segunda-feira, abril 30, 2007

Paúra alheia.

São duas horas da manhã e eu estava até agora sentada na frente da televisão.
Eu diria "grudada". E descobri algumas coisas que eu não sabia.
Uma delas é que a gente se apega às pessoas que vê crescer na TV.
Eu estou falando de Jack Osbourne - o garoto engraçado e gordão, de cabelo horrível e barriga imensa, que só fazia bobagem aos 15 anos. Eu adorava o Ozzy e a Sheron, a filha cujo nome acaba de cair no buraco negro do meu cérebro... oops... lembrei: Kelly, mas os meus preferidos eram Jack, Lola e sua relação estranha. Jack era a cara de Lola que era a cara de Jack. Ambos feios demais e com comportamento bastante parecido: bizarro!
Pois então...lá estava eu zapiando quando vi um garoto feio e magrinho tentando desesperadamente descobrir se devia ou não cumprir o desafio que impôs a si mesmo: escalar o El Capitan - a pedra mais alta do Yosemite National Park.
No momento em que descobri que aquele garoto era o Jack, fiquei encantada com a determinaçõ dele em mudar a própria vida. A última notícia que eu tive dele era que, contrariando todos os desejos de seus pais, Jack tinha se tornado um junkie! Viciado em anfetaminas e consumindo todas as drogas que passavam à sua frente, ele foi internado, estava mais obeso do que nunca. Wow! Até dá pra entender: era um menininho quando ficou famoso e passou a ser assediado por gente muito mais velha, para sair à noite, frequentar boates, etc.
Acontece que Jack deu um basta em tudo e resolveu desafiar a si mesmo. Se adrenalina era o que ele gostava, decidiu buscar adrenalina onde ela realmente está: nos esportes radicais. Durante seis meses ele treinou sem parar, filmou vários programas escalando, esquiando, saltando de para-quedas, lutando box...mas seu desafio maior seria o El Capitan. E ele conseguiu. Bom...ele conseguiu mas eu não.
Eu sabia que tinha medo de altura, desde pequena. Eu não subo nem num banquinho para trocar uma lâmpada, o que é um exagero...pero no mucho. A verdade é que se for evitável, eu fujo. Fujo da escadinha, do banquinho, do elevador, do elevador panorâmico (máquina de tortura desenvolvida por algum anormal), montanhas russas, chapéu mexicano, passeios turísticos como mirantes, torres, etc.
Fujo porque me sinto mal. Acho lindo...adoraria poder sentir o que os outros sentem, mas sou incapaz. Hoje sou muito melhor do que anos atrás, mas sofro ainda. E muito. Fiquei vendo o Jack escalar a montanha, só por ele. Foi aí que descobri que a gente se apega às crianças que crescem diante dos nosso olhos. Fiquei torcendo por ele, mas constatei o que eu quase já sabia: eu passo muito mal simplesmente por pensar em grandes altitudes. Fiquei grudada na cadeira, estômago virando, mão no rosto...morrendo de medo! Medo que ele caísse. Medo que eu caísse. Que horrível!
E aí pensei seriamente numa terapia. Muito seriamente. Porque meu medo de altura é tão ridículo que eu chego a ter medo pelos outros.
Lembrei que, quando estava no Epcot com as crianças, achei que conseguiria ir com elas no "Soaring". Claro! Eu sou equilibrada, eu sei que é um brinquedo, eu sei que é seguro. Ah-hã, claro! Que pavor!
Eu grudei na cadeira, abri os olhos muito exporadicamente, suei frio e quase chorei. Não consigo! Não consigo achar graça em sentir frio na barriga. Por mais linda que seja a paisagem. E era lindo: vôos rasantes no Grand Canyon, em San Francisco, em praias maravilhosas, montanhas com neve...mas eu sofri desesperadamente!
E foi assim hoje. Sofri vendo o Jack Osbourne escalar pela TV. Sofri vendo onde eles passavam as noites. Sofri quando um dos caras se espreguiçou de manhã na rede. "Aaaagh! Queito! Não se mexe assim!"
Juro...eu fiquei muito orgulhosa do Jack. E juro também...eu vou pra terapia.

Bom dia.
(com meus pezinhos no chão).

sábado, abril 28, 2007

The Zimmers (Post roubado)




Um grupo formado por 40 idosos - alguns centenários - é a mais nova sensação na Inglaterra. Eles são o The Zimmers (nome em inglês dado ao andador usado pela terceira idade) e gravaram "My generation", do The Who, uma das canções mais conhecidas do rock, que tem na letra o "desejo de morrer antes de envelhecer".

A expectativa é a de que os senhores possam se tornar, a partir do dia 21 de maio - quando lançam o single - a primeira banda da terceira idade a entrar nas paradas de sucesso do Reino Unido. O grupo começou por acaso, com o principal vocalista, o aposentado Alf Carretta, de 90 anos, que ligou para a BBC para reclamar de um bingo que fechara perto de sua casa. O produtor do canal Tim Samuels estava colhendo histórias para um documentário sobre as dificuldades encontradas pela terceira idade na Inglaterra e teve a idéia do cover de "My generation" de bengalas para chamar a atenção para a causa.

A capa do single é baseda na famosa imagem dos Beatles atravessando a faixa de pedestres de Abbey Road e a trupe se reuniu para gravar no lendário estúdio. Tudo com muito bom humor, marca do grupo. A receita de venda do single, que também estará disponível para download, será destinada a instituições beneficentes ligadas à terceira idade.

O videoclipe de "My generation" foi inserido no YouTube no início de abril e já foi visto por mais de um milhão de pessoas e despertou interesse da indústria fonográfica. Os idosos do grupo não imaginavam tanto sucesso. Já há a possibilidade de uma miniturnê pela Europa.

(Post roubado do Solda, hoje, porque vale a pena!)

Acho tudo isso genial! Eu não quero morrer antes de ficar velha. Mas quero ficar velha com alegria e uma vida legal. Talvez seja hora de eu comprar a idéia do velho Alf, e já começar a fazer alguma coisa para que, em 30 anos, a vida dos velhos seja muito melhor do que é hoje. Afinal...todos nós vamos precisar.

Bom findi, crianças.
Não esqueçam: este dia vai chegar!


sexta-feira, abril 27, 2007

Na onda do Top Ten

A Lili fez a lista dela. Era um Top 5. Veio a Carol Garofani e fez um Top 10. Briga daqui, briga dali, resolvi fazer o meu.

