quinta-feira, dezembro 21, 2006

Resoluções de Ano Novo

1. Não vou mais ser preguiçosa
2. Vou sair mais de casa
3. Não vou abandonar tanto os meus amigos
4. Vou ser paciente com adolescentes em casa
5. Vou no mínimo manter meu peso (já que a resolução de 2005 está no auge de seu efeito maravilhoso)
6. Vou escrever mais
7. Vou escrever mais
8. Vou escrever mais
9. Vou escrever mais
10. Vou escrever mais
11. Vou escrever mais
12. Vou escrever mais
23. Vou escrever mais
(...)
2007. Vou escrever mais


I'm off, Kids... Feliz Natal pra todo mundo. Vou tentar postar on the road. Acho que vou conseguir.

Tudo de melhor, porque a gente merece. Se você não merece Shhhhhhh! shut up e faz de conta que está tudo bem.
Um beijo natalino com gosto de panetone.


See you later.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Free Hugs, Free Soul

Todo mundo já viu isso, inclusive eu, mas toda vez que vejo sinto-me da mesma forma: Emocionada!

Dizem que quando duas pessoas se abraçam, e seus corações - fisicamente - se encontram, as almas sentem-se aliviadas por se completarem um pouquinho.
Abraçar é fundamental. Eu não confio em gente que não consegue abraçar.

Isto é um desejo de Natal: Não sonegue contato físico. Não renegue o que é da sua natureza. Talvez hoje em dia você nem goste muito de chegar muito perto das pessoas, mas sua memória afetiva sabe que jamais houve sensação melhor do que o toque da sua mãe, ou um abraço do seu primeiro amor...
ABRACE. Treine esse exercício único de doar e receber ao mesmo tempo. Um abraço pode curar uma alma, e se acompanhado de um sorriso, pode salvar alguém.

ABRACE MAIS, pra que a sua alma seja livre. Talvez isso seja só o que a humanidade precisa para se dar conta de que, mesmo com tantas diferenças, somos todos feitos da mesma coisa...e mais do que nunca, precisamos uns dos outros.


FELIZ NATAL.

Pessoas incríveis passam por mim...

Eu tenho sorte.
Mais do que sorte, eu tenho olhos. Mais do que olhos eu tenho pessoas.
De tudo o que eu tive na vida, o que sempre gostei mais de ter são as minhas pessoas.
Elas chegam dos lugares mais incríveis, da maneira mais surreal, e vão ficando contra todas as probabilidades, contra todas as possibilidades. E para falar delas seria preciso antes descrever a palavra DIVERSIDADE.
Palavrinha essa que já virou papo de eco-chato, na verdade veio ao mundo só para dizer "diferenças"...quando a diferença é tão desimportante, e ao mesmo tempo é o que faz a mágica existir. Mas antes de mais nada, o dicionário nos diria que diversidade quer dizer mesmo diferença. Ou a melhor das palavras que encontrei: DISSEMELHANÇA. Dissemelhança é tudo de bom. Veja como soa deliciosamente diferente e atraente, ser dissemelhante de alguém. Dissemelhanças me interessam...
Para que servem as semelhanças? Para nos envaidecermos ao dizer: " Nossa...você é demais! Incrivelmente igual a mim!" Wow, claro! igual a mim é lindo. Diria aquele a quem odeio citar (o moço que canta com a boca tremidinha e virou o chato mais chato do clube dos chatos): "É que Narciso acha feio o que não é espelho." Ok, espelhos são o máximo, ao menos para mim que sempre adimiti ser vaidosa e convencida. Especialmente um dos meus espelhos, ouso até dizer que é muito mais interessante do que eu.
Mas de qualquer maneira, a diversidade me interessa e é dela que eu quero falar.
Então...pessoas são o que eu tenho de melhor. As minhas. Minhas pessoas e só minhas, que algumas outras que fazem parte do meu dia a dia nem sabem que existem. Mas minhas demais. Elas chegam através de outras, ou por acidente.
Quando eu tinha meus 14, 15 anos, fazia amigas em lojas. Hahah! Puro acidente. Preguiça de ir para o inglês, parei para ver um sapato, já estava atrasada mesmo, papo vai, papo vem, as tres filhas do dono da loja se tornaram minhas super amigas, a quem guardo com o maior carinho até hoje. Se eu tivesse apresentado minha mãe a elas, provavelmente ela me olharia no caminho de volta para casa e diria: " Quem é você afinal, minha filha?" de tão diferentes que elas eram de mim. Tenho amigos em cabeleireiro. Tenho confidentes em academia. Tenho pessoas amadas na padaria. Tenho grandes amigas no shopping. A balconista da lavandeira me liga quando chove para saber se está tudo bem aqui em casa. Eu faço o mesmo pra ela, porque a casa da mãe dela alagou no mesmo dia que a minha. E a mãe dela pergunta por mim com frequência, e me convida para ir na casa dela tomar um café qualquer dia.
Minha melhor amiga nasceu no msn de um amigo do meu filho. Hoje ela é a presença mais forte na minha vida e a filha dela entrou para a minha família. Alguns dos meus amigos e amigas mais amados vieram da tela do meu computador e hoje são reais. Um tão diferente do outro que talvez um encontro coletivo fosse catastrófico.
E existem as surpresas...A menina do blog vizinho, a quem hoje leio com carinho. O moço/espelho/artista que veio da amizade relâmpago com o meu fake e hoje, como diz minha filha, faz parte da vida "do meu off". E os meninos do flog perfeito...Céus, que prazer imenso é lê-los. Barba Mal Feita é o nome do fotolog que me deixou estupefata um ano atrás. A mesma foto postada todos os dias, com textos incrivelmente bem colocados, sobre assuntos nem sempre importantes, nem sempre reais, mas um exercício maravilhoso da palavra e do conceito de vida. Hoje, numa visita rapida, me deparei com uma das melhores coisas que já li. Barba falava sobre os motivos de um homem se apaixonar por uma mulher...que não são os detalhes que importam. E ele termina assim:

"Quando nos tornamos eu e você na última esfera possível do humano, quando somos praticamente bichos, quase animais irracionais, eu te amo. Eu te amo muito, por completo, totalmente, inteiro, irrestrito. Tudo o que representa ‘eu’ em mim te ama. E só. Tem mais não."

Olha se não é maravilhoso conhecer alguém que trata o amor e a intimidade assim: "Quando nos tornamos eu e você na última esfera possível do humano." Isso bate em vocês como bate em mim? Dá vonta de de gritar EURECA!!! Alguém definiu melhor o que " nos tornamos" quando amamos. E é sim a última esfera do humano. Wow! é lindo! Ou eu sou uma boba...
Mas o que preciso dizer é que se meus amigos fossem classificados por raças, seria imporssível popular a terra. Seria impossível criar guetos, porque cada um deles é de uma raça rara, especial, estranha e única. Tem esses que definem a vida, tem os que alegram a vida, tem os que inspiram a vida, tem os que me fazem viver, tem os que não temem a vida, mas todos enriquecem a minha. Todos eles são brilhantes em alguma coisa. Seja no humor, no pensamento, no companheirismo, na disposição de estar perto quando eu preciso, seja no que for. Mas todos, com suas raças, enchem meus dias ou noites de palavras e sentimentos deliciosos.
Alguns muito muito longe. Outros logo ali do lado. Todos aboslutamente dentro de mim.


