quarta-feira, outubro 31, 2007

Insônia

Click here for english

Fui me deitar as 3 da manhã por pura obrigação mas sem sono. Milagrosamente dormi até as 5:30 quando o despertador do Claudio tocou avisando que ele tinha que ir para a locação. Acabei levantando, fazendo uma vitamina pra ele, ajudando em coisas que ele não pediu e ele se foi. Eu não gosto quando ele não vai sorrindo. Queria que ele pudesse sorrir 24 - 7, mas ele diz que nem tudo na vida é o meu mundo cor-de-rosa. Que droga! Por que não? Se não para o resto do mundo, porque não para as pessoas que eu amo? Simplesmente não consigo fingir que não vejo, então faço vitamina de papaia, que é quase cor-de-rosa, abraço forte, me penduro, e beijo cor-de-rosamente sua boca de papaia, como se isso mudasse a cor do seu sorriso.
Voltei para a cama achando que dormiria até as 9 sem interrupções. A manhã ainda era noite, por isso fresca. Entrava um vento gostoso pela janela do meu quarto, o ventilador de teto e um edredon gelado...meus 350 travesseiros fazendo o contorno perfeito para que qualquer posição seja um convite aos sonhos....e eu acordada.

O relógio gritava histérico a cada dois minutos tentando me convencer a fechar os olhos, mas meu cérebro não pode parar. Uma retrospectiva dos últimos meses, uma visita aos próximos anos, tentativas de entender minhas ações e meus sentimentos. Escuto a voz da minha mãe dizendo sua palavra preferida: "Analisemos...analisemos..."

Fui tão longe enquanto o relógio tentava segurar o ponteiro dos segundos como Hiro Nakamura; fiz contas, quantos anos, quantos meses, quantos dias, quantas contas, quanto é justo, quanto, quanto, quanto... Lembrei de pessoas, lembrei de coisas e meu cérebro estriquinado como se eu cheirasse, parecia um letreiro de aeroporto mudando os vôos e os nomes das cidades....no meu caso, mudando o nome das pessoas, os assuntos pendentes, as vontades e frustrações.

Entre um tic e um tac, meu amado Chris Isaak veio cantar pra mim.
- Hey...o que você está fazend na minha cabeça?
- Você me chamou.
- Foi só um pensamento. Essa música não sai da minha cabeça.
- Só a música?
- Uma música nunca está sozinha...
- Behave. - Ele responde como sempre e vai embora mas esquece de levar a música que continua gritando: "I never dreamed that I'd meet somebody like you..."

Ao som da voz nova do Chris outras pessoas vêm me visitar. Nem todas foram convidadas, nem todas eu queria ver. Algumas aparecem e dizem só uma palavra, outras sorriem para me lembrar que eu deixei alguma coisa para trás. Eu deixei muita coisa para trás...só queria saber onde foi que eu ME deixei. Eu procrastino...I procrastinate...je empurré la vie com la barrigue e em noites de insônia a vida vem me pegar! E as frases - minhas e de outros - que martelam minha cabeça numa total e nonsense desordem:

"I don't want my experiences in blogs. They are not yours!"
"There's no substitute for enthusiasm, no substitute, no substitute, dammit."
"I wish I had Mark Zupan's strength"
"Imagination! imagination! Is it really more important than knowledge? I'd like to be wiser, Mr. Einstein...my imagination kills me somehow"
"Evolution is an imperfect and often violent process"
"I'm tangled in my blanket of clouds, dreaming aloud"
"Read my soul, not my words!"

"My name is Dito Montiel and I'm gonna leave everyone in this film"
"Passing hearts, passing hearts...so sad"
"I don't know how to play this game of yours"
"Remember, remember, the 5th of november..."
"in the heart, not in this land or that. Lasting victories are won IN THE HEART"
"I don't miss those days, I miss you!"
"Send god, don't send Jesus...this ain't no place for children"

Esquizofrênica assim....meu cérebro pensa o tempo todo em duas línguas. Alguns pensamentos não se processam em português, alguns sentimentos...não. Nenhum. Eu sempre fui maluca, sempre tive amores imaginários, aprendi inglês sonhando - tanto dormindo quanto acordada - desde pequena sabia que se havia uma única coisa que eu realmente precisava fazer na vida, era ser fluente em inglês. Mas minha preguiça de estudar sempre foi maior do que eu, então algo quase sobrenatural me fez aprender, do nada. Desde então meu cérebro não distingue uma língua da outra, mas sim um sentimento do outro, usando o português para o que é lógico e o inglês para o que não é. Já me pediram para cortar o "anglicismo" - blegh! palavra pseudo-antipática - Isso seria auto-mutilação.
"I need to sleep. I need to sleep. I need to sleep"
Outubro foi um mês estranho, e talvez neste último dia eu precisasse catar feijões, separar o bom do ruim, ver se ainda sobrou algo bom para guardar. Outubro provocou mudanças para as quais eu nunca me preparei. Um ponto final. Não reticências. Um grande e redondo ponto final numa sensação antiga de futuro suave. Futuro companheiro de todas as horas, futuro que preenchia o coração em dias vazios. Um ponto final que alivia e pesa como o peso do vácuo.
"It's empty out there" é a outra voz que escuto enquanto enfio a cabeça no travesseiro. Eu quero dormir!

- Nighty night, Miss Mercedes.
- Sing to me, Christopher.


sábado, outubro 27, 2007

Pain


Quando eu fiz essa foto, achei que parecia carne.
Algum órgão humano despedaçado por uma dor profunda.

Hoje, olhando para ela de novo,
descobri qual parte do corpo
pode ser estraçalhada,
esfacelada em mil partes vermelhas,
atravessada pelo metal frio,
ardendo como pimenta.

Yeah!
My version of a broken heart.