TOP 10 HOMENS MAIS MAIS DO PLANETA.
• na modestíssima opinião de uma quarentona •

Introdução necessária: Do alto de seus 45 anos, uma mulher já tem outros olhos. (Não, não estou falando de vista cansada) Já fica mais fácil enxergar a beleza que não imprime na foto, que não está nos traços, que vai além de uma carinha bonita. Explicado isso, lá vai:

ABSOLUT NUMBER ONE: Johnny Depp
Dispensa defesa. É lindo sem ser perfeitinho. É genial. É sem dúvida o melhor ator de sua geração. É o máximo quando é Johnny Depp, é o máximo quando é Jack Sparrow. É tudo o que eu gosto: marginaleco, bad boy, cool, desleixado, tatuado, uma delícia. Está acima de todas as listas, top de todos os tops. Me ganhou em "What's Eating Gilbert Grape" e de lá pra cá, só não casou comigo porque prefere perfume francês. Droga! É um prazer e um deleite...com mãos de tesoura, esquizofrênico, traficante, pirata, excêntrico, de qualquer jeito, e sempre. (oops! Defendi)

ABSOLUT NUMBER TWO: Brad Pitt
Desculpa gente...parece uma listinha comum, toda unanimidade é burra, mas nesse caso não vou nem me fazer de inteligente. Não, ele não é só uma carinha bonita. Já provou que é bom, que é poderoso, que tem talento, que é o máximo. Foi ficando mais velho e não escondeu as rugas. Não escondeu nada! E quanto mais mostra, melhor fica. Adoro! Não há o que questionar. Quem viu Kalifornia, 12 monkeys, Babel, Clube da Luta, sabe do que eu estou falando. Além de lindo, ele é lindo. Transpira talento. E é do bem. Adoro.

NUMBER THREE: Patrick Dempsey
A.K.A. McDreammy, ele fez alguns filmes menos conhecidos, entrou em Grey's Anatomy como quem não quer nada, e ganhou todas as mulheres do mundo. Eu, como sou a rainha do filmeco à tarde, já vinha tentando saber há muito tempo quem era o bonitinho, com cara de atrapalhado, que andava roubando a cena em todos os filmes bobinhos da HBO. McDreammy is his name. Tudo o que o George Clooney quis ser, mas vai ter que nascer de novo pra conseguir. Cara de homem. Sexy até quando dorme.

NUMBER FOUR: Jude Law
Dispensa apresentações. Parece um anjo, but still... é a tentação em pessoa. Talentoso, tem o sotaque mais delicioso, nunca é demais, nunca é de menos, nunca passa do tom. Perfeito. Eu vi a criança na Pacific Coast Highway, parado no sinal, num porsche prata com teto solar, com a cabeça encostada no banco, buscando um raio de sol...não dá pra descrever. Impossível. Parecia estar em outra dimensão...Incrível!

NUMBER FIVE: John Cusack
Ele nem é bonito. Mas não precisa. Ele nem é tão interessante. Mas não precisa. Ele é John Cusack, e isto já está bem bom. Ele tem uma coisa. E acredite: a maioria não tem.
(eu colocaria o Kevin Spacey e o John Malkovich aqui, junto com ele, na categoria A COISA)


NUMBER SIX: Jim Morrison
Que deus o tenha. Mas eu acho difícil.
Ninguém foi tão sexy e tão bonito. Agora sim, uma beleza perfeita. Louco demais pra mim, ainda assim, tinha aquele tonzinho marginal do Johnny Depp que eu adoro. Eu olhava pras fotos dele quando era pequena tentando imaginar se ele existia mesmo. Nem ele descobriu.


NUMBER SEVEN: Hugh Jackman
Wolverine. Pra que mais? Sem a costeleta ele é demais. Com costeletas tem o uniforme e o corpão. U-huu! Bad boy, me chocou no primeiro X-Man. Virei fanzoca.

NUMBER EIGHT: David Beckham
Shut up, please! Ele não é pago para abrir a boca. E de boca fechada é a coisa mais linda do mundo. Metro-sexual ou não, por mim ele podia ser até gay. Fica lindo jogando bola. Fica lindo andando na praia. Fica lindo no mercado com os filhos. Até de lingerie de lamé prateada e calça branca ele fica lindo. Sem comentários. Não é pra casar. É pra olhar.

NUMBER NINE: Ashton Kutcher
Eu não imaginava que a geração dos novinhos poderia produzir alguma coisa assim. Ele é inteligente, engraçado, bom ator, alto, forte, bonito, família, tudo de bom. Adoro.

NUMBER TEN: Jack Bauer
Não...não é o Kiefer Southerland. É o Jack Bauer. Ele é totalmente bad boy, malvadão, politicamente incorreto, dono de uma voz deliciosa que consegue falar os maiores absurdos sussurrando. Eu nem me importava de ser torturada umas três semanas por ele, desde que ele não parasse de falar. Ele não vai ao banheiro, não come, não toma banho, mata sem piedade, tortura até a mãe se ela for suspeita...mas quem se importa? He is federal agent Jack Bauer...Amo!


Fazendo uma análise CAROLÍSTICA do meu gosto, tentei saber o que eles têm em comum.
1. Fora o Kiefer Bauer, todos têm um nariz respeitável. Grande, normal ou pequeno, todos têm um nariz que está lá. Deu pra entender?
2. Não dá pra negar a presença quase constante de tatuagens. E juro que não é de propósito!
3. É uma lista interminável de ex-atormentados...alguém me interna!