Bom dia

P.S.Estou com sono e não vou revisar esse texto. Se estiver tudo errado, I'm so sorry, outra hora eu arrumo.
Beijo amigo no seu umbigo.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Texto de Natal

O Natal já chegou, eu ainda não estou nele, mas já me perguntaram se não vai ter um texto de Natal no Caixa Preta. Putz...Pela primeira vez na vida estou com preguiça, me recusando a encontrar papai noel, peru, tender, ou qualquer farofa bem ruim cheia de castanhas e coisas que eu nao gosto. Péssimo.

Que tal então alguns desejos mal humorados de Natal?

1. Quero acreditar em papai noel. Para isso tenho algumas exigências:
a. Não vou fazer compras de natal, mas mesmo assim a árvore vai estar cheia de presentes na noite do dia 24.
b. Não vou dizer o que eu quero, não vou escolher pra alguém passar pra pegar depois, nåõ vou comprar nada pra mim. Mesmo assim, vou ter vários presentes debaixo da árvore (as mães nunca ficam surpresas ou ganham muitas coisas)
c. Se por distração eu passar por um shopping center, não vai ter um papai noel muito magro lá dentro, nem com a barba fake horrível
2. Que ninguém precise encomendar ceia de Natal, nem determinar quem leva o que, não precise ir ao mercado municipal comprar vinho e champagne, ou enfeitar a casa e montar árvore. Mas na noite do dia 24 um lindíssimo jantar cheiroso vai estar na mesa enfeitada, a casa vai estar cheia de pequenas luzes piscando e velas acesas.
3. Ninguém vai ligar a televisão. Não vamos ver a cara da Fátima Bernardes, nem o Natal de Friends, nem zorra total de Natal, nem ouvir a voz do Roberto Carlos pedindo um milhão de amigos (que coisa! Pra que?) Ah…e a Xuxa vai estar ocupada com seu prórpio natal.
4. O Tender não vai ter mel, melado, karo, mapple syrup, cravo, damasco, laranja, abacaxi, pêssego em calda ou parentes distantes de uma dessas coisas que são deliciosas…mas não no meu tender!
5. O peru vai estar fatiado, lindo, arrumado, mas nada que tenha açúcar vai tocar as fatias. Nenhuma cereja vai manchar de vermelho a carne branquinha do nosso peru.
6. Fios de ovos serão servidos como macarrão. Qualquer um pode meter seu próprio garfo dentro do pote e enrolar como fetuccini…e sair de boca cheia tentando dizer: Huuummmm! (cerejas também. Frescas. Em natura. Nada de calda de marasquino)
7. As sobremesas serão simples. Mousses, sorvetes, essas coisas que as pessoas realmente gostam. Nada vai ter uma calda de room ou cassis, nada vai ser seco e cheio de nozes. Os panetones estarão abertos, para serem comidos. E com a mão. Vai estar terminantemente proibido usar faca para cortar panetone. Como na Itália, todas as pessoas terão direito de arrancar grandes pedaços e come-los amassando antes. Os chocotones voltarão para a casa dos diretores de marketing do fabricante.
8. Todos nós vamos saber que Natal é uma data inventada no Império Romano pelo imperador Constantino para tentar conter a fúria dos pagãos em sua festa mais importante - o Solstício de Inverno – e que Jesus nasceu mesmo em Abril, por isso não precisamos cantar noite feliz nem rezar. Mas precisamos estar felizes e alegres, porque geográfica, metereológica e historicamente, este é um dia de festa.
É okay trocar presentes, já que estamos reunidos.
9. Nenhuma tia vai mencionar o fato de termos envelhecido, engordado, embagulhado, estarmos ficando iguais à mãe, ao avô que era careca, ao tio que foi internado no manicômio. Também não vai acontecer dela citar a semelhança entre a sua bunda/barriga e a de alguém detestável e gigante.
10. Os presentes vão se desmaterializar e aparecer na casa de cada um, pra que às 3 da manhã, ninguém tenha que carregar o carro, perder as pilhas do brinquedo, procurar a parte de cima do biquini que ganhou, ligar porque o filho está aos prantos por esquecer o carrinho de controle remoto novo na casa da avó.

Posso desejar coisas mais filosóficas se vocês quiserem, mas só quando eu não estiver tendo que entrar e sair de loja feito uma doida, perdendo a minha lista sagrada em todas elas e vontando pra buscar. Enquanto o Natal parecer uma festa que, para ser boa, precisa encher o saco 3 meses antes, eu me recuso a ter pensamentos filosóficos sobre ele.
Natal é bom quando a gente é criança, ou quando tem criança; depois disso torna-se uma infinita lista de obrigações dezembrinas.

Ok...é claro que toda essa queixa não passa de TPM, mas de qualquer maneira será preciso esperar que a TPM passe para que eu possa fazer uma carinha dócil, com um sorriso meigo, deixar uma lágrima cair discretamente pelo rosto, enquanto escrevo um lindo texto de natal. Mas ainda vai ter a fase da cólica.
Paciência...


Beijos revoltosos porém natalinos...

terça-feira, dezembro 12, 2006

Medo

Está ventando lá fora nesse país inteiro tomado pela água.
Barreiras estão caindo, morros desabando, quanto mais pobres as pessoas, mais água entra arrasando o pouco que elas têm. O vento me dá medo da chuva porque me lembra o dia que a tsunami entrou pela porta da garagem arrastando quase tudo e a mim mesma.
Vai chegando o verão, as tempestades de fim de tarde em dias lindos, e meu coração já não responde mais com alegria aos raios e trovões.

Fui uma criança sem medo que abria a janela pra ver a tempestade.
Todas as vezes que a chuva caiu com violência, raios, trovões, barulho, granizo, eu abri a janela e molhei meu rosto. Chuva e prazer andaram juntos pela minha existência. Mas já não é mais assim.
Me entristeço quando vejo na TV uma pessoa desesperada com sua casa cheia de lama tentando salvar o pouco que tinha. Me entristecia antes, claro. Mas agora é diferente. Dói no estômago uma dor que vai além da solidariedade: eu sei o que aquela pessoa está sentindo.
E vou contar o que ninguém imagina: numa hora assim, não se chora pelo que se perdeu. Se chora pelo que se podia ter perdido. A sensação de impotência é milhares de vezes maior do que qualquer sentimento material. Quando tudo acaba e a sua casa está acabada também, você olha para a família à sua volta e entende o que poderia ter perdido, o que poderia ter sido tão infinitamente pior e mais dolorido.
Às vezes fico lembrando detalhes:
A luz não acabou. Ao contrário, ficou acesa todo o tempo. A caixa de luz na área de serviço ficou coberta pela água até a metade, e aberta. Até me baixar o Hulk e eu tirar o Claudio a força de dentro d'água, ele correu o risco de ser eletricutado. Eu também quando arranquei ele de lá. Parece que, no desespero, ele achava que ainda podia salvar alguma coisa e queria abrir a porta dos fundos, queria desligar a máquina de lavar, queria tentar fazer alguma coisa que já não resolveria nada debaixo de 1,60 de água. Quando escutei as palavras "TIRAR DA TOMADA", não pensei...agarrei o Claudio pela camisa, gritei "CHEGA!" e puxei ele para o alto da escada. Sei lá que força é essa que toma conta de mim na hora que é preciso...

