quinta-feira, dezembro 21, 2006

Resoluções de Ano Novo

1. Não vou mais ser preguiçosa
2. Vou sair mais de casa
3. Não vou abandonar tanto os meus amigos
4. Vou ser paciente com adolescentes em casa
5. Vou no mínimo manter meu peso (já que a resolução de 2005 está no auge de seu efeito maravilhoso)
6. Vou escrever mais
7. Vou escrever mais
8. Vou escrever mais
9. Vou escrever mais
10. Vou escrever mais
11. Vou escrever mais
12. Vou escrever mais
23. Vou escrever mais
(...)
2007. Vou escrever mais


I'm off, Kids... Feliz Natal pra todo mundo. Vou tentar postar on the road. Acho que vou conseguir.

Tudo de melhor, porque a gente merece. Se você não merece Shhhhhhh! shut up e faz de conta que está tudo bem.
Um beijo natalino com gosto de panetone.


See you later.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Free Hugs, Free Soul

Todo mundo já viu isso, inclusive eu, mas toda vez que vejo sinto-me da mesma forma: Emocionada!

Dizem que quando duas pessoas se abraçam, e seus corações - fisicamente - se encontram, as almas sentem-se aliviadas por se completarem um pouquinho.
Abraçar é fundamental. Eu não confio em gente que não consegue abraçar.

Isto é um desejo de Natal: Não sonegue contato físico. Não renegue o que é da sua natureza. Talvez hoje em dia você nem goste muito de chegar muito perto das pessoas, mas sua memória afetiva sabe que jamais houve sensação melhor do que o toque da sua mãe, ou um abraço do seu primeiro amor...
ABRACE. Treine esse exercício único de doar e receber ao mesmo tempo. Um abraço pode curar uma alma, e se acompanhado de um sorriso, pode salvar alguém.

ABRACE MAIS, pra que a sua alma seja livre. Talvez isso seja só o que a humanidade precisa para se dar conta de que, mesmo com tantas diferenças, somos todos feitos da mesma coisa...e mais do que nunca, precisamos uns dos outros.


FELIZ NATAL.

Pessoas incríveis passam por mim...

