Não era possível uma gravidez depois de uma pelvio-peritonite que quase me matou aos 29 anos. O último ultrassom mostrava uma bagunça danada...trompas enroladas no ovário como um novelinho de lã, daqueles de desenho animado que tem gatinhos. Fora de cogitação. Mas aí havia um jovem diretor que repetia o nome da futura filha e se recusava a ouvir que não seria possível realizar este sonho, a não ser que ele escolhesse outra loira. Talvez uma que não tivesse filhos. Talvez uma mais nova do que ele. Talvez, talvez, talvez, mas ele não queria. Ele queria aquela, e uma filha, e o nome seria Natasha - desde pequeno ele sabia disso - e eu baixava os olhos pensando que, mais cedo ou mais tarde, teria que abrir mão dele em prol dessa teimosia de infância.
Mas também havia um sexto sentido gritando, dizendo que aquele mal estar não poderia ser gastrite. Um teste de farmácia, por que não? Eu não ia chegar no médico e pedir um exame, porque ele ia sorrir aquele sorriso doce e dizer: "Ô, menina...eu já falei que você não pode mais ter filhos...".
Era noite, depois da filmagem (lançamento da primeira telefonia celular no Brasil). Enquanto ele analisava um rolo de filme que talvez tivesse se perdido, eu fazia o teste. Oh.My.God! Pensei estar daltônica. Tinha que estar, ou aquela linha cor-de-rosa era uma alucinação.
Uma Natasha maluquinha. Desde pequena uma gritalhona engraçada, com músicas alegres de letras inventadas: "o petinho dadô dadô e o tapo icaiêta faiô o peti tiêta!"...chorona, exigente, mimada, sorridente, de olhos enormes eternamente brilhantes.
Da noite para o dia, o irmão mais velho tornou-se um adulto (tadinho...pesado) e ela, o nenem da casa, enchendo o lugar com seu barulho. A vida dos que a cercam passou a existir em função da dela, como se fosse um contrato firmado ainda no misterioso interior mágico do meu corpo auto-curante.
Ela cresceu, como era de se esperar, para desespero do pai que queria mesmo que ela tivesses 5 anos para sempre, mas a gente não conseguiu enxergar. Não tem como...caçula é caçula (palavra graficamente horrorosa). De uma hora para a outra ela tem 16 anos, um corpão e uma cabeça que pensa. Pensa e pensa forte, com opiniões duras e regras claras. Mas mesmo assim, nosso cordão umbilical parecia feito de alguma fibra indestrutível...or so I thought.
Ontem eu deixei essa menina alegre e cheia de vontades, num terminal aéreo do Aeroporto Internacional de Garulhos. Sem a menor cerimônia, ela sacou da tesoura e cortou o cordão. Assim, sem uma lágrima, olhando nos meus olhos. E eu sorri orgulhosa.
Tavez isso não tenha a menor importância para nenhum de vocês, mas eu nem ligo. Para mim, foi uma cerimônia de iniciação. Iniciação minha, como mãe de dois adultos. Iniciação dela, numa vida que, agora sim, vai começar.
Era isso.
Bom dia, flores do dia!
É. Eu sou feliz.
4 comentários:
São tantos 'parabéns' que estou com medo de esquecer algum... Bem, vamos lá:
Parabéns pela filha linda, que assumo ser aquela moça loira e faceira ali em cima;
Parabéns pela história fantástica de auto-superação -- são estes pequenos milagres da vida que me fazem achar que isso tudo aqui ainda vale a pena;
Parabéns por não criar os filhos debaixo da asa, desejando que eles nunca saiam de lá -- filhos a gente cria para tornarem-se cidadãos pensantes e independentes de nós mesmos.
E finalmente... parabéns pelo texto, maravilhoso, como sempre. Sempre que eu passo aqui, leio algo que deixa meu dia melhor.
Beijos, querida
Fabio Piva
http://paciencianegativa.blogspot.com/
Nhá
o mano aê já iscrivinhou tdo
deixou nda não Humpf rs
Isso aê mamãe, Parabéns
Vida segue
Eu até consegui visualizar a cena do aeroporto...lindo... chorei..eu sei sou chororona mesmo!! bjs
aêêê... fuerza, parabéns!!!
Postar um comentário