Podia ter sido tão pior: ele podia estar vendo filme lá embaixo...e ter ficado preso dentro da sala. Eu pedi pra minha filha descer para pegar um balde. A porta poderia ter estourado nessa hora, e a água subiu tão rápido que eu não sei se ela conseguiria sair de lá. Não sei se eu entenderia o barulho da água a tempo de fazer alguma coisa para ajudá-la.

Muita coisa podia ter acontecido...como pensar no carro, no sofá, no sistema de som, na tela de alta definição, no tapete, nas máquinas da lavanderia em tudo o que estava no andar de baixo, na quantidade enorme de roupas que estavam para passar? Nunca me importou na verdade as coisas que a gente perdeu - nem as que o seguro pagou (os carros) nem as que não pagou (todo o resto). Eu escrevi aquele dia, e repito agora...foi a primeira vez que eu compreendi o sentido real do ditado aquele: "vão-se os anéis, ficam os dedos". Os dedos...os dedos eram só o que me importava. Todo o resto eram coisas, e eu aprendi muito cedo que caixão não tem gaveta. Cada vez mais me convenço de que a vida só é tão boa para mim porque eu não tenho apego algum. Se algum dia na vida eu tivesse chorado por dinheiro, ou desejado demais ter alguma coisa que outra pessoa tinha, ou não me conformado por ser menos ou ter menos que alguém outro, acho que a vida trataria de ser mais dura comigo, pra me ensinar alguma coisa útil.
Só eu sei de quantas "coisas" abri mão na vida. Quantas vezes disse não a "dinheiros" que levaríam embora a minha dignidade ou a minha paz de espírito. Quantas vezes joguei para o ar tudo o que eu poderia vir a ter, por uma vida digna...pela liberdade de ser quem eu sou...pela simples idéia de não dever nada pra ninguém. Deixei de ser rica muitas vezes. Abri mão de uma herança que seria minha por direito, mas que eu não queria, por achar que não...não seria direito! Quase apanhei de muita gente no dia que assinei os papéis abrindo mão da herança...mas realmente eu não sentia que aquilo fosse meu. Eu não quero nada que não seja meu. Muitas vezes fui chamada de burra por isso. Mas como é bom ser burra de consciência limpa. Não que isso adiante alguma coisa...muitas vezes escutei insinuações de que eu seria capaz de estar com alguém por interesse. Hahha! Essas pessoas tinham que olhar as coisas mais de perto e saber quem eram esses "grandes homens" quando eu os encontrei! Mas esse é outro assunto, meus amiguinhos...voltemos à chuva.

Tenho medo da chuva. E morro de tristeza por isso. Tenho lembranças lindas de banhos de chuva memoráveis na infância. Tempestades lindas servindo de fundo para romances ainda mais lindos...e não sobrou nada. Agora, quando o tempo fecha, fecho a minha testa preocupada...não sei mais ser feliz quando chove. E a pior parte é que a minha filha tem um grande pavor de tempestades. É muito difícil tirar da cabeça dela a imagem terrível da água arrebentando a porta e entrando com aquela violência toda, trazendo lama, pedaços de árvores, fazendo ondas e carregando coisas pesadas como se fossem caixas de fósforo.

Tenho medo do verão. Não consigo mais ficar em paz...quero a primavera de volta.

Rezando para não chover...
Bom dia

domingo, dezembro 03, 2006

Insanity

[foto: Sagrada Família - Barcelona - Nov 2005 - by Mgmyself]
Acho que já passou da fase bonitinha, em que uma garota se apaixona e sonha acordada o dia inteiro...e fala sozinha...e dirige sorrindo porque pensa em coisas lindas...
Acho que já passou da desculpa esfarrapada de buscar personagens, de imaginar cenas para futuros quem sabe um dia livros or something...
Acho que está na hora de encarar tudo isso como insanidade mental.
Tenho muito muito medo dos meus 70 anos.
E se eu estiver sozinha? Eu vou ser uma velha louca! Eu sei que vou...eu sei! Os vizinhos vão falar de mim. As crianças da vizinhança vão jogar ovo na minha porta. Elas vão ter medo de me encontrar. Vão entrar correndo em casa quando eu abrir a janela de manhã. Será que eu vou me lembrar de abrir a janela de manhã?
A vizinha da esquerda vai ter se mudado há dois dias, quando a da direita vai até a sua porta com uma torta de maçã nas mãos se apresentar e dar as boas vindas...e vai dizer: "Olha...aqui do lado mora uma senhora tão bonita...mas é louquinha, coitada. Ela não faz mal a ninguém, mas as crianças dizem que ela é bruxa. Fala sozinha e canta o dia inteiro...dizem que é escritora, mas não sei...acho que ela pensa que é."
Meu cabelo vai estar enorme e prateado, e eu vou me olhar nos espelho e me achar linda e loira como anos antes...e vou olhar pra ele (o espelho) e dar bom dia: "Good Morning my love...I'm cooking your breakfast." Sim...vou falar inglês sozinha o dia inteiro. No mundo dos sonhos a gente não fala a língua da gente, senão a realidade bate na porta e estraga tudo. E vou para a cozinha fazer o meu café da manhã, como se estivesse fazendo o de alguém mais. E vou cozinhar conversando...conversando com alguém que eu sonho...porque há sempre alguém ao meu lado, esteja eu onde estiver.
Mas agora, já velhinha, eu nem vou mais estar preocupada se alguém pode ouvir ou não...já vou acreditar que eu realmente estou acompanhada; e é natural que uma familia converse no café da manhã.
As crianças, esperando o ônibus do colégio vão adorar rir de mim na janela da cozinha, com as torradas na mão falando com "ninguém" que está sentado la...esperando o cream cheese.
E vou ter gatos. Uns cinco. Todos com nomes de pessoas que eu amo.
Eu vou chorar muito, deitada no sofá da sala imaginando meu texto final, no leito de morte. A cada dia, vou pedir que meus filhos chamem alguém de quem não posso deixar de me despedir...e quando essa pessoa chegar, vou dizer coisas lindas e fazê-lo chorar e se arrepender de não ter passado uma existência inteira ao meu lado. Seja quem for a pessoa imaginária, eu vou chorar...e ver meu último suspiro emocionada...e correr para o computador para escrever mais esse incrível texto de despedida.
Na beira da minha pequena piscina, que já há de ter se transformado num lindo tanque de peixes dourados, ou num vaso gigante de alfazema e rosas, eu vou tomar sol contando a história do encanto que fez com que eu e o meu amor nos encotrássemos em todas as vidas, sempre de forma tão forte. Sempre com tanta paixão:

" Você era um guerreiro. Forte, corajoso, destemido. Homem de confiança do Rei. Passava muito tempo na guerra e eu rezava e esperava a sua volta. Havia sempre uma lanterna acesa na nossa cabana, que era a luz que te guiava de volta para mim. Um dia, você se foi novamente. Os meses passaram e todos os guerreiros da adeia começaram a voltar para suas casas. Eu passava os dias na porta esperando, perfumanda, a volta do meu amor...Perguntava por você e eles não me olhavam nos olhos. O último soldado chegou e me entregou sua espada dizendo que você morreu como um bravo. Que é um herói. Que nunca haverá outro como você.
Não...nunca haverá outro como você.
Eu chorei e me desesperei, e maldisse cada general, cada gota de sangue derramada. Pedi aos céus que todos os que um dia desejaram uma guerra evaporassem da terra e vivessem uma vida de dor nas profundezas do inferno.
Sentei e escrevi uma oração pedindo a todos os santos, fantasmas, entidades, anjos, espíritos, toda forma de energia do bem e do mal, que trouxesse você de volta pra mim. Juntei sobre a nossa cama as suas roupas e as minhas, seus objetos, sua espada, nossos lençois, nossas taças e nossa intimidade; usei todas as suas garrafas de vinho, todo o óleo perfumado dos banhos que eu preparei para você e a lanterna da luz que o deveria ter guiado, e incendiei nossa casa.
Transformei nosso amor em fumaça perfumada de saudade e tristeza....e essa fumaça subiu ao céu limpo de lua cheia, cobrindo as estrelas. Nela, estávamos eu e você, unidos para sempre, em forma de sentimento puro...sem matéria...só lembranças.
Enquanto o fogo consumia tudo o que tocamos juntos, eu repetia minha oração e implorava ao mundo que usasse a fumaça para nos guiar nas próximas vidas. Que você voltasse para mim em todas elas, e jamais fosse para guerra outra vez. Que o sangue e a espada não fossem mais capazes de tirá-lo de mim.
Ajoelhada chorando e vendo a fumaça transformar desejo em certeza, fui presa. Fui torturada. Confessei ser impura. Não senti dor. Minha alma já não fazia mais parte de nada. Meu corpo padecia e definhava sem um ai. Fui queimada numa fogueira, com todos os seus amigos e nossos parentes gritando "Bruxa! Bruxa!" à minha volta. O último músculo que se contraiu trouxe um sorriso...já se aproximava o momento de estar com você.
O tempo passou...muito tempo passou...Nascemos separados pelos oceanos. Eu não me lembrava de nada, até que uma guerra estourou. Eu ouvi a notícia de que as tropas chegaram naquele lugar quase sagrado, e soube no mesmo instante que algo grande estava prestes a cortar meu peito. Meu coração explodia e eu não sabia ao certo porque. As lágrimas que caiam involuntariamente do meu rosto gritavam que um grande guerreiro estava de volta a uma guerra santa. E eu, outra vez impotente. Foi o aviso de que eu precisava atravessar o oceano.
A guerra nunca acabou, mas meu coração me disse que você estava seguro. Atravessei o mar a procura do que me fez chorar. Vaguei, viajei, olhei todos os cantos do mundo sem saber o que eu queria encontrar, até que numa noite comum senti o perfume do óleo misturado à fumaça de madeira seca. Um perfume que me deixou tonta e ninguém mais naquela mesa sentiu. A porta do lugar se abriu deixando o vento gelado de inverno entrar...com cheiro de perfume, sangue, fumaça, veio você: meu guerreiro. Seus olhos brilharam ao me ver sentada lá. Sua barba clara, sua pele queimada, seu sorriso iluminado, sua camisa branca reluzindo como uma armadura...e eu lembrei do seu beijo na porta da nossa cabana, levantando meu vestido e me tomando nos braços como a última vez. Todas as vezes, como a última vez....
E agora, aqui, eu te beijo e me perfumo nas nossas almas...que nunca mais serão duas."

Enxugar as lágrimas...respirar fundo...alguém me interna.

Bom dia.

sábado, dezembro 02, 2006

Alma de Borboleta


Descobri! Descobri porque eu tenho esse fascínio por borboletas!
Claro que tem o probleminha aquele de eu viver cheia de borboletas no estômago, mas agora sei de onde elas vêem.
Meu amigo querido - Marquito Freitas - postou uma foto linda no blog dele. Hoje no MSN ele me contou que é um trabalho da Su Blackwell - uma artísta plástica inglesa incrível que faz escultura em livros e outras coisas geniais.
Fui correndo pro site dela, e acabei lendo a história desse vestido. Aqui vai:
Um vestido de algodão de menina se desintegra e vira outra coisa...uma núvem de borboletas.
"Enquanto você dormia" foi inspirado pela lenda da Win-laik-pya ou "alma-de-borboleta". Acredita-se que a alma-de-borboleta voa por aí enquanto seu dono está dormindo. Ela viaja entre o tempo e o espaço, encontrando as almas-borboletas de outras pessoas e animais, voltando quando seu dono acorda.
As crianças de Myanmar ainda aprendem que nunca se acorda uma pessoa bruscamente , porque a win-laik-pya pode não conseguir voltar a tempo, o que mataria a pessoa, ou pior... ela viveria ..sem a alma.

Então...está explicado? Eu durmo muito pouco. Coisa de quatro horas por noite...seis se eu estiver muito cansada. Não dou muito tempo para a minha win-laik-pya passear por aí à noite. Então, fizemos um acordo não verbal...não material...não escrito em papel, mas sim em sonho:
Eu continuo dormindo só as horas que gosto de dormir, mas permito que ela passeie mesmo enquanto estou acordada... Assim, vivemos as duas por aí - às vezes juntas, às vezes separadas - mas sempre voando entre o espaço e o tempo, num mundo de sonhos e vidas irreais.
Isso faz de mim uma semi-borboleta e me dá mais asas do que alguém pode sonhar. Isso faz de nós duas uma coisa só, vivendo em conivência absoluta: eu mostro a ela o sonho, ela viaja para mim. Ela me mostra o caminho, eu viajo para ela. Perfeito!

Descobri. Estou melhor agora...

Bom fim de semana.
Que o sol não fuja...mas sua alma sim.

quinta-feira, novembro 30, 2006

Daren & Mariana - IV

(as partes 1, 2 e 3 desta história, estão mais para baixo)

Relembrando o capítulo anterior:


Descendo a escadaria que dá para o jardim, vemos chegar
Daren Ross, vestido com um smoking que lhe cai impecável e
perfeitamente. Ele olha em volta como qualquer pessoa que
chega sozinha e um pouco perdida a uma festa.

PEDRO
Minha mãe...de onde surgiu aquilo
tudo?

MARIANA
The Edge...

PEDRO
Que Edge?
(olhando outra vez para a escada)
THE EDGE?? O cara? O primata ogro
troglodita? Você ta brincando...

MARIANA
Não to. É ele.
(...)

Mariana e Pedro andam até o bar, mas Mariana não consegue
tirar os olhos de Daren.

PEDRO
Olha pra frente, mulher?

MARIANA
Por que que eu to chocada?

PEDRO
Hm...vamos ter problemas...
(para o garçon)
Champagne por favor.

MARIANA
Conhaque. Duplo.

PEDRO
Mariana?

MARIANA
Ai. To com frio...da licença?

PEDRO
Isso ta com cara de calor, amiga...na bacurinha!

MARIANA
Meu deus que frase! Você não disse isso...

PEDRO
O que? Calor na bacurinha?

MARIANA
Pedro! Que coisa mais Clodovil! Vê se eu tenho cara
de quem actually TEM uma bacurinha!

PEDRO
(medindo de cima a baixo)
Well...

Mariana bate nele com a bolsa. Ele ameaça gritar.

PEDRO
Para que eu vou chamar o troglô!

MARIANA
Cala a boca, Pedro?

PEDRO
Ele já ganhou, Dona Bacurinha. Pode escrever. Daqui ha uma
semana você vai ta comendo um caminhão pelo troglodita.

MARIANA
Imagina...Nunca. Ele é grosso.