Foto: Mercedes Gameiro, euzinha, MgMyself - 2005

quinta-feira, outubro 25, 2007

TPM Suporte


Digite por favor o número do seu pedido de serviço. Pee, pee, pee pee, pee, pee. Para pessoa jurídica, digite 2. Para pessoa física, digite 3. Para mandar a HP introduzir a sua impressora, digite 4!
Você já tentou encontrar uma forma de consertar uma impressora HP? Tenta. É interessante. Se sua vida anda aborrecida, calma demais, sem grandes acontecimentos, é a grande pedida.
Faz assim. Vá até um lugar que venda super-mega-hyper-impressoras e gaste uns bons pilas em uma que seja scanner, fax, impressora de foto, copiadora e faça massagem nas costas.
Use-a normalmente durante dois anos no máximo. Não precisa usar muito...só quando você tiver que imprimir roteiros de 120 páginas umas 12 vezes. Mas isso nem é muito. Assim que você precisar MESMO, ela vai pifar. Não assim...pifar sem dar nenhuma esperança. Só vai fazer um barulho estranho e se recusar a imprimir. Pronto! Pode começar a aventura!

www.hp.com.br. Bingo! Agora tente descobrir como acessar o suporte. Leva mais ou menos umas quatro horas, contando todas as vezes que você vai desistir. Ah achou! Lá diz: recomenda-se suporte via chat. Oba! Isso é rápido. É...bem rápido se irritar no chat da HP.
Você vai falar com pessoas estranhas. Na terceira pessoa, vai ter a incômoda sensação de que tudo não passa de uma pegadinha, porque o primeiro atendente se chama Yuri, o segundo Hudson, o terceiro Robson. O que é isso? Parecem todos virtuais demais, mesmo pra um suporte via chat! Mas tudo bem. Depois que você não conseguir acessar o chat antes de digitar o número de série, modelo, sistema operacional, seu e-mail, etc etc... O Yuri vai dar bom dia, perguntar no que pode ajudar e você vai contar a ele toda a sua longa história. Quando você achar que ele vai começar a responder, lá vem: "Para darmos prosseguimento ao atendimento, precisamos que algumas perguntas sejam respondidas". E adivinha quais são? Todas aquelas que você respondeu PARA ENTRAR no chat. Quando você falar com o Hudson, apesar do seu nome aparecer antes de cada frase, ele vai achar que você não é quem diz ser:
Mercedes: não consigo ligar nem desligar a impressora.
Hudson: o senhor tentou tirar da tomada?
Mercedes: óbvio!
Hudson: O senhor pode aguardar mais um instante?

Well...o senhor já está irritado que chegue...
Bom, pra encurtar a história, Yuri me perguntou se eu já tinha tentado tirar a impressora da tomada e ligar de novo. Esta foi só a primeira vez que eu exclamei: "Você só pode estar brincando comigo!"
Yuri tentou um full reset que eu avisei que não adiantaria, mas espiões russos não confiam em mulheres! Depois de confirmar que não dava mesmo certo, me mandou levar a pobre impressora para a assistência autorizada. Levei. Chegando lá, escuto: ah...esse equipamento já está obsoleto e não tem conserto.
COMO ASSIM???? "Você pode dar esta como entrada numa nova mas não vale a pena, porque nós vamos comprar no mercado e vai ficar caro!"
Uh???
Voltei para casa cuspindo fogo, corri para o chat da HP. Hudson! We have a problem! (trocadilho péeeeessimo). Contei a história para Hudson que me disse que a informação não procedia. Eu deveria então voltar no mesmo lugar, com a impressora de muitos quilos no colo e tentar convencer a mocréia de que a criança está doente mas não é terminal!
"Diz pra mim que você está brincando!"
Ele não estava, e para provar que falava sério, copiou e colou uma lista de 12 assistências técnicas HP em São Paulo, sendo que a mais pertinho era em Diadema. Ai meus sais!! Fiz um comício particular para Hudson sobre "O CONSUMIDOR E SUA FALTA DE PACIÊNCIA", seguido de um pedido: "Quero um documento da HP que diga que o equipamento tem conserto, ou eu não levo a lugar nenhum e vou comprar uma Lexmark de 100zão sabendo que não vai durar, mas pelo menos não vou ser enrolada."
Hudson, o grande rio dos chats de suporte, prometeu que mandaria por e-mail a conversa que tivemos para servir de documento. Você mandou? Nem ele!
Volto ao suporte e finalmente consigo um número de telefone para ligar. Isso apenas para confirmar que a HP é super bacana e não vai fazer a velha impressora cansada funcionar. Ela vai fazer melhor: vai facilitar a compra de uma nova muito melhor, mais moderninha, que além de massagem, faz cafuné. Puxa que bom! Pela metade do preço! Puxa que ótimo! E vão entregar em casa! Nossa...que demais! E à vista. Ah...
Como assim, à vista? Eu nem queria comprar nada e agora tenho que pagar à vista? Eu só queria ver a velhinha cuspindo folhas de papel escritinhas...quanto era mesmo a metade do preço? UM MONTE!
Pois...o que não tem remédio, remediado está. Comprei a desgraça da impressora. Fiz tudo como me mandaram. Fiz uma transferência bancária antes das 19 horas do dia 23. Mandei o comprovante para o e-mail que a Monalisa me deu.
(Ah, sim! Esqueci de contar: os atendentes virtuais são importados. Os telefônicos são obras de arte: hoje falei com o Davi estou com medo de ligar amanhã e falar com a Vênus ou o Pensador em pessoa). Só que o e-mail que a Gioconda me deu não funcionou. Ok...não me preocupei.
Que anta! Hoje liguei só por desencargo de consciência e , falei com o Davi - mas não perguntei se ele estava pelado, nem por que razão o bim bim dele é tão pequeno. Adivinha o que eu descobri? Que "este e-mail está mesmo com problemas." Bom, confirmei o pagamento, perguntei quando receberei a minha super impressora carézima pela metade do preço e em casa.
- Sete dias úteis, senhora Mercedes".
- Você só pode estar brincando comigo! Eu fiz o pagamento dia 23 para receber a impressora em sete dias úteis. Hoje, dia 25, você me diz que tenho que esperar os mesmos sete dias úteis?
- Sim, porque os dias são contados a partir da comprovação do depósito.
- Mas o depósito não foi confirmado antes porque vocês me deram o e-mail que não funciona.
- Desculpe o procedimento errado da nossa companheira, senhora, mas esta é a regra.

