terça-feira, fevereiro 23, 2010

_à deriva

Dia estranho.
Acordei chateada sem saber por que, cancelei o treino, fui tomar café de cara amarrada, abri o Twitter e tive vontade de xingar uns três ou quatro, não tive paciência para folhear o jornal, não sorri. Mal sinal.

Dirigi, para resolver um problema bem longe, por uma estrada que me fez lembrar como eu gosto de dirigir. Espera! Se eu gosto de dirigir, por que eu não tenho saído de casa?
Eu tenho total consciência de que as melhores histórias que eu escrevi saíram de dentro do meu carro, com música alta e a cabeça nas núvens. Nenhuma aconteceu sentada em frente ao computador. Sério...NEM-UMA. Aí eu páro e descubro que não escrevo mais...então faz as contas: se eu não saio eu não dirijo, se eu não dirijo eu não escrevo. Descobri a pólvora.
Até aí está tudo bem, mas e o motivo? Por que eu não saio? Não saio porque digo para mim mesma que preciso escrever. Ah...sei. Mas se não saio não escrevo, então me explica? Eu não saio porque resolvi parar de escrever?

Nessa linha de raciocínio tudo fica mais complicado. Por que eu não escrevo? Por que eu engordei? Por que eu empurro tudo com a barriga? Por que eu não voltei no médico? Por que eu parei de treinar? Por que eu não vou na produtora? Por que eu não vejo meus amigos? Por que eu não vou para Curitiba? Por que eu não vou ao cinema? Por que eu não fui ao casamento da filha da minha amiga em Los Angeles? Por que eu não pego aquele avião na sexta-feira e vou com o meu marido para onde ele vai? Por que eu não vou ao shopping? Por que ainda não troquei as coisas que comprei no Natal? Por que, por que, por que?

Auto-sabotagem.
Hoje de manhã quando eu estava no carro e o Black Crows estava berrando, eu olhei a hora no painel do carro: "23-02-2010 11:20am".
O que? VINTE E TRÊS DE FEVEREIRO DE DOIS MIL E DEZ? Como isso aconteceu? Faz um ano e um mês que o meu pai faleceu? Faz um ano que eu não escrevo? Faz um ano que abandonei meu livro, meus roteiros, meus interesses, meu corpo, minha pele? Pra que?
Abandonar a mim mesma não vai trazê-lo de volta! Eu sei disso. É muito óbvio...muito. Mas eu não consigo descobrir onde ir buscar o que eu preciso para retomar a vida e encontrar os quatrocentos e poucos dias que já se foram. Eu tenho pressa, mas não tenho força.

Não sei o que dizer...é estúpido, é tão estúpido. Eu, a rainha de jogar bóias para salvar todo mundo, não consigo encontrar meu bote salva-vidas. Estou à deriva nesse laguinho que não há de ser tão imenso, mas que parece um oceano sem fim.
Preciso encontrar o norte.
Hoje.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

_improvável

Me interna se um dia você me encontrar numa das situações abaixo:

. saltando de asa delta
. na fila da montanha russa
. numa roda de samba
. vestida para o carnaval (se não for um biquini ou um pijama)
. desfilando na avenida
. num show da Ana Carolina
. me deliciando com um bife de fígado acebolado
. fazendo trilha, escalada, rapel e outros esportes radicais que necessitem de uma carteirinha da FUNAI com carimbo recente
. acampando
. no cinema vendo filme da Xuxa
. viajando com excursão
. Fazendo um cruzeiro desses que estão na moda agora, que nunca tem lugar na piscina, a comida é meia boca e a música é péssima. (sete dias trancada num navio sem poder fugir? socorro!)
. Indo para qualquer lugar que tenha G.O., palestra de auto-ajuda, atividades interativas, e essas coisas para gente solitária.
. num jogo de futebol

Tenho dito.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

_domésticas


Já se foi o tempo que meus assuntos eram nobres.
A vida real me engoliu de um jeito que derrubou meu ar de semi-deusa e eu agora tenho problemas de simples mortais. E meu problema agora chama-se empregada.

Então, estou em busca de uma. Eu já tenho a Ritinha, mas ela está ficando obsoleta. Depois de oito anos, ela virou patrimônio da família e a gente não deixa que ela faça serviços mais pesados, nem nada que possa piorar a situação já lamentável da coluna dela. Ritinha é protegida de todos nós e ponto. Preciso de alguém para fazer o que Ritinha não deve fazer, sem Ritinha perceber...ou seja: Ritinha não é mais exatamente uma empregada. É a tia que cozinha bem e vem aqui todo dia.
Uma vez eu tive a Luzia. Luzia não era uma mulher, era um SER de dois metros por dois e meio. A circunferência do peito dela fazia a fita métrica ficar deprimida. Forte como um leão, carregava qualquer coisa sozinha, arrastava piano, subia escada com qualquer peso, e limpava minha casa como ninguém. Mas eu tive que mandar a Luzia embora para ela não ir para a cadeia, depois de roubar e facilitar o roubo de um incontável número de objetos eletrônicos de fácil comercialização da minha própria casa: máquina fotográfica, PSP, GPS, barbeador, fotômetro....pera! Fotômetro não é fácil de vender! Mas ela levou...o fotômetro e o manual em inglês. O manual em japonês ela deixou pra mim. Além de levar todas essas coisas e deixar as bolsas, cases e embalagens, para que a gente levasse tempo para dar falta, ela também mentia. Mas mentia! Me pediu dinheiro para tirar a mãe do hospital...aos prantos. Emprestei o dinheiro para ela e uma semana depois a mãe liga:
- Como vai? A senhora está melhor?
- melhor do que?
- a senhora não esteve no hospital?
- Deus me livre, minha filha, eu não passo na porta de um hospital há 30 anos, graças a deus.