PEDRO
É...E brilhante, e engraçado, e rápido, e lindo.
Tudo o que você gosta.

MARIANA
Troglodita.

PEDRO
Chiquérrimo.

MARIANA
Cafa da pior espécie.

PEDRO
Grande.

MARIANA
E escandaloso.

PEDRO
Cheiroso.

MARIANA
Quem disse?

PEDRO
Meu nariz...

MARIANA
Hein?

PEDRO
(falando baixo há centímetros do nariz dela)
Lado esquerdo, olhando pra você, sua anta!

Mariana olha para a esquerda, ao lado de Pedro, e lá está
Daren, olhando para ela com seus olhos azuis cheios de
faíscas e seu meio sorriso irresistível.

DAREN
Max.

MARIANA
Edge...

DAREN
Como você veio parar aqui?

MARIANA
Era o que eu ia perguntar. Conhece o Pedro, meu amigo?
Pedro, esse é o The Edge.

DAREN
Prazer, Pedro...Daren.

Pedro aperta a mão de Daren sem dizer uma palavra, olhando
de cima a baixo e balançando a cabeça positivamente, irônico.
Mariana dá um cutucão nele para parar.

DAREN (CONT'D)
Eu conheço a Dina desde que nasci, mas não
sabia que ela conhecia gente que não está
empalhada...

MARIANA
Ai que horror! Nem é tanto assim. Ela é minha
amiga há muitos anos. Por que que eu nunca te vi nas
festas dela?

DAREN
Porque eu nunca vim. Era festa de velho... Mas aí eu
também fiquei velho.

MARIANA
Ha! Idoso...

DAREN
Sério. Já to até numa aula de dança de salão.
A terceira idade pode chegar a qualquer momento
e eu vou precisar pegar umas velhinhas.

PEDRO
(para mariana)
Eu adoro ele!

MARIANA
Então...as amigas da Dina podem ajudar você nisso:
as empalhadas...

DAREN
Eu sei. Olha aquela ali, por exemplo...
(apontando para uma mulher quase centenária
maquiada como a Derci Gonçalves)
Não é uma gatinha?

MARIANA
(rindo)
Wow...seu número!

PEDRO
Gente, que maldade..

DAREN
Maldade? Essa garota não tem mais esperança nem de
encontrar alguém que empurre a cadeira de rodas dela
de graça. Se eu propuser um jantar romântico, ela morre
feliz! Isso é solidariedade!

PEDRO
Garota...

MARIANA
Ui...imaginei a cena depois do jantar. Que horror...Sexo
bizarro!

DAREN
(para Pedro, apontando para Mariana)
Ela ta avisada que não vai ter esse corpinho e essa pele
lisinha pra sempre?

PEDRO
Eu vivo avisando...

MARIANA
Mas eu nunca vou ficar assim.

PEDRO
Continua fumando, bebendo, levando essa vida impura!

MARIANA
Impura? Ai que mentira!

PEDRO
(cochichando para Daren)
Promíscua!

DAREN
É mesmo? Me conta mais...

Pedro se aproxima de Daren e começa a falar baixo...

PEDRO
Nossa...ela toca um horror. Você nem imagina...
Drogas, homens, festas...

MARIANA
Pedro?? Como assim?

DAREN
Eu tinha certeza...

MARIANA
Hey!

DAREN
Esse olharzinho de despreso nunca me enganou.

MARIANA
Que olhar de despreso?

DAREN
Vem dançar comigo que eu te conto.
(para Pedro)
Vou salvar a alma dessa criança.

Mariana olha para Pedro com cara de "cala a boca!", e vai
para a pista de dança com Daren. Pedro levanta o copo num
brinde e sorri para os dois.

PISTA DE DANÇA NO JARDIM

A sequência de músicas era eletrônica, mas assim que os
dois pisam na pista animados, a banda recomeça a tocar com
uma sequência super mellow de músicas lentíssimas.

DAREN
Droga...não vou mais poder mostrar o que eu aprendi nas
aulas de dança.

MARIANA
Você faz mesmo dança de salão?

DAREN
(soltando sua gargalhada escandalosa)
Claro que não. Mesmo que eu tivesse tempo pra isso,
eu já nasci bailarino profissional.

Ele gira Mariana e a joga sobre seu joelho num passo de Tango.

MARIANA
Impressionante!

DAREN
Porque você me odeia?

MARIANA
Eu não te odeio. Estou dançando com você.

DAREN
Odeia sim. Ta dançando por caridade.

MARIANA
Ah...claro.

DAREN
Mas eu sempre te defendi, você sabe, ne?

MARIANA
Não sei nada. Quando?

DAREN
Você não sabe que a minha conta na internet foi deletada
por que eu te defendi?

MARIANA
Não! Quando isso?

DAREN
Há uns meses. Eu entrei naquele forum sobre diretores
que virou uma zona...

MARIANA
Que fala de tudo menos de cinema? Sei qual.

DAREN
Lembra que tinha um post logo depois de um seu, do Chaz,
que dizia que era incrível como alguém ganha voz ativa só por ser
uma loira gostosa?

MARIANA
Não! De quem ele tava falando?

DAREN
De você.

MARIANA
Que é isso? Que garoto grosso. Loira gostosa é a mãe dele!

DAREN
(soltando outra gargalhada)
Okay, o garoto é grosso, mas não é cego! Todo mundo sabe
que você é a "official hot blonde" da sala.

MARIANA
Que decepção. Eu achava que lá fosse o único lugar onde eu
podia ser só um cérebro e não uma bunda com um cabelo loiro.

DAREN
Mas é isso que faz todo mundo adorar você.

MARIANA
Ah...obrigada. Acabou comigo de uma vez.

DAREN
Não! Você não entendeu...não a bunda...é o que você diz,
a sua inteligência. Você é uma garota incrível. E claro que
tem a coisa da bunda...

MARIANA
Dá pra parar?

DAREN
Desculpa...mas não dá pra negar. Mas ninguém sabia que você
era assim...bonita... até você aparecer ao vivo, Max. Aí dançou...
hot blonde it is.

MARIANA
Menos mal. Mas por que você foi deletado? Não entendi.

DAREN
Porque eu fui mais grosso do que o cara pra te defender e alguém
se queixou de "palavreado xulo de baixíssimo calão". Ferrou. Me
puseram de castigo.

MARIANA
Nossa...desculpa hein..

DAREN
Desculpada.

MARIANA
(abaixando a cabeça)
Por eu não ter gostado de você?

DAREN
Por isso também...Eu sou gordo, feio e grosso.

MARIANA
Ai! Ela te contou? Que idiota!

DAREN
Que diferença faz? Você tinha me odiado mesmo...

MARIANA
Agora eu to morrendo de vergonha...

DAREN
Por que?

MARIANA
Porque eu prejulguei você. Eu vi a Janete no seu colo,
achei aquilo tão de última...E meio mundo já ficou com você...
acabei achando você um absurdo.

DAREN
Eu nunca fiquei com ninguém do chat. E a Janete é louca.
Você sabe disso, não sabe?

MARIANA
Sei um pouco.

DAREN
Eu não podia derrubar a garota no chão. Ela veio sentando no meu
colo...eu sou educado.
(pausa)
E não existe essa coisa de ficar com todo mundo. Elas adoram jogar
esses boatos no meio do chat, porque os caras ficam com ciume.
Tudo balela.