(Cabem mais alguns nomes aqui, como Jared Leto, Antony Kieds, Noah Gallegher,
Ethan Hawke, Heath Ledger, Viggo Mortensen, Noah Wyle, Jason Lewis, Rodrigo Santoro, Sean Pen - que era feio e melhora com o tempo, Clive Owen apesar dos dentes que eu não gosto...
E os velhinhos super-sexies-nem-tão-bonitos: Steve Tyler, Keith Richards (ok...eu sou doente), Robert Redford, Klint Eastwood, etc, etc )

quarta-feira, abril 25, 2007

O inferno está mais seguro


Heaven and Hell II
Carmen Lomas Garza
Ora, ora, ora...
Desde que tive consciência de quem eram os membros da minha família eu sei direitinho para onde vai cada alma deste mundo de meu deus.
Minha avó paterna e minha tia/madrinha se encarregaram de me deixar muito assustada com relação aos pecados do mundo, inclusive aquele que a gente já nasce tendo...céus, como pode Deus ser tão injusto? A criancinha acabou de chegar, mal reconhece o cheiro da mãe, é literalmente um peixe fora d'água e já carrega uma culpa gigantesca: milhões de anos antes dela pensar em nascer, alguém comeu a fruta de uma árvore, foi punido, e mesmo assim...veja só...a culpa é da criancinha!
O famigerado pecado original, que jamais entrou na minha cabeça, era subtamente somado a outros sete pecados monstruosos que - nossa! - eram muito difíceis de entender.
Primeiro: gula. Gula? Uma criança só sabe comer, fazer cocô e dormir! Alguém coloca um pudim de leite, um brigadeiro, um bolo de chocolate na frente dela, e se ela gostar e quiser mais, mesmo sem fome, ela está PECANDO? Onde está a justiça divina?
Mas pelo menos a gula é concebível. Uma criança, mesmo pequena entende por que isso é pecado. Logo depois de matar uma panela de glacê de chocolate, o castigo chega: uma tremenda dor de barriga. Ok ok...então esta regra vem para proteger as criancinhas inocentes da dor de barriga. Entendi...
Mas e a luxúria? A avareza? A soberba? Você conhece alguma criança de três anos, ou mesmo de dez, que entenda o significado dessas palavrinhas? Para que servem? É de comer?

Mas tudo isso para dizer que aparentemente Deus resolveu olhar para as crianças e os pagãos sem culpa - aqueles que não foram batizados, não têm mãe, nasceram mortos, ou no mato, ou de uma mãe de treze anos que não faz idéia do que precisa fazer para salvar seu filhinho. Até a semana passada, estes incautos íam para o Limbo. (eu sempre morri de medo do Limbo). Aparentemente o tédio era a tortura do Limbo.
Tem o inferno - aquela coisa caliente, cheia de gente vestida de couro, dominatrix's e sadomazôs, todo mundo fazendo muito sexo, levando chicotada, num calor do cão (literalmente). Torturas, bebida, calorão, sofrimento para alguns...puro prazer para outros. Quase um prêmio para os sádicos e criminosos.
Tem o purgatório - lugar intermediário, onde todo mundo fica perturbado, sem entender nada, uma deprê, uma tristeza...meio que um hospício de almas, onde elas entram não para serem curadas, mas para enlouquecer de uma vez. Talvez seja o aquecimento para o festerê do inferno...não sei.
Tem o paraíso - Todo mundo sabe que lá todo mundo se veste de branco, fala baixo, a música é chata. Há os que dizem que não. Para os homens muçulmanos, não sei quantas virgens vão estar esperando por eles, e muito mel e muita bebida...isso me parece uma versão do inferno, mas tudo bem...vamos admitir que no paraíso dá pra fazer toda essa suruba. Na versão femina do paraíso talvez tenha não sei quantos mil Johnny Depps me esperando. Ai ai ai, Jesus me leva!... Mas to achando que toda essa moleza eu só vou encontrar no inferno.
Anyway...falta o Limbo. Gente...o LIMBO era mesmo um lugar do demo.
Pensa: criancinhas, pagãos, analfabetos, índios, pessoas de religiões diversas que não a católica, iam para lá e não eram nem punidas nem premiadas. É meio uma repartição pública onde você chega para esperar. Só esperar, mas não sabe o que. Você está lá porque é culpado de uma coisa que não sabe que fez, e ninguém te salvou. Precisava que alguém jogasse água na sua cabeça e óleo no seu peito para que você fosse salvo. Mais ou menos! Porque no momento que fizessem isso, você passaria a ser oficialmente culpado pelo pecado original. Você só não foi salvo, porque ninguém foi lá oficializar a sua culpa. Ai jesus...é complicado!
Mas agora tudo mudou. Papai do Céu mandou um telegrama pro Vaticano mandando demolir este andar do Condomínio da Salvação. Não tem mais limbo. Eeee! Os inocentes podem ir direto pro céu, sem necessidade de alvará. Morreu? Foi! Fim. Desburocratizaram a vida eterna.

Daí que eu acho que talvez o inferno esteja mais seguro.
Nessa época interessante em que vivemos, de globalização, banalização do sexo (e até do condomínio divino) e células-tronco, pode ser que daqui a pouco algum empreendedor do Paraíso - todos sabemos que há lá pelo menos seis milhões de judeus - resolva encampar o inferno. O inferno pode passar a fazer parte da Holding, vai ser reformado, renovado, cai o presidente, os cargos de confiança serão nomeados pelo C.E.O. da Heaven & Eden Inc, e pronto: o Condomínio da Salvação será o maior resort do universo!

Acho justo. Acho válido.
Deus está ficando moderno...

segunda-feira, abril 16, 2007

Overdose de carinho

Este fim de semana fui pra Curitiba comemorar o aniversário da minha mãe.
Setenta e sete anos vivendo perto de nós, fazendo barulho de manhã, preparando refeições, se dedicando fervorosamente ao meu pai. (ok...não todos os 77)
Cheguei na sexta-feira e a Bia, minha irmã mais velha, já havia chegado. E minhas tias. E a Pat que ia embora não foi. Não vou contar passo a passo, porque sou preguiçosa, mas quero dizer que foi maravilhoso.
Rimos juntos como adoramos fazer quando estamos juntos. Lembramos histórias deliciosas. Tivemos momentos inesquecíveis e engraçadíssimos...Ficamos bastante tempo juntos, os quatro irmãos, e pudemos falar do passado e do presente, e fazer o que a gente também costuma fazer quando está junto: chorar.
E teve um momento especial, conversando na casa da Pat: Eu, Pat, Bia, Tia Tetê e Tia Myriam...que foi mais do que bonito...e foi triste, mas foi feliz demais ao mesmo tempo. Triste porque falávamos de um futuro não muito distante que nos tirará, por certo, um pedaço do coração. Feliz...feliz por ver pessoas unidas na mesma vontade, na mesma adimiração. Todas querendo que a vida vença tudo, com todas as forças...todas sabendo exatamente por que precisamos umas das outras. E choramos. De novo...todas juntas.
Nem sempre é de medo ou tristeza que a gente chora. A gente chora de feliz, de lembrança boa, de vida rica, de união e amor.
Na noite de sexta-feira, ficamos até quase duas horas da manhã relembrando histórias com uma amiga que conhecemos desde a barriga de nossas mães. E ela nos fez rir muito com nossas histórias de infância que ela lembra tão bem quanto todos nós. A minha irmã Pat dizia: Mas em que planeta eu estava que não lembro nada disso? A Pat era uma cientista. Ela experimentava substâncias não comestíveis como mariposas, salitre, xarope... Talvez por isso ela lembre pouca coisa. Devia estar sempre chapada, provando alguma bolinha bonitinha que encontrou no armário da garagem. Hahhahha! Adoro!
E a Cláudia contou que o pai dela não deixava ela e o irmão mascarem chicletes. Então, quando eles conseguiam ganhar - assim...uma vez por mês - um chiclete, mastigavam até a mãe mandar jogar fora. Nesta hora, iam para a entrada do prédio, onde tinha uma parede de pedrinhas brancas, desencaixavam uma pedra e guardavam o chiclete ali. Recolocavam a pedrinha e pronto. Quando desciam novamente pra brincar, abriam os esconderijos de chicletes, e voltavam a mastigar, agora com um pouquinho de areia.
E lembramos das roupas das bonecas, e das empregadas, e das brincadeiras, e das surras que dávamos uns nos outros, e dos aniversários, casamentos das vizinhas, etc, etc, etc...
Contamos nossas ambioções de infância - o que queríamos ser quando crescêssemos : Eu queria ser Miss Brasil e Chacrete. A Pat, Miss Brasil e cantora. A Cláudia, motorista de ônibus (se não desse, trocadora estava bom) e depois manicure que vai em casa, com uma bolsa cheia de esmaltes coloridos. E a Bia nos surpreendeu, contando que queria ser "banqueira" - DONA DE BANCO DE PRAÇA! Rimos demais com tudo isso.

