quarta-feira, outubro 31, 2012

_família, família


As pessoas têm me olhado de olhos esbugalhados e exclamado frases espantadas, talvez por não me conhecer bem...talvez por me conhecer bem demais, e com certeza, por não conseguir entender o que eu sou e como quero viver.
O fato é que o dia de ficar mais velha está chegando. Não...não é meu aniversário. É um daqueles momentos em que você tem de se conformar: você não é mais menina, o tempo passou, agora dá um passinho pra trás e abre caminho para a outra geração.
É isso. Meu filho vai casar.
O fato dele ter quase 30 anos não me fez tão "gente grande" quanto a notícia do casamento. Calma...presta atenção: notícia do casamento = sua família vai formar família. Você pode ser avó. A.V. Ó. Entendeu?
Então...talvez eu devesse fazer charminho e dizer que isso me deprime, mas não. Eu estou louca pra ser avó de uma vez e, nem de longe, isso mudaria a louca aquela que existe em mim. Sorry. Eu continuo envelhecendo (bastante), só por fora.

Nessas horas, a noção de família vem à tona. E o espanto das pessoas também. Sei lá o que elas imaginam que seja uma família. "Meus pais, meus filhos, meus irmãos e sobrinhos"? Não. Família é uma coisa mais ampla. Pelo menos a minha. Todo aquele que toca um dos meus de maneira mais próxima, mais constante, mais presente, é parte da minha família. Foi assim que a família do meu marido se tornou a minha (ou você acha mesmo possível casar com uma pessoa só?). Foi assim que a minha sogra se tornou minha filha, meu sogro virou meu amigo, os sobrinhos deles, e os filhos dos sobrinhos, as esposas dos meus sobrinhos... E dá pra ir mais longe: os primos dos meus primos e seus filhos, e a sogra da minha irmã, as enteadas do meu concunhado e seus maridos... Meus filhos têm amigos que me chamam de mãe. Pelo menos três das minhas amigas são minhas irmãs. E tem também as amigas-filhas. Somos todos uma coisa só, gostem ou não, queiram ou não. E assim a família cresce em progressão geométrica, não na árvore genealógica, mas no coração.

E senhoras e senhores, tem aquela outra parte da família. Aquela que causa o tal espanto que eu contei ali em cima. É o lado de lá: o pai, a madrasta e o irmão do meu filho. História longa essa...uma vida inteira de amizade, mesmo que distante, e ao mesmo tempo totalmente presente. Ela, minha amiga e confidente de adolescência - aquela amiga que promete ser madrinha do seu primeiro filho, sabe? - foi levada de mim pelo tempo, pela vida adulta, por aqueles caminhos que de repente se bifurcam...e se perdeu. Mas quando voltou, voltou no posto prometido. Virou madrinha. Mais do que madrinha, virou mãe-2. Voltou pra dividir comigo o que eu tinha de mais precioso e, sábia como ninguém, mostrou que amizade é sim eterna. Ele manteve-se em sua cadeira cativa, sempre pronto para ajudar, para ser cúmplice, para ser nobre - o que sempre foi e sempre será seu talento maior - dono de toda a nobreza do mundo. Juntos, eles tiveram um filho incrível. Um garoto tão genial quanto o meu (cof cof), tão doce e querido e tão... da família! E como poderia ser diferente? Eles são a família do meu filho, que também a minha, logo somos todos. 
Quando era pequena, minha filha fez um desenho na escola, que mostrava todos nós: os sete. O desenho chocou a professora, que mandou me chamar, mas me deixou feliz: minha filha era uma pessoa de verdade. Porque é assim que é. E se todas as famílias fossem assim, eu garanto, a vida de todo mundo seria mais feliz.

Pois então, quando a minha familia, de todos os lados, já era enorme, lá veio mais um carregamento de gente. Meu filho vai ter sua própria família, que também será a minha...Que venham todos!

Eu acho lindo, sabia? Eu acho que a vida é boa quando se soma, quando ela mesma se multiplica, quando ela é feita de pessoas que sabem que não é preciso contar, mas ser capaz de acumular e dividir o amor que se tem, bem direitinho.

Era isso.