sexta-feira, setembro 14, 2007

Carta aberta a Edson Perin

Encontrei este texto hoje, vasculhando velhos arquivos. Ele foi publicado no TPM em 2003, e serve ainda hoje como uma luva. Um presente de amiga velha para amigo nem tanto.
Enjoy:



Mano,

Como se escreve uma carta aberta? Se é aberta, precisa de muita explicação, porque a historia de duas pessoas, só duas pessoas sabem.
Li seu comentário e reli meu texto. Depois voltei a ler seu comentário. E me emocionei.
Você contou no seu e-mail que faz 40 anos em Fevereiro – essa amiga relapsa - nunca sei se é fevereiro ou novembro, mas tudo bem porque você também liga sempre em algum dia de setembro pra saber se eu já fiz ou vou fazer aniversário. A amizade e o amor que nos unem não seriam tão frágeis pra deixar isso atrapalhar.
Anyway, a gente se conheceu quando você tinha 23 e eu 26. Isso? Oh my god! O Diogo tinha três anos. (Um dia ele entrou no Sir e encontrou a Meri. Ela perguntou: “quem é a sua mãe?” Ele respondeu: “A Micerrdis.” Hahaha!)
Lembra que a nossa sala na Exclam tinha parede bem brega de cortiça? Lembra dos papos intermináveis com o Ernani? Lembra do Barco dos Chatos? E La Nave Va...Com você sabe quem no comando? Hahaha!
Nossa... Que saudade! Mesmo nos matando de trabalhar a gente tinha muito tempo. Pelo menos você tinha muito tempo pra escutar as minhas historias apaixonadas e bem bobinhas.
Lembro que eu terminava de contar uma super-hiper aventura emocionante de alguma paixonite aguda e você suspirava dizendo: como a minha vida é aborrecida! (bobo)
Lembra da Festa de Babette? A gente já tava até mais velho. Dos cinco pobretões você era o milionário: tinha um apartamento 3x4 e um carro 1x1. Pão duro... Dizia que não queria ir ao cinema.
Lembra quando eu contei que não sabia por que porta entrava no ônibus e a Silvinha me fez ir pro cinema de ônibus a força pra aprender? Foi nesse dia que a gente viu “A Festa de Babette” e batizou nosso jantar pobrinho com o nome do filme.
Minha geladeira era um deserto. Tinha as coisinhas do Diogo, esmalte de unha na porta e meia de nylon do congelador. Diziam que meia de nylon durava mais se guardasse no congelador. Que coisa mais Ana Maria Braga! Hahaha! Aquela meia do Paraguai que às vezes desfiava na horizontal e simplesmente caía. Eu e a Pat Castilho tínhamos truque maravilhosos de reaproveitamento de meia calça desfiada. (Era muita pobreza. MESMO!).
A gente sentava pra jantar o empadão congelado da Dona Marilia, ou a lasagna de tudo do Franc, tomava coca-cola e ria a noite inteira como se tivesse fumado e bebido todas. Lembra da lasagna de tudo? Um queria a bolognesa, outro de presunto e queijo, outro de molho branco. O Franc resolveu fazer todas em uma! (baita banquete praqueles tempos bicudos) Depois ninguém conseguia servir a lasagna porque tinha acesso de riso quando pegava a colher! E os cabelos no prato? Hahaha! Eu tinha aquele aparelho de jantar que tinha uns fiozinhos bem finos desenhados...Um por um foi tentando tirar os fiozinhos do prato discretamente, achando que era cabelo!
E a Mery Penas, deitada na almofada no chão vendo “Meu Tio da América”, se partindo de rir e reclamando entre as gargalhadas: “- Que filme chaaaaato! Quá Quá Quá Quá!!!”.
Como a gente se divertia barato... Pena que acabou...
E o teste de admissão para a Festa de Babette que a gente fez praquela moça que me roubou o livro! Sabe aquela do outro texto? Então.
O que e a Marselhesa?
a) Um prato?
b) Uma puta francesa?
c) O hino da França
d) N.D.A.