Os dias que se seguiram foram igualmente lindos...um banho de carinho...e mais um casal de tios chegando. Tio Marcílio e Tia Cecília. Sempre cheios de vida, sempre rindo muito, sempre uma delícia.
Voltei para casa ontem à noite, com o coração cheio de carinho. Uma overdose. Um banho de sentimentos bons. Baterias carregadas por mais algum tempo.
E mais uma vez...eu só tenho a agradecer pela família que eu tenho.

Bom dia.

quinta-feira, abril 12, 2007

E o mundo perdeu as palavras

Eu fechei as páginas de "Matadouro 5", morrendo de inveja, de encantamento, maravilhada com a maneira solta, divertida, sem ordem cronológica de Kurt Vonnegut. E saí para comprar outro e outro e outro, e nunca mais me cansei de devorar suas páginas. Cada vez que resolvia reler, escutava lá no fundo, entre as entrelinhas, de dentro das fibras da página, alguém me dizendo algo que eu devia ouvir.
E eu prestei atenção...mas tive medo de obedecer.
O tempo passou, e Kurt me olhava da prateleira...eu tive filhos com ele me olhando, eu virei gente com ele me olhando...até que um dia resolvi sentar e começar a escrever.

Foi o que aconteceu. Kurt Vonnegut foi a primeira voz que me disse: Vai lá...você pode escrever. Devo a ele todas as minhas letras, todas as minhas palavras, todo o meu ímpeto de falar, falar, falar, sem medo...e por escrito.

Se alguém perguntar se ele foi pro céu...eu respondo que não. Com certeza, o velho Kurt - essa criança de 84 anos que provocou em mim tantos sorrisos vindos da alma - apenas voltou para o seu planeta...Tralfamadore.

O mundo perdeu mais palavras. E eu perdi um ídolo.

quarta-feira, abril 11, 2007

Deixa de ser preguiçoso

E vai ler o resto no Writer's Club.

Bom dia!

Daren e Mariana X

(Falta de tempo pra postar...vou dar uma molezinha...)

Por Mercedes Gameiro - Desafio Caixa Preta

S
ão duas horas da manhã e Mariana ainda está sentada no corredor do hospital, esperando que Daren esteja fora de perigo. As horas demoram para passar e não deixam que as lágrimas finalmente sequem. Uma senhora caminha de ponta a ponta do corredor, repetidamente, sempre olhando para Mariana esboçando um semi-sorriso de solidariedade. A mulher vai e vem, e vai e vem, até que senta-se com dois copos de café na mão.

Mulher:
Que tal um café ruim pra acordar?

Mariana devolve o semi-inexistente-meio-sorriso e aceita.

Mulher:
Deve estar péssimo, mas pelo menos está quente. (abre uma lata que tira da bolsa) Biscoitos?

Mariana recusa. O silêncio mórbido das noites em hospitais pesa nos olhos das duas por alguns eternos instantes.

Mulher:
o que houve com o seu marido?

Mariana aperta os olhos pensando em explicar sua relação com Daren, mas desiste e responde…

Mariana:
acidente de carro. Na porta de casa…terrível.

Mulher:
machucou muito?

Mariana:
Traumatismo craniano. Está em coma induzido. Sei lá até quando…

Mulher:
E as crianças? (pausa) Vocês têm filhos, não têm?

Um furacão adentra os ouvidos de Mariana, chegando até seu cérebro e causando total devastação. Ela pensa:
(…será que eu vou ter filhos? Será que era pra ser ele? Por que eu encontrei essa criatura? Eu não sou nada dele, e estou aqui sentada na porta da UTI esperando notícias… e talvez o único homem que me interessou na vida esteja prestes a morrer por que olhou para mim enquanto dirigia… e talvez a culpa seja minha, por ter jogado duro, por ter sido grossa, e burra, e uma anta. E talvez ele acorde sem lembrar quem eu sou… e talvez eu chore muito se essa mulher continuar fazendo essas perguntas.)

Mariana:
Não…

Mulher:
Ah. Pena…

Mariana:
E você? Por que está aqui?

Mulher:
Sei lá…eu faço isso.

Mariana:
Isso o que?

Mulher:
Eu vou em hospitais conversar.

Mariana se afasta um pouco, julgando estar falando com uma doida.

Mariana:
Como assim?

Mulher:
Eu perdi minha familia inteira de uma vez.

(silêncio)

Mulher:
Foi um acidente terrível e eu passei muito tempo dentro de hospitais, indo de quarto em quarto, meu marido, minha filha, meus filhos…tentando dar conforto para todos eles…E nunca me senti tão sozinha.

Mariana fica sem palavras.