Resumindo: toda e qualquer ação da HP, definitivamente, só é boa para ela!
E eu que só queria imprimir um texto, estou estrebuchando a minha TPM há 5 dias.

Depois de tudo isso, eu jurei a mim mesma que passaria uma semana sem falar com suporte de coisa nenhuma. Mas assim que entrei no site da HP para escrever uma reclamação indignada no "Fale conosco, se conseguir", a internet caiu e eu tive que ligar para a Telefônica. Você não quer saber como foi essa outra ligacão, mas eu posso adiantar que:
1. Me perguntaram outra vez tudo o que eu digitei para entrar
2. Perguntaram se eu restartei o modem e o computador
3. Mais de 3 vezes eu exclamei: "Você só pode estar brincando comigo..."



terça-feira, outubro 23, 2007

Que não seja imortal, posto que é chama

Tudo na vida tem um fim - já dizia Sérgio Amon quando ainda me conhecia - menos a linguiça que tem dois.
E eu fico sentada aqui no meu troninho de observadora passiva da vida alheia, assistindo de camarote os fins inevitáveis de coisas impensáveis. São amizades de milênios, daquelas que você jura que as pessoas já nasceram grudadas, que estarão para sempre juntas, e de repente, bluft! It's over. Sociedades perfeitas tanto na vida pessoal quanto na profissional, que se desfazem sem muita explicação, sem muito dizer porque.
É como se, do nada, o fluído que os mantinha unidos perdesse a validade.

Eu tenho sempre medo da empolgação que uma amizade ou um amor envolvem. Sabe aqueles primeiros meses incríveis de achar semelhanças, experiências idênticas, gostos e manias? É como a lua de mel entre amigos. Nesta hora só se vê perfeição, e se tem aquela sensação maravilhosa de que quanto mais iguais, mais almas gêmeas seremos, contrariando todas as leis da física.
São os meses de espelho. Está no pacote: quanto mais parecido comigo você for, mais "pra sempre" eu vou te amar. Se fôssemos adolescentes, sairíamos escrevendo por aí "BFF" (best friends forever). Mas para saber se tudo isso funciona, basta freqüentar os álbuns adolescentes do Orkut. Eleja uma pessoa, corra para o álbum desta pessoa uma vez por semana durante três meses. Vai ser fácil saber quanto exatamente é "for ever".

É claro que será preciso manter as devidas proporções: somos adultos agora, então nada será tão passageiro quanto na adolescência. Já sabemos que as verdadeiras amizades são raras e levam anos para ser construídas. E é por isso que ainda nos supreendemos quando dois grandes amigos que dividiram a vida, aprovaram ou desaprovaram as namoradas do outro, participaram de todos os momentos, dividiram apartamento, bebida, prato de comida, carro; se separam.
Mas não entendo a surpresa, se existem famílias que se separam. O que falta para que estas duas pessoas consigam realmente viver juntas para sempre? Sexo? Não sei...existem esses casos também - amigos que acabam dividindo a cama e que um dia também se separam.

O grude é o problema e a solução. Grudar faz você se cansar rápido da pessoa errada. Grudar faz você esgotar de uma vez todas as ilusões e descobrir defeitos, o que acaba ajudando a avaliar se você é capaz de suportar aquela pessoa para o resto da vida. Depois disso vem o aceitar. Depois o relevar. E por aí vai até o tal do "pra sempre".

O fato é que o fim, qualquer fim, não deveria nos surpreender, já que somos adultos e sabemos que "para sempre" não existe. Eu ouvi muita gente criticando a frase final deste poema do Vinícius, quando ele diz "que seja infinito enquanto dure".
- Então o amor é descartável?
- Então você entra num relacionamento esperando que ele acabe?

Não! Esperando não. Mas coisas acabam. A vida tem um ciclo. Se um amor ou uma amizade começam é porque um dia acabarão, senão com uma briga, com a morte. Todo grande sentimento acaba fatalmente em lágrimas, e não é por isso que vamos deixar de vivê-lo ou prezar por ele. "Para sempre" é uma visão egoísta e escapista, uma negação inconsciênte da morte. Quem é você, cara pálida, para achar que PARA SEMPRE é enquanto VOCÊ viver?
A vida na terra teve início em 24 de setembro de 1961 e se extinguirá no dia da minha morte?
Não seja assim...considere pelo menos o dia do nascimento do Thomas Edison e do Bill Gates, já que você não seria nada sem eletricidade e o seu computador!

Para sempre é para sempre - milhões de anos, vários séculos, muitos milênios...e pouca coisa dura tudo isso. Mas você pode deixar uma obra ou um grande feito que não supra apenas as necessidades momentâneas da população - como criar o Google, por exemplo. Não! Precisa ser muito infinitamente maior do que o Google para que dure mais um aquecimento global, mais uma era glacial...sim, porque ISSO é para sempre ou nem isso.
Mas se isso for grande demais para você, o negócio é viver sua vida num pra sempre diário. Tipo "a vida é hoje". Eu ganhei uma caixa de fósforos com um palito só. Nele estava escrito "agora". É isso. Agora é já, e acaba rápido. Pra sempre é já, e acaba rápido. Você acaba rápido se comparado à existência do planeta.

