quarta-feira, novembro 28, 2007

Coisa$ $em nenhuma importância


. Cansei de ser gorda. Vou sair dessa vida calórica e cinquentar com dignidade.
Fui num super-médico-das-estrelas e deixei o meu patrimônio na recepção. Os pacientes dele emagrecem porque ficam sem dinheiro pra comer.

. Eu já comprei vestido de 15 reais.

. Meu anel mais bonito custou 3 euros numa barraquinha em Roma e as pessoas me perguntam quem é o designer. Pff!

. Um dia eu ganhei uma bolsa Louis Vuitton igual a uma falsa que eu tinha. Tirei as duas do saquinho para limpar e até hoje eu não sei qual é qual.

. Eu sei gastar uma fortuna em presente para os outros mas me sinto culpada se comprar algo caro para mim.

. Eu já fui de Curitiba a Fortaleza de ônibus convencional. Acho que foi nesse dia que Deus resolveu que eu merecia acumular alguma coisa na vida.

. Eu gosto de sushi e big mac na mesma intensidade, e o melhor restaurante japones do mundo ou um Mac Donald's em qualquer esquina são o mesmo banquete para mim.

. Eu compro óculos escuros de posto de gasolina.

. Eu esqueço de conferir a conta do restaurante.

. Eu odeio pagar super-mercado.

. Minha geladeira custou 350 dolares quando eu morava em Los Angeles em 1996. Eu não tenho coragem de pagar um monte por uma nova e menor.

. Eu tenho coisas lindas compradas em lugares que pouca gente teria coragem de dizer que conhece.

. Eu detesto shopping.

. Era eu quem abria conta no açougue, na padaria e na quitanda para a minha mãe quando era pequena. Ela nunca me pediu para fazer isso. Hoje eu tenho conta no açougue também, e toda vez que passo lá para pagar me lembro daqueles tempos de vacas anoréxicas.

. Eu acredito que quanto menos se pensa em ganhar, mais se conquista. Tenho minhas mãos mais abertas do que deveríam ser, nunca tive medo de perder nem de recomeçar. Às vezes penso que é por isso que eu nunca deixei de ter o suficiente para viver.

. Já fui enganada, lesada, roubada mais vezes do que posso contar. Tenho certeza que a vida me devolveu cada centavo. Já não posso dizer o mesmo sobre meus algózes.

. Toda vez que eu vejo um besouro egípcio eu compro (quase toda história que escrevo tem um também*). Não sei nem dizer quantos eu tenho, mas eu simplesmente não resisto!

. Eu já fui rica e pobre muitas vezes. Já tive que trabalhar onde não queria e já viajei muito mais do que sonhei. Já contei moeda para comprar pão e já sentei na mesa da elite. Já tive natais pobres e natais fartos. Já morei em quarto e sala e mansão. Já andei muito a pé e dirigindo Land Rover. A única experiência que eu não tive foi ser infeliz.



* Uma história com besouro: Um Tango para George


terça-feira, novembro 27, 2007

Coisas da vida #4

Castelo de Areia


Foi um amor tão imenso aquele que ensinou que a paciência é o prazer da vida, que a espera não é inglória, que o sonho é seu melhor companheiro.
Foi quase divina de tão inexplicável a maneira como ela se apaixonou e fez daquele amor seu tesouro maior. A vida passava com seus altos e baixos e nada podia abalar sua fé em que, um dia, toda a distância seria compensada com a realização do amor que ela guardara. Foram tantos anos. Foram tantas noites de sorrisos eternos. Foram tantos sonhos…
Até um dia.
Até que todos os sonhos se realizaram em uma só noite.
Cada cena imaginada durante todos aqueles anos, cada frase sonhada, tudo…tudo em algumas horas tão inesquecíveis que se apagam rápido da memória numa descrença estranha. “Será que aconteceu mesmo, ou eu sonhei?”
A noite de filme, com pés tocando a areia, abraços ao luar, boa música e bom vinho, boa conversa e confissões, durou pouco mais de 6 horas. Seis horas de beijos perfeitos; a mão grande que segurava seus suspiros por um delicado fio de sonho, finalmente tocando seu corpo; o cheiro que ela nunca esqueceu e a voz. A voz grave que sussurra no ouvido todas as palavras que ela quis ouvir. A delicadeza de um sonho compartilhado, em silêncio, há mais tempo do que o tempo saberia calar. O amor explodindo, a voz, a mão, a voz…depois as letras e as palavras e a saudade que corta e ensina novamente a arte da paciência e do sonho acordado.
Até um dia.
Até que uma frase mal escrita no dia errado trouxe o fim, depois o vazio.
Só restaram perguntas. Seria o amor imenso, o tesouro maior, o sonho eterno, tão frágil que pudesse acabar assim?
Um pequeno mal entedido causaria uma decepção capaz de levar seu coração viciado em amor a apagar todos os anos de contemplação e paciência?
Seria uma frase capaz de derrubar o castelo sagrado erguido com a areia úmida sob a lua cheia?
Seria? Seria esta tristeza poderosa o bastante para apagar a chama e o gosto do vinho para sempre?
Seria. Até um dia.

