domingo, dezembro 28, 2008

Resoclusões

Estou fazendo hora para não dormir. Tenho que sair de casa as 4 para o aeroporto, pegar um vôo as 7 que vai atrasar com certeza...e se eu dormir agora sei que vou perder a hora, etc etc...vocês me conhecem. Melhor deixar para dormir no avião, I guess. I hope. I don't know.

Tenho impressões para relatar. Coisas que tenho pensado e talvez possam se transformar em resoluções de ano novo, embora eu ache que resoluções de ano novo são como lista de supermercado: a gente faz, mas sempre esquece no balcão da cozinha. Ou sou só eu?
Agenda é pra não usar, lista para não seguir, requisição de exame para perder, lista de prioridades para esquecer, e assim por diante. Quando serei eu capaz de seguir as regras que eu mesma me imponho? Aff.
Além destas coisas que podem ser resoluções, tenho conclusões...serão elas definitivas? Sei lá.

Conclusão:
Eu não me conheço. Passei a vida dizendo que sou uma leitora preguiçosa e que não gosto de ler ficção, mas nos últimos 30 dias devorei 5 livros com a voracidade de um leão, todos fantasiosos, todos merecendo que eu escondesse a capa para ninguém dizer: "O que? Você lendo isso?"

Resolução:
Joguei fora meus rótulos. Gosto do que me dá prazer e os objetos deste prazer variam de ano para ano, de momento para momento. Vou tentar manter isso como um mantra sagrado.

Resolução:
Em 2009 vou editar um livro. Algum. Qualquer um. Seja uma coletânea de crônicas, seja de short stories, seja um dos romances que eu venho escrevendo pouco mas sempre. Chega de ser uma escritora não publicada. Estou ficando velha e talvez seja hora de fazer alguma coisa que fique para alguém, ou sirva ao menos para fazer fogo num dia frio.

Conclusão:
Ainda bem que o meu marido existe para me dar um empurrão de vez em quando. É duro, mas tenho que adimitir que sem esses empurrões, eu talvez não tivesse tido coragem de realizar metade do que realizei nos últimos 16 anos. (claro que ele tem a ver com a resolução acima)

Resolução:
Escrever na primeira pessoa é mais fácil, mais envolvente e mais divertido, e talvez seja exatamente isso que faz com que alguns dos meus textos sejam adorados por quem lê. Vou modificar os meus dois romances - ambos narrados por uma voz alheia à história -, reescrevê-los desde a primeira página, fazendo aquelas duas mulheres contarem suas histórias de própria voz e acho que assim eu não só consigo terminar os dois, como consigo envolver melhor a quem for ler.

Conclusão:
Se eu não tivesse deixado de ser preguiçosa e não tivesse tentado descobrir o que fez com que a Stephenie Meyer conseguisse tirar milhares de adolescentes ao redor do mundo da frente do computador, para ler uma saga de 4 livros de 500 a 700 páginas cada um, eu jamais teria chegado à resolução acima, o que comprometeria seriamente a outra resolução -- aquela ainda mais lá em cima.

Conclusão:
Consegui cumprir a resolução de ano novo de 2008: emagreci 13 kilos, estou me sentindo bem, embora não exatamente magra (dá um tempo...eu tenho quase 50 anos!!), e foi a grande vitória dos últimos 8 anos. Cheguei à conclusão que engordar foi uma maneira de me proteger e me esconder; eu tinha milhares de motivos para isso, mas agora que os motivos se foram, era hora de voltar a ser eu. I'm back!

Resolução:
Com a mesma força que me fez fechar a boca e ser disciplinada durante um ano inteiro, eu vou mudar algumas outras cositas.
. Vou deixar de ser cigana e comprar a minha primeira casa. (Ok...mentira..vou comprar a minha primeira casa mas não vou deixar nunca de ser cigana.)
. Vou fazer aula de canto.
. Vou elaborar um cardápio decente (ai que saquinho...alguém faz isso pra mim?) para parar de ter que pensar no que fazer de comida todos os dias, porque essa é a parte mais ridícula e repetitiva e chata e sem importância da vida! To cansada de sair da mesa do almoço tendo que decidir o jantar. Será que não dava pras pessoas comerem só uma vez por semana?
. Vou pensar numa lista decente de coisas que quero ou preciso fazer.

Conclusão:
Outra resolução cumprida foi: vou escrever mais.
Eu escrevi muito mais esse ano do que nos últimos outros. Talvez não tenha publicado tanto, mas escrevi histórias mais longas, conseguindo o que, durante muito tempo, eu julgava impossível: escrever histórias e não apenas impressões.

Resolução:
Agora que eu sei que posso...vou me libertar dos pequenos problemas que eu invento para me impedir de escrever como eu gosto, e vou me colocar dentro do que quero contar...e sim, sim, mais uma vez EU VOU ESCREVER MAIS.

Conclusão:
Nunca, em 47 anos, eu fui tão tranquila, tão segura, tão feliz.