Então que mal há em achar que tudo é infinito enquanto durar? Até o planeta está acabando...Ele é gigantesco para nós e ínfimo se comparado ao universo. Dá para se tirar uma grande lição daí: a vida é gigantesca para nós, e ínfima se comparada ao tempo como um todo. O que fazer então? Abandonamos o planeta já que um dia ele vai acabar? Abandonamos a vida já que vamos morrer? Saímos matando e fazendo tudo de errado, já que talvez não haja céu e inferno e a vida eterna seja uma farsa? Nah!! Vivemos. Vivemos agora e hoje, e mais uns dias, só para garantir uma continuidade do que fazemos aqui. E enchemos esses dias de significados e momentos fortes, bonitos bons, considerando e reconhecendo que há um fim para tudo. O fim não é a desgraça de tudo. Ele é o motivo para que a gente risque este fósforo e aproveite os segundos de luz que vêm dele. É o que temos. Prezemos!
E mais...

...que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure.




sábado, outubro 20, 2007

quinta-feira, outubro 18, 2007

Frase do Dia


Em dias de mau humor, as mulheres costumam ficar 100 vezes mais inteligentes do que o normal. Isso, é claro, as que são inteligentes -- as que tem HUMOR.

Humor é sinal de Q.I. avantajado, assim como a ironia e o sarcasmo. Só pessoas inteligentes são capazes dessas três coisas sem ser chatésimas. E não tem nada pior do que humor burro.
Pessoas sem graça têm um tipo sarcasmo ridículo que não faz rir a ninguém além delas próprias, se é que são capazes de entender a própria piada.

Um homem sarcástico, inteligente e irônico, costuma fazer uma mulher rir. PERIGO! Se um homem faz você rir, você vai se apaixonar por ele. Claro, se você for inteligente. Do contrário, você não vai entender o tipo de humor dele e vai achar o moço um mala. Neste caso, é melhor você assistir Zorra Total ou Tom Cavalcanti para se divertir a valer somando o seu Q.I. (quem irrita) com o brilhantismo daquelas piadas incrivelmente sem graça.

Aliás, parece que já existem testes de Q.I. sendo desenvolvidos com base em programas humorísticos:

1. Com que freqüência você ri vendo Zorra Total?
a) Dou muita risada
b) Rio 3 vezes por episódio
c) no máximo uma risada por sábado
d) Quando passa isso?

2. Caso você consiga rir vendo Zorra Total, sua risada é:
a) HAHAHAHAHAHAHAHAAH! QUA QUA QUA! HAHAHAHAHA!
b) hahahahahahahah! ai ai!
c) ha!
d) Não tive esta experiência.

**não conta pra ninguém, mas se a resposta à pergunta 2 for A, você não passa nem em teste para estátua de praça

Então...concluindo o meu raciocínio, mulheres inteligentes ficam maravilhosamente brilhantes quando estão de mau humor. Se elas se irritarem com o namorado, com o ex, com a ex do namorado ou com alguém que deu uma medida na farmácia, tornam-se geniais. Já os homens...não sei...já disse que eles preferem chutar umas latas quando estão chateados.

Bom, tudo isso para avisar que os dias têm sido engraçados.
De tanto mau humor do tipo C - contagioso, eu e um batalhão de mulheres amigas estamos nos superando (Sim...somos inteligentes e modestas). Baseando-me em coisas ditas e escritas nos dias que passaram, elegi a frase do dia. Aliás...duas.
Lá vai:

"Homens são tão previsíveis que dá vontade de discutir física quântica."


"Depois que o Pateta me pediu um cigarro no posto de gasolina, ao lado do buffet infantil, estou escrevendo sobre suicídio coletivo."


Frases de
Flavia Melissa - uma mulher de refinado mau humor




***imagem: placa para a porta da sala da Mari Heller, diz: seja inteligente, ou caia fora!

terça-feira, outubro 16, 2007

Um beijo do Johnny Depp


Nunca fui muito de tomar refrigerante. Como eu sou curitibana nascida nos anos 60, tive que passar por aquela experiência terrível que é ter que tomar Laranjinha Cini, Gengibirra, Gasoza de Framboeza. Eca...Todas aquelas coisas doces demais que estragavam o gosto do brigadeiro no aniversário.

Curitibano é um animalzinho estranho. Odeia tudo o que é de lá. Faz cara feia quando vê outro Curitibano fazendo sucesso fora de Curitiba. A reação é como um espasmo invonluntário: a boca torce, a testa franze e a voz pronuncia alguma coisa tipo "ah! esse cara estudou comigo...era uma anta!". Ou então aperta o play na memória inútil e conta alguma passagem podre da vida do incauto que só fez cuidar da própria vida, e deu certo. Mas na hora de consumir, adora as coisas locais. É o que acontece com Gengibirra e a Gasoza de Framboeza. A breguice do rótulo é equivalente ao Guaraná Dolly, o gosto é gosto de infância pobre, embora crianças de todas as classes tenham bigode vermelho em Curitiba.
A boca azeda depois de um copo de Gengibirra. Se você tomar mais de dois copos de gasoza, em uma hora vai estar sentindo cabelos na língua. Nada produz maior efeito-língua-peluda do que Gasoza Cini. E o aroma é de lancheira de plástico! Um horror.

Então...eu nunca fui a fim de refrigerante. Quando casei, fiquei chocada com a quantidade de Coca-Cola consumida pelo meu marido (que é também um consumidor de Gengibirra profissional. Eca!). Isso porque na casa da minha mãe, coca-cola era coisa pra ter domingo, se tiver visita. A vida toda tivemos na mesa uma jarra d'água e um garrafão de vinho.
Mas, a gente vai abrindo a guarda para agradar marido...quando vi, tinha passado a tomar coca-cola e gostar muito!

Quando a minha filha tinha um ano e pouco, o ortopedista sugeriu uma tala que ela usasse todos os dias para forçar o tendão de Aquiles a alongar. Pois...fui com ela até a A.P.R.- Associação Paranaense de Reabilitação - único lugar em Curitiba que faz órteses.
Entramos na sala do molde. Era um terror. Lembrava algum hospital abandonado de filme tipo Expresso da Meia Noite, ou Twelve Monkeys...a sala pintada de uma cor feia, descascada, meio verde meio suja, com respingos de gesso no teto, nas paredes, na maca. Uma maca enferrujada pavorosa, e um enfermeiro de jaleco puído, com cara de mau, forçando o pé dela para uma posição que, antes da cirurgia, não era natural. Tudo um terror. A Natasha berrava como se estivesse indo para a forca (ela ainda é escandalosa-mexicana-doida), e eu tive vontade de arrancar a minha filha dali à força. Ninguém deveria ter que passar por coisas assim.