Não vou me lembrar das respostas. Uma tremenda bobagem, mas a gente deu risada meses do teste. “Dona Fulana foi à feira, comprou 10 tomates, cinco cenouras, três berinjelas, duas cabeças de alface, não sei o que, não sei o que mais (durava 3 horas o probleminha). Baseado nas informações acima, responda: - Quem matou Odete Roitman?
Meu Deus...Como a gente tinha tempo!
Eu sei te dizer que foi uma época feliz. Os anos de Exclam foram felizes. Nossa! Quanto filme ruim! Hahahahaha! Lembra daquele filme do Leminski que a gente fez um pacto de nunca contar que fui eu que fiz? Shhhhhh...O pacto foi tão sério que eu fiz a produtora apagar o filme da matriz. Falar mal de poeta cult que já morreu é feio né? Então não vou falar. Só vou dizer que ele devia ter sido só poeta!
Lembra do Ernani preenchendo 850 fichas de inscrição no Colunistas e inventando todos os nomes da ficha técnica? E a salinha da mídia? Vocês fizeram um cartaz com a capa do Analista de Bagé, colocaram o nome do meu namorado dizendo: vamos buchar o..... E cada um que passava fazia um bigode, um chifrinho, escrevia alguma coisa. A campanha foi tão grande que vocês venceram. Que feio...
Lembra que eu tinha complexo de perna grossa e nunca tinha usado um vestido curto até os 26 anos? E cheguei num workshop num dia de verão, de bermuda e você me mandou um bilhete dizendo: Estou muito orgulhoso de você!
Que amor...
A vida foi colando a gente. Foi grudando um no outro. Você se tornou o guardião dos meus segredos, meu padrinho de casamento, padrinho da minha filha, meu irmão que mora longe, mas que nunca nunca nunca vai deixar de ser meu irmão.
Lembrei do casamento...Ai ai ai!
Eu casei com meu namorado novo. Acho que namoramos uns três meses e resolvemos fazer uma festa de casamento. Ta. Acho que não dá pra contar a parte do “Segura na mão de Deus...” Eu queria matar a Pat Castilho! Nunca mais consegui olhar pra cara da velhinha! Ai! Desculpa, pessoas...Não dá pra contar essa parte do casamento.
Então...Vamos ao outro caso do casamento:
Eu nunca tinha visto tantas velhinhas na minha vida! Muitas velhinhas muito velhas! Todas tiazinhas curiosas pra saber quem era a moça que estava tirando o caçulinha de casa. Todas medindo cada centímetro e analisando cada movimento meu. Na fila dos cumprimentos, lá vem meu melhor amigo Edson Perin. Logo atrás dele, uma velhinha bem velhinha e bem curiosa. O Edson me abraça, assim...Oito minutos...E fala no meu ouvido: Você sabe que eu te amo, né? Eu daqui, toda noiva emocionada respondo, de olhinhos fechados: Eu também te amo.
Quando eu abro os olhos, dou de cara com os olhos esbugalhados da velhinha. Em choque! Hahaha! A velhinha ficou estarrecida! Até hoje ela deve pensar que eu convidei o meu amante pra padrinho de casamento!
E pra variar, nós passamos anos rindo dos olhos esbugalhados da velhinha!
Ah...E o casamento? Não deu certo. Nem a festa deu! Lá pelas tantas, o Diogo resolveu brincar com os interruptores do salão. A luz começou a apagar e acender, apagar e acender...As pessoas acharam que era o toque de recolher e a festa acabou em minutos. (to morrendo de rir às 3 horas da manha na frente do computador! Hahaha) Vocês tinham que ter visto isso! Que trágico!
Meu Deus! Quanta coisa boa a gente viveu junto. Quanta brincadeira de mímica...E a Drica cantando...Hahaha! E as secretárias da diretoria! Quanto filme a gente viu juntos. Quantas vezes reclamamos que o Luc Besson fez Subway com 25 anos e a gente ainda estava longe de fazer alguma coisa louvável na vida.
E os meus amores! E a minha vida dando oitocentas viradas radicais e você lá. Espectador numero 1. Fã de carteirinha. Já meu viu chorar, já me viu ir embora, já me viu feliz, já segurou meus filhos no colo. Já teve que ouvir a Natasha olhar pro presente que você deu e dizer: Há. Que REDICULO!