Resolução:
Vou manter isso como mais um mantra sagrado.


Feliz Ano Novo, crianças...que 2009 seja muito melhor do que este ano terminado em 8, que como todos os outros anos terminados em 8, parecia nunca querer acabar!

Um beijo amigo no seu umbigo

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Música que dói

Você sente dor ao ouvir alguma música?
Já aconteceu de estar distraído e de repente ser parado por notas musicais que te atingem na boca do estômago e correm direto para a garanta, pressionando o peito?
Eu tenho muito isso.
Lembra quando o TPM tocava "The Blower's Daughter" do Demian Rice? Lembra como aquilo doía em mim? Ah...você não sentiu. Pena.
Algumas músicas me fazem chorar na primeira vez que eu escuto. Algumas vozes, não sei se é o tom, não sei se é a dor que já estava nelas, não sei o que é...mas quebram meus joelhos, torcem alguma coisa dentro de mim. É triste, mas é lindo...e eu aproveito o momento, porque são poucas as coisas na vida que arrebatam dessa forma.

Me desconcerto, me concentro -- bem no centro de mim --, sinto a lágrima rastejante que vem subindo e rasgando até o olho...e sorrio. Estou viva! É o que essa dor vem lembrar.
Ela vem assim: Let me Sign

Boa chuva pra você.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Desembaraçar

"Aprendi que se pode conhecer muito bem uma pessoa pela maneira
que ela reage a três coisas: dias de chuva, bagagem perdida,
e o modo como ela desembaraça luzes de Natal."

Maya Angelou


Essa sempre me pareceu a hora mais importante do ano. A hora de provar para mim mesma que eu sou capaz de desenrolar cada fino fio verde, entendendo para onde cada volta pretende ir, tomando o cuidado de não bater as pequenas bolhas finas de vidro, quase inexistentes, e descobrir, uma por uma, qual lâmpada ainda pode guardar alguma vida, depois de 340 dias de quase-morte.
Parece dramático, eu sei.
Mas eu acho que existe uma relação muito clara entre as luzes de Natal e a vida que vivemos. Ou sou só eu? Enquanto elas dormem, fingindo não ter vida, durante o ano inteiro, eu preciso de luz. Não bem assim...eu preciso TER luz. Sou eu quem precisa iluminar e estar viva, reluzente, cheia de energia, durante os dias que vão passar tão rápido quanto o acender e apagar contagiante das luzes em festa.
Durante o ano inteiro, me parece, o que fazemos é desenrolar, desembaraçar, tentar entender e seguir caminhos que são às vezes claros com o dia, às vezes misteriosos como as curvas de um rio barrento. Para que lado estamos indo? Que movimentos podemos fazer para não esfacelar desejos em milhares de pedaços tão finos que acabem virando pó? Como seguir essa linha e mantê-la nas mãos de um jeito que nada se perca, nada se enrole para sempre, nada nos mantenha presos sem poder mover as mãos?

Sempre que abro as montanhas de caixas que guardam outras caixas e saquinhos plásticos, descobrindo as cores e brilhos dos enfeites de Natal, tenho a mesma sensação incômoda de que o ano está nas minhas mãos.
Existe uma árvore grande ao meu lado, inteira verde e crua e eu preciso transformá-la numa explosão de alegria. Preciso fazer com que ela tire o fôlego das crianças e encante os adultos. Está na minha mágica trazer imagens da infância, rostos que se foram, risadas alegres e a lembrança das fitas coloridas desatando seus laços para revelar sorrisos. É quase impossível fazer isso sem saber que estou, enfeite por enfeite, construindo os próximos 12 meses. "O que será? Por via das dúvidas, é melhor usar mais brilho!"

Toda vez que me me deparo com os milhares de fios das guirlandas da árvore -- são fios de bolinhas vermelhas, outros dourados, outros são notas musicais, outros fios gigantescos de pequenos sininhos -- eles estão todos na mesma caixa, trançados num grande bolo a princípio impossível de entender --, começo a puxar cada ponta para tentar separá-los, e penso se não é exatamente isso que passamos a vida fazendo. Pelo menos nós, mulheres. Se parar pra pensar, me lembro quantas vêzes, desde sempre, aprendemos a "desembaraçar". Observando ainda pequenas, a paciência com que nossas mães desembaraçam seus cabelos de manhã. O movimento da escova cuidadoso para não arrebentar os fios. E imitamos seus gestos em frente ao espelho, nos achando lindas, desmanchando os pequenos nós que estão lá. Depois os novelos de lã, os nós dos bordados, a linha que enrola ao pregar um botão, a máquina de costura que prende o carretel quase arruinando a costura, os pontos complicados do tricô, as franjas do tapete, os cordões da cortina, os fios da persiana, os colares na caixa de bijouteria, os cabelos de nossas crianças, e tudo outra vez.