Assim que cheguei em casa, fiz uma promessa. "Só volto a tomar Coca-cola quando ela ficar boa".
Wow. Foi difícil! Água com gás e limão espremido passou a ser o manjar do deuses, só porque tinha umas bolinhas! Era sofrido assistir alguém virando um mega gole gelado de Coca. Mas eu consegui. Foram 4 anos sem chegar meus lábios perto de uma lata prateada.

A gente se mudou pra Los Angeles, a gente voltou de Los Angeles, a Natasha operou a perna, foi melhorando cada vez mais, hoje mal se percebe o problema que ela teve. A escoliose que era esperada não apareceu, o RPG arrumou a postura dela e vai continuar arrumando porque ela nunca vai deixar de fazer, ela dança, pula, se arruma, usa saia, está com 1,70m, magra, tem um andar só dela, é feliz. Que lindo!

Mas e a Coca-cola? Quando eu vi a minha filha no palco do Guairão numa apresentação de balet clássico, na fileira da frente, toda linda e retinha, com postura de princesa, tomei a primeira Coca em 4 anos. E foi como morrer, ir pro céu e ser recebida pelo Johnny Depp me chamando de my love e me beijando na boca. Que glória! Redenção! Recompensa! A vida não é nada sem uma lata de Coca light gelada. Uh hu...
Me fartei de Johnny Depp! Passei a tomar, sagradamente, uma lata por dia e os anos passaram. De 2006 pra 2007, eu estive sentada muito mais tempo do que nos outros 45 anos da minha vida. Sentada na frente desta minha tela gigante, martelando incansavelmente o teclado, escrevendo feito uma desesperada. Dois foram os meus companheiros da uma da tarde às duas da manhã, todos os dias: o cigarro e a coca-light.
Semana passada - acho que na quarta - olhei para o lixo aqui embaixo da minha mesa e vi que ele estava cheio. Foi quando descobri que, em um dia, eu tinha tomado SETE latas de Coca Light, e nenhum copo de água. CREDO! Isso é mais de dois litros!

Parei pra pestar atenção e percebi que eu vinha fazendo isso há meses. Então decidi outra vez: a partir de sexta-feira, dia 12 de outubro de 2007, eu não tomo mais coca-light. E achei que fosse mole. Mas não. É um vício mesmo. É doença. De sexta-feira pra cá em descompensei. Eu me irritei. Eu briguei. Eu tive cólica, dor de barriga, enjôo, diarréia, tontura! Tive ataques de mal humor quase assassinos. Precisei fazer café no meio do dia e colocar um monte de cafeína para dentro pra compensar, e respirar fundo milhares de vezes para me suportar - sim, porque eu estou insuportável. Consegui brigar com a pessoa mais doce do mundo...E comigo mais do que tudo. Crise de abstinência! Dói. E dói dentro do cérebro. Dói no estômago. Dói na boca. Dói no pensamento. Dói no sono. Dói na paciência.

Então, amiguinhos...Está complicado. Eu achei que um dia fosse passar por tudo isso para parar de fumar, e descobri que o cigarro estava me fazendo menos mal do que a Coca. Que ironia!
Por isso, vou acender um cigarro, bater a cabeça na quina da mesa até sangrar, depois tomar um enorme copo de água tentando fazer com que pareça um beijo na boca do Johnny Depp!
Aff! Dá vontade de domir até tudo isso passar.

Bom dia, pra quem está de bom humor.
(manda um pouco pra cá)


domingo, outubro 14, 2007

Ms. H as in Heart

Mariana Heller por Rafa Pedro


Hoje ela me disse que quando chega em casa meio deprê, lê o meu testimonial e melhora.
Eu achei lindo! Eu sempre acho lindo quando alguém me diz que eu ajudei a melhorar alguma coisa. Não que eu queira ser canonizada quando morrer - só um papa chapado faria uma barbaridade dessas! - mas é sempre gostoso justificar a existência. Eu nasci para que? Que utilidade esse corpinho com uma cabeça aloprada e esquecida em cima tem, para um mundo habitado por muito mais gente do que cabe nele?

Faz as contas aí, você que consegue, porque eu já assumi a minha incapacidade de saber quanto é qualquer coisa acima da tabuada do nove: quanto de bem eu posso fazer que atinja um número de pessoas maior do que 5? Quanto dos meus escritos poderia chegar a pessoas que realmente sofrem, e - por sorte - que elas saibam ler, e mais sorte, que tenham se alimentado o suficiente na infância para que consigam entender o que lêem, e por uma sorte caída do céu e ainda maior, que tenham tempo, disposição e um segundo de não sofrimento para dar importância a uma frasezinha que possa mudar alguma coisa?
Complicou? Imagina pra mim...

Como eu não sou a Angelina Jolie, eu não viajo o mundo adotando crianças. Até porque se eu fosse adotar criancinhas, faria isso por aqui mesmo, que está cheio de criança pedindo pelo amor de deus uma família. Como eu não sou o Bob Geldof, eu não faço concertos mundiais para arrecadar grana pra fome na África. Como eu não sou o Bono, eu não vendo pulserinha branca para salvar o mundo da Aids e da fome. Como eu não sou o Al Gore, eu não conscientizo o planeta de que ele pode acabar (por isso não vou ganhar um Nobel. Droga!)

Okay...agora quem deprimiu fui eu! Que meleca de ser humano sou eu que não faz nada disso? Que ínfima, que patética, que minúscula, que insignificante! Essas pessoas não tem nada - ou quase - de diferente de mim. Elas fazem cocô, sabia? Elas têm dor de cabeça. Elas sentem ciúmes. Gostam de sorvete. Têm coceira no nariz. Por que eu não posso salvar o mundo? Que loser!