segunda-feira, novembro 19, 2007

November Rain

Mês estranho de um ano esquisito.
Tudo virado. Frio e chuva o tempo todo, com cara daqueles agostos que as pessoas dizem que ninguém deve viajar.
Acabei de chegar de uma viagem que deveria ter acabado ontem às 11:30 da noite mas só acabou hoje às 4 da tarde. Fui de ônibus pra fugir de um caos aéreo que tirou férias. Todos os vôos chegaram e saíram no horário. Em compensação minha viagem de 6 horas durou 9 horas e meia de tortura num ônibus fedendo a pum alheio. Meu deus! que falta de higiene é viajar de ônibus?! Estava chovendo o mundo, as janelas embassadas escorrendo lágrimas de desespero feitas na verdade da respiração de 30 pessoas diferentes, de endereços diferentes, gostos diferentes, cheiros diferentes....e tudo aquilo escorrendo pelos vidros onde quase se lia, como nos filmes de terror: morra desse ar alheio!
E o perfume? O que aquele povo fez antes de viajar? Comeu ovo cozido e correu 25 kilômetros até ter certeza de estar fedendo? Quantos dias elas ficam sem lavar a roupa até a hora da viagem? Não é possível que aquele cheiro seja normal. É grudento e quase infectante. E não vem me dizer que eu sou preconceituosa e não conheço o cheiro do povo não, porque eu fui povo a vida inteira, e sempre fui cheirosinha. Muito viajei de ônibus, muito andei de ônibus, muito andei no meio do povão.
Credo! Se existe um extrato de pum, ele é retirado do ônibus Golden 5069 da Itapemirim! Pois...foram 9 horas e meia ali dentro cozinhando germes, bactérias e vírus diversos. Além do perfume, havia um menino de 11 anos com alma de palhaço. Jurava que estava no Cirque du Soleil, se pendurou em canos, escalou poltronas, pintou o rosto todo de preto com o lápis de olho da irmã, cantou, dançou, fez malabarismo e recitou todas as frases mais pesadas de Tropa de Elite fazendo caras de Capitão Nascimento. Uma delícia de viagem!
Paramos no posto Graal na hora que deveríamos estar chegando a Curitiba, almoçamos aquele queijo quente que não tem igual no mundo, compramos bananinha...na hora de passar o cartão adivinha? Cartão bloqueado. E porque? Porque ele havia sido usado antes numa máquina com suspeita de clonagem. Ha! Viagem sem dinheiro é tudo de bom! Ainda bem que eu tinha cinquentão.
Bom...e na volta? tudo bem? Não! Na volta choveu ainda mais e eu desisti do buzum...comprei uma passagem de avião pra hoje de manhã e resolvi subir o nível do perfume. Ah que ótimo...e como foi? A crise aérea voltou!!!
O vôo atrasou duas horas e nem tinha lugar pra sentar na sala de embarque. Fiquei sentada no chão jogando joguinho no celular até que o avião -- que deveria ter pousado às 10 da manhã -- resolveu pousar ao meio dia e quinze. Ok, sem problemas, desde que a viagem dure só 45 minutos. Quer saber? Saímos meio dia e meia e chegamos às 3:15 da tarde. ha! Precisamente a uma da tarde sobrevoávamos Congonhas...mas tinha fila de aviãozinho pra descer. Então ficamos rodando (holdando?) sobre a cidade por uma hora mais ou menos, até que o tempo fechou de vez e, para nossa segurança (segundo o comandante) fomos para Cumbica. Acha que pousamos lá rapidinho? Nada! Mais uma hora sobrevoando Guarulhos até o tempo fechar outra vez. E fechou muito. Ficou tudo preto. Preto assim...PRETO! Preto e sacudido! O avião tremeu de todas as maneiras que alguma coisa pode tentar tremer. Subiu , desceu, chacoalhou, pulou, fez de tudo! Parecia o menino do ônibus! E eu, muito sim senhora, fazendo a forte e dizendo pra minha filha ficar calma que a gente já ia pousar, mas dava pra escutar os pensamentos dos passageiros. Dava pra saber que eles estavam lembrando da pista molhada, do acidente da Tam, do Legacy que caiu em cima da casa do tio que estava vendo TV, do Piloto do Air Bus dizendo "Ai não! Meu Deus! Vira, vira, vira!". Dava pra saber que cada uma daquelas pessoas estava só se fazendo de forte, mas no fundo éramos todos vítimas do último ano. Apavorados. Fracos. Entregues. Pensando se estava tudo feito ou deveríamos ter deixado a senha do banco e a do Orkut anotadas em algum lugar vizível..."Se ninguém tem a minha senha, quem vai avisar meus amigos que eu já fui?" "Eu devia ter deixado os documentos do carro na mesa da sala..."
Pois....parece dramático, mas dava pra ver que alguns rezavam sem se preocupar em esconder. Eu mesma lembrei de santos incríveis. Chamei Santa Rita, lembrei que uma vez me disseram que eu sou filha de Iansã então apelei pra mãe também, lembrei de mais duas entidades que sempre andam por perto, falei com elas dizendo que não estava na hora ainda, rezei muito mais "Pai Nossos" do que sabia que conseguiria rezar, falei com Deus milhares de assuntos - tudo quietinha sem mover um músculo.
Num determinado momento, um garoto de uns 20 anos apareceu de pé ao meu lado no corredor do avião, branco, pálido, andando para a frente da aeronave como se pudesse ajudar o piloto. Eu peguei no braço dele e ele me olhou já achando que era o Jack do Lost. Eu perguntei: "O que você está fazendo aí, meu anjo?" Ele franziu a testa, fez que sim com a cabeça e voltou pro lugar. Eu pensei: "Ai ai ai...eu não to pronta, caramba, nem um pouquinho! Pára de brincar disso!" Dei mais um beijo na minha filha que, a essa altura, tinha a cabeça enfiada debaixo do meu braço, e vi as casinhas ficando maiores lá embaixo...finalmente estávamos pousando. Ufa!

