Por Mercedes Gameiro
"Minha vez .
Dona Flávia caiu de para-quedas no meio do trem andando, sem saber de nada, e sentou na janela! E eu adorei.
Então vou contar para quem não sabe:
A velha casa do lago, faz parte de um universo paralelo, habitado por pouquíssimas pessoas, que andaram por lá, sempre em situações extraordinariamente estranhas.
Na primeira vez que a porta se abriu, a casa serviu como cativeiro para um sequestro. Sequestro do bem...embora confuso, atrapalhado, cheio de brigas e beijos... mas os personagens se confundiam. As atitudes de um, com a trilha sonora de outro. As vontades de um refletidas no outro...Como se um rosto fosse só uma máscara. Como se a raiva fosse outra coisa qualquer. Uma confusão tão grande que a própria autora, quando relê, se pergunta: "Mas de quem diabos você está falando?"
A segunda vez que a porta se abriu, não houve briga, mas ninguém sabe direito o que houve. Houve uma paz imensa, cercada por velas acesas, muita conversa, muita risada, mas faltava nessa história o tom que havia na primeira. Desta vez, havia uma alegria triste, acompanhada de uma lágrima às vezes, um sorriso sério às vezes. Uma saudade estranha...saudade do presente.
Talvez uma briga tempestuosa, como é hábito entre os dois habitantes da casa, fosse o necessário para que tudo explodisse, mas não! - Eles têm esse defeito estranho: são iguais, são completos, se completam; mas não sabem chegar a menos de 30 centímetros um do outro. Há uma intimidade sim, mas ela é distante. Talvez se eles soubessem gritar um com outro ao vivo, como sabem fazer escrevendo...talvez...sei lá. Eles nunca tentaram. É como se fossem furacões quando escrevem, e carneirinhos quando falam.
O que os une é gigantesco. Maior do que o maior dos amores, sem ser. Há uma linha imaginária que os separa, imposta por eles mesmos, como se a única união possível fosse esta. E é. Ou não. Ou... vai entender a cabeça da escritora que os criou...
Mas quem diria que justamente estes dois poderiam deixar a casa envelhecer?
Ainda se fossem os outros dois...Mas logo eles? É quase iconcebível.
Me fez bem imaginar aquela louca descendo até o lago com borboletas nos cabelos, e as páginas amarelas finalmente revelando as palavras. É impossível não imaginar que ao voltar, depois de ver a névoa no lago, ela perceba um movimento dentro da casa, se aproxime devagar, amedrontada... ouça aquela velha música tocando lá dentro...e o encontre sorrindo para ela no sofá. "And so it is...just like I said it would be..."
Mas aí, eu vou ter que começar tudo de novo, e pensar no que esses dois vão fazer para recriar uma história - quase das cinzas - e recomeçar...
Sem dúvida, Flávia, eles não poderiam fazer nada sem os dedos entrelaçados."
O que fizemos aqui não foi nada senão trazer as palavras de volta.
Este blog está feliz!
Para ler a primeira história da casa do lago, clique aqui.
Para ler a outra história da casa do lago, clique aqui.
10 comentários:
já vou comentar... é que não dá pra ser qualquer coisa rapidinho...
beijos
Eu não tenho nada melhor pra dizer, além da verdade:
"Antes de trazer as palavras de volta, os mesmo transeuntes efêmeros e inconstantes passaram pela casa. Foram sozinhos em busca da paz que a realidade não traz. Foram e voltaram em silêncio. A porta não rangeu, pois no imaginário do imaginário, na fantasia da fantasia, tudo é mais simples. Mais silêncio e mais melancolia. Solidão. Intensidade. Fuga. Aliás, a tal fuga era a principal desculpa para que a casa do lago fosse utilizada por ele, sem que ela estivesse por lá também. Fugir de um mundo difícil de compreender e ainda mais complicado de se fazer compreendido. Um planeta de água salgada das lágrimas que escapavam nas noites mais escuras. Porém, não na casa do lago. Mesmo na fantasia da imaginação, o lugar era cheio de silêncio, magia e paz. Paz. Magia. Silêncio..."
idem, idem!
não dá prá ser rapidinho!!!
wowwwwwwwwwwww
.
volto em breve.