Mulher:
O problema nem era de dia. De dia chega visita, parente, amigo, todos dizendo a mesma coisa: “se precisar de alguma coisa…” Mas o que eu precisava ninguém podia me dar, que eram eles todos dentro da minha casa, com esperança de futuro, barulho, briga, tv ligada, conversa, música!… E à noite ninguém aparece. A noite é enorme, interminável, pesada. Aí que eu sofria, que eu me lamentava, que eu chorava...

Mariana:
Que triste…

Mulher:
É. E quando tudo acabou, e as noites lá na minha casa passaram a ser vazias e tristes, eu resolvi que devia confortar as pessoas que estavam passando o que eu passei. Então, todas as noites eu saio de casa, com café e biscoitos, e faço visitas em vários hospitais.

Mariana:
Que coragem.

Mulher:
Não...É o meu jeito de dividir a dor.

Mariana fica olhando para aquela mulher, com pena dela, com pena se Daren, com pena de si mesma, tenta segurar o choro mas não consegue. A mulher acomoda a cabeça de Mariana em seu colo
Mulher:
Isso…É disso que você precisa…Pode chorar.

Amanhece e Mariana está dormindo nos bancos do corredor do hospital, sozinha. Ela acorda assustada e vê que o movimento está voltando ao normal. Serventes com carrinhos servem o café da manhã nos apartamentos, médicos transitam, enfermeiras correr para lá e para cá. Ela esfrega os olhos, pega dentro da bolsa os óculos escuros e vai até a enfermaria pedir notícias.

Mariana:
Oi, você sabe a previsão e saída do Deren Ross da UTI?

Enfermeira:
O rapaz grandão, do acidente?

Mariana:
É.

Enfermeira:
Ele foi pro apartamento.

Mariana:
Nossa! Quando foi isso?

Enfermeira:
Ha umas 3 horas.

Mariana:
(empolgada, saltitando)
Ai que bom! Que ótimo! Qual apartamento?

Enfermeira:
302.

Mariana:
Obrigada.

E sai correndo pelos corredores.

APARTAMENTO 302 :
Mariana abre a porta devagar. Uma enfermeira está arrumando o soro e tirando a pressão de Daren, que está monitorado.
Mariana:
(sussurrando)
Oi.
A enfermeira sorri.
Mariana:
(sussurrando)
Ele acordou?

Enfermeira:
Não…enquanto não desinchar o doutor vai manter o coma.

Mariana:
(decepcionada)
Ah…droga. Mas pelo menos não está mais na UTI.

Enfermeira:
Melhor né? Agora ele pode ficar aqui, pertinho de você.

Mariana sorri novamente sentindo o turbilhão que martela sua cabeça: “pronto…mais uma me casando.”
Quando a enfermeira sai do quarto, Mariana se aproxima da cama. Ela fica observando cada detalhe do rosto de Daren. Ele tem alguns cortes, curativos, mas seu nariz e boca perfeitos continuam perfeitos. Ela passa a mão em seu rosto, pescoço, ombro, braço…segura a mão de Daren e leva até seu próprio rosto.

Mariana:
Fica bom Daren…por favor…a gente começou mal. Mas foi só o começo…Você tem que sair dessa pra gente se acertar.

O tempo passa ao rítmo do equipamento de monitoração cardíaca. O bip ritmado do coração de Daren vai, aos poucos, levando Mariana para um sono profundo. Ela se acomoda na poltrona que puxou para junto da cama. Sua mão na mão de Daren, sua cabeça apoiada na beira da cama. Nada acontece. Silêncio dentro e fora dos pensamentos de Mariana.
Mariana acorda num pulo ao ter seu sono interrompido por uma voz que parecia vir do além.

Voz feminina:
Olá?

Mariana:
O que?

Ela leva algum tempo para se situar. Confere o lugar para ter certeza de onde está. Vê o quarto do hospital, os equipamentos de monitoração, Daren. Arruma os cabelos com as mãos…

Mariana:
Nossa…dormi.

Continua olhando em volta e vê finalmente a dona da voz. Um mulher de trinta e poucos anos, cabelos vermelhos bem tratados, calça preta, camisa branca, botas. À primeira vista, uma executiva mega bem sucedida, parada no meio do quarto, segurando a bolsa e fitando Mariana nos olhos.

Mariana:
Oi.

Mulher:
Oi.

A estranheza da situação é mais do que contrangedora.

Mulher:
Você é…?

Mariana:
Não não…não sou não… só uma amiga…ele bateu o carro na frente da minha casa, e…

Mulher:
Muito prazer. Laura.

Mariana fala indo até o banheiro
Mariana:
Prazer Laura. Desculpa o meu estado. Passei a noite aqui, nem voltei pra casa..devo estar um lixo…

abre a porta e se olha no espelho.

Mariana:
Nossa…que horror…

Laura:
Imagina…mas agora que eu cheguei você já pode ir.

Este comentário congela Mariana em frente ao espelho. Por um segundo ela se sente como uma leoa vendo outra fêmea se aproximar de suas crias.

Mariana:
Como?

Laura:
Pode ir. Você não precisa se incomodar com isso. Eu já cheguei. Quando ele tiver alta, ele dá notícias aos amigos.

Mariana:
Você deve estar brincando…

Laura:
Não.

Mariana:
Ele bateu o carro na frente da minha casa. Quem veio de ambulância com ele fui eu. Quem recebeu a notícia de que ele estava em coma, fui eu. Quem passou a noite esperando ele sair da UTI fui eu. E eu VOU sim estar aqui quando ele acordar.

Laura:
Eu agradeço demais por você ter feito tudo isso, e entendo que você se sinta culpada ou queira ficar, mas não precisa...errr…como é mesmo o seu nome?

Mariana:
Mariana.

Laura:
Mariana…você pode vir visitar, é claro, mas o hospital só permite um acompanhante e o meu lugar é aqui.
Mariana:
Desculpa…eu to cansada, eu esqueci o seu nome …

Laura:
Laura. (pausa) Ross.

Mariana:
Então Laura…eu vou pra casa, mas eu volto. Vou ficar aqui todo o tempo que eu puder. Eu não vou deixar o Daren de jeito nen….Ross? Laura…Ross?

Mariana engole em seco.
Mariana:
Você é…?

Laura:
(tranquila e acertivamente)
Mulher do Daren.

Mariana:
Claro… imagina.. que louca eu… Laura, a mulher do Daren. Lógico!… Desculpa.