Não, não é exagero. Agora meu texto perdeu completamente a função que tinha. De um segundo para o outro, só por causa de um parágrafo, eu me tornei um grande zero à esquerda e comecei a achar que estava escrevendo um texto penitencial, daqueles onde a gente se justifica um monte para dizer que é um bosta, mas não tem culpa! Deixa eu tentar parecer bonitinha na foto e me justificar:

Eu não posso ser como eles, porque não sou celebridade, não ganho 20 milhões por filme, não fui quase presidente, não canto bem, não nasci falando inglês (bela justificativa de araque), mas eu posso usar a velha frase que nasci ouvindo: "revolução começa em casa". Se eu atingir 3 pessoas dentro da minha casa, essas 3 podem atingir mais 3 cada uma , que vão atingir mais 3 cada uma...e eu não sei taboada, mas lembro de progressão geométrica.
É muito mais fácil plantar erva daninha do que ervas que curam...elas pegam mais rápido e se alastram por tudo. Mas as ervas que curam também podem se alastrar numa progressão rapidinha.

Funcionaria mais ou menos assim: eu adoro a Mari Heller e escrevo uma coisinha para ela que causa um sorriso de tranqüilidade quando ela lê. Ela, que estava deprê e irritada, se acalma e não briga com o roommate dela, ao contrário, faz alguma coisa que o agrade. Ele, que estava num dia meia boca, fica feliz e não briga com o baterista da banda. O baterista que achava que ia tomar uma bifa porque saiu do tempo no ensaio, dá uma gorjeta decente para o garçom no bar depois do ensaio....e assim vamos...pequenos gestos que "fazem o dia" da pessoa ao lado, podem mudar o dia de uma pequena multidão. Isso não é nada se comparado a mandar toneladas de alimentos para o Sudão. Mas talvez alguém no Sudão precise muito mais de um abraço do que de um quilo de arroz caindo de um avião. Ou os dois? Ou alguém que leve um prato até ele quando ele está fraco para correr atrás da rasante do avião da ONU? Who knows?

Anyway...vim aqui para falar da Mari Heller. Ela não está no Sudão. Ela não precisa ser adotada. Ela não tem fome. Ela não tem um drama terrível. Ela só existe e está mais perto de mim do que as pessoas na África, e por isso eu digo pra ela que acho ela demais, todas as vezes que posso. Se isso enxugar uma lagriminha dela, pode sair enxugando milhares. Então, pra ela não chegar em casa meio deprê na próxima semana, eu vou colar aqui o testimonial que eu escrevi pra ela no Orkut. Depois, eu vou cuidar do meu dia, bem bem feliz, porque o scrap que ela me mandou me deixou assim, e em progressão geométrica, vai salvar o dia de uma pequena multidão.


She mixes the good and the bad.
She's the calm inside craziness, the lasy river inside a thunderstorm.

Halfway to hell and halfway to heaven.
Or should I say Hell "is" heaven?

Ms. H and in Heart.
Yes, sir...I do love her!


Bom dia, flores do meu dia.

P.S. Hoje é Domingo, dia de www.postsecret.com


sábado, outubro 13, 2007

Saudade

self portrait


Saudade do tempo em que a vida era tão imediata que a saudade quase não existia.
Saudade de não saber planejar, nem pensar no futuro, quando um ano eram imensos 365 dias. Impensável eternidade! Estrada quase sem fim! Saudade da irresponsabilidade e das dores passageiras; das vontades pequenas, por isso imediatas.
Saudade de quando a morte era uma entidade. Uma coisa distante que só acontecia com os outros, só longe de casa, e lágrimas eram associadas a broncas e abstinência de pequenas bobagens. Saudade de nunca ter ido a um velório, nunca ter pago um caixão, nunca precisar enxugar lágrimas que não fossem minhas, nunca morrer de pena de uma mulher que chora a falta do marido, simplesmente por nunca ter visto uma. Saudade de não precisar abraçar uma menina de 18 anos como se eu fosse adulta. Saudade de não ver amigos queridos sofrendo. Saudade de quando a perda mais grave era de um passarinho, ou um peixinho dourado. Saudade de não entender a tristeza, de não ter medo, de não conhecer a dor...

Existe uma tranquilidade em amadurecer. Maturidade vem junto com uma calma assustadora. Um ano é pouco tempo. Uma semana quase não existe. Olhar um rosto adolescente angustiado traz um sorriso tranquilo que diz : " tadinha, já passa...essa dor praticamente nem existe." Amadurecer traz a mãe de todas as paciências. A gente aprende a esperar as mudanças, esperar pelo tempo, esperar que os filhos cresçam, esperar que alguém entenda, esperar, esperar, esperar. E nenhuma destas esperas é dolorida. O tempo se torna amigo e as mudanças de estação existem para distrair os olhos, não para contar os meses.
Vem a primavera com as flores, vem o inverno com céu azul, vem o outono todo amarelo, vem o verão com suas meninas coloridas...e você só sorri. Às vezes dizem que ainda há tempo, às vezes que o dia está chegando, mas quem se importa? Elas distraem os olhos e o coração de quem está vivo para ver.

Crescer traz coisas lindas e coisas chatas. A parte da tristeza alheia me destrói mais do que se fosse minha. Eu enxergo dentro da alma de quem é triste e tenho vontade às vezes de roubar a tristeza para mim. "Deixa que eu sinto pra você!" Eu queria ter a alma do mundo numa caixinha para não deixar ninguém sofrer, ou voltar a ser criança para simplesmente não perceber que existe dor.



sexta-feira, outubro 12, 2007

Feijões


E se naquela manhã ela tivesse um ruim e contasse para todo mundo que a vida dela estava virada de cabeça para baixo?
Será que as pessoas reagiriam como ela queria? Sim, porque na ilusão equivocada dela, todos diriam: “okay…certo então…vai em frente.”
Vai! Enfrente! Enfrentar nada. No mundo cor-de-rosa que ela criou não existia espaço para a vida real. E se alguém gritasse? E se alguém se matasse? E se tudo desse muito errado? Ela se preparou realmente para isso?

