sexta-feira, maio 21, 2010

_não conta pra minha mãe


. Quando eu era pequena, eu tomava Clistin (anti-alérgico) escondido. Minha mãe mudava de lugar, mas eu achava e tomava. Era vermelhinho e doce...e delicioso, e eu nem ficava com sono.

. Quando eu era pequena, eu descascava fio elétrico e ligava na tomada. Depois apagava a luz e juntava os fios descascados para brincar de trovão. Queimei alguns fuzíveis várias vêzes, mas eu sabia trocar. Ninguém descobria.

. Quando eu era pequena, minha mãe tinha uma empregada que tinha medo de fantasma. Um dia eu escrevi o nome dela com álcool na pedra da cozinha, chamei a menina, coloquei fogo, apaguei a luz e me escondi. Ha! Nem precisa contar o resto.

. Quando eu era adolescente, eu liguei para a Globo dizendo que era jornalista de uma revista Paranaense, marquei uma entrevista com o Fábio Júnior (ele ainda era novinho, não tinha feito plástica e nem ficado brega) e fui pro Rio em férias com a família. Claro que eu não tinha nem como chegar na Globo. Acho que o Fábio Júnior ficou esperando...

. Quando eu era pequena, meu pai tinha um revólver calibre 38 que a minha mãe escondia super escondido, mocado, enfurnado, pra gente não ver. Eu sempre sabia onde estava, e brincava de batom com a munição

. Quando eu era pequena, minhas irmãs ganhavam serenata dos amigos que voltavam com fome das festas. Minha mãe sempre abria a porta, mandava entrar e dava um café pra eles. Eu era apaixonada por 80% deles e ficava imaginando que as serenatas eram pra mim.

. Quando eu era pequena, eu trocava cadeado do portão dos vizinhos, quando eles deixavam abertos. De manhã eles não conseguiam sair. Mas a culpa não era minha...foi o namorado da minha irmã mais velha que ensinou. (meu irmão também fazia isso, ta?)

. Quando eu era pequena, eu e o meu irmão tiramos os parafusos da cama da empregada pra ela cair quando fosse deitar. Também colocamos ovos embaixo do lençol dela. Também embrulhamos cocô de cachorro para presente e demos pra ela. Mas a culpa não foi nossa...a gente viu isso numa novela.

. Quando eu era pequena, eu fazia comidinha de verdade e forçava meu irmão a comer. Uma caixa de sapato com furos e botões de fogão desenhados, uma vela acesa, uma forma de empadinha, óleo de cozinha, batata picada...pronto: batata frita.
No cadápio sempre: batata frita, carne assada (salsicha cortada em rodelas), salada de azedinha (trevinho...mato de jardim) e bala de goma (farinha, água e açúcar). Meu irmão era o marido. Eu dizia: "Agora vai trabalhar! Agora vem almoçar! Agora come tudo! Agora vai trabalhar de novo!"

. Quando eu era pequena, minha prima era mais ágil e mais magra do que eu. Um dia ela me disse que conseguia fazer "ponte" de ginástica olímpica. Deitou no sofá de barriga pra cima e levantava o corpo, crente que era uma ginasta. Ela fazia, e fazia de novo...e eu sentada no chão na beira no sofá vendo a bunda dela subir e voltar...subir e voltar...me irritei com toda aquela agilidade, peguei a caneta bic que estava na mesa de centro, esperei ela fazer a ponte e coloquei a caneta embaixo dela, com a ponta pra cima. Bingo! Ela ainda deve ter uma pinta azul no bum-bum. (ela disse que eu nunca ia conseguir fazer ponte porque eu era gorda, ta?!)

. Quando eu era pequena, vi minha mãe coar um monte de óleo quente em vidros e deixar em cima da pia da cozinha. Ela disse que era pra deixar esfriar antes de tampar, e foi fazer as coisas dela. Naquela casa, tinha uma copa enorme anexada à cozinha (ou eu que era pequena) onde havia um sofá branco. Eu sentei ali e fiquei olhando pra ontem. De repente, meu irmão entrou, viu os vidros e perguntou: "Nossa! O que que é isso?"
Eu olhei para ele, muito angelical, e respondi: "Mel."
Ele enfiou dois dedos dentro do vidro de óleo quente e saiu gritando.
Tá...foi mal. Nem tava tão quente, não queimou de verdade. Mas foi mal. Desculpa aí, Rica.