Eu tenho sorte.
Mais do que sorte, eu tenho olhos. Mais do que olhos eu tenho pessoas.
De tudo o que eu tive na vida, o que sempre gostei mais de ter são as minhas pessoas.
Elas chegam dos lugares mais incríveis, da maneira mais surreal, e vão ficando contra todas as probabilidades, contra todas as possibilidades. E para falar delas seria preciso antes descrever a palavra DIVERSIDADE.
Palavrinha essa que já virou papo de eco-chato, na verdade veio ao mundo só para dizer "diferenças"...quando a diferença é tão desimportante, e ao mesmo tempo é o que faz a mágica existir. Mas antes de mais nada, o dicionário nos diria que diversidade quer dizer mesmo diferença. Ou a melhor das palavras que encontrei: DISSEMELHANÇA. Dissemelhança é tudo de bom. Veja como soa deliciosamente diferente e atraente, ser dissemelhante de alguém. Dissemelhanças me interessam...
Para que servem as semelhanças? Para nos envaidecermos ao dizer: " Nossa...você é demais! Incrivelmente igual a mim!" Wow, claro! igual a mim é lindo. Diria aquele a quem odeio citar (o moço que canta com a boca tremidinha e virou o chato mais chato do clube dos chatos): "É que Narciso acha feio o que não é espelho." Ok, espelhos são o máximo, ao menos para mim que sempre adimiti ser vaidosa e convencida. Especialmente um dos meus espelhos, ouso até dizer que é muito mais interessante do que eu.
Mas de qualquer maneira, a diversidade me interessa e é dela que eu quero falar.
Então...pessoas são o que eu tenho de melhor. As minhas. Minhas pessoas e só minhas, que algumas outras que fazem parte do meu dia a dia nem sabem que existem. Mas minhas demais. Elas chegam através de outras, ou por acidente.
Quando eu tinha meus 14, 15 anos, fazia amigas em lojas. Hahah! Puro acidente. Preguiça de ir para o inglês, parei para ver um sapato, já estava atrasada mesmo, papo vai, papo vem, as tres filhas do dono da loja se tornaram minhas super amigas, a quem guardo com o maior carinho até hoje. Se eu tivesse apresentado minha mãe a elas, provavelmente ela me olharia no caminho de volta para casa e diria: " Quem é você afinal, minha filha?" de tão diferentes que elas eram de mim. Tenho amigos em cabeleireiro. Tenho confidentes em academia. Tenho pessoas amadas na padaria. Tenho grandes amigas no shopping. A balconista da lavandeira me liga quando chove para saber se está tudo bem aqui em casa. Eu faço o mesmo pra ela, porque a casa da mãe dela alagou no mesmo dia que a minha. E a mãe dela pergunta por mim com frequência, e me convida para ir na casa dela tomar um café qualquer dia.
Minha melhor amiga nasceu no msn de um amigo do meu filho. Hoje ela é a presença mais forte na minha vida e a filha dela entrou para a minha família. Alguns dos meus amigos e amigas mais amados vieram da tela do meu computador e hoje são reais. Um tão diferente do outro que talvez um encontro coletivo fosse catastrófico.
E existem as surpresas...A menina do blog vizinho, a quem hoje leio com carinho. O moço/espelho/artista que veio da amizade relâmpago com o meu fake e hoje, como diz minha filha, faz parte da vida "do meu off". E os meninos do flog perfeito...Céus, que prazer imenso é lê-los. Barba Mal Feita é o nome do fotolog que me deixou estupefata um ano atrás. A mesma foto postada todos os dias, com textos incrivelmente bem colocados, sobre assuntos nem sempre importantes, nem sempre reais, mas um exercício maravilhoso da palavra e do conceito de vida. Hoje, numa visita rapida, me deparei com uma das melhores coisas que já li. Barba falava sobre os motivos de um homem se apaixonar por uma mulher...que não são os detalhes que importam. E ele termina assim:

"Quando nos tornamos eu e você na última esfera possível do humano, quando somos praticamente bichos, quase animais irracionais, eu te amo. Eu te amo muito, por completo, totalmente, inteiro, irrestrito. Tudo o que representa ‘eu’ em mim te ama. E só. Tem mais não."

Olha se não é maravilhoso conhecer alguém que trata o amor e a intimidade assim: "Quando nos tornamos eu e você na última esfera possível do humano." Isso bate em vocês como bate em mim? Dá vonta de de gritar EURECA!!! Alguém definiu melhor o que " nos tornamos" quando amamos. E é sim a última esfera do humano. Wow! é lindo! Ou eu sou uma boba...
Mas o que preciso dizer é que se meus amigos fossem classificados por raças, seria imporssível popular a terra. Seria impossível criar guetos, porque cada um deles é de uma raça rara, especial, estranha e única. Tem esses que definem a vida, tem os que alegram a vida, tem os que inspiram a vida, tem os que me fazem viver, tem os que não temem a vida, mas todos enriquecem a minha. Todos eles são brilhantes em alguma coisa. Seja no humor, no pensamento, no companheirismo, na disposição de estar perto quando eu preciso, seja no que for. Mas todos, com suas raças, enchem meus dias ou noites de palavras e sentimentos deliciosos.
Alguns muito muito longe. Outros logo ali do lado. Todos aboslutamente dentro de mim.


Bom dia

P.S.Estou com sono e não vou revisar esse texto. Se estiver tudo errado, I'm so sorry, outra hora eu arrumo.
Beijo amigo no seu umbigo.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Texto de Natal

O Natal já chegou, eu ainda não estou nele, mas já me perguntaram se não vai ter um texto de Natal no Caixa Preta. Putz...Pela primeira vez na vida estou com preguiça, me recusando a encontrar papai noel, peru, tender, ou qualquer farofa bem ruim cheia de castanhas e coisas que eu nao gosto. Péssimo.