MARIANA
Será que eu sou tão inocente assim que acredito em tudo?

DAREN
Você é muito diferente da maioria daquelas mulheres, Max.

MARIANA
Não sei...eu me divirto tanto, que talvez eu não seja tão
diferente delas assim. Mas eu sempre soube que você é uma
galinha.

DAREN
Mentira. Esquece.
Então...todo mundo lá tem Q.I. superior;
é por isso que a gente adora. Mas você é diferente.
Não entrou na loucura deles. Você ainda é uma
pessoa normal.

MARIANA
Burra?

DAREN
Claro que não.

MARIANA
Todo mundo tem Q.I. superior e eu sou diferente...

DAREN
Diferente na maneira de viver.Você não se detonou como eles.

MARIANA
Ta certo...O que será que fez isso com eles?

DAREN
Não sei. Falta de sexo talvez.

MARIANA
Como assim?

DAREN
Você acha que, quem tem com quem transar, passa 15 horas por dia
na internet?

MARIANA
É...Faz sentido.

DAREN
Fora um ou outro, todo mundo ali é solteiro, divorciado, mal
casado ou maluco.

MARIANA
Onde você se enquadra?

DAREN
Maluco.



HORAS MAIS TARDE

Daren e Mariana estão sentados numa mesa à beira da pista. A banda toca músicas de final de festa, um casal já meio desarrumado ainda dança.

MARIANA
Eu vim pra cá porque lá não tinha mais condições. Sabe quando o
teto bate na sua cabeça?

DAREN
Sei. Aqui é o lugar perfeito na sua área. Nunca vai faltar
trabalho.

MARIANA
Bem isso.

DAREN
Você é boa no que faz?

MARIANA
Sei lá. Eles me pagam...
(rindo)

Pedro se aproxima.

PEDRO
Casal bonito...eu vou embora.

MARIANA
Não! Espera.

PEDRO
Não não...já deu. Bebi toda champagne que tinha no bar.
Agora vou pra casa ver Discovery Channel que tem um documentário
sobre o Homem de Neandertau que eu não posso perder.
Tchau crianças. Juízo.

Pedro está trocando as pernas, com a camisa para fora, o
paletó arrastando no chão e a gravata borboleta a tiracolo.

DAREN
Tem certeza que você está bem?

PEDRO
Opa!

MARIANA
Não. Eu vou te levar pra casa.

PEDRO
Nem pensar! Não vou deixar meu carro novo aqui. A Dina pode
vender no e-bay pra fazer outra festa.

MARIANA
Amanhã a gente pega o seu carro.

PEDRO
Nunca! Meu carrinho não! Eu vou pra casa com o MEU carro novo.
Você tem um carro novo, The Edge?

DAREN
Não...mas eu posso levar o seu carro novo pra sua casa.

Mariana olha para Pedro que encosta a testa na testa dela e
sussurra alto demais:

PEDRO
Casa com esse cara senão eu caso.

MARIANA
Fica quietinho, meu amor, fica?

PEDRO
Ele é um troglo-fofo...um fofo-sapiens!

MARIANA
Pedro, pelo amor de deus, cala a boca.

Daren olha para baixo sorrindo, fingindo que não escutou os comentários de Pedro.

MARIANA
(pra Daren)
Sério que você leva o carro dele?

DAREN
Claro.

MARIANA
E o seu?

DAREN
Você me traz de volta, pode ser?

PEDRO
(encosta outra vez em Mariana)
Fo-fo-fóssil.



INT. NOITE - APARTAMENTO DE PEDRO

Mariana entra acendendo as luzes enquanto Daren carrega
Pedro até o quarto. Os dois arrumam Pedro na cama. Mariana
tira os sapatos dele, Daren tenta tirar a gravata borboleta
que estava a tiracolo e embolou no braço, mas Pedro agarra
seu pesoço e puxa sua cabeça para perto para cochichar.

PEDRO
Neander-fofo...ela mente. Ela disse que você era o Shrek! Um
monstro! Você tem que ficar com ela pra se vingar!
(cochichando dentro do ouvido do Daren)
Essa mulher é mimada. Ela precisa de um homem de verdade.

DAREN
Pode deixar. Agora dorme aí, cara.

MARIANA
O que ele disse?

DAREN
Agradeceu.

MARIANA
(beijando a testa de Pedro)
Que amor. Dorme bem, meu anjinho. Amanhã eu ligo pra ver
como você ta.

PEDRO
Isso! Me abandona! Me troca pelo fofo-sapiens!

MARIANA
Boa noite, Pedro.

DAREN
Boa noite.

PEDRO
(gritando)
Me deixem virar um fóssil abandonado aqui nesse mundo
mezozóico de vocês!

Mariana e Daren apagam as luzes e saem do apartamento.

EXT. NOITE - RUA DA CASA DA DINA - CARRO DA MARIANA

MARIANA
Então ta. Obrigada mesmo, viu?

DAREN
Imagina. Sempre que precisar aprender a dançar, ou tiver um
amigo bêbado, que saiba tudo da evolução do homem, pra
carregar...

MARIANA
Ta. Se acontecer eu te ligo.

DAREN
A gente se fala online?

MARIANA
Claro.

Daren sai do carro, da a volta e se apoia na janela de
Mariana.

DAREN
Ainda me odeia?

MARIANA
Nem um pouquinho.

DAREN
Fui grosso com você?

MARIANA
Nem.

DAREN
Feio e gordo okay,eu aceito.

MARIANA
Nem é.

DAREN
Se cuida?

MARIANA
An-hã. Você também. E obrigada de novo.

DAREN
Nada.

Os dois se olham fixamente e não conseguem se mexer.

MARIANA
Vai embora.

DAREN
Não consigo.

MARIANA
Vai, Edge.

DAREN
Ta...Max.

Daren vacila um pouco, se aproxima para beijar Mariana, ela
fica sem graça, ele se afasta, se aproxima novamente e a
beija na testa. Os dois sorriem olhando dentro dos olhos:
os olhos azuis cheios de faíscas de Daren dentro dos olhos
castanhos iluminados de Mariana.

DAREN (CONT'D)
Tchau. Vai embora. Sai!

MARIANA
Foi grosso agora.

Daren passa a mão no cabelo dela...

DAREN
Eu nunca vou ser grosso com você...é brincadeira.

MARIANA
(segurando a mão dele)
Eu sei. Tchau. A gente se fala.

Daren dá um passo atrás. Mariana arranca o carro.



CONTINUA...

quinta-feira, novembro 23, 2006

A lenda da chuva

Lembrei de uma história que escrevi quando criei o inicio do romance entre Clarence e Mike no roteiro do Touching the Clouds.
Era uma noite de chuva, a luz acabava, Clarence contava para o Mike uma historia de infância.
Pra contar esta história é preciso contar antes uma outra. A minha:
Lembrança boa é coisa que vai sendo construída pela família. Não todos os dias, mas em dias especiais. Assim eu entendo hoje, depois de ter visto a vida passar, e tendo as lembranças como referência: um tipo de bússola que te conta de onde você veio, pra que você não se deixe perder no caminho. Pode ser que tudo venha com um pouco de fantasia. Mas pra que servem as mentes infantis, senão pra trazer para o mundo adulto um pouco de magia?
Uma das minhas lembranças mais nítidas da infância são as noites de tempestade em que a luz acabava.
Minha mãe era uma morena linda, com traços de cigana, cabelos ondulados muito pretos, olhos grandes de jabuticaba e a sobrancelha mais imponente que alguém já teve. Cara de mulher poderosa...Sempre muito austera...Mas se havia um momento em que a austeridade desaparecia, era na hora do medo.
Medo foi sempre um sentimento respeitado na minha casa graças a ela, ex-criança medrosa.
Com o pavor que tinha do mar, ensinou os quatro filhos a mergulhar, nadar e pular onda. (Só soubemos deste medo depois de grandes). Com o medo que tinha de espíritos e fantasmas, nos ensinou a ser fortes e destemidos.E a rezar. E do medo que tinha de escuro criou as historias e fantasias que até hoje dançam em nossas cabeças.