Mariana começa a juntar suas coisas. Chaves, bolsa, celular, casaco…

Mariana:
Desculpa… Eu to cansada demais… não estou mais raciocinando, nem lembrando as coisas direito…esqueci…bom…
O embaraço de Mariana transborda no excesso de gesticulação, como uma bailarina atrapalhado, sem saber se pega a bolsa, se larga a bolsa, se se aproxima ou se afasta…

Laura:
Tudo bem?

Mariana:
Não… quer dizer… tudo. Claro! Só o susto que foi grande demais… do acidente…é. Do acidente.
Eu tava olhando…ele lá em baixo... nossa horrivel! (pequena pausa) Preciso descansar mesmo, comer, dormir…né?
Laura:
Você veio de ambulância…quer que eu mande meu motorista te levar?

Ela vai andando de costas para a porta, vendo Daren ali na cama, e Laura – toda perfeita – de pé, parada o lado dele, olhando para ela…

Mariana:
Não!…nossa…não. Deixa. Eu pego um taxi, um ônibus, eu… já vou.

Mariana passa pela porta, atrapalhada, desnorteada.

Laura:
Mariana?

Mariana volta.

Mariana:
Hein.

Laura:
Obrigada por tudo.

Mariana:
(segurando as lágrimas)
Imagina…nem foi nada. Tchau.

Ela deixa o hospital no passo mais apressado que é capaz de aguentar sem correr, cabeça baixa, bolsa e casaco embolados nas mãos, abre a porta de vidro do hospital sem olhar para trás, continua caminhando no mesmo rítimo frenético de quem quer que o mundo exploda atrás de si, sem ser atingida pelos estilhaços. Atravessa a rua correndo, anda quase dois quarteirões, pára num sinal vermelho, aperta insistentemente o botão de pedestre socando o botão de tanto ódio, e termina por se descontrolar numa cena melo-patética: Mariana deixa a bolsa e o casaco cairem na calçada, encosta no poste, deixa seu corpo descer até o chão…e chora.

Continua…

terça-feira, abril 10, 2007

DAREN E MARIANA SE MUDARAM

Para que o Caixa Preta continue sendo o velho Caixa Preta, Daren e Mariana arrumaram um lugar melhor para morar.

Na verdade fundamos um clube: Mg Writers Club, que mora em outro blog. Lá, não só Daren e Mariana, mas diversas futuras histórias serão escritas a muitas mãos.
Um clube semi-aberto, onde a gente enche a cara de letrinhas e se diverte como nerd: deixando uma bomba para o próximo resolver.

Writer's Club é: Mercedes Gameiro, Felipe Iubel, Alice Salles, Carol Garofani, Marcos Freitas, Fernando Gravata e Flávia Melissa.

Se você quiser fazer parte desta coisa insana, é só gritar.

Um beijo amigo no seu umbigo.

Daren e Mariana - Parte IX


Por Marcos Freitas - Desafio Caixa Preta

Nota:
talvez com uma pequena quebradinha tarantinística na linha do tempo. Mas vou tentar resolver de uma forma mais linear (Mariana não podia ter olhado pro telefone antes da hora certa! Humpf)

Situação geral: Casa da Dina: Daren, ainda na varanda, fica completamente introspectivo e, sem nem olhar pra Gostosa, vira a taça de vinho, dá meia volta e começa a caminhar de volta pra sala; a Gostosa o acompanha um pouco atrás e sem entender nada; Daren e a Gostosa entram em silêncio e se sentam de volta em seus lugares; Ademir ao ver a reação de Pedro com a volta da Gostosa franze a testa tentando entender o que parece que só ele está percebendo; Daren olha pra Dina com olhar indagador, perguntando sem dizer uma só palavra: “porque você fez isso?”; Gostosa após uma clássica cruzada de pernas dá uma circulada com os olhos já percebendo a misteriosa e total falta de interesse de Daren por suas coxas e, numa cruzada de olhares repara um curioso interesse nos olhos de Pedro; Dina sorri; Marcos pensa que seus “negócios” podem ir por água abaixo a qualquer momento se ele continuar a escrever essa merda mas, não resiste e segue adiante; Mariana já está em casa e está furiosa; Edson e Hudson se conectam suficientemente para que a assistente de Mariana acerte todos os dígitos de seu telefone; o telefone de Mariana toca insistentemente...

Ademir

(já à beira de um ataque de nervos) pensa mais uma vez:

Quer fazer o favor de parar de olhar pra guria?

Mariana

(Em casa. Puta da vida, tentando ignorar o telefone e fingindo pra si mesma que tem coisas muito mais importantes pra pensar!) ...e pensa:

Não adianta Edge, seu escroto, eu não vou atender mesmo!

Daren

(Olhando pro telefone e pra situação ridícula em que se encontra, levanta-se subitamente e sai pra qualquer lugar da casa como quem vai atender ao telefone que vibrou e, assim que sai da vista das pessoas, já está ligando para Mariana, ...muito desconfortável e angustiado com a situação) e pensa:

Vai Max, por favor atende, atende logo...

Dina

(Com seu sarcástico sorriso nos lábios, quase que comemorando o desconforto da situação e a saída de Mariana, leva bem calmamente a taça à boca dá lentamente mais um gole no vinho e pensa sobre como conseguiu com sua astúcia ter o controle total da situação)

Ademir

(Fecha os olhos e passa a mão na fronte agora suada enquanto percebe algo totalmente inesperado na estranhíssima troca de olhares entre Pedro e a Gostosa) e não diz nada:

...

Autores e Público

(pensam):

Alguém precisa quebrar esse silêncio, porra!!!!!!!!

Gostosa

(Dirigindo-se a Pedro, ouvindo os apelos do público e, finalmente quebrando o silêncio)

Como é mesmo o seu nome?

Pedro

(Fazendo um estereótipo de macho de voz grossa ...mas suave)

Pedro, ...e o seu?

Ademir

(pensando: “ai minha santa do arco íris roxo!”) quase gritando:

Ah não! Não vem não sua vagabunda! Você não é nenhuma santa da conversão das bibas deslumbradas! ...Nem pense que essas suas coxas e esses peitões de silicone duro têm esse poder de mudar as convicções das pessoas

(e se dirigindo a Pedro) ...ou tem?

Pedro

(falando baixo e tentando ser discreto)

Ademir, você ficou louco é? Quer causar é? Você nem foi convidado e olha o escândalo que você tá fazendo à toa! Para com isso sua bicha louca!

Ademir

(ainda muito exaltado)

Você acha que eu não to vendo vocês dois não é? Pois eu to vendo sim, e to vendo tudo muito bem viu senhor Pedro macho do caralho grosso!