Acho o tempo e a vida muito ingratos por afastarem a gente assim aos pouquinhos. Mas ao mesmo tempo acho a vida maravilhosa por ter me dado um presente tão valioso. Um cúmplice tão leal. Um amigo assim, pra sempre. Tive sempre tanta dificuldade com a palavra SEMPRE. Você me fez perder o medo dela.
Queria lembrar as histórias...Queria dizer que te amo...Queria me sentir mais perto. Acho que funcionou. Até hoje você não dirigiu um filme e eu não escrevi o meu (mais ou menos. A gente sempre fez essas duas coisas indiretamente).
O garotinho de jeans e tênis, meio barrigudinho, com a barba por fazer, pão duro (hahahah!) hoje é um homem bonito, sarado, viajado, analisado, brilhante, que sabe o que quer e dirigiu a vida muito bem, obrigada.
E quanto ao seu comentário, nós tivemos o privilégio de conviver com pessoas brilhantes, fáceis de se admirar. Tivemos o privilégio de ver alguns mitos como simples seres como nós. Tivemos o privilégio de fazer parte e ter uma vida muito mais interessante do que a maioria jamais sonhou ter acesso. Mas ter passado anos da minha vida tendo você por perto foi o maior dos maiores privilégios.
Foi um prazer enorme lembrar tudo isso. Vou dormir sorrindo.

Um beijo enorme e (esbugalhem seus olhos, tiazinhas) não esquece que eu te amo.


6 comentários:

Edson Perin disse...

Ai ai ai. Lá vou eu de novo me emocionar. Te amo.

Fastolf disse...

Isso quer dizer que a gente tem que comentar de novo ou também vale o comentário antigo?

Anônimo disse...

Ai que grosso Diogo! hahahahah

Anônimo disse...

Que lindo!
Vou confessar que eu adoro o Perin, mas não sou íntima, nem chegada dele. E de tanto ouvir/ler vc falar sobre ele, eu acabo me sentindo próxima!
E cada vez que eu o encontro é muito engraçado. Me sinto uma louca, pq a primeira reação é gritar: Perin! Que bom te ver!
Mas antes mesmo de gritar ( o que já seria ridículo...) eu me dou conta de toda essa loucura, e acabo acenando da maneira mais tímida possível.
Tudo culpa da Mercedes, pronto, falei!
bj

Anônimo disse...

Eu sou tão perdida que não ví qdo esse texto fou postado, me empolguei tanto em "comentar" que não quis nem voltar pra pag pra ver a data. Se for de tempo atrás, paciencia...ninguem vai ler...mas não faz mal. O que me importa é que fiz parte desse passado sagrado, da Mê, do nosso amore Perin, e de qto sou feliz por ter tido vcs na minha vida. Tudo bem que, pra variar, não lembro da história das velhinhas, do segura na mão de Deus, mas mesmo assim me borrei de rir, pq sou meio pateta por natureza, minha vida é uma piada e td pra mim é motivo pra rir, até mesmo minha amnésia parcial. Mesmo assim, mesmo lembrando de tão pouca coisa, toda noite qdo deito minha cabeça, rezo, agradecendo pelas pessoas e momentos que consigo me lembrar,e nessa hora percebo o bem que vocês me fizeram, pq penso em vcs toda noite, sem excessão, e pra mim, isso é sinal que parte da minha memória ainda funciona graças à vcs. Droga, esquecí tudo que eu ia escrever...Quem são vocês? rs

Don Suelda disse...

Mercedes:

Onde anda o véio Perin?
Na Opus Múltipla ou em outras paragens?

Solda