Em noite de tempestade, minha avó rezava para Santa Bárbara sem parar, mas ela mesma vivia dizendo que as pessoas só lembram de Santa Bárbara quando troveja! Rezava e fechava as janelas, mostrando pras crianças da casa que algo terrível estava pra acontecer.
Uma noite, caiu uma tempestade. Muito trovão, muito vento, chuva forte...
Eu estava no quarto, me preparando pra dormir quando a luz apagou e eu fiquei em pânico! Comecei a chorar alto e chamar a minha mãe. Nessas horas de medo, parece sempre que a família toda fugiu e o mundo vai acabar no escuro! Mas não...Minha mãe aparecia do nada, me levava pela mão até a sala de jantar onde já tinha acendido velas.
Sempre uma visão mágica essa. As chamas tremulando...A luz e as sombras se mexendo...Os móveis não parecem os mesmos...A sua mãe fica mais bonita...
Ali, naquele lugar meio mágico meio misterioso, ela me explicou os porquês da tempestade.

Eu cresci e preferi assim:
Era uma vez a Chuva. Uma mulher linda, jovem, com cabelos feitos de longos fios de prata esvoaçantes, enfeitados de cristais.
Ela amava um homem chamado Trovão mais que a tudo no mundo. Ele - Trovão – era lindo: cabelos claros de luz, corpo forte, alma iluminada, sorriso radiante. Ele amava a Chuva e seus cabelos de prata mais que à própria vida.
Um dia, o Trovão viu a Chuva sorrindo para o Sol, que se exibia, tentando conquistá-la. O Sol, esse egocêntrico, que acha que tudo gira em torno de si, quis a chuva só pra ele. Para impressioná-la, criou um enorme arco-íris, o maior de todos, o mais perfeito e deu a ela de presente.
Vendo aquilo, o Trovão percebeu que não seria capaz de dar a ela nada tão grandioso. Sentiu a mãe de todas as raivas! Uma tristeza profunda...Um ciúme horrível! Se não amasse tanto seria capaz de explodir o universo!
Mas seu amor pela Chuva era tão gigantesco, tão maior que o ciúme, que ele não podia sequer pensar em machucá-la. - Nem a ela, nem a nada que a agradasse. Assim, o Trovão explodiu em raios, relâmpagos, e luz, fazendo muito barulho e perdeu sua forma para sempre.
A tristeza da chuva será eterna. A saudade enorme. Mesmo que trovão a perdoasse eles não poderiam ficar juntos jamais, porque ele não poderia voltar a ter sua forma humana.
Assim, muito tempo depois, a Chuva casou-se com o Sol que, sabendo-se culpado pela tristeza dela, nunca parou de tentar agradá-la.

Até os dias de hoje, os raios e trovoadas acontecem quando o Trovão está triste, tentando voltar à sua forma humana para matar a saudade que sente da Chuva.
Ela, ouvindo seu desespero, chora lágrimas de cristal e deixa voarem seus cabelos de prata.
Mas tudo se acalma quando o Sol prepara um lindo arco-íris e dá de presente à sua amada para que ela pare de chorar...


Texto escrito em Janeiro de 2005, baseado na Lenda da Chuva - parte da história "Thouching the Clouds" de 1997.
Foto antiga da minha mãe by Amaury Gameiro - 1954
Foto do guarda-chuva by MgMyself - 2005




Genial, genial!


Tem coisas que eu invejo, e eu queria ter feito.
Acho incrível...não sei se por eu ser uma computer freak
ou se porque é genial mesmo que eu não fosse.

Não sei quem é essa criatura. mas sei que ele me parece louco, desocupado e genial.

quarta-feira, novembro 22, 2006

AHHHHHRGH! CANSEI!

De tempos em tempos eu tenho um surto de talento e habilidade que deve vir de alguma entidade entediada que me usa!
Quando eu estava grávida do primeiro filho, fiquei prendada...resolvi que precisávamos de um Nata de casa de avó, com pinheiro natural e enfeites fofinhos; afinal a primeira criança da família já tinha um ano, e havia duas barrigas na família - a minha e a da Pat.
Pois comprei feltro, linhas de bordado, estrelas brilhantes e sei lá mais o que, sentei na máquina de costura e fiz todos os enfeites da árvore natural que eu exigi! Papai noel, anjinho, botinha...tudo bordadinho e fofinho.
Até aí está lindo. Agora...se eu sentar hoje na máquina de costura, não vou saber como coloca linha na agulha.

Mais tarde eu desenhava...carvão e pastel. Fazia retratos incríveis e não sei desenhar mais nada. Ainda tenho uns guardados aqui. Fiz um mega quadro maravilhoso pra um namorado, com o rosto dele muitas vezes, misturando colagem e desenho...imagina...sou incapaz!

Teve a época dos vasos. Mania de pintar vasos. Começava às duas da tarde e esquecia de jantar, quando via eram 4 da manhã e eu estava pintando. Às vezes ficava na piscina de manhã, quando olhava para minha mesa de trabalho sentava lá pra pintar...de repente era madrugada e eu estava de bikini e avental, inteira picada de pernilongo. Milhares de vasos...Depois mais enfeites de natal. Suplats, coroas, tudo de madeira, meio country, um trabalho desgraçado....pintei milhares deles e ainda estão todos aqui. Agora...não sei o nome das tintas, não lembro a ordem das coisas , não tenho paciência para pintar.

E o tempo vai passando...e eu resolvo fazer tortas, profiteroles, massa folhada, geléia de frutas vermelhas que deu errado e virou o melhor sorvete do mundo...Não lembro mais como faz.


Há 10 meses, a AOL fechou no Brasil virando as costar para o TPM, meu falecido e amado blog. Em desespero, comprei o domínio "caixapreta.com.br" e espalhei para o mundo que eu teria um super site. Colunistas fantásticos: Marytza Van Der Osten & Roberto Roberti.; Conselhos sexuais de Aninha do Taradão; link para fotos, concurso de fotos dos leitores, etc, etc, etc...
Ah ta...sei...então? Então pedi para um super webdesigner layoutar o caixa preta. Ele me apresentou duas opções: o site da imobiliária moderninha e uma outra coisa que era estranha mas tinha uma borboleta. Opa! Eu expliquei tantas vezes....
Isso me lembra uma história do Zé Buffo sobre os olhos de quem ouve: Você chega no cliente com um roteiro e começa a contar pro seu cliente..."imagina uma morena maravilhosa, super corpão, pele linda, peitos perfeitos, pernas perfeitas, cabelos negros, bocão...."
E o cliente empolgadésimo adivinha: "Sei! A Gretchen!"
Pois é...e você falando da Angelina Jolie....

