sexta-feira, abril 25, 2008

Se Fosse Hoje... (ídolo)

Bob Dylan 1966

- O que você acha Paula?

- Ai não sei...eu gosto de você...mas você tem que se mexer mais, ficar mais presente, mostrar que tem carisma, não sei...você passa uma coisa frágil. O público quer um astro!

- Randy?

- Cara, você não canta! A música é chata... dá pra ver que você até tem alguma coisa, mas cara, você tem que encarar a platéia, mudar o corte de cabelo, se vestir melhor, e tentar não miar, cara. Soltar essa voz! Você tá mais pra músico de boteco. Nunca vai ser um ídolo! Simon, o que você acha, dude?

- Eu acho um lixo! Não tem presença, não tem carisma, canta pelo nariz, e o seu cabelo é ridículo! É não!

Se Fosse Hoje... (pra sempre)


Cliente: Não sei...eu acho que ela tem que ser bonita.

Dir. de Marketing: O cabelo não pode ser mais alto? Mais solto?

Estagiária: Posso falar? Ai gente, ela é gorda, não tem sobrancelha, não tem peito...

Cliente: Quem aprovou esse casting?

Atendimento: A gente pode mudar.

Cliente: Muda. Essa mulher é horrível. Aproveita e muda o fundo, põe uma coisa mais vibrante, que agregue mais valor à marca.

Assit. de Marketing: Ela pode sorrir?

Atendimento: Mas esse era o conceito. Um ar misterioso, um olhar enigmático.

Cliente: Vamos rever o conceito então. Não funcionou. Isso parece comercial de Activia: "Antes eu era assim..."

Diretor de Marketing: Eu acho que com esta linha de campanha, nosso produto cai no esquecimento em tempo récorde. A gente precisa de algo forte, contundente, que nos eternize!

quinta-feira, abril 24, 2008

Diálogo

- E aí?
- Tudo bem?
- Tudo e você?
- Not bad.
- E o livro, sai quando?
- Que livro?
- Você está escrevendo um livro.
- To?
- Me falaram.
- Ah.
- Sai quando?
- Não sei.
- E o que é? É bom?
- Eu gosto.
- Ta acabando?
- Mais ou menos...to reescrevendo umas partes que não ficaram boas.
- Não ficaram boas por que?
- Ah...o editor não gostou. Achou muito longo e confuso. To tendo que mudar.
- Que chato.
- Não. Tudo bem. Ele tem razão, tinha uns delírios... e o herói morria e voltava, essas coisas.
- Como é o título?
- Bíblia Sagrada.


;)

terça-feira, abril 15, 2008

Vidas


Numa conversa sem pé nem cabeça, C.J. me disse que nas noites que não consegue dormir, gosta de pensar na próxima vida. Este é um dos meus pensamentos favoritos. Não que eu tenha alguma coisa para resgatar -- uma amizade, um amor perdido, um sonho não realizado -- algo que eu não tenha podido ter desta vez. Mas eu gosto de adivinhar o que eu vou ser quando a próxima vida chegar, e quando, e o que eu vou estar fazendo quando fizer 46 anos outra vez.

Não tem muita coisa que eu gostaria de mudar. Na minha outra vida eu quero cantar - talvez eu consiga uma voz! - , quero nascer no lugar certo para nunca mais me sentir um ET entre as minhas pessoas. A minha sorte nesta vida foi encontrar pessoas que estavam muito distantes do meu mundo - meu marido inclusive - e formar com elas um círculo que me protege todos os dias de ser uma outsider. Talvez da próxima vez eu jogue alguns neurônios fora, assim eu nasça outra vez compreendendo tão pouco as coisas que possa aceitar Deuse a história da humanidade de outra maneira.

Eu não tenho algum amor que eu precise viver outra vez. Talvez porque nesta vida eu fui resgatada muitas vezes...e fiz a mesma coisa. A vida me devia essa, e eu fui sortuda assim: nunca perdi alguém que eu amo.