Que tal então alguns desejos mal humorados de Natal?

1. Quero acreditar em papai noel. Para isso tenho algumas exigências:
a. Não vou fazer compras de natal, mas mesmo assim a árvore vai estar cheia de presentes na noite do dia 24.
b. Não vou dizer o que eu quero, não vou escolher pra alguém passar pra pegar depois, nåõ vou comprar nada pra mim. Mesmo assim, vou ter vários presentes debaixo da árvore (as mães nunca ficam surpresas ou ganham muitas coisas)
c. Se por distração eu passar por um shopping center, não vai ter um papai noel muito magro lá dentro, nem com a barba fake horrível
2. Que ninguém precise encomendar ceia de Natal, nem determinar quem leva o que, não precise ir ao mercado municipal comprar vinho e champagne, ou enfeitar a casa e montar árvore. Mas na noite do dia 24 um lindíssimo jantar cheiroso vai estar na mesa enfeitada, a casa vai estar cheia de pequenas luzes piscando e velas acesas.
3. Ninguém vai ligar a televisão. Não vamos ver a cara da Fátima Bernardes, nem o Natal de Friends, nem zorra total de Natal, nem ouvir a voz do Roberto Carlos pedindo um milhão de amigos (que coisa! Pra que?) Ah…e a Xuxa vai estar ocupada com seu prórpio natal.
4. O Tender não vai ter mel, melado, karo, mapple syrup, cravo, damasco, laranja, abacaxi, pêssego em calda ou parentes distantes de uma dessas coisas que são deliciosas…mas não no meu tender!
5. O peru vai estar fatiado, lindo, arrumado, mas nada que tenha açúcar vai tocar as fatias. Nenhuma cereja vai manchar de vermelho a carne branquinha do nosso peru.
6. Fios de ovos serão servidos como macarrão. Qualquer um pode meter seu próprio garfo dentro do pote e enrolar como fetuccini…e sair de boca cheia tentando dizer: Huuummmm! (cerejas também. Frescas. Em natura. Nada de calda de marasquino)
7. As sobremesas serão simples. Mousses, sorvetes, essas coisas que as pessoas realmente gostam. Nada vai ter uma calda de room ou cassis, nada vai ser seco e cheio de nozes. Os panetones estarão abertos, para serem comidos. E com a mão. Vai estar terminantemente proibido usar faca para cortar panetone. Como na Itália, todas as pessoas terão direito de arrancar grandes pedaços e come-los amassando antes. Os chocotones voltarão para a casa dos diretores de marketing do fabricante.
8. Todos nós vamos saber que Natal é uma data inventada no Império Romano pelo imperador Constantino para tentar conter a fúria dos pagãos em sua festa mais importante - o Solstício de Inverno – e que Jesus nasceu mesmo em Abril, por isso não precisamos cantar noite feliz nem rezar. Mas precisamos estar felizes e alegres, porque geográfica, metereológica e historicamente, este é um dia de festa.
É okay trocar presentes, já que estamos reunidos.
9. Nenhuma tia vai mencionar o fato de termos envelhecido, engordado, embagulhado, estarmos ficando iguais à mãe, ao avô que era careca, ao tio que foi internado no manicômio. Também não vai acontecer dela citar a semelhança entre a sua bunda/barriga e a de alguém detestável e gigante.
10. Os presentes vão se desmaterializar e aparecer na casa de cada um, pra que às 3 da manhã, ninguém tenha que carregar o carro, perder as pilhas do brinquedo, procurar a parte de cima do biquini que ganhou, ligar porque o filho está aos prantos por esquecer o carrinho de controle remoto novo na casa da avó.

Posso desejar coisas mais filosóficas se vocês quiserem, mas só quando eu não estiver tendo que entrar e sair de loja feito uma doida, perdendo a minha lista sagrada em todas elas e vontando pra buscar. Enquanto o Natal parecer uma festa que, para ser boa, precisa encher o saco 3 meses antes, eu me recuso a ter pensamentos filosóficos sobre ele.
Natal é bom quando a gente é criança, ou quando tem criança; depois disso torna-se uma infinita lista de obrigações dezembrinas.