Depois de todos estes pequenos e árduos testes de paciência, estamos prontas para guiar os passos dos filhos que teremos, entender os caminhos do homem que amamos, traçar o mapa por onde andará cada pessoa que importa, dizendo, sem dizer, por onde se chega mais rápido ou por onde a estrada é mais bonita.
Desembaraçar. O fio de luz, a vida alheia, a nossa própria, as relações. É este o talento secreto das mulheres mágicas que enfeitam, todo ano, as árvores de Natal, os dias do ano, as vidas que a cercam, o emaranhado dos caminhos por onde passam.

Chegando a hora o meu post de Natal, o que eu desejo a cada uma das pessoas que passam por mim, é que tenham o poder de enfeitar, com claras linhas de luz, os dias de vida que virão. Os seus e os de quem precisa da sua luz para sobreviver.


foto: Pleiades (M45) Sete Irmãs (luzes....no céu)
www.astrocruise.com

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Saindo da Rotina


Cheguei ao aeroporto, fiz check in e fui comer, já que meu vôo estava atrasado. Com a minha sorte, isso é normal. Meu iPod tem milhares de músicas que eu não aguento mais, então resolvi que não era isso que eu ia ficar fazendo até o vôo chegar. Mentira! Eu não posso ficar ouvindo música no iPod assim, em lugares lotados. Se houvesse uma escala para isso, minha facilidade para entrar em transe seria de 100% e, como todo mundo sabe (sabe?), o melhor canal para induzir alguém ao transe, seja hipnótico, seja psicótico (hahah!) são os ouvidos. O que quer dizer que ligar um iPod na minha orelha possibilita 100% de chance de um vexame interestadual. Eu, no mínimo, cantaria em voz alta. Se não fosse isso, -- e as chances são realmente mais fortes, assim 300% -- eu poderia falar sozinha, esquecendo completamente onde estava. Eu nunca entendi muito isso em mim, até começar a reparar nas reações do meu pai, depois que a surdez dele deixou de ser um probleminha de audição para ser realmente surdez. Às vezes ele pensa alto, ou emite uma opinião que deveria ter guardado para si, sem perceber, sussurrando. Existe então a possibilidade de um internamento relâmpago pela segurança do Aeroporto Afonso Pena, caso eu tampe meus ouvidos com o fone do iPod e deixe que alguém cante alto dentro deles. E não é só isso: eu posso dirigir ouvindo música, mas não posso dirigir ouvindo música muito alta por muito tempo, porque saio do mundo também; principalmente se a música for meio chapante, com longos solos, ou vozes míticas. O que? Você não sabe o que são vozes míticas? São vozes que não entram pelos ouvidos, mas diretamente pela boca do estômago...vozes que mexem com o subconsciente. Se você nunca sentiu isso é porque eu sou muito mais maluca do que você, sem usar as drogas que você usa. Ha!

Well...iPod descartado, fui até a livraria. Passei me coçando pela prateleira de auto-ajuda -- eu sempre tenho uma coceira estranha perto desses livros --, olhei as revistas, fui saindo sem uma solução, quando vi a capa de um livro chamado Crepúsculo. "Crepúsculo...Crepúsculo...ah! Twilight, da Stephenie Meyer!" Fiquei feliz. Eu ia ler Twilight em inglês, mas já sabia que não chegaria ao segundo capítulo porque...bom...se eu ler na cama, eu também entro em transe e, embora eu até mude as páginas, estou na verdade longe dali, em outro mundo, fazendo outra coisa. Isso em Inglês piora consideravelmente e meu transe pode acontecer dez páginas mais cedo. Pois é...eu nunca disse que era normal. Comprei o livro sem grandes expectativas, uma vez que uma história sobre vampiros adolescentes é semper uma história sobre vampiros adolescentes. Sentei-me na sala de embarque, abri a primeira das quase 400 páginas, o vôo chegou, embarquei só quando a fila já não mais existia, sentei, continuei lendo, esqueci de afivelar os cintos, desci em São Paulo, fui uma das últimas pessoas a deixar o avião, vim para casa indignada por enjoar lendo no carro. Não li mais. Isso era sexta-feira. No sábado à noite, depois de embarcar meu marido para o outro lado do mundo, dar jantar para as crianças, etc, etc, sentei na sala de TV e retomei a leitura. Quando tive fome, percebi que eram duas e meia da manhã. Fui lendo para a cozinha, peguei umas fatias de queijo e uma coca-light, voltei para o sofá jurando que já iria para a cama, mas só consegui fazer isso às quatro horas. Fui deitar, mas resolvi ler só mais um pouco...às cinco e meia forcei minhas mãos a fecharem o livro e apagarem a luz, numa agitação tão grande que eu poderia sair para dançar. Hoje, domingo, sentei e li até a última página do livro que termina com o primeiro capítulo do segundo livro da trilogia....Agora estou sofrendo! Alguém conhece uma livraria 24 horas?

Só para constar:
. morri de inveja da autora.
. morri de vergonha de ser tão preguiçosa, editorialmente falando.
. não vou ver o filme porque o meu vampiro é dez vezes mais bonito e mais power do que o Robert Pattinson