Eu sei mais ou menos como foi a minha última vida, ou como ela acabou, ou tudo não passa de um delírio, mas quem se importa? Eu vejo cenas muito claras...uma terra preta demais com cascalhos de árvore, uma criança tirada de mim, roupas sujas e desespero...um lugar arrasado e fogo. Vejo um homem que me abandona sob um tronco velho de árvore prometendo voltar que nunca volta. Ele é mau, mas minha única suposta proteção...e não me protege...e me rouba. A dor é tão profunda que chega a matar a sede e a fome. Tudo é úmido. Tudo é escuro. Não sei se uma floresta ou o que. Eu fico escondida num buraco sob o tronco de árvore e vejo pessoas que passam e gritam. Eu vejo fogo.
De todos os meus "resgates" este talvez tenha sido o mais doloroso. A tentação de repetir a história e permitir o roubo da vida, estava clara a cada dia, e a superação foi dolorida como uma quase-morte. Todos os dias eu me certifico de que há luz a minha volta para que o chão de terra escura e úmida não venha me assombrar.
A vida me devia também esta redenção. Talvez por isso eu seja afortunada. Talvez por isso eu caminhe forte e feliz e protegida pela luz que me cerca. Nesta vida eu nasci capaz de sonhar e com alegria incondicional. Por isso arrasto tudo o que me cerca para este mesmo "lugar" confortável, iluminado e seguro onde me sinto tão bem. Pode ser que isso não passe de um sonho, pode ser que seja um prêmio.

Agora eu tenho mais 35 ou 40 anos pela frente...eu sei disso (posso dizer pela palma da minha mão: minha linha da vida quase dá a volta no pulso, e se alguém disser que é no pulso que ela começa, deixa eu contar que do outro lado ela vai quase até as costas da mão). Com todo esse tempo pela frente, eu posso imaginar o que me espera - algumas coisas eu até sei com certeza - mas mesmo assim eu não consigo evitar: eu imagino e faço planos para a próxima vida! Quem disse que há um limite nos sonhos de alguém?


Bom dia.


terça-feira, abril 08, 2008

Confissões rápidas de um cérebro em pane.


. Até hoje não entendo para que serve saber análise sintática. Minha filha veio me pedir para explicar adjunto adverbial, eu olhei para ela com cara de proteção de tela, peguei o livro de Português, li, entendi e expliquei. Mas o que eu queria mesmo dizer era: "Esquece. Diz pra sua professora que eu vivo para escrever e nunca usei nada disso."

. Tem envelopes que chegam pelo correio e eu não abro.

. Às vezes eu atendo o telefone e digo que não sou eu.

. Estou escrevendo sobre um triângulo amoroso. Ontem reli todos os capítulos e entrei em crise. Minha personagem deve ficar com o maravilhosamente devastador, genial, equilibrado, bom-de-mostrar, inteligente e incrivelmente amável rockstar que ela conhece há anos e quer casar com ela? Ou ela fica com o doido varrido, impulsivo, ousado, maluco, deliciosamente atrevido escocês que ela conhece há pouco mais de três dias e faz ela tremer só de apontar aqueles olhos azuis em sua direção?
To sofrendo. Vou parar de escrever essa história.

. Eu finjo que falo no celular quando não to a fim de ser simpática.

. Eu não sei usar... ; ...ponto e vírgula.

. Quando eu era novinha, dividia tudo com duas irmãs, um irmão, pai, mãe, uma avó e quem mais chegasse (sempre chegava alguém). Hoje sou neurótica com as coisas que acabavam na hora errada, por isso tenho, em todos os banheiros da família, absorvente, pasta de dente, sabonete, papel higiênico, cotonete, toca de banho e escova de dente para abastecer um hotel em Las Vegas.

. Eu me tenho no MSN. (ok...isso não é novidade)

. Eu tenho comido escondido de mim.

. Já faz muito tempo que eu não rezo antes de dormir. Às vezes deito na cama e me pergunto se não devia. Mas depois penso em tudo o que eu desejo de bom para as pessoas que me cercam, para as que estão aflitas, para as que moram nas ruas, e lembro que isso já é rezar.

. Há muitos anos, fiz um filme com um ator que exigiu toalhas brancas, uma bandeja de frutas e uma tábua de queijos no camarim porque não comia comida de produção nem morto. Acatei os desejos dele, e pedi pra Dirce - a velha e boa cozinheira da família - ir pra cozinha e fazer tudo de mais cheiroso e tentador que ela conseguisse durante as horas da filmagem. Ha! Pobre tábua de queijos... Ele não só comeu a comida da produção, como ficou horas na cozinha com a Dirce anotando receitas.
( Mas eu aderi às toalhas brancas que ele pediu. Até hoje, eu não tenho toalhas de outra cor)

. Toda vez que eu discuto com o meu marido ele tropeça em alguma coisa e machuca o pé. Eu me pego encafifada com isso de tempos em tempos. Tomara que a gente nunca discuta muito sério.