Eu devo ter a palavra "TROUXA" piscando em neon na testa.
Anyway...juntando Rita e Luzia, pode-se criar uma nova língua. Tanto na fala, quanto na escrita, o talento para criar palavras é incrível.

- Olha um pudinho! (filhote de poodle)
- É um circo viçoso... (acho que dispensa tradução)
- Ele é um INS-PRI-TO de porco! (assim so-le-tra-di-nho)
Na lista de supermercado: manregicão, varge, ribingela (what?), bolbril, verja, indinzinfentanter, sarzinha e sebolim, molo choi (shoyu), papel ingenco (ou ginenco, depende do dia). E meu santo nome, que varia de DôMercê a DonMecedi também dependendo do dia.
Mas a melhor história de todos os tempos veio da Luzia: existe uma doença que dá em recém-nascidos chamada "Mar de Marcioto". Mar vem de Mal. Então é marrr, R com som de "ãr", pra dentro, de caipira.
Então o irmão dela "quase arruinou" quando nasceu, porque pegou mar de marcioto, mas a mãe dela - que deve ser tão macumbeira quanto ela - sabia uma simpatia que é a única coisa que cura mar de marcioto depois que "os médico desengana". Simples: você leva a criancinha para debaixo de uma árvore, tira a roupa dela e coloca ela - a criança - direto na terra...na grama, ou o que for. Aí você pega uma faca (aqui você insere a imagem da minha cara horrorisada ouvindo a história) e corta a criancinha...NÃO! não a criancinha...você vai cortando a terra em volta da criancinha, fazendo o formato dela. Aí, você desenhou a criança na terra, então a doença passa pra criancinha desenhada...e você pode tirar o seu nenem dali que ele ta curado. Isso! Você enganou a doença. Ha!
Eu passei dias tentando achar no google qualquer nome de doença que fosse parecida com Marcioto, sem nenhum sucesso. Mas ela continuou dizendo que eu podia perguntar pra qualquer médico que eles sabem, e sabem que não tem cura.

A vida era mais divertida com a Luzia por perto. Ela fazia macumba pra chover, pra parar de chover, pro Claudio acordar logo que ela tinha que ir embora cedo, pra tudo e pra todos. Pra mim inclusive. Acendeu mais vela na minha casa do que todos os terreiros de Salvador em dia de Nosso Senhor do Bomfim. Mas eu ria mais naquela época.

Pós Luzia, já passaram três por aqui. Nenhuma delas divertida, nenhuma delas trabalhadeira, todas sensíveis demais...e eu preciso de alguém ontem.
Agora me resta entrevistar empregadas e não existe coisa mais bizarra do que uma entrevista de empregada. Segundo o Franc Souza, não precisa pedir currículum nem perguntar qual é o livro de cabeceira. Este seria o questionário padrão:

1) Usa muita Q Boa?
2) Omo ou Minerva?
3) Com pense ou sem pense? (pensa no que faz de almoço?)
4) Sabe diferenciar roupa branca de roupa de cor?
5) Poblema ou pobrema?
6) Sabe fazer bife a milanesa ?
7) Feijão?
8) Arroz soltinho?
9) Arrumar cama?
10) Persegue a novela?
E eu acrescentaria:
11) fuma? (Por que eu fumo...mas odeio cheiro de cigarro, então empregada minha não fuma nem la fora!)

É um saco...
A gente quer saber com que a filha namora, se é de família boa, se tem vícios ou não; analisa a ficha cadastral dos clientes, vive investigando tudo e todos para não dar passos em falso, mas na hora de escolher empregada vale sempre o mesmo critério: ir com a cara. E lá vou eu errar de novo com certeza, porque eu não nasci pra isso...isso tem que ser passageiro. Help!





