segunda-feira, novembro 29, 2010

_e se?

Ou "Como o MSN inspira textos bestas"


E se você encontrar aquela pessoa de novo, assim, do nada, num restaurante?
Vocês não se vêem desde aquele e-mail fatídico, mas você sempre nutriu uma esperança besta de que ela acordasse um dia morrendo de saudade e ligasse dizendo:
"Preciso te ver. Agora." Não vai acontecer. 

Agora que ela parou de balançar de um lado para o outro, acalmou um pouco o follow/unfollow/follow-de-novo no twitter, e aquela outra conta que depois de ir e voltar doze vezes, ela finalmente deletou (e você não tem mais como matar a saudade olhando fotos ou conferindo conversas), e até os velhos e-mails você já jogou fora...Bem agora que você está tranquila e livre do vício, pela primeira vez em mêses...bem agora, você entra na droga do restaurante e, naquela mesa do fundo à esquerda, bem de frente para você, ela carrega o primeiro par de olhos a cruzar com os seus.
Now what?

Ignorar, tenho certeza, está fora de questão. Acho que seu coração vai bater tão forte que é capaz de pular longe e sujar a toalha de alguma mesa de sangue. Eca! E duvido que você consiga evitar um sorriso de orelha a orelha, capaz de cegar metade da população presente. Mas espera! Você é mesmo capaz de desviar o olhar e fingir que não a viu? Será que você senta numa mesa bem longe da dela e almoça tranquila, ignorando solenemente a presença gigantesca que, com certeza, ocupa um restaurante e meio e te espreme contra o muro do outro lado da rua? Duvido.
Duvido e ao mesmo tempo acho triste.

Eu sei o que você vai fazer. Você vai encontrá-la no caminho do banheiro das mulheres, vai dizer:  
"Oi! Nossa, quanto tempo...tudo bem?"
Vai ficar olhando pra pessoa com cara de bobo, mal vai escutar a resposta dela que na verdade não interessa , vai dar dois beijinhos completamente sem graça -- quando queria mesmo que ela te agarrasse e te arrastasse pra dentro do banheiro com um beijo-na-boca-cinematográfico-mega-plus --, depois, vai virar as costas como se ela fosse o amigo do amigo da sua prima que você não vê desde aquele dia na sua festa de doze anos, e vai voltar pra sua mesa, engolir a comida sentindo raiva do mundo, pagar a conta e ir embora sem café.

Sabe o que eu acho? Vocês são dois bananas.
Era só.


Imagem: SuperStock

quinta-feira, novembro 11, 2010

_six pm



the magic hour.
in front of this window you are my shadow and I am yours
i am yours...
am i? 
this magical redish-mid-light makes me feel you closer
feel your smile in me
fill your smile 
(with mine)
 
please, dear, cut the lights. 
let me see you inside

(you
inside me)



segunda-feira, novembro 08, 2010

_síndrome de sereia



Quantas vezes me peguei rezando aos vinte e poucos anos...pedindo que me fizessem amar mais do que ser amada? Parece um pedido estúpido, parece uma queixa burra, mas não é. A aflição de parecer maior do que se é, tavez seja uma dor tão grande ou ainda maior do que a de não ser amado. Não ser amado é libertador, posto que não vem acompanhado de culpa. Já quando parece que seu amor não é suficiente, a culpa é gigantesca, e a sensação de incapacidade e de não estar vivendo o que se deveria, devora e entristece.

Depois de ter consciência disso, todo e qualquer disperdício de amor desespera. É preciso amar mais, é preciso amar igual, é preciso amar a qualquer preço - e mais do que tudo - é preciso provar que se ama.
Mas não adianta. Geralmente as pessoas carregam esta sina porque são endeusadas, não porque não amam ou amam de menos. Elas amam demais, mas não chegam onde querem. O pedestal onde foram colocadas não as deixa tocar a pessoa amada. É triste. É uma barreira que elas não querem que exista. Uma muralha quase intransponível que gostaríam de poder explodir...mas que não pertence a elas. É construída pelo objeto de seu desejo.
Não sei se elas preferem homens ou mulheres mais frágeis, que se julgam inferiores. Pode ser. Mas pela minha experiência, digo que não. Ou talvez..hum...agora não sei mais. Será que é isso? Será que a equação "amor + pedestal + muralha" só existe por uma necessidade inconsciente de ser adorado? Seria, no mínimo irônico: pessoas fazendo sofrer a elas mesmas... 
Porque eu te digo que é um sofrimento. Musas são feitas para serem endeusadas e, assim que tornam-se humanas, viram abóbora. Mas tornar-se humana é a única maneira de ser tocada, e não existe musa no mundo que não queira ser uma pessoa comum. 
É como o sofrimento da sereia, apaixonada pelo pescador. Ele espera por ela, ouve seu canto, delira, sonha acordado com o dia em que a sereia vai criar pernas e andar em sua direção. Lá do outro lado, a sereia tem os mesmos sonhos, então canta para o pescador, faz com que ele se aproxime, cria pernas e pula para dentro do barco. Ele quase morre de prazer por ter em seus braços um ser mítico. Ela também...mas por ser humana e, finalmente, poder tocar o amado. É a desgraça anunciada: ele quer que ela seja para sempre sereia - seu segredo, seu prêmio. Ela quer ser para sempre humana. Isso acaba sempre com uma sereia indo às lágrimas... e adeus...tchibum! Ela regressa ao mar, ele casa com uma humana qualquer e volta a sonhar acordado com a sereia, porque lugar de mito é no mundo dos sonhos.