. Neste momento, meu hotmail tem 435 mensagens não lidas, que não serão lidas tão cedo por pura curiosidade científica: quantos e-mails desinteressantes alguém pode receber de uma mesma pessoa durante uma vida?

. Eu gostava do Orkut quando podia xeretar os scraps alheios e dar risada. Agora ficou sem graça com essas ferramentas de privacidade.
Sim! Eu sou ética e boazinha...mas tenho uma gêmea malvadona.

. Quando vejo minha filha sofrendo em cima de uma apostila de química tenho vontade de dizer pra ela deixar isso tudo de lado, parar de sofrer, ir estudar arte, dança, línguas! Ensinar pra ela que o corpo não é só o meio de transporte da cabeça, e a universidade não é uma necessidade real, já que o mundo não precisa só de doutores. Alguém precisa dançar, pintar, cantar, tocar instrumentos, mudar o mundo, e nada disso se faz de dentro de uma faculdade, e a maioria das pessoas se forma e jamais atua na área em que se formou.
Aí eu me recolho e não digo nada, mas fico questionando se é justo que a educação no mundo seja toda voltada só para a universidade. Dá pra se dar conta que a vida real só começa DEPOIS da faculdade e ninguém te prepara pra isso?
Será que só poucas pessoas pensam que a escola leva 14 anos para transformar um ser expontâneo e único numa múmia igual a milhares de outras múmias? E que depois que esses seres inexpressivos deixam de ser únicos, passam mais alguns anos na faculdade aprendendo uma coisa e esquecendo todas as outras? Eu vejo as escolas ensinando o pensamento alheio, mas não as vejo criar pensadores. É preciso lembrar que enquanto os doutores trabalham, alguém precisa empurrar o mundo pra frente.



segunda-feira, abril 07, 2008

Sobre Bichos-Grilos e Bruxas Malvadas

Gente boa da melhor qualidade: Elder, Izabel, Sirley


Socorro!
Fui literalmente invadida...quer dizer...minha caixa postal foi invadida por um grupo enorme de pessoas que me conheceram quando eu era bicho grilo. -- Cabelos o vento, calça jeans, bata indiana, alpargata. Quando não, pelo menos uma bandana no pescoço era de lei. Camiseta do Solidarnosk, bota de camurça amarrada, quadro do Che na sala de casa, muito show ruim...muito evento chato...muito amigo artista...total poncho e conga. Ai! Agora eles vão contar o meu segredo por aí.
Não! Não acreditem na bichogrilice (isso é uma palavra?), mas podem confiar nas pessoas, porque eu só tenho lembranças boas daquele tempo.
Pera aí...só? Será?
E aquela bruxa malvada que chegava de cara amassada e se maquilava com o espelhinho encostado na máquina de escrever, limpando as pontas dos dedos na barra da calça a cada troca: do pó pro blush, do blush pra sombra, da sombra pro batom, da-lhe colorir a barra da calça por dentro! Deixa eu lembrar se eu tenho boas coisas pra contar sobre ela... é.... err.... hum....Não!
Mas há frases célebres:
"Dê graças a deus de ganhar pouco, Mercedes. Você nem imagina a quantidade de descontos na fonte que eu tenho...a soma dá muito mais que o dobro do seu salário."
Obrigada! Essa informação me fez realmente feliz! Quero ganhar pouco pra sempre...
"Agora você é magrinha, bonitinha, quando você tiver os meus trinta anos, vai ver o que é bom."
Hello? Isso é uma praga? Fiquei tão apavorada, que aos trinta eu estava muito melhor do que aos dezoito.
Ela era tão bacana tão bacana, que um dia foi dizer pro nosso chefe que não era eu quem fazia os meus textos. Coitada...Disse que eu passava a manhã empacada, ia almoçar com o meu namorado (que era um criador premiado da época) e voltava com o texto resolvido. Gente!!! Vai ser boa no inferno pra escravizar um redator e fazer ele trabalhar "de grátis" só pra você. Wow! Poderosa...
Passado isso, a bruxa malvada resolveu dizer que pra cada três jobs que ela entregava eu não fazia nenhum. Sim sim...certo, se você desconsiderar o fato de que ela era a pessoa que me passava os jobs, e eu passava dias e dias implorando por unzinho e recebendo sempre um "já vai" como resposta.

