Felipe Iubel
O terceiro e talvez mais grave dos três pecados capitais era o amor. Não um amor qualquer, mas o amor intenso que ultrapassasse o limite do autorizado pelo Mestre. Para Drímer Redinclauds o amor só aparecia em algumas das imagens dos sonhos colecionados e aprisionados no “Istóriquétier”. Ela ainda não compreendia o sentimento. Porém, já admirava a coragem que ele despertava em cada luz amarela ou vermelha que parecia brotar da simples caixa de madeira maciça que guardava os maiores segredos da Ilha de Delírio. Em comparação com esta luz cheia de uma nova esperança, todas as regras e todos os dois sóis do lugar pareciam azuis e frios.
Azuis e frios como os dois olhos que a observavam pela janela leste de sua choupana. Era ele, o Mestre em pessoa. Ela fechou a caixa num gesto singelo e rápido. No entanto, ele sabia. Ele sempre sabia.
- Vejo que te divertes com um de meus brinquedinhos – disse ele num tom amável que não abria espaço para questionamentos.
Ela se levantou. Aproximou-se da janela do sol oeste. Olhou para a luz e esta lhe pareceu cinza e ainda mais fria. Não sabia o que dizer.
- Drímer, Drímer. Tu conheces os três pecados. Por que insistes em cometê-los? Eles apenas te conduzirão a tua própria infelicidade.
- Eu sei disso tudo – afirmou ela, impondo sua beleza por toda a choupana.
O próprio Mestre pareceu estremecer e a jovem sonhadora notou um brilho diferente nos olhos dele. Um brilho que jamais notara em suas outras esparsas e raras visitas. Como se o azul dos olhos daquele homem cheio de experiência e virtudes brilhasse com o vermelho dos sonhos transgressores de amor.
- Ora, mas não consigo evitar os sonhos – continuou ela. – Sinto-me atraída por eles. Tanto pelos meus próprios quanto pelos sonhos alheios. Por cada brilho, por cada chama que estes sonhos despertam. Pelas cores jamais vistas. Pela luz jamais revelada.
- Receio que tu almejas algo inalcansável, minha bela jovem. E o inalcansável, assim como o proibido, conduzir-te-ão a tua própria infelicidade. Agora, devolva-me a caixa e evita tais pensamentos.
Drímer entregou o “Istóriquétier” com um movimento suave que combinava com sua beleza. Ao soltar o objeto deixou que seus dedos tocassem de leve na mão firme do Mestre. Ele estremeceu. Sorriu desconcertado. Girou nos seus trajes turquesa de tecido leve e deixou a choupana. Entretanto, não rápido o suficiente para esconder da garota o brilho insistente da nova luz em seus olhos.
Parte III
Um comentário:
mmmm....
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