Letreiro de letras miúdas igual àqueles de final de comercial de varejo de carro que tomam metade da tela:
Amiga, se você/sua mãe/avó/tia/vizinha é/foi/talvez venha a ser empregada doméstica, saiba que este texto não pretende ofender a ninguém, muito menos a você. Se você fez faculdade graças ao esforço da sua mãe/avó/tia/você mesma, acho lindo. Mesmo! Mas por favor não seja chata e não poste comentários me chamando de preconceituosa porque, quer sua mãe/avó/tia/você mesma queira quer não, existem empregadas engraçadas e o fato de você não gostar não muda isso. Se seu problema for com o termo "empregada" sinto comunicar que "empregada" é a nomenclatura usada para denominar "empregada doméstica", o que não acontece com "assistente" ou "secretária" que são funções totalmente distintas, exercidas fora do ambiente doméstico . Eu não gosto e não uso os termos politicamente corretos porque acho todos eles mais preconceituosos do que tudo. Preto não é moreninho nem de cor, até porque é de cor PRETA ou MARRON no mínimo. Gordo não é fisicamente avantajado, é gordo, que vem de gordura, que é o que faz ele ser gordo. Fisicamente avantajado é haltereofilista, esse também fica impotente, mas é outra historinha. Velho é idoso, não é "da melhor idade". Melhor idade é 30, é 25, é 40. 80 é a pior idade. Então vamos combinar que empregada é cargo e não xingamento. E não vem ser chata no meu blog porque, antes que eu me esqueça: 1. talvez o preconceito esteja na SUA cabeça e não na minha 2.esse papo é muito chato fora da novela das oito - que também é chata.




terça-feira, fevereiro 02, 2010

200mil200mil200mil200mil


200.000

HITS

neste blog!



Obrigada a todos os fiéis escudeiros.

Parabéns a todos os envolvidos (eu).

_dilúvio


Depois de quarenta dias de dilúvio, o dia amanheceu lindo. Eu, que fui dormir às quatro - já que meu relógio biológico diz que se estou sozinha na cama não posso dormir - levantei às dez, coloquei um biquíni e "UEBA! Vou torrar no sol."
Mentira... sentei na frente desta tela que vos fala para fazer um pagamentozinho.
Ora, ora, ora, senhoras e senhores... pagamentozinho é coisa que não existe. Basta digitar a senha de 6 dígitos para descobrir muito mais a fazer na desgraça do bankline.
E assim fui eu, de biquíni, rabo de cavalo e havaiana, resolver todas as engronhas e pendengas e, meu deus! Alguém avisa pra vida que eu odeio ser adulta?

Os quarenta dias de dilúvio me fazem pensar no inevitável fim do mundo. Do meu mundo.
O meu mundo é sequinho... ou deveria ser. Meus hábitos são os de um ser humano vivente no sudeste do Brasil na primeira década do milênio, que anda de carro, pisa em terra firme e não convive com restrições do tipo alarme de furacão. Não VIVIA!
A única coisa que falta são os alarmes, porque tempestades daquelas que a gente só via nos filmes do Flipper ou no Discovery Channel, agora são a nossa realidade... só sem os abrigos.

E eu estou ficando velha e louca (ta. louca eu sempre fui) porque, sem querer, me pego fazendo planos de sobrevivência. "Vou trazer cobertores, lanterna, um galão de água mineral e comida para o andar de cima. Mas e fogão? Não posso comprar um fogão senão vão descobrir que eu sou louca..." "eu devia deixar dinheiro vivo em casa... vai que inundam todos os Bancos 24h da cidade... se faltar luz não tem como tirar dinheiro com cartão. Preciso de um jipe." E por aí vai... e nem vou contar até onde vai ou vou ser interditada para sempre.

O lago ao lado da minha casa já conversa comigo. Fico em estado de alerta quando ele fala mais alto. Dá para escutar o chiado furioso dele jogando a água que sobra, no rio Tietê que também fica furioso quando chove demais. Ele fica de mal humor, eu fico apavorada. Ele fica calminho, eu durmo sossegada. Durmo sossegada e sonho com a minha casa nova lá no alto do morro, longe de qualquer riacho, córrego, cachoeirinha, olho d'água, whatever.

De quem foi a idéia de construir uma metrópole na beira de dois rios? Que falta de visão de futuro meu deus do céu. Pensou o que? Que ia ter engenheiro alemão trabalhando na prefeitura?
São Paulo é totalmente portuguesa! Basta ver que a saída das pontes das marginais é ANTES da entrada. Aí a gente vê na TV "160 quilômetros de lentidão na cidade de São Paulo". Claro! Fica tudo embolado na saída das pontes... inverte a entrada e a lentidão não vai passar de 30 quilômetros, em horário de rush.

Mas deus me fez loira, publicitária e escritora... não adianta querer dar palpite em urbanização, encanamento, instalação elétrica, telefonia, internet, logística, nada. Sempre tem alguém para me olhar com cara de "quem você pensa que é, sua....loira?!" Só a Sabesp que resolveu a cachoeira de cocô da minha garagem, porque o engenheiro me escutou.


Anyway... fora o mundo externo que acaba a olhos vistos, tem o meu mundo interno que está tão voltado para a vida prática que anda vazio de sentimentos que me inspirem a escrever.
Só me resta fazer meu kit de sobrevivência e mudar para o andar de cima da casa.
Estou tentando... juro que estou.

Volto logo.
Prometo.