Gostosa

(ignorando o escândalo e falando calmamente em voz baixa)

Vivianne, com dois enes...mas pode me chamar de Vi

Dina

(Quase engasgando com o vinho e não acreditando em como, de uma hora para a outra a situação parece ter escapado completamente ao seu controle)

Aham... Vivi querida, você não quer dar uma olhada lá dentro pra ver o que está acontecendo com o Daren que não volta...?

Daren

(num canto qualquer da cozinha depois de por três vezes deixar chamar insistentemente o telefone de Mariana, começa e escrever uma mensagem de texto):

Max, eu to indo praí agora mesmo!

Vivianne (a Gostosa)

(ignorando as palavras de Dina e o escândalo da bicha, continua normalmente a conversa com Pedro)

Mmmm, ...e o que é que você faz da vida Pedrão?

Pedro

(completamente fora de seu comportamento “normal” e falando quase simultaneamente com a Gostosa)

Nossa, Vi... como você é bonita... por acaso você é modelo?

Ademir

(perdendo completamente as estribeiras, sem pensar nem um pouco nas conseqüências de seu ato, lança o conteúdo de sua taça na cara da Gostosa) e grita:

VÃO PRA PUTA QUEOS PARIU SEUS DESGRAÇADOS!!!
QUE QUIÉ QUE CÊS TÃO PENSANDO????
QUE AQUI É A IGREJINHA DA DIVINA CONVERSÃO É?

Pug

(pulando do colo de Dina ...pro sofá pois, ele não gosta muito do chão!)

AUAUAU GRRR AU arf arf AUAU AU GRRRR arf arf AU AUUA UAUA UA

Vivianne

(limpando o rosto e borrando a maquiagem com uma almofada)

SUA BICHA DESQUALIFICADA!!!! OLHA O QUE VOCÊ FEZ!!!!
SEU FILHO DA PUTA!!!!
AAAAAAAAAAAARRRRRRRRRRRRGHHHHHH!!!!!

Dina

(pegando o telefone pra chamar os seguranças e tentando acalmar o pug)

Calma, fofinho da mamãe, não é nada, não é nada! Vem, vem, vem...

Vivianne

(dando uma almofadada na cara de Ademir)

SEU ESCROTOOOOO!!!!

(...)

(nesse meio tempo, Daren aproveitou a gritaria para uma clássica saída à francesa e já está a caminho da casa de Mariana pensando em como convencê-la de que ele não é, ao menos com ela, aquilo que ela pensa que ele é, essas loucuras que passam pela cabeça de um cafajeste subitamente arrependido de seu passado)

Daren

(teclando insistentemente o redial e ouvindo pela décima quinta vez...)

“...o número chamado encontra-se desligado ou fora da área de cober...”

Mariana

(levantando-se, saindo da frente da tv e acabando de comer compulsivamente o último lindt da caixa, ...e decidindo religar o celular após ouvir a secretária eletrônica gravar o último recado de Daren que está um tanto descontrolado):

“Max, porque você não atende? Você não viu a mensagem no seu celular? Atende o telefone porra, eu to te ligando!!! Por favor!!! Eu preciso te falar uma coisa, se você estiver ouvindo esse recado, atende o celular Max! Sou eu que to te ligando, por favor, eu preciso falar!!! ...olha eu já tô quase chegando aí...”

Mariana

(pensando alto):

Ai meu deus, ...o que eu faço agora?

(o telefone toca denovomaisumavezagain... Mariana resolve atender)

Mariana

(com voz de desabafo, quase num suspiro):

Edge...

Assitente

(com vigoroso auxílio de Edson e Hudson)

Finalmente né dona Mariana!!!???? Esqueceu do seu trabalho é? ...Olha só, a dona Merecedes tá louca querendo saber do orçamento pra decoração do Writers Club!

Mariana

AAAAAAAAAAAARRRRRRRGHHHHHHHHHH!!!

FAZ ALGUMA COISA POR CONTA PRÓPRIA NESSA VIDA CRIATURA!!!! FALA PRA ESSA DONA QUE EU... SEI LÁ! ...RESOLVE AÍ, PORRAAA!!!!

Assistente

(em uma pausa semi-eterna)

...

Mariana

(baixando o tom da voz)

...desculpe! é que eu to um pouco nervosa, sabe? Ai, sei lá, fala pra ela me ligar mais tarde por favor, ...inventa alguma desculpa, mas bem delicada que depois eu resolvo isso, tá bom? Desculpa, agora não posso resolver isso, ...mais tarde eu vou praí e resolvo, tá bom? ...obrigada!

Daren

(dirigindo rápido, ligando mais uma vez e falando sozinho no carro):

Atende Max, ...atende...

Mariana

(pegando o celular e, agora sim, vê no identificador de chamadas que é o Edge)

Edge...

Daren

(desabafando)

Porra! ...finalmente você atende, né? (e aproximando o rosto do vidro para olhar para cima) ...Max, eu preciso falar com você agora, eu já to na sua rua, pode olhar pela jan...

(nesse instante Daren bate violentamente o carro num caminhão de lixo que vinha na direção contrária, Mariana ouve o barulho na rua ... e pelo celular)

(...)

(hospital... Mariana com cara de “a viúva” recebendo o novo boletim dos médicos enquanto as pessoas (os amigos) começam a chegar)

Médico

(olhando mais para uma prancheta em sua mão, do que para Mariana)

Olha, srta। Mariana, a situação é estável, ele está respondendo bem ao tratamento e aos medicamentos mas... ele continua em coma induzido... sabe? É para a segurança dele próprio, a batida na cabeça foi muito, muito forte...você entende não é?

...CONTINUA

Daren e Mariana VIII


Por Flávia Melissa

Estão todos sentados na sala de Dina, riso amarelo e silêncio desconfortável. Mariana se incomoda com a presença de Desespero Praiano, tenta olhar para outra direção, mas não consegue desviar os olhos da gostosa sentada ao lado de Daren.

Mariana divide um sofá com Dina, que se levantou e foi até o bar buscar bebidas. Pedro e Ademir estão sentados em outro sofá.

Ademir
Quer fazer o favor de parar de olhar prá guria?

Pedro
Tá louca, filha? Aquela fruta eu jogo fora com caroço e tudo, não tiro nem a casca!