As pessoas portadoras da "síndrome de sereia"  conhecem suas limitações, sabem que são pessoas comuns, têm milhares de inseguranças e amam pobres mortais...mas são vistas como inatingíveis e sagradas -- o Santo Graal dos seres da terra. Por isso nunca chegam a viver o que gostaríam. 
É triste.

quarta-feira, novembro 03, 2010

_férias, primos, praia...oh wait!

.
Agora lembrei. Lembrei como era ir ao Rio todo ano para passar o Ano Novo e as férias de Julho. Tinha "oba" sim. Tinha porque eu esquecia sempre das coisas de sempre. Mas tinha as coisas de sempre. Então eu nem vou falar da parte óbvia, que era ver os primos da minha idade, fazer um monte de coisas gostosas, ser milhões de vezes mais livre do que eu era em Curitiba: cinema, boteco, sorvete, passeios...

Vamos então às coisas de sempre.

Eu nunca fui magra. Também nunca fui gorda antes dos 45 anos, quando virei este provolone gigante que vos fala. Eu era ajeitadinha, mas não era carioca. Não mais. Isso era chato. Depois de anos em Curitiba, eu já não tinha aquele ar praiano que a gente tem quando vive muito tempo no Rio. Já não sabia muito bem como me comportar em cima de um par de havaianas, nem como andar de mão abanando. A carioca tem um jeito de tirar a canga/short/saia que só a carioca tem. A gente se cria no Rio e aprende. Depois que a necessidade de se despir em público acaba, a gente não é mais tão charmosa. Isso é problema? Não... aparentemente não... a não ser que você seja eu, é claro, e como sendo eu, você odeie não pertencer, ou pior... como eu, talvez você odeie chamar a atenção pelos detalhes errados.
Pois bem. Eu não era gorda, não era magra, não era carioca e era BRANCA -- branca de neve, de bochechas vermelhas e sem nenhuma marca de biquíni whatsoever, como se tivesse acabando de nascer.
E como uma sina, assim que eu chegava ao Rio, o comitê de recepção estava me esperando para ir à praia. Mas não era tão simples. Não podiam ir à praia ali no Leblon, pertinho de casa, onde eu pudesse voltar antes, quando a coisa ficasse feia - e ficava. Não..! Tinha que ser em São Conrado. Claro. Super mais legal, praia limpa, menos farofeiros, mais gente cool. Só esqueciam de um detalhezinho: eu não era cool.
Então eu chegava de uma viagem de 12 horas de ônibus leito, com a pele marcada pelo jeans e pelo elástico do sutiã, a pele absolutamente transparente, e ia para São Conrado exibir o corpinho na frente de todos os caras mais cool do sul do mundo, e um sem número de mulheres lindas com cabelos idem e bronzeado impecável.
Lembre-se: naquela época, filtro solar era pasta d'água ou hipogloss, mas era ridículo.e eu que não ia fazer papel de ridícula. Não...well, com 40 minutos de praia eu era um pimentão gigante. O mundo não é bacaninha, sabe? Ou eu seria a única pessoa a perceber a minha cor. Daquele instante em diante, eu passava a escutar as palavras "pimentão", "camarão", "lagostinha", "holofote", e todas as outras coisas que lembrassem "escandalosamente vermelha e luminosa".

O dia seguinte não era melhor. Eu amanhecia inchada, com o dobro de marcas no corpo -- porque a pele inchada em contato com o lençol amassado vale por uma fotocópia de lençol amassado. Agora eu era de um rosinha pálido quase nada...quase transparente outra vez, só que doendo muito.
E assim passava a primeira semana: rosa-choque, rosa-bebê, rosa-choque, rosa-bebê. Na segunda semana, quando eu começava a parecer saudável e quase viva, descascava. E mais piadinha.

Este sempre foi o problema de ir ao Rio. Não pense que mudou. Ainda semana passada, eu sofri ao lembrar que teria que passar o feriado lá e rezei para chover. Se fizesse sol eu não escaparia da praia e ainda ficaria eternizada no álbum do casamento do meu primo, como camarão.
Papai do céu foi legal dessa vez, mas tenho certeza que não vai me deixar escapar na próxima.

Resumo do trauma: ir ao Rio é ardido...mas é bom.