. Quando eu era pequena eu comia erva doce do jardim, chupava "aguinha" de uma flor vermelha que tinha em qualquer cerca-viva, comia azedinha, e colocava um monte de hortelã na boca ao mesmo tempo com uma colher de sopa de açúcar e mastigava, pra fazer chicletes.

. Quando eu era pequena eu queria ser órfã. Mas eu não era mórbida. Só tinha inveja da "Princesinha"...

Revisando tudo isso (e mais o que eu não contei)...concluo: quando eu era pequena, eu era uma peste!

Bom final de semana para os pais de crianças felizes.

10 comentários:

Alice Salles disse...

Olha a sapequinha ali olhando pra câmera!

Anônimo disse...

Vc realmente era sapequinha, mas era uma criança.Que bons tempos qdo a gente era feliz e podia fazer essas artes com o pensamento, hoje isso é maldade e das boas....

Myrian

Pedro Rocha disse...

Que repertório! A criatividade é praticamente sobrenatural. hahahaha.

Na parte em que o seu pai tinha um 38... depois de tomar anti-alérgico, descascar fio pra brincar de trovão, dar um susto cinematográfico na empregada... eu pensei no pior, juro. Criança adorável.

Saudade.

MgMyself disse...

Pedro,

Criança que tem anjo da guarda não se machuca.
Por incrível que pareça eu sempre tive uma boa noção de perigo. Ninguém me avisou, mas eu sabia que não podia puxar o gatilho do revólver sem ver se estava carregado.
Ninguém me falou mas eu sabia que não podia colocar o dedo no fio descascado. Eu sempre arrumei tomada, ferro elétrico, chuveiro, etc.Saí à minha mãe. Sempre fomos os homens da casa.
Ninguém me falou também, mas eu sabia que plantas eu podia comer. E também sabia direitinho como lidar com fogo.
Nasci sabendo coisas...eu digo isso sempre aqui mas vocês acham que é licença poética. NÃO É NÃO! É verdade mesmo.

Tem coisas que eu faço desde de criança, que meu marido não faz idéia de como fazer com segurança, até hoje.

Beijoca

Unknown disse...

Uma praga dessas chegar a idade adulta pra conseguir contar isso me faz ter certeza que anjo da guarda de criança é tão forte quanto o de bêbado =P

MgMyself disse...

Ahahah Felipe, isso que eu não contei a parte da caça ao ladrão da casa do vizinho...pesca de girino em valeta pra criar sapo em casa...Fuga de casa às 5 da manhã, aos 8 anos, para explorar a vizinhança brincando de mochileira, reuniões no sótão da casa em obras tendo que pular de volta pro chão porque tiraram a escada...

Foi um infância farta, creia-me. :)

Pedro Rocha disse...

Lendo tudo isso eu consigo me achar normal. Uma vez eu cheguei em casa com uma garrafa pet cheia de girinos - denominados peixinhos, na época - e minha mãe teve um ataque! Eu tinha também uma certa atração por pólvora, fogo... essas coisas inofensivas: desfazia com todo cuidado as bombinhas pra juntar o máximo de pólvora possível. Até que um dia aquilo explodiu na minha cara, a pedra que eu usei como detonador rachou na minha mão - que inchou na hora e ficou roxa de dor, perdi um fiapos de cabelo que se queimaram, e minha cara ficou literalmente preta. Quando chegaram pra checar o que estava acontecendo, minha prima (a cúmplice de sempre) nem precisou me acusar... Eu sempre fui desastrado. E feliz. hahahahah

Bingo! Mais um semi-post.
Beijocas
;)

Mercedes disse...

Ai, deve ter doído!

Meu pai era um grande incentivador das ciências. hahaha. Então nós levávamos muitos girinos pra casa, colocávamos todos em bacias e víamos crescer. A única condição era deixar os monstrinhos fora da casa.
Depois que eles cresciam e se abancavam pelas calhas do jardim, a gente ia para a garagem à noite, acendia a luz, os insetos chegavam e a gente dava o banquete para os sapos.
Minha irmã não entrava nem saía. hahaha.

Anônimo disse...

credo, pensando bem eu era uma santaaa!! ahaha

Anônimo disse...

Ainda bem que nossos anjos da guarda eram realmente poderosos e não dormiam jamais. kkkkkk
Bons tempos. Fomos crianças normais e felizes, muito felizes.
Morri de rir com o mel que o Ricardo enfiou o dedo. kkkkkkk
Beijoka
Pat