Ok...é claro que toda essa queixa não passa de TPM, mas de qualquer maneira será preciso esperar que a TPM passe para que eu possa fazer uma carinha dócil, com um sorriso meigo, deixar uma lágrima cair discretamente pelo rosto, enquanto escrevo um lindo texto de natal. Mas ainda vai ter a fase da cólica.
Paciência...


Beijos revoltosos porém natalinos...

terça-feira, dezembro 12, 2006

Medo

Está ventando lá fora nesse país inteiro tomado pela água.
Barreiras estão caindo, morros desabando, quanto mais pobres as pessoas, mais água entra arrasando o pouco que elas têm. O vento me dá medo da chuva porque me lembra o dia que a tsunami entrou pela porta da garagem arrastando quase tudo e a mim mesma.
Vai chegando o verão, as tempestades de fim de tarde em dias lindos, e meu coração já não responde mais com alegria aos raios e trovões.

Fui uma criança sem medo que abria a janela pra ver a tempestade.
Todas as vezes que a chuva caiu com violência, raios, trovões, barulho, granizo, eu abri a janela e molhei meu rosto. Chuva e prazer andaram juntos pela minha existência. Mas já não é mais assim.
Me entristeço quando vejo na TV uma pessoa desesperada com sua casa cheia de lama tentando salvar o pouco que tinha. Me entristecia antes, claro. Mas agora é diferente. Dói no estômago uma dor que vai além da solidariedade: eu sei o que aquela pessoa está sentindo.
E vou contar o que ninguém imagina: numa hora assim, não se chora pelo que se perdeu. Se chora pelo que se podia ter perdido. A sensação de impotência é milhares de vezes maior do que qualquer sentimento material. Quando tudo acaba e a sua casa está acabada também, você olha para a família à sua volta e entende o que poderia ter perdido, o que poderia ter sido tão infinitamente pior e mais dolorido.
Às vezes fico lembrando detalhes:
A luz não acabou. Ao contrário, ficou acesa todo o tempo. A caixa de luz na área de serviço ficou coberta pela água até a metade, e aberta. Até me baixar o Hulk e eu tirar o Claudio a força de dentro d'água, ele correu o risco de ser eletricutado. Eu também quando arranquei ele de lá. Parece que, no desespero, ele achava que ainda podia salvar alguma coisa e queria abrir a porta dos fundos, queria desligar a máquina de lavar, queria tentar fazer alguma coisa que já não resolveria nada debaixo de 1,60 de água. Quando escutei as palavras "TIRAR DA TOMADA", não pensei...agarrei o Claudio pela camisa, gritei "CHEGA!" e puxei ele para o alto da escada. Sei lá que força é essa que toma conta de mim na hora que é preciso...

Podia ter sido tão pior: ele podia estar vendo filme lá embaixo...e ter ficado preso dentro da sala. Eu pedi pra minha filha descer para pegar um balde. A porta poderia ter estourado nessa hora, e a água subiu tão rápido que eu não sei se ela conseguiria sair de lá. Não sei se eu entenderia o barulho da água a tempo de fazer alguma coisa para ajudá-la.

