Já é tanta água que cai do céu, que a mim parece que ela brota do chão.
A grama está molhada e eu posso escutá-la crescendo.
O chão está mais frio, mais húmido, já não é mais tão bom andar descalça.
Os muros estão mais escuros e mostram seus largos desenhos escorridos que parecem lágrimas pedindo que a chuva pare.
Os lagos estão cheios e as tartarugas já não encontram um galho para fora d'água, onde possam subir para secar ao sol.
Os pássaros menores não cantam, escondidos, recolhidos, esperando um pouco de calor.
Os patos não passam fazendo arruaça sobre a minha casa ao pôr do sol, simplesmente porque ele não parece se pôr, como não parece nascer.
As cigarras calaram.
Eu ando na rua com o meu limpador ligado, e o "nhec-nhec" inevitável traz lembranças que são tristes. Sinto o cheiro daqueles dias de dor, quando a vida parecia suspensa por um fio e eu tinha a sensação de que, em qualquer um dos lados que eu caísse, o chão seria frio e duro.
De repente lembro de não ter esperança, e me dei conta de que eu já tinha esquecido que isso era possível.
Eu lembro de gostar de chuva. Lembro que muitas vezes as núvens carregadas acompanharam meu estado de espírito como se a minha tristeza mandasse nos ventos, e não o contrário. Quando a chuva vinha forte, eu gostava de parar o carro, desligar o limpador e ver as lágrimas escorrerem pelo vidro até lavarem a minha dor. Depois eu saía como se aquilo fosse o remédio para a cegueira que acometia o meu coração - que não via o caminho à sua frente.
Lembro de, pela única vez, achar que a morte fosse mais fácil e desejar a minha... ou outra. Esses breves segundos viajando com a chuva no tempo doem como a eternidade no inferno.
Já não é bom ver a chuva.
Não é bom pisar descalça no chão.
Não é bom ouvir o silêncio da ausência dos pássaros.
Não é bom sentir o vento.
Só é bom saber que eu tenho esperança de ver o sol, e que não há tartaruga nos lagos que vá desistir de esperar por ele.
Amém.
A grama está molhada e eu posso escutá-la crescendo.
O chão está mais frio, mais húmido, já não é mais tão bom andar descalça.
Os muros estão mais escuros e mostram seus largos desenhos escorridos que parecem lágrimas pedindo que a chuva pare.
Os lagos estão cheios e as tartarugas já não encontram um galho para fora d'água, onde possam subir para secar ao sol.
Os pássaros menores não cantam, escondidos, recolhidos, esperando um pouco de calor.
Os patos não passam fazendo arruaça sobre a minha casa ao pôr do sol, simplesmente porque ele não parece se pôr, como não parece nascer.
As cigarras calaram.
Eu ando na rua com o meu limpador ligado, e o "nhec-nhec" inevitável traz lembranças que são tristes. Sinto o cheiro daqueles dias de dor, quando a vida parecia suspensa por um fio e eu tinha a sensação de que, em qualquer um dos lados que eu caísse, o chão seria frio e duro.
De repente lembro de não ter esperança, e me dei conta de que eu já tinha esquecido que isso era possível.
Eu lembro de gostar de chuva. Lembro que muitas vezes as núvens carregadas acompanharam meu estado de espírito como se a minha tristeza mandasse nos ventos, e não o contrário. Quando a chuva vinha forte, eu gostava de parar o carro, desligar o limpador e ver as lágrimas escorrerem pelo vidro até lavarem a minha dor. Depois eu saía como se aquilo fosse o remédio para a cegueira que acometia o meu coração - que não via o caminho à sua frente.
Lembro de, pela única vez, achar que a morte fosse mais fácil e desejar a minha... ou outra. Esses breves segundos viajando com a chuva no tempo doem como a eternidade no inferno.
Já não é bom ver a chuva.
Não é bom pisar descalça no chão.
Não é bom ouvir o silêncio da ausência dos pássaros.
Não é bom sentir o vento.
Só é bom saber que eu tenho esperança de ver o sol, e que não há tartaruga nos lagos que vá desistir de esperar por ele.
Amém.