Ocasionalmente o silêncio era quebrado por um ou outro suspiro mais profundo, pois a casa era viva e sonhava. E quando ela sonhava, as imagens confusas e borradas mostravam os sonhos que eles tinham; primeiro ela, depois ele, os sonhos se misturando já que a casa era parte viva da imaginação dos dois. Um espaço-brecha no tempo e no espaço, contraditória intersecção da fantasia de ambos, que se misturavam e se transformavam em unidade, naquela casa.
A casa se sentia só, as plantas sentiam frio e a ausência daquele cheiro de café a atormentava; ela desejava ser preenchida de novo, de que vale uma casa se ninguém a habita?
Seus sonhos mostravam cenas difusas de borboletas coloridas voando, insetos rodopiantes no ar em busca de luz, um caminho sinuoso ladeado de pedrinhas coloridas, e ela, sempre ela, com seus cabelos dourados agitados pela brisa que brotava do lago e se espalhava pelo vale. Logo em seguida as cenas mudavam, imagens dela sentada em uma sala muito clara, sozinha, bebendo de um café que não tinha gosto e nem cheiro. Olhando pela janela, fitando o nada, o olhar perdido em uma selva feita de pedra. O cigarro queimando no cinzeiro, folhas de papel amassadas jogadas pelo chão, num branco-nuvem que aguardava pelo amarelar.
Em seguida vinha a imagem de um ele atormentado, tentando se encontrar num mundo brutal e sem aconchego. Seus pensamentos o entorpeciam e ele tinha vontade de voltar para casa, sem saber, entretanto, onde é que ficava esse lugar. Um lugar no qual se sentisse feliz de ser quem era, no qual não precisaria temer seus próprios pensamentos. No qual não precisava ter, bastava ser.
Em uma noite de outono, a casa dormia um sonho intranqüilo. Sonhos dela olhando para o lago, borboletas coloridas enroscadas no cabelo, enquanto ele ligava o velho gramofone que tocaria, em breve, a música que era de seus sonhos em comum. A música começava a tocar, e de repente um vento forte soprava, forte demais para que ela continuasse a admirara névoa que surgia do lago, forte demais para que ele pudesse ficar dentro da casa sem que todos os papéis amarelados voassem por todo o canto.
A casa do lago acordou do sonho, poesia que se tornou pesadelo e aflição. Sonolenta e confusa, identificou dois pontos luminosos, brilhando na parede, bem ali, onde deveria estar a janela.
Com esforço fixou o olhar, e percebeu que os dois pontos luminosos eram, na verdade, dois olhos. Dois olhos de um gato, que não se sabe como ali havia entrado e se sentado na janela, fitando-a enquanto dormia, guardando seu sono.
E de repente, naquela noite de outono, a casa se sentiu tranqüila; as plantas não mais sentiram frio, a despeito do vento forte e ruidoso que soprava lá fora. A lareira se acendeu como por mágica, aquecendo o ambiente. Saindo pela chaminé, uma fumaça suave e brilhante atraiu a atenção dos insetos.
O vento parou, e o que antes era angústia e incerteza se transformou em silêncio. Magia e paz.
A casa do lago estava viva novamente.
ps_adoro pegar o bonde andando, sentar na janelinha, dar tchauzinho e receber tchauzinho de volta!!!
amo!!!
Assim não dá,
vcs estão me inspirando demais!
"Um lugar no qual se sentisse feliz de ser quem era, no qual não precisaria temer seus próprios pensamentos. No qual não precisava ter, bastava ser."
...aplausos...
"O que os une é gigantesco. Maior do que o maior dos amores, sem ser. Há uma linha imaginária que os separa, imposta por eles mesmos, como se a única união possível fosse esta. E é."
QUERO APLAUSOS PRA ESSA AQUI TAMBÉM e... posso dizer que SINTO completamente tudo isso que vc falou?
Quem frequenta esse blog também está feliz!!!!!
"...and so it is..."
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