Deixemos a bruxa, mudemos de assunto.
No momento em que a minha caixa postal foi invadida eu fiz uma viagem no tempo e fiquei tentando descobrir quando exatamente eu deixei de ser aquela menininha boba porém gostosinha, para me tornar essa mulher esperta porém gorducha! E lembrei de muita gente boa da melhor qualidade, que fazia a bruxa malvada ser quase um pum em meio a um universo de gases nobres. Foi ruim isso? Uma nota destoante em meio a uma orquestra sinfônica. Melhor? Uma pequena deformação na natureza perfeita da... da... diversão no trabalho. Foram dias divertidos, sem dúvida. Eu não sabia nada! Caí ali como o último patinho a chegar na lagoa e aprendi demais.
. O que me fez conseguir tão cobiçado emprego?
- Ser protegida dos dois únicos colunistas de propaganda da época - Ney Alvez e Silvia Dias - e indicada por eles.
. Como me tornei protegida deles?
- Não faz pergunta difícil...eu não faço a menor idéia! Deve ser o meu jeitinho...
. O que me fez ter problemas com a Bruxa Malvada?
- Provavelmente o namorado pintoso que eu arranjei super sem querer numa outra agência, ou um quadril de tamanho aceitável (relaxa, isso mudou!).
. Qual era o meu talento mal aproveitado?
- Escrever...
E foi ali que eu tive que aprender na marra que não posso escrever só o que eu quero. Foi ali que eu tive que transformar toda a poesia do mundo em folheto de produto bancário: você sabe escrever? Então escreva sobre seguro de vida! Escreva sobre CDB! Escreva sobre inauguração de agência bancária em Coxipó da Ponte! Muito bem! Muito bem! Ah, que vida engraçada! Tudo isso sob o olhar fulminante da Bruxa Malvada do Leste e a proteção da linda e carinhosa Rosicler, que sentava logo atrás de mim e era doce como um anjo. E eu, Dorothy, crente que o mundo era cor-de-rosinha, tadinha, me divertia horrores com o resto da agência.
Ali eu usava um papel de rascunho amarelinho inesquecível. Era um papel de seda, quase transparente, onde eu escrevia à máquina textos de trabalho, mas também escrevia poemas, cartas e letras de música. Hoje, quando abro a pasta onde eles estão guardados, morro de rir, porque faltam muitas partes das folhas de papel. Milhares de pedaços foram recortados por amigos que fumaram tudo o que havia em volta dos meus poemas e deixaram só as letrinhas. E eu, que nem fumava, guardo até hoje o resultado de milhares de baseados enrolados em partes de poemas de qualidade questionável! Neurônios queimados? Eu duvido. Neurônios adubados. Ah! A vida é sim engraçada!

Época fecunda aquela, por falar em adubo. Época em que ainda havia romantismo e alguma arte na propaganda. Época em que havia espaço nas agências para meninas de dezoito anos curiosas e com a cabeça na lua. Época da máquina de escrever, de nankin, ecoline, letraset, arte final, revisão no overlay. Época da invenção do Marketing, pode-se dizer, quando ainda eram poucas as gravatas e quase não se ouvia falar em MBA. Ainda se usava o instinto. Ainda valia ser artista. Aquelas pessoas com sotaques diversos inventaram uma agência que inventou a imagem de um banco incrível, que começou com um fazendeiro visionário e terminou com outro fazendeiro visonário. Tudo aquilo era, na verdade, uma comunhão de loucos visionários.
Eu não passei muito tempo ali, talvez um ano ou um pouco mais, o suficiente pra eu poder me gabar.
Agora, minha caixa postal vem trazendo todos os dias um pedaço daquele tempo. Com isso eu descubro que alguns algozes hoje me parecem doces*. A menina bicho-grilo me parece engraçada e muito mais bem intensionada do que eu achava que era. A vida me parece rica de histórias boas. E vendo as fotos, os anos 80 me parecem cheios de bigodes.
Olhar para aqueles dias me traz lembranças incríveis. Até a barra da calça maquiada da malvadona me faz sorrir.
Bom demais.

Um beijo amigo no seu umbigo.

*(menos a bruxa malvada que eu ainda acho malvada)