quinta-feira, julho 30, 2009

Confissão


Então, o que passa?
O que passa que eu ando calada?
Eu ando calada? Nada! Eu tenho falado mais do que o homem da cobra, em frases curtas em inglês, com 140 letras - todas contadas -, sem pontuação, sem me preocupar com maiúsculas.
Tenho falado besteira, tenho rido demais, tenho matado a saudade de falar inglês e feito bem pro meu ego. Claro, claro, tudo o que o Twitter tem é uma foto que mostra meia Mercedes, enganando o povo que jura que eu não tenho olheiras e nem 47 anos.
Balela! Não é isso que faz bem pro meu ego. É quando alguém fica surpreso em saber que inglês não é a minha primeira língua. Ai como eles não imaginam como isso aconteceu...Acho que nem eu consegueria se não me lembrasse, como se fosse hoje, de cada um dos sinais de que isso tinha que acontecer.

Anos 70. Eu me vejo sentada no chão, na frente de uma vitrola daquelas dos anos 60 que eram um móvel - de um lado toca discos e do outro rádio AM -, um disco dos Carpenter's tocando e eu com a capa do disco na mão, lendo a letra, e um dicionário Inglês/Português na minha frente. Eu tinha uns 11 ou 12 anos e era inconcebível para mim ouvir uma música e não entender o que ela dizia. Naquela época, a única coisa que eu sabia sobre o futuro era que eu queria morar em San Francisco (nunca aconteceu...bússola estragada). Depois eu me vejo na aula de inglês me divertindo muito e prestando ZERO atenção...até que meus pais desistiram e eu parei de ir para aula.
Me vejo aos 14, passando férias na casa dos amigos da minha mãe que tinham 6 filhos e todos falavam inglês. Ai que inveja! Ai que inveja! Inveja ruim mesmo, daquelas que você olha pra pessoa e pensa "Droga, por que ela pode e eu não?!" e ela seca até desaparecer.
E eu comecei a ler. Comprei um dicionário só meu e usei tanto que hoje ele está sem capa, encardido, com páginas caindo. Sim sim, eu ainda tenho meu primeiro dicionário de Inglês. E metida que só eu, ele era (ainda é) um dicionário Inglês/Inglês. Isso foi me ajudando a entender mais e mais sem ter que ir para a aula...
E passou mais tempo...1985/86, eu me separei, fui morar sozinha com o Diogo num apartamento lá no final da Padre Agostinho, na frente do Barigui, e ali passei mais horas sozinha do que as horas que eu tinha de vida.

Cabeca Vazia é oficina do Diabo.
É?
Tenho minhas dúvidas...minha cabeça não estava exatamente vazia. Eu trabalhava muito, tinha um filho para criar, mas saía do trabalho às sete, e o Diogo era um anjo, o que quer dizer que das oito e meia em diante eu estava sozinha. Sozinha e com o coração vazio...esse sim a oficina do Diabo.
Foi quando eu comecei a inventar amores e escrevê-los todos. Na minha olivetti podrinha eu escrevia noites inteiras até meus olhos não aguentarem, e imaginava amores impossíveis. Bingo! Foi quando a porta se abriu. Porta? Melhor chamar de "portal". Era uma coisa mística...era estranha e diferente...era enlouquecedora. Bingo de novo! "Enlouquecedora" é a palavra.
(Hm...lá vem especulação... Pensa comigo: o esquizofrênico ouve vozes. Pode o esquizofrênico ouvir vozes em outra língua? Ai meu deus, se pode me interna!)
A verdade é que eu comecei a ouvir vozes quando dormia. (ufa! descartada a esquizofrenia, eu espero). Eu comecei a sonhar todas as noites com a mesma pessoa, sentada na minha frente, falando sem parar, em inglês.

NOTA DA AUTORA: queridos amigos do passado, vocês NÃO precisam contar para ninguém, muito menos escrever nos comentários, o nome da pessoa com quem eu sonhava. Sim, isso é um pedido de sigilo! Sim, eu tenho vergonha. Please?

Era cansativo. Eu acordava exausta. Não fazia a menor idéia do que ele dizia durante o que parecia ser horas e horas a fio. Isso aconteceu quase todas as noites durante um ano e meio, mais ou menos, até uma noite em Porto Alegre, dormindo no hotel, que sonhei que estava num trem. No sonho eu estava cansada, queria dormir, não conseguia evitar o cochilo. O banco do trem era confortável, a pessoa ao meu lado era quentinha, aconchegante, e eu não consegui controlar o sono... encostei a cabeça no ombro daquela pessoa. Voltei a mim rápido, levantei a cabeça num pulo e olhei para o lado para me desculpar...e era ele. Ele sorriu para mim. Eu me assustei com a proximidade. Nunca ele estivera tão perto de mim. Sempre sentado à minha frente, sem contato físico, mas desta vez todo o lado direito do meu corpo estava encostado nele. Eu acordei como se levasse um tombo - como se volta de um pesadelo - e não consegui me mexer. Durante alguns minutos eu ainda sentia uma pessoa ao meu lado: o calor do corpo, o ar morno da respiração. Tive muito medo. MUITO medo!
Naquela noite eu rezei para todos os meus santos pedindo que eu nunca mais sonhasse com ele...e fui atendida. Perdi meu professor de inglês!
É verdade...mas não perdi o que ele me ensinou. A essa altura, eu já via filme sem legenda e lia livros em inglês sem dificuldade.
Nunca mais tive notícias do moço dos sonhos.

Quatro anos mais tarde, conheci o homem com quem estou casada até hoje. Seria impraticável viver com ele sem falar inglês. Seria impossível trabalhar com ele sem escrever em inglês. Seria dramático acompanhar a carreira dele sem falar inglês. E, pasme, ele tinha o mesmo andar, a mesma altura, a mesma falta de queixo e é tão cego quanto o moço do sonho.

Pronto contei!
Essa sou eu, e essa é a minha vida que sempre foi assim: nada acontece, tudo despenca na minha cabeça de modo assustador...e é assim que eu sou feliz.
Quem ainda não se sentia seguro para me chamar de louca, já pode ficar à vontade.


Um beijo amigo no seu umbigo...

sexta-feira, julho 03, 2009

meus meninos




Qinho Mais de Uma Janela

Direção: DR Gameiro (as in Diogo e Rodrigo
)