Mercedes Gameiro
“- Eu sou o Senhor e Mestre das Luzes do Povo de Delírio. Afasta-te. Eu te ordeno!”
A frase do Mestre ecoava no sonho febril de Drímer. O gesto imponente de sua mão. “As mãos eloqüentes do meu Mestre...” Os gemidos do Barún faminto. Os olhos negros.
- Drímer...Ouça a minha voz. Sinta a força dos meus sonhos...você precisa voltar para mim...
Uma lágrima escorreu pela face arrasada do Mestre e escolheu o olho de Drímer para repousar. A lágrima turquesa acordou a bela das profundezas de sua angústia.
- Meu Mestre?
A voz trêmula ainda sem forças.
Num abraço forte de desespero e alívio, o Mestre levantou o corpo de Drímer, colando o coração fraco dela no seu. Sua mão poderosa apoiava cabeça de Drímer em sinal de proteção. Luzes vermelhas e amarelas.
- Minha luz mais poderosa...o que eu faria sem poder sentir-te em meu peito?
- A dor Mestre. O que é essa dor?
- Que dor, minha amada? Não permitirei mais a dor em Delírio...
- o manto cinza do Barún causa uma dor horrível. Uma lança enfiada no peito. Insuportável!
- O manto cinza é o algoz do amor, Drímer. Rejeição. Solidão.
- Não entendo...Se este sentimento não existe em Delírio, por que haveria um algoz. E por que eu sinto esta dor?
- Era a minha dor que sentias: o que restaria em mim se fosses abatida.
- Ele vai voltar?
- Sim. Ele sempre volta para punir os pecadores.
Os seres de Delírio não compreendiam as luzes que riscavam o céu acima do Templo dos Mestres.
Não é permitido ao Barún se aproximar do Templo. Desde que a lei e os pecados foram criados, é sabido que ao povo é dada a felicidade de jamais amar, logo jamais sofrer. Aos mestres é reservada a dor do conhecimento, da perda e do amor não correspondido. Aos mestres é dado o direito de colecionar sonhos e guardar sentimentos; e a sabedoria das luzes e cores; e a angústia de saber o que não se pode tocar.
Na segurança do Templo, o Mestre derramava suas lágrimas Turquesa para que Drímer recuperasse sua alma debilitada pelo manto cinza do Barún.
Os seres da Ilha desconheciam o ocorrido na mata perto da cachoeira. A vida corria normalmente em Delírio com seres fazendo tudo de acordo com o dia de fazer o que está no nome do dia. Mas um gemido de dor na mata, projetava uma luz cinza no céu da Ilha. Nem os Sóis Opostos conseguiam mudar tal coloração. Seria preciso proteger toda a Ilha da Besta que, cega, já desconhecia o propósito de sua existência.
Parte VI
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