Foi mais ou menos essa a minha experiência brifando meu site. Até uma iguana apareceu num dos layouts. Hello?? Alguém sabe o aflição que eu tenho só de olhar pra uma iguana?
Depois, meu amigo, meu parceiro, meu querido, meu conterrâneo de Pleiades - PL Lemos - me mostrou um anúncio que ele fez pra Arcor (Fruit Nuts). Eu olhei pro layout e quase enfartei! Era o que eu queria! "Não apresenta essa campanha! Faz outra! Dá isso pra mim!!" - não colou... :(
Implorei pro PL fazer o layout do caixa pra mim. Mas assim...quase de joelhos. Ele até começou, e já no primeiro layout eu fiquei feliz demais! "Então ta...então vamos fazendo...vamos sim..." Hah! Quem disse que esse maluco tem tempo pra alguma coisa?
Impossível. Os meses passaram e a gente falava: "vamos nos ver pra falar do site? " Nada aconteceu.

Essa semana, tive dois ataques simultâneos:
1. Ataque de CHEGA!
2. Ataque de talento.
Vish! Resolvi descobrir como faz pra mudar o template do Blogger. Pesquisei feito uma doida, porque tudo existe meio pronto, e tudo o que é meio pronto é meio nada...e resolvi descobrir como funciona o Adobe Go Live...e o Image Ready...e PL socorro! Como faz pra fazer um botão no photoshop? E a Natasha me mostrou umas ferramentas de photoshop que ela baixou pra mexer nas montagens dela. Ai ai ai. Baixou a entidade! Veio a Maria Padilha Webdesigner e não me largou enquanto eu não terminei! (ou vocês acham que eu faria tudo tão coloridinho?)

Duas noites sem dormir, mas eu e Padilha descobrimos tudo o que precisávamos para colocar no ar o Caixa Preta como eu queria. Claro que sem o PL e o Diogo eu não teria ido tão longe...eu queria fazer uma coisa, sabia o que usar mas não sabia como...me bati um monte até que o diogo chegou, olhou... "Ah...jura que dá pra fazer isso assim, mãe?" Sentou dois minutos e descobriu como. Que alívio! Odeio pensar Angelina Jolie e ter que fazer Gretchen!

Pois bem...here you are!
Não está completamente pronto. Falta eu juntar todos os textos do TPM numa página, para aquele link pro TPM começar a valer e quem quiser poder reler coisa velha. Faltam algumas bobagens que eu ainda quero colocar na página dos links...Já tem música , Marilia, é só procurar direito...E logo logo vai estar tudo bem lindo.

Mas então...era o que eu tinha pra dizer: baixou a Padilha Designer, trabalhei feito uma doida, não dormi nem comi direito dois dias, e estou detonada! Detonada e feliz demais com o resultado.
Em três meses eu não vou ser capaz de digitar um código HTML, ou editar uma página em programa nenhum.

Acontece...
Comigo, o tempo todo.

Beijo beijo

I hope you enjoy

sexta-feira, novembro 17, 2006

_eu que sou chata??

Acordei, tomei café e 6 comprimidos de coisas pra arrumar uma coisa e estragar outra -- um arruma a tireóide mas resseca a pele, outro salva a pele mas detona o bolso, outro não deixa reter líquido mas baixa a pressão ... Ta rindo de que? Eu tenho 45 anos! Você pensa que a gente não tem prazo de validade?
Bem...fui pro banho, me arrumei pra treinar - sim eu tomo banho antes do treino e treino todos os dias, porque se o prazo dos músculos vencer tudo está perdido. Liguei o computador, pra ver se tinha e-mail, etc.
Ai meu saquinho!

Porque será que mulheres que passam dos 40 agem como meninas que não chagaram aos 15?
Eu entendo uma menina mandando pra toda a lista dela uma corrente bonitinha que garante que pelo menos 15 pessoas no mundo te amam..."mas se você não mandar esse e-mail pra 15 pessoas, nem duas vão lembrar que você existe". Será que o cérebro vence tão cedo?

Daí eu me pergunto: o que deu errado comigo?
Sim...porque alguma coisa deu errado. Eu não faço as coisas que as mulheres da minha idade fazem. Eu nem gosto das coisas que elas gostam.!
Eu não faço nem tricot! Não costuro, não colo guardanapo na vela, não vejo Anamaria Braga, Silvia Popovik, Adriane Galisteu, Luciana Gimenez, Amaury Junior, Sex and the City (oops...desculpa!). Não faço idéia nem do nome dos seriados da Globo, acho o Tiago Lacerda uma caca, não vejo nada no Marcelo Antony e muito menos no José Mayer que tem cara de dono de padaria. Não copio receita, não faço lanchinho pras amigas, não compro toalhinhas bordadas, não tenho suportes de inox de margarina, requeijão, guardanapo, garrafa, azeite, etc etc etc... Minha casa não tem nada de feng shui, meu quarto não guarda "segredinhos místicos para o casamento perfeito".
E mais do que tudo: Eu não repasso arquivos pps.

O famigerado arquivo ".pps" vai se transformar no ícone máximo da meia idade no início do século. Ainda vamos ver tratados sobre o comportamento de mulheres de meia idade relacionando o arquivo pps com uma existência miserável. "Depois dos 40. Do botox ao pps".

Por que elas lêm Lia Luft? Por que precisam de auto-ajuda? Por que precisam de filosofia barata? por que precisam mandar slides de garotões musculosos? Por que precisam analisar o tórax de algum cara bem feio que joga futebol? O que deu errado comigo? Onde elas estiveram e eu não, pra acharem tão bonito e tocante um slide show brega com uma trilha péssima e um texto sofrível? Eu lembro que estudamos na mesma escola, fomos aos mesmos clubes, mesmas festas, vimos os mesmos filmes, tínhamos familias mais ou menos do mesmo padrão...então...o que deu errado? Será que porque eu casei duas vezes a mais meu cérebro entrou em choque?
Será que porque eu fui trabalhar em publicidade eu reverti o processo da vida miserável? Será que lendo livros de cinema ao invés dos mais vendidos da Veja eu salvei meus neurônios da massificação do brega?
Ou eu que não sei viver? Ou eu que não sei dar valor para as coisas meia boca da vida e isso é falta de leveza e simplicidade? Hm...faz-me pensar!
Será que eu que tenho uma existência miserável por ter consciência do quão infeliz eu seria se tivesse? Acho que sim. Porque não é possível que elas tenham consciência da simplicidade básica, elementar, rasa, quase estúpida desse mal gosto global incrível!

Mas...acho que vi minha mãe penando com os mesmos assuntos, milênios antes da criação do primeiro PC. Lembro também de ver a revolta da minha irmã Bia, por ter escrito vários trabalhos sobre educação e pedagogia, mas só ter seu nome publicado numa Casa Claudia quando fez pátina azul num móvel antigo. Ela queria explodir um mundo que é fútil e raso. Mas de nada adiantou se revoltar...Recebeu milhares de encomendas de restauro de móveis.

É assim que se vive quando algo sai errado com a gente. Você não consegue combater o mundo da existência miserável, então usufrui dele e ainda ganha uns pilas.

Triste.
Não gosto de pensar que as mulheres do mundo se perderam. Prefiro achar que eu bati a cabeça quando era nenem.


Um beijo amigo no seu umbigo.