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Hoje, por causa de uma euforia no Twitter sobre minha novela de 2006 - Um Tango para George, talvez a bobagem mais divertida que eu jamais escrevi - acabei relendo o Tango inteiro e achei que deveria relembrar essa parte (fora essa tem o diálogo do Viagra que é demais, mas fica pra depois).
Antes, quero dizer que quando eu releio coisas antigas, tenho a impressão de que eu psicografo. Não lembro de ter escrito aquilo e fico tentando entrar na minha cabeça daquela data, para saber que mecanismo maluco me levou a pensar sobre aquilo, naquela hora. É gostoso... e sempre me surpreende.
Anyway, aqui vai um trecho de texto que eu gosto, sobre um assunto que eu gosto.
(...)
De qualquer maneira, estou autorizada a dizer que Lívia estava feliz. Seu sorriso era maior do que aquele que encantou George no primeiro dia. E George sorria como um menino que ganhou um autorama.
Homens sempre têm esse ar depois da conquista. Dependendo da pessoa envolvida, o autorama pode ser maior ou menor. Mas essa é mais uma diferença grave entre homens e mulheres: após o sexo, na primeira vez com alguém que quer muito, a mulher tem a expressão da princesa que acaba de ser coroada rainha. Ela tem agora um império para comandar. Seu sorriso é plácido e ela é soberana. Por isso seu tombo geralmente é doloroso ao perceber que o império não existia. Um dia ela é rainha, no outro mendiga! Sente-se usada, derrubada, invadida e esfarrapada. A última mulher moradora nas ruas num filme medieval sobre príncipes e plebeus. A conclusão - "ele só queria isso!" - é o pior de todos os pensamentos que podem atravessar o cérebro de uma mulher. Até porque é o coração que ele atravessa. Há tempos que as mulheres tentam fazer de conta que são capazes de querer só sexo. Mas este é um trabalho para a medicina genética, não para seres isolados.
Homens sempre têm esse ar depois da conquista. Dependendo da pessoa envolvida, o autorama pode ser maior ou menor. Mas essa é mais uma diferença grave entre homens e mulheres: após o sexo, na primeira vez com alguém que quer muito, a mulher tem a expressão da princesa que acaba de ser coroada rainha. Ela tem agora um império para comandar. Seu sorriso é plácido e ela é soberana. Por isso seu tombo geralmente é doloroso ao perceber que o império não existia. Um dia ela é rainha, no outro mendiga! Sente-se usada, derrubada, invadida e esfarrapada. A última mulher moradora nas ruas num filme medieval sobre príncipes e plebeus. A conclusão - "ele só queria isso!" - é o pior de todos os pensamentos que podem atravessar o cérebro de uma mulher. Até porque é o coração que ele atravessa. Há tempos que as mulheres tentam fazer de conta que são capazes de querer só sexo. Mas este é um trabalho para a medicina genética, não para seres isolados.
Já os homens, ganham autoramas. Autoramas e ferroramas existem aos montes por aí. Impérios não. Logo os homens não caem. Eles só imaginam que o autorama veio com defeito, desdenham e deixam de desejar. Hum... Ou pelo menos esta é a visão de uma mulher um pouco mais intensa e dramática.
Voltemos então aos nossos outros impérios e autoramas.
Lívia já não via George como celebridade suspeita. Ela já havia parado de procurar e apontar os defeitos dele. Agora era a hora perigosa para Lívia: a contemplação que é sempre seguida de paixão contundente. Ela já não estava nua deitada ao lado do ator cuja beleza e talento ela sempre achou discutíveis. Agora ela estava nua, deitada ao lado do homem mais encantador e carinhoso que conheceu nos últimos anos, "... nas últimas vidas".
Silêncio na belíssima e espaçosa suíte do hotel cinco estrelas em Buenos Aires. George dormia. Lívia vivia aquele perigosíssimo momento pós-sexo, em que toda mulher deveria levantar-se da cama e ir fazer outra coisa, qualquer coisa. Ele dormia enquanto ela vigiava seu sono, analisava seu rosto, acompanhando o leve movimento de seus olhos, decorando as linhas de seus lábios, ouvindo a sua respiração. Armadilha! Arapuca! É neste momento que uma mulher se apaixona. Puro instinto materno! Quem inventou esta coisa do homem precisar dormir depois do sexo, sabia o que estava fazendo. Lívia caíra nesta armadilha milenar. Estava dentro da rede, pendurada de cabeça para baixo na árvore, e nem pedia socorro! Todos os seus pensamentos, ao passar a mão nos cabelos de um George adormecido, poderiam ser traduzidos assim: meu amado, meu império...sua rainha vai cuidar de você.
Relógios sem ponteiros. Mundo sem telefones. Vida sem compromissos. Universo sem bússolas. Entre cochilos profundos, palavras sussurradas, pernas entrelaçadas, abraços sonolentos e sorrisos involuntários, o dia passou tranqüilo. Uma cama em Neverland. Não havia vida fora do pequeno império de Lívia e George.
- Hey... Acorda... Tem uma mulher linda na minha cama.
- Hm... Diz pra ela ir embora que você é só meu.
- Boba... Tá com fome?
- Morrendo.
- Vamos sair pra jantar?
- Só se você me der um beijo.
- Só se você me der um banho.
- Também quero.
(...)
3 comentários:
Uau... vou anotar isso... impérios e autoramas...
Adorei!!!
Beijão flor!!!
Edilene
estou muito feliz em ter encontrado você, esse texto me fez um bem, que você não imagina...
eu lembro dos personagens de mentes doidas de mais para se contentar com a realidade que deram luz à trama... heheheh eu estava lá =) orgulho
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