Muita coisa podia ter acontecido...como pensar no carro, no sofá, no sistema de som, na tela de alta definição, no tapete, nas máquinas da lavanderia em tudo o que estava no andar de baixo, na quantidade enorme de roupas que estavam para passar? Nunca me importou na verdade as coisas que a gente perdeu - nem as que o seguro pagou (os carros) nem as que não pagou (todo o resto). Eu escrevi aquele dia, e repito agora...foi a primeira vez que eu compreendi o sentido real do ditado aquele: "vão-se os anéis, ficam os dedos". Os dedos...os dedos eram só o que me importava. Todo o resto eram coisas, e eu aprendi muito cedo que caixão não tem gaveta. Cada vez mais me convenço de que a vida só é tão boa para mim porque eu não tenho apego algum. Se algum dia na vida eu tivesse chorado por dinheiro, ou desejado demais ter alguma coisa que outra pessoa tinha, ou não me conformado por ser menos ou ter menos que alguém outro, acho que a vida trataria de ser mais dura comigo, pra me ensinar alguma coisa útil.
Só eu sei de quantas "coisas" abri mão na vida. Quantas vezes disse não a "dinheiros" que levaríam embora a minha dignidade ou a minha paz de espírito. Quantas vezes joguei para o ar tudo o que eu poderia vir a ter, por uma vida digna...pela liberdade de ser quem eu sou...pela simples idéia de não dever nada pra ninguém. Deixei de ser rica muitas vezes. Abri mão de uma herança que seria minha por direito, mas que eu não queria, por achar que não...não seria direito! Quase apanhei de muita gente no dia que assinei os papéis abrindo mão da herança...mas realmente eu não sentia que aquilo fosse meu. Eu não quero nada que não seja meu. Muitas vezes fui chamada de burra por isso. Mas como é bom ser burra de consciência limpa. Não que isso adiante alguma coisa...muitas vezes escutei insinuações de que eu seria capaz de estar com alguém por interesse. Hahha! Essas pessoas tinham que olhar as coisas mais de perto e saber quem eram esses "grandes homens" quando eu os encontrei! Mas esse é outro assunto, meus amiguinhos...voltemos à chuva.

Tenho medo da chuva. E morro de tristeza por isso. Tenho lembranças lindas de banhos de chuva memoráveis na infância. Tempestades lindas servindo de fundo para romances ainda mais lindos...e não sobrou nada. Agora, quando o tempo fecha, fecho a minha testa preocupada...não sei mais ser feliz quando chove. E a pior parte é que a minha filha tem um grande pavor de tempestades. É muito difícil tirar da cabeça dela a imagem terrível da água arrebentando a porta e entrando com aquela violência toda, trazendo lama, pedaços de árvores, fazendo ondas e carregando coisas pesadas como se fossem caixas de fósforo.

Tenho medo do verão. Não consigo mais ficar em paz...quero a primavera de volta.

Rezando para não chover...
Bom dia

domingo, dezembro 03, 2006

Insanity

[foto: Sagrada Família - Barcelona - Nov 2005 - by Mgmyself]
Acho que já passou da fase bonitinha, em que uma garota se apaixona e sonha acordada o dia inteiro...e fala sozinha...e dirige sorrindo porque pensa em coisas lindas...
Acho que já passou da desculpa esfarrapada de buscar personagens, de imaginar cenas para futuros quem sabe um dia livros or something...
Acho que está na hora de encarar tudo isso como insanidade mental.
Tenho muito muito medo dos meus 70 anos.
E se eu estiver sozinha? Eu vou ser uma velha louca! Eu sei que vou...eu sei! Os vizinhos vão falar de mim. As crianças da vizinhança vão jogar ovo na minha porta. Elas vão ter medo de me encontrar. Vão entrar correndo em casa quando eu abrir a janela de manhã. Será que eu vou me lembrar de abrir a janela de manhã?
A vizinha da esquerda vai ter se mudado há dois dias, quando a da direita vai até a sua porta com uma torta de maçã nas mãos se apresentar e dar as boas vindas...e vai dizer: "Olha...aqui do lado mora uma senhora tão bonita...mas é louquinha, coitada. Ela não faz mal a ninguém, mas as crianças dizem que ela é bruxa. Fala sozinha e canta o dia inteiro...dizem que é escritora, mas não sei...acho que ela pensa que é."
Meu cabelo vai estar enorme e prateado, e eu vou me olhar nos espelho e me achar linda e loira como anos antes...e vou olhar pra ele (o espelho) e dar bom dia: "Good Morning my love...I'm cooking your breakfast." Sim...vou falar inglês sozinha o dia inteiro. No mundo dos sonhos a gente não fala a língua da gente, senão a realidade bate na porta e estraga tudo. E vou para a cozinha fazer o meu café da manhã, como se estivesse fazendo o de alguém mais. E vou cozinhar conversando...conversando com alguém que eu sonho...porque há sempre alguém ao meu lado, esteja eu onde estiver.
Mas agora, já velhinha, eu nem vou mais estar preocupada se alguém pode ouvir ou não...já vou acreditar que eu realmente estou acompanhada; e é natural que uma familia converse no café da manhã.
As crianças, esperando o ônibus do colégio vão adorar rir de mim na janela da cozinha, com as torradas na mão falando com "ninguém" que está sentado la...esperando o cream cheese.
E vou ter gatos. Uns cinco. Todos com nomes de pessoas que eu amo.
Eu vou chorar muito, deitada no sofá da sala imaginando meu texto final, no leito de morte. A cada dia, vou pedir que meus filhos chamem alguém de quem não posso deixar de me despedir...e quando essa pessoa chegar, vou dizer coisas lindas e fazê-lo chorar e se arrepender de não ter passado uma existência inteira ao meu lado. Seja quem for a pessoa imaginária, eu vou chorar...e ver meu último suspiro emocionada...e correr para o computador para escrever mais esse incrível texto de despedida.
Na beira da minha pequena piscina, que já há de ter se transformado num lindo tanque de peixes dourados, ou num vaso gigante de alfazema e rosas, eu vou tomar sol contando a história do encanto que fez com que eu e o meu amor nos encotrássemos em todas as vidas, sempre de forma tão forte. Sempre com tanta paixão:

" Você era um guerreiro. Forte, corajoso, destemido. Homem de confiança do Rei. Passava muito tempo na guerra e eu rezava e esperava a sua volta. Havia sempre uma lanterna acesa na nossa cabana, que era a luz que te guiava de volta para mim. Um dia, você se foi novamente. Os meses passaram e todos os guerreiros da adeia começaram a voltar para suas casas. Eu passava os dias na porta esperando, perfumanda, a volta do meu amor...Perguntava por você e eles não me olhavam nos olhos. O último soldado chegou e me entregou sua espada dizendo que você morreu como um bravo. Que é um herói. Que nunca haverá outro como você.
Não...nunca haverá outro como você.
Eu chorei e me desesperei, e maldisse cada general, cada gota de sangue derramada. Pedi aos céus que todos os que um dia desejaram uma guerra evaporassem da terra e vivessem uma vida de dor nas profundezas do inferno.
Sentei e escrevi uma oração pedindo a todos os santos, fantasmas, entidades, anjos, espíritos, toda forma de energia do bem e do mal, que trouxesse você de volta pra mim. Juntei sobre a nossa cama as suas roupas e as minhas, seus objetos, sua espada, nossos lençois, nossas taças e nossa intimidade; usei todas as suas garrafas de vinho, todo o óleo perfumado dos banhos que eu preparei para você e a lanterna da luz que o deveria ter guiado, e incendiei nossa casa.
Transformei nosso amor em fumaça perfumada de saudade e tristeza....e essa fumaça subiu ao céu limpo de lua cheia, cobrindo as estrelas. Nela, estávamos eu e você, unidos para sempre, em forma de sentimento puro...sem matéria...só lembranças.
Enquanto o fogo consumia tudo o que tocamos juntos, eu repetia minha oração e implorava ao mundo que usasse a fumaça para nos guiar nas próximas vidas. Que você voltasse para mim em todas elas, e jamais fosse para guerra outra vez. Que o sangue e a espada não fossem mais capazes de tirá-lo de mim.
Ajoelhada chorando e vendo a fumaça transformar desejo em certeza, fui presa. Fui torturada. Confessei ser impura. Não senti dor. Minha alma já não fazia mais parte de nada. Meu corpo padecia e definhava sem um ai. Fui queimada numa fogueira, com todos os seus amigos e nossos parentes gritando "Bruxa! Bruxa!" à minha volta. O último músculo que se contraiu trouxe um sorriso...já se aproximava o momento de estar com você.
O tempo passou...muito tempo passou...Nascemos separados pelos oceanos. Eu não me lembrava de nada, até que uma guerra estourou. Eu ouvi a notícia de que as tropas chegaram naquele lugar quase sagrado, e soube no mesmo instante que algo grande estava prestes a cortar meu peito. Meu coração explodia e eu não sabia ao certo porque. As lágrimas que caiam involuntariamente do meu rosto gritavam que um grande guerreiro estava de volta a uma guerra santa. E eu, outra vez impotente. Foi o aviso de que eu precisava atravessar o oceano.
A guerra nunca acabou, mas meu coração me disse que você estava seguro. Atravessei o mar a procura do que me fez chorar. Vaguei, viajei, olhei todos os cantos do mundo sem saber o que eu queria encontrar, até que numa noite comum senti o perfume do óleo misturado à fumaça de madeira seca. Um perfume que me deixou tonta e ninguém mais naquela mesa sentiu. A porta do lugar se abriu deixando o vento gelado de inverno entrar...com cheiro de perfume, sangue, fumaça, veio você: meu guerreiro. Seus olhos brilharam ao me ver sentada lá. Sua barba clara, sua pele queimada, seu sorriso iluminado, sua camisa branca reluzindo como uma armadura...e eu lembrei do seu beijo na porta da nossa cabana, levantando meu vestido e me tomando nos braços como a última vez. Todas as vezes, como a última vez....
E agora, aqui, eu te beijo e me perfumo nas nossas almas...que nunca mais serão duas."