Sabe como funciona cabeça de criança?
Assim: O menino se acha o próprio Superman, tem certeza que criptonita não existe, então ele planeja três golpes certeiros e uma fuga para o alto…pronto! Eles está preparado para enfrentar os meninos da escola. Chega a hora e ele avança logo para cima do maior. Desfere um soco na barriga dura do garoto e machuca sua mão, fica sem força para os outros dois golpes e a fuga para o alto não rola. Ele cai no chão, apanha e é suspenso da escola, ainda leva uma baita bronca dos pais em casa, e tem que voltar para a escola sozinho, no dia seguinte, e encarar todo mundo. Ha! Ele esqueceu do plano B, e nem pensaria em um. Ele só pensou em sua saga vitoriosa de herói super-poderoso.

Assim era ela também. Como menina que planeja a fuga para a festa, escondida da mãe, mas esquece de pensar em como vai voltar ou entrar em casa de madrugada.
Pois…E se ela contasse para todo mundo que sua vida estava de pernas para o ar? Ha! Apesar dos pesares, já existia um quê de maturidade naquele cerebrozinho prejudicado. Não exatamente maturidade, mas visão de futuro. Era óbvio que nada seria cor-de-rosa. Era óbvio que nada seria recebido como uma notícia banal. Alguém seria chato e adulto e mandaria ela dar um jeito de arrumar a vida, sob pena de perder tudo o que conquistou! Lógico.

Então talvez fosse mais fácil manter o sonho. Claro. Super mais simples. Pega-se o cérebro e divide-se em dois. Parte vai cuidar da chatíssima vida prática e real, a outra cuida de sonhar, delirar, imaginar coisas incríveis e histórias de amor.

O que? Você acha ridículo? Pois eu vou te dizer que depois de todos os meus milênios de vida e quilômetros de estrada, eu não conheço alguém que não tenha um sonho secreto. Não conheço quem não leve uma vida dupla. Não estou dizendo que as pessoas vivem uma vida REAL que é dupla. Mas que elas vivem a vida real "E" uma imaginária, todos os dias. Sim! Pasme! O mundo é esquizofrênico. Até os psiquiatras são! (talvez eles até sejam mais)

Os “normais” sonham acordados enquanto lavam louça, dirigem para o trabalho, sentam no ônibus no banco de trás, ou se seguram no cano do metrô. Assim que chegam onde tinham que chegar, o despertador da mente toca, eles acordam e começam a vida. Talvez repitam isso várias vezes ao dia.
Os outros fazem tudo isso, mas nunca acordam. Passam a acreditar em suas próprias histórias e acabam metendo os pés pelas mãos. Porque como disse Lincoln, não é possível enganar a todos o tempo todo – o que ele esqueceu de dizer é que é um pouco mais fácil enganar a si mesmo, mas a hora da verdade sempre chega, e aí vem o mais grave de todos os tombos.

Conheci gente que jura que é legal. Jura que é tudo o que todo mundo precisa para sobreviver. Jura que é competente, profissional, adorável, amigo, feliz, generoso, indispensável, e se faz assim mesmo, por algum tempo. Por onde passa, a história se repete: de uma hora para outra o mundo começa a desmoronar e ele não consegue entender porque. Essa é a hora em que a máscara cai, e as pessoas que “precisavam” dele começam a perceber que há pouco de verdade no auto-retrato que ele pintou. Então ele começa a perder as rédeas da coisa, joga um contra o outro para tentar se defender e acaba perdendo o controle, mostrando exatamente quem é: fraco, limitado, complexado, incompetente com a própria vida, invejoso, agressivo, violento, neurótico, psicopata.

A tênue linha que separa os que deliram dos que acreditam em seus delírios.

Mas ela era uma louca do bem. Quando não aguentava mais, fugiu para um parque, sentou embaixo de uma árvore, resolveu chorar e colocar para fora todos os seus monstros, seus bofes, seus tormentos. Quando conseguiu ver todos eles ali na sua frente, agiu como quem cata feijão: os bons para cá, os ruins para lá. Se eu cozinhar tudo junto, vai ficar uma nhaca! Se eu guardar só os ruins não vou poder me alimentar. Se eu limpar tudo e ficar com os bons, estarei nutrida e posso sobreviver.

Foi assim que ela quase fechou o cérebro para balanço. Foi assim que ela enterrou a parte podre do coração. Foi assim que aprendeu a sonhar tranqüila e colocou as pernas da vida de volta no lugar. Feijões. Os que prestam e os que estão vazios. Os que alimentam e os que enganam o estômago. Os que são plantados e vingam, e os que servirão de adubo.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Meus Poetas

José Buffo, poeta meu.


tem gente que é poeta porque
só de existir
já é pura poesia.

Solda, também.



***Fotos roubadas do site do Solda

segunda-feira, outubro 08, 2007

A Yellow Walk in the Morning

Meu mundo é amarelo!

Fotos tiradas hoje, com o meu super-celular, depois de correr 4 km percebendo que a primavera tem uma cor.


Me acorda quando algo novo acontecer!


Incrível como o tédio tem um rosto!

quinta-feira, outubro 04, 2007

O melhor do meu mal humor

Preciso fazer um power point chamado "A Vingança".
Quero encher todas as caixas postais das pessoas que me mandam arquivos .pps, com o meu próprio slide bomba! Seria algo assim:

Slide 1: Se você abriu este arquivo, com certeza já passou dos 40 anos.

Slide 2: Não?

Slide 3: Então você precisa fazer um exame para detectar a sua idade mental.

Slide 4: Pesquisas comprovam que uma nova doença vem atingindo mulheres ao redor do mundo, com incidência mais grave no Brasil. CUIDADO!

