domingo, janeiro 20, 2008

Longe demais

Quatro cabeças e Nani, num momento de integração

Oh my! Oh my!
Sabe quando você se conhece tanto que até dói?
Está acontecendo de novo...eu estou derretendo.
Desde que a história ali embaixo caiu na minha cabeça, eu estou desconcentrada e chorona. A impressão que dá é que eu estou fora do chão. Passo o dia totalmente longe daqui, esquecendo tudo o que precisava ser feito na vida real - inclusive comida - e chorando à toa.

Ontem fui dormir e dormi, claro, porque chega uma hora que o corpo pede; mas o cérebro nem pensou em obedecer. Dormi dentro da minha história, vendo possíveis acontecimentos e corrigindo alguns deles, tipo..."não! isso não pode acontecer tão rápido!" e começando de novo.
Hoje acordei e fui tomar café em frente à TV. Estava passando Saia Justa e o tema era verão. As "velhinhas" lembrando histórias incríveis de infância, recordando cheiros e medos, fora a velha história de morrer na praia, que acontece com todos nós em todos os verões: o verão vai chegando e você, aos 15 anos, já imagina as festas, os amigos novos, o garoto por quem vai se apaixonar, faz planos incríveis, concretiza a maioria, e quando o frio chega... nada daquilo será verdade, até o verão que vem!
Até aí tudo bem...pra um domingo chuvoso. Mas o problema é que eu estou tão dentro da minha história que chorei o tempo todo! E tinha algum motivo? Não! Não, fora o fato da minha história acontecer num verão e numa praia. Não, fora o fato de falar do amor errado, que pode ser que morra na praia. Então lá fui eu...lágrimas em profusão.
E mais: antes de dormir, vi o trailer de Becoming Jane - filme que especula os motivos pelos quais Jane Austen (autora de Razão e Sensibilidade, Persuazão, EMMA e Orgulho e Preconceito) não se casou. Inventaram um amor para ela que ninguém sabe se existiu ou não. Na verdade ele - Tom Lefroy - existiu e, sim, os dois tiveram um namoro que não chegou em casamento por questões financeiras e acabou. De qualquer forma, o tamanho do amor dos dois é pura especulação.
O trailer me fez ir mais fundo e ver trechos do filme no YouTube. Ai ai ai...filme de menina, é claro! O amor de Jane é interpretado pelo "next big thing" escocês sujinho James McAvoy...e o final desilude tanto, que eu fui me deitar para dormir num mar de lágrimas.

Se eu contar tudo o que me fez chorar nos últimos dias, vocês vão me chamar de louca (novidade...). Chorei imaginando cenas, chorei escrevendo diálogos, chorei fritando ovo, chorei vendo Fantástico, chorei ouvindo música, chorei até em filme infantil! Qualquer palavra me emociona...e eu sei que isso vai acabar comigo, porque já aconteceu antes. Eu começo a entrar na história e entrar na história, e daqui a pouco estou tão dentro dela que o personagem principal já fala como eu, pensa como eu, e tudo vira uma semi-biografia. (Assim: biografia conta a vida de uma pessoa, como ela viveu e o que realizou; tipo um currículum vitae. Já a semi-biografia é como um resumé: tudo mais inventadinho pra dourar a pílula, mas com muita verdade. )
Então, embora a história não seja sobre mim, tenha personagens e fatos absolutamente inventados, Nani Gaya - a protagonista - tem voz e cheiro de Mercedes. Não consigo dar a ela outra que não a minha voz. Ela faz coisas que eu não fiz, outras que eu não faria, mas ela pensa pelo meu cérebro e, a não ser por ser magra e morena, até seu andar parece com o meu. Fico dividida entre o que eu penso e o que ela deveria pensar. Dou a ela três ou quatro cabeças para usar, mas até agora ela parece não querer nenhuma. E nós brigamos até ela concordar comigo.
Tudo bem... não vejo problema nisso porque acredito que exista muito do autor em todo personagem... tanto no herói quanto no vilão; o problema começa no momento em que eu vou até aquela praia e não consigo voltar. Exagerando muito a situação, parece que eu desligo o computador e desço a escada, e quando encontro meu marido lá embaixo, quase pergunto: Quem é você??

Há muitos anos, uns trezentos mais ou menos, eu morava sozinha com meu filho em um apartamento pequeno, trabalhava na Exclam, tinha 27, 28 anos, e uma máquina de escrever. Às nove da noite o meu filho já estava no décimo sono, e eu sentava na frente da máquina. Ali, a cabecinha doente de Mercedes Gameiro (não, eu nunca fui normal) voava tão longe que custava a voltar. Posso dizer que vivi para dentro durante uns bons dois anos. Tudo o que vinha de fora daquelas teclas era irreal. Só o que estava no papel era de verdade. Fuga? Será? Se for, eu não existo, porque passei grande parte da vida fugindo, seja para o teclado, seja para o espelho ou para o travesseiro. Vivi mais vidas do que Buda em uma vida só.

Melhor parar por aqui, porque não estou com a menor vontade de ser analisada. Qualquer coisa que seja dita a respeito dessas minhas escapadas eu já sei by heart. Não esqueça que eu comecei o texto dizendo: "Sabe quando você se conhece tanto que até dói?". Então...eu sei onde você vai chegar. Já estive lá! De qualquer forma, obrigada por tentar.

Era isso. Um desabafo. Estou chorona. Estou sofrendo pela pobre e sortuda Nani Gaya. Eu sofro a indignação dela, as dúvidas dela, os impulsos dela, e não vou conseguir exorcizá-la até terminar de escrever... ou desistir.


Um comentário:

Alice Salles disse...

ahhh
mas sofra entao!
porque desse sofrimento todo aaaaalgooo muito maravilhoso sai!