Ademir
Pode confessar! Confessa que em uma dessas festas da Dina você conheceu uma mulher deslumbrante com meio quilo de silicone em cada peito e descobriu que é sapata!

Pedro
Ô, minha Nossa Senhora dos caralhos cravejados de swarovski, que foi que eu fiz? Abadá de micareta com o Santo Sudário?!

No outro sofá Daren está sentado desconfortável, tentando se esquivar enquanto a gostosa se insinua, cruzando a descruzando as longas pernas e mexendo no cabelo obsessivamente.

Gostosa
Daren, porque é que você nunca mais me ligou depois do nosso finalzinho de semana juntos? Senti saudades...

Daren
Estive ocupado... Você sabe...

Gostosa
E deu tudo certo com o Gustavo? Você pareceu tão preocupado depois que ele te ligou pedindo ajuda...

Daren
Hã? Ah... Deu tudo certo sim.

Daren olha para Mariana, que o fita com olhar embasbacado. Em uma fração de segundos que pareceram uma eternidade, seus olhos se cruzam. Mariana baixa os olhos.

Dina
Bom, peguem seus copinhos e façamos um brinde à amizade. Ui, que loucura, tanta gente bonita espalhada pelos meus sofás, em uma plena tarde de semana!

Pedro
Ui… acho que não devo bebericar nadinha até a próxima semana... Dizem que o fígado demora pelo menos cinco dias prá voltar ao funcionamento normal depois de um porre bem amarrado!

Ademir
Você só bebe quando eu não tô por perto, é?

Pedro
Não meu anjo, eu gosto de encher a minha fuça em ocasiões festivas, mas isso aqui tá parecendo um velório! E eu tô com o morto ressucitado bem na minha frente, valha-me meu pai!

Mariana aproveita a situação e se levanta, pegando o celular dentro da bolsa e fingindo que atende a uma ligação.

Mariana
Alô? Oi querida, só um segundo – com licença, é minha assistente.

Afasta-se em direção à sacada, falando.

Mariana
Oi meu amor, pode falar.

Assim que se vê longe dos olhares alheios, bate o flip do celular, cogitando jogá-lo na piscina. Por fim encosta-se no parapeito, examinando o caminho que leva do pátio interno até o portão de saída. Será que existia alguma chance de pular da sacada sem danificar permanentemente seus saltos Prada? Daren se aproxima sem ser visto.

Daren
Eu sabia que não tinha ligação nenhuma. Você não é do tipo de mulher que trata a assistente por “amor” ou “querida”.

Mariana
Adoraria saber que tipo de mulher eu sou.

Daren
Do tipo que me faz ter vontade de...

Mariana
Olha só, Edge, não é um bom momento, ok?

Daren
Parece que nunca é um bom momento, não é? Acho que cometi um erro vindo até aqui.

Mariana
Pois é isso que estou dizendo desde que você colocou a sua cara sala a dentro.

Daren
Olha, me desculpa, Max... Eu nunca imaginei que ela fosse aparecer por aqui. Escuta, porque não damos simplesmente o fora e saímos pela porta dos fundos? Ainda dá tempo de jantarmos juntos.

Mariana
Jantar? Mas faça-me o favor! Por acaso tem um luminoso em neón piscando “trouxa” na minha testa? Eu não vou a lugar nenhum com você!

Mariana tenta andar em direção á sala mas Daren a segura pelo braço.

Daren
Max, deixa de ser turrona! Eu vim aqui atrás de você, não dela!

Mariana
Mas ela, pelo jeito, adorou a sua trepada de misericórdia. Quantas outras existem na sua listinha de “amigas” de final de semana? Será que por acaso existe um Desespero das Montanhas? Talvez um Desespero Metropolitano?

Daren
Max, tenho um passado, assim como você.

Daren puxa Mariana pelo braço com mais força e mais para perto, até que os narizes se encostam. Por alguns segundos, eles se perdem no olhar um do outro.

Daren
Vamos sair à francesa, deixa esse povo toda prá trás e vamos passar mais de meia hora juntos. Você vai descobrir que eu não sou tão ruim assim.

Mariana olha para Daren e sorri a contragosto. Quando Daren a puxa mais para perto, ela diz:

Mariana
Aqui não. Vamos nos encontrar no Marroquino em meia hora. Eu vou na frente, você se livra do Desespero Siliconado e sai em seguida.

Daren
Mal posso esperar.

Daren solta o braço de Mariana, que pega o celular dentro da bolsa, abre o flip e o encaixa no ouvido. Sorri para Daren, antes de entrar na sala.

Mariana (fingindo falar ao celular)
Claro, pode deixar comigo. Outro prá você.

Desliga o celular, olhando entristecida para Dina, que toma uma taça de champagne com um horroso Pug no colo ,

Mariana
Me desculpa, amiga, mas tenho que sair para resolver uns probleminhas no escritório.

Dina
Oh, algo sério, meu bem? Você precisa de alguma coisa?

Mariana
De uma assistente que tenha mais do que dois neurônios? Edson e Hudson estão de mal, e ela precisa de mim prá resolver umas pendências de uma festa no final da semana – Se inclina na direção de Dina, dando-lhe um beijo em cada face – Nos falamos amanhã, ok?

Dina
Espero que as minhas festas sejam as suas queridinhas, e que nenhuma bruaca botoxeada roube meu espaço conquistado a duras penas nas colunas sociais.

Mariana
Nem eum um milhão de anos, meu amor. Você é a menina dos meus olhos. Tchaus minhas flores do campo – para Ademir e Pedro.

Pedro
Tchau, loira! Arrasa!

Mariana
Tchau doçura, me liga mais tarde.

Mariana sai pela porta e seu sorriso se desfaz no exato momento em que a porta se bate. Sentindo-se mortificada, caminha pelo pátio interno, até atingir o portão de saída, que o vigia abre com um sorriso no rosto. Antes de cruzar a soleira da porta, sente estar sendo observada e olha para cima, na direção da varanda. Daren está lá, fitando-a. No exato momento em que a porta se fechava, ela viu uma cabeça loira sustentada por dois peitos imensos ocupar o lugar que ela estava, apoiada no parapeito, ao lado de Daren.

Caminha até a esquina, pega um táxi, dá o endereço e suspira. Vinte minutos depois está em casa, assistindo televisão. O telefone toca, ela vê na bina que se trata de Daren, mas deixa que o barulho do toque morra aos poucos, enquanto ela fecha os olhos e se entrega à sensação de moleza causada pelas três taças de vinho.