Slide 5: É a Síndrome do PPS: virus gravíssimo e ainda sem cura , que altera a capacidade de discernimento entre "divertido e ridículo", "bonito e piegas", "cool e brega", etc etc.

Slide 6: Os casos mais graves atingem os neurônios de modo a alterar o gosto musical das vítimas, fazendo com que elas realmente achem lindas as músicas da Maria Betânia e da Celine Dion.

Slide 7: Se você tem algum deste sintomas, limpe a sua caixa postal.
Manter determinados slideshows em arquivo, pode causar danos irreparáveis e irreversíveis ao seu cérebro. Principalmente quando eles chegam com o título: "lindo! aumente o som!"
Os mais contagiosos:
. os que tem letrinhas dançantes
. fotos de homens parrudos de tórax à mostra
. qualquer gracinha usando fotos de "ídolos da tia", tipo Richard Gere ou George Clooney
. textos de auto-ajuda sobre a força da mulher, a força do amor, ou a superioridade feminina

Slide 8: DEFENDA-SE! PROTEJA-SE! MOSTRE O SEU PODER!

Slide 9: Mande este e-mail para o maior número de pessoas da sua lista. Uma amiga demorou 24 horas para fazer isso e estas foram as coisas terríveis que aconteceram com ela:

Slide 10:
. O personal da academia nunca mais deu oi com beijinho quando ela chega.
. O jogo de cartas de quinta-feira foi cancelado sem data para voltar
. Todos os reality shows de decoração, alimentação, dieta, e make overs saíram do ar na TV a cabo dela
. A microsoft não deu um monte de dolares por ela ter encaminhado todos aqueles e-mails
. Ela parou de receber textos dos outros assinados pelo Jabor
. Os shopping centers proibiram sua entrada indefinidamente
. E o mais grave: A empregada dela pediu demissão!

NÃO PERMITA QUE ISSO ACONTEÇA COM VOCÊ! ENCAMINHE!

terça-feira, outubro 02, 2007

Efeito Brokeback Leibovitz


Eu já disse que eu choro?
Claro que já. Mas fazia tempo que eu não dizia. Só não fazia tempo que eu não chorava. Se eu fosse tentar mentir, vocês saberiam, porque ha dois post eu estava chorando. Pois é...porque eu choro!

Demorei para acordar hoje. Não assim, de acordar tarde. Acordei cedo mas já meio anestesiada. O dia de hoje já tinha uma cara de quem queria chorar. Tomei café, paguei conta (blegh! odeio o primeiro dia do mês), não li o jornal, entrei online...conversei um pouco e fui para a cama.
A porta do quarto estava aberta para o jardim, com um dia lindo e gelado lá fora. Um vento delicioso entrando e gelando as minhas pernas, então eu me cobri, fiquei sentada na cama e abri o meu presente de aniversário. Abri porque um livro se abre. E este é grande. é quase preciso usar as duas mãos para abrí-lo. Pois abri e comecei a virar as páginas esperando encontrar apenas o trabalho brilhante de um fotógrafo, mas encontrei bem mais. Encontrei o relado de uma vida. O retrato de um amor, da sua descoberta ao seu fim, se é que acabou. Não...se tivesse acabado não estaria num livro.
É o livro da Annie Leibovitz chamado "A photographer's Life", onde ela conta através de fotos, sua história de amor. Ou seriam várias histórias de amor e uma de grande coragem e generosidade?

As fotos mostram momentos de cumplicidade extrema entre ela e a escritora Susan Sontag. As viagens, o apartamento, a vista do estúdio, escritos de uma e fotos da outra...e vai de 1990, quando tudo começou, a 2004, quando Susan Sontag morreu de câncer no útero e leucemia. Ao mesmo tempo, vemos os pais de Annie envelhecendo até o aniversário de 90 anos da mãe e a morte do pai, também em 2005. É uma história de amor em família.

Quando a filha mais nova de Annie - Sarah - nasceu, Susan já estava doente. E as fotos registram passo a passo sua doença, mostrando uma coragem imensa das duas.
Conheço pessoas que acharíam absurdo fotografar a morte lenta da pessoa que amam. Mas folheando o livro, o que se vê é lindo. Mesmo quando Suzan não tem mais um dos seios, ela se mostra nua nas fotos. Quando faz quimioterapia, Annie está lá com a câmera. Quando precisa cortar o cabelo, quando está no hospital se preparando para uma cirurgia, quando a cama de hospital está vazia na sala de estar dos pais de Annie, quando Susan está morta, quando está vestida para o funeral. E Annie. E a câmera. E a atenção. E esse amor todo.

Dá para pensar que o livro é tétrico e fúnebre, mas não é. É editado de uma forma que se vê a vida passando e mudando durante 15 anos. Nas últimas 20 páginas, você já é parte da família e já sofre por ver Susan terminando aos poucos e Annie ao seu lado, ou melhor, na sua frente com a câmera. É incrível. Tudo isso sem texto...apenas com fotos de uma força imensa.

O dia passou calminho, ainda sob o impacto das lágrimas matutinas, e a noite chegou. Lá fui eu assitir Brokeback Mountain. Ai meu deus! Que tristeza! Quanto desencontro e quanta dor...Quanta delicadeza...Não preciso dizer o quanto eu me debulhei. O abraço dos dois, ao se reencontrarem quatro anos depois, foi uma das coisas mais eloqüentes que eu vi no cinema, em anos. E credo como eu chorei! E tem milhares de sentimentos engasgados e observações e coisas passando pela minha cabeça que não são traduzíveis. Não ainda. Não hoje.
E eu, que choro, chorei.

Então...este foi o meu dia gay. Será que os gays amam mais bonito que os héteros? Me pareceu.
Nem quero escrever mais. Meus olhos estão embassados e ardendo. Acho que preciso dormir, ou chorar mais um pouco e digerir o baque.

Bom dia.