Enxugar as lágrimas...respirar fundo...alguém me interna.

Bom dia.

sábado, dezembro 02, 2006

Alma de Borboleta


Descobri! Descobri porque eu tenho esse fascínio por borboletas!
Claro que tem o probleminha aquele de eu viver cheia de borboletas no estômago, mas agora sei de onde elas vêem.
Meu amigo querido - Marquito Freitas - postou uma foto linda no blog dele. Hoje no MSN ele me contou que é um trabalho da Su Blackwell - uma artísta plástica inglesa incrível que faz escultura em livros e outras coisas geniais.
Fui correndo pro site dela, e acabei lendo a história desse vestido. Aqui vai:
Um vestido de algodão de menina se desintegra e vira outra coisa...uma núvem de borboletas.
"Enquanto você dormia" foi inspirado pela lenda da Win-laik-pya ou "alma-de-borboleta". Acredita-se que a alma-de-borboleta voa por aí enquanto seu dono está dormindo. Ela viaja entre o tempo e o espaço, encontrando as almas-borboletas de outras pessoas e animais, voltando quando seu dono acorda.
As crianças de Myanmar ainda aprendem que nunca se acorda uma pessoa bruscamente , porque a win-laik-pya pode não conseguir voltar a tempo, o que mataria a pessoa, ou pior... ela viveria ..sem a alma.

Então...está explicado? Eu durmo muito pouco. Coisa de quatro horas por noite...seis se eu estiver muito cansada. Não dou muito tempo para a minha win-laik-pya passear por aí à noite. Então, fizemos um acordo não verbal...não material...não escrito em papel, mas sim em sonho:
Eu continuo dormindo só as horas que gosto de dormir, mas permito que ela passeie mesmo enquanto estou acordada... Assim, vivemos as duas por aí - às vezes juntas, às vezes separadas - mas sempre voando entre o espaço e o tempo, num mundo de sonhos e vidas irreais.
Isso faz de mim uma semi-borboleta e me dá mais asas do que alguém pode sonhar. Isso faz de nós duas uma coisa só, vivendo em conivência absoluta: eu mostro a ela o sonho, ela viaja para mim. Ela me mostra o caminho, eu viajo para ela. Perfeito!

Descobri. Estou melhor agora...

Bom fim de semana.
Que o sol não fuja...mas sua alma sim.