O meu papel na vida de algumas pessoas é surpreendente. E ao mesmo tempo um tormento.
Parece que eu chego para mudar as coisas, ponho tudo no lugar, faço curativos, depois vou embora com as mãos vazias. E o peito estraçalhado. Não foi uma vez, não foram dez. Foram inúmeras. Todas elas me deixaram feliz no final.
Mas não ilesa.
É como encontrar um passarinho que bateu no vidro e caiu desmaiado, com a asa quebrada. Você cuida dele, arruma uma caixinha confortável, dá água açucarada no bico...passa dias nessa função. No terceiro dia ele já tem um nome. No quarto ele come na sua mão -- já não se assusta com a sua presença. E no quinto dia, quando você abre a caixa, ele se sacode feliz, bate as asas para mostrar que está curado...e voa.
É tão bonito, ne? É.
Mas no sexto dia, quando você acorda, a caixa está vazia. Ainda tem resquícios de alpiste por ali. Ainda dá para sentir o cheiro na caixa cheia da presença dele. A presença da ausência.
Não há o que fazer...ele não vai voltar.
O que lhe resta é lembrar destes dias com carinho e se orgulhar de ter salvo uma alma que é livre. Dá uma certa tristeza, é verdade. Mas aí você respira fundo e deixa que a generosidade seja o único sentimento possível, porque era só um presente para o mundo. Um presente daqueles que é arrancado a fórceps do seu peito e quase sangra.
No final, você se sente digno.
No final, você se sente digno.
4 comentários:
ai ai... eu sei bem como é, acabo desempenhando um papel bem parecido com muita gente... mas tudo bem, porque afinal esse papel É um presente, e como voce disse "um presente daqueles que é arrancado a fórceps do seu peito e quase sangra..."
Tenho andado por aqui e encontrado em textos como este a vontade de escrever os meus. Porém, os meus estão parados por um tempo, porque sim e sem motivo.
Enfim, você gosta das caixinhas, né? E quem volta a voar sempre lembra. Beijo do maninho!
Fiquei um tempão pensando no que comentar sobre esse texto -- e a razão disso é muito simples: Acho extremamente difícil tecer comentários sobre mim mesmo. E no caso, comentar sobre seu texto seria justamente isso -- porque eu sou exatamente assim, e conheço todas as dores e maravilhas de ser desse jeitinho que você descreveu.
E não pretendo mudar. Como você bem disse, dói abrir a portinha da gaiola -- mas dói mais ainda ver o passarinho ali dentro, do seu lado, mas olhando pela janela com vontade de voar. Quero meus passarinhos assim: Curados e livres. E confesso que às vezes eu ecretamente desejo que eles fiquem ali comigo, que eu abra a gaiola e eles voem apenas para pousar no meu colo e ficar por vontade própria... mas isso já é outra história. :)
Beijos, e correndo o risco de ser repetitivo, excelente texto.
Fabio Piva:
http://paciencianegativa.blogspot.com/
Estou me viciando nesse lugar aqui...
Estou no trabalho e não abre msn, não abre twitter... não abre nada... mas abre o blogger... tcharam!!!
Caixa preta é pra lá q eu vou!!!
Li vendo minha mãe falar aí, uma vez um cachorro praticamente bateu la em casa, tratamos, demos de comer, dormiu quentinho, fazia festa pra gente... 2 dias depois, sem mais, assim q abriu o portão ele saiu, deu uma olhada pra dentro como se desse tchau e foi embora... Pelo menos fizemos nossa parte...
Beijo Mercedes!!!
Edilene
Postar um comentário