo faz tempo, um primo, alguns conhecidos. Ainda não chegou o dia de perder meus pais, meus irmãos, meus amigos mais próximos. Esta é a única morte que eu temo: a dos outros. Porque, como eu já disse, tenho medo de dor. E eu não citei a maior de todas as perdas, e nem vou citar porque a simples menção do assunto já me mata de dor. Então eu nego a possibilidade. End of story!

Quando eu era pequena, não conseguia entender porque todo velho tinha que parecer sempre curvado e com olhar triste, distante. Mas hoje, quando olho para eles, entendo. Tudo bem que um pouco de alongamento faria a curvatura dos ombros menos "eloquente", mas com alongamento e tudo, acho que o que esta curva diz é que existe um peso em estar no fim de uma caminhada. Estes ombros que carregaram uma cabeça cheia de pensamentos, desejos, planos e projetos por tanto tempo, hoje sabem que o que não se realizou vai evaporar e virar anjo no céu dos sonhos pendentes. Estes braços que carregaram filhos, flores, pacotes, presentes, mulheres, troféus, hoje sabem que muito do que se amou não pode mais ser alcançado. E talvez o olhar tão triste seja na verdade rico em lembranças, mas lembranças já um pouco distantes, que vêm junto com uma saudade enorme de pessoas que já morreram e épocas que já não existem.
Envelhecer deve ser difícil. Deve ser difícil manter a alegria. Deve ser difícil não ter por quem se apaixonar, ou manter um nível de paixão que seja razoável - que a gente não interrompa ao pensar : "Bobagem...isso não é mais possível!"

Mas olhando à minha volta, não tenho como não ter medo da velhice. Não dela, assim, no aspecto estético. Eu tenho plena consciência de que vou ser uma velha gorducha com aquela cara de "nossa, ela deve ter sido bonita", mas com todas as características de uma pessoa velha: sem colágeno, sem hormônios, sem brilho na pele. Tudo bem. O que eu não quero é a melancolia e a tristeza nos olhos. Não quero achar que sou sozinha. Não quero cobrar a presença das pessoas, fingir que estou doente para ter atenção, lamentar para mim mesma a miséria que é estar no fim. Não achar que tudo acabou quando o número de pratos na minha mesa diminuiu. Quero saber olhar a vida na tela grande e não achar que o fim é horrível, mas ter certeza de que é o final de uma estrada florida.
É assim que eu quero viver os meus últimos anos: sorrindo, contando minhas histórias, sentindo o vento no rosto, lembrando as coisas que fiz e as que quis, enxergando o caminho percorrido como uma bolha cheia de vida e, mais do que tudo, sabendo dividir a minha bolha com o resto do mundo.
E que haja dentro dela algo para deixar para a geração que virá.
Tomara!


Bom dia.

*Foto photoshopada por mim

quinta-feira, setembro 06, 2007

Blank

Eu quero muito escrever mas está difícil. Assim, como mágica, toda a inspiração parece que se esvaiu. Sumiu. Se foi.
Uma página vazia é uma tortura enorme. Ela fica parada por horas e horas na minha frente, me olhando com aquele ar impaciente de quem diz: "e aí? vai rolar?" Ai! Vai. Uma hora vai! Mas parece que todas as letrinha fugiram.
Eu não tenho dormido muito. Enquanto tento convencer meu cérebro a simplesmente desligar, ele grita num moto-contínuo tentando buscar uma idéia, uma coisa pra dizer, uma história, alguma coisa. Eu viro para o lado e aperto os olhos, mas não adianta, meu cérebro é a página em branco que me persegue mesmo quando saio da frente do computador.
Então eu vejo um filme. Durante o filme eu não presto a atenção que devia. Fico caçando frases e pensando por que não fui eu quem escreveu aquilo e o que eu poderia escrever que tivesse o mesmo efeito. Mas nada vem. Nada. Blank! Total!
Então quem sabe se eu entrar no Caixa Preta, sing in, olhar para o espaço do post - mais uma página em branco - e começar a dizer qualquer coisa...quem sabe?
Nada!
Uma história de amor? Coisas da Vida #4? Uma poesia melosa? Um texto antigo?
Nada!

Então amiguinhos...nada a declarar. Fora uma dor nas costas que eu estou rezando para que não seja o meu velho rim esquerdo gritando outra vez depois de exatos 20 anos, tudo está assim...Tudo quieto no reino de Mercedes.

Quem acredita em alguma coisa, reze, acenda uma vela, faça uma simpatia, qualquer coisa para essa página em branco me deixar.

Um beijo amigo no seu umbigo.