Peguei um motorista de taxi que não sabia o caminho para a minha casa. Pensei em fazer cara feia, mas eu estava tão feliz de estar em terra firme que achei que não valia o mau humor.

Estou de volta, amiguinhos!
Beijocas


**a impressora da discórdia chegou e é linda! A HP nunca veio buscar a impressora velha que devia ser parte do pagamento da nova. Aquilo é uma zona!

segunda-feira, novembro 12, 2007

Muito barulho por nada

A noiva linda.

Então, entre mortos e feridos salvaram-se todos e graças à colaboração do Rodolfo Vani eu perdi o medo de ver as fotos do casamento. Nestes tempos de tecnologia avançada, fugir das câmeras é impossível mesmo quando se é um provolone gigante.
Okay eu adimito: eu sou dramática! Faço o tipo Consuelo de las Dolores, principalmente na frente do espelho.
Depois de duas semanas amassando a opulência e comendo (só) salada de pepino em duas refeições todos os dias, o provolone talvez tenha se transformado em apenas mais um salaminho de festa. Ha! Alívio. Agora começa a campanha "Pepinos Forever" para tentar escapar de passar o ano novo de escafandro.
Ao pepino então!
Abaixo, as fotos que o Rodolfo fez com seu celular inquieto durante a festa de casamento do Marcelo e da Gabi. Entre uma foto e outra, risadeira, porque não existe ficar perto do Rodolfo sem rir muito. Adoro!
Lá vai...

Taiz, minha leitora super cool: la dama de negro

Os olhos de Kátia Gimenez, meio Ted Abel e mis manos a encher el caron.

Crianças: Simone, Natasha e Joana (a Saimon é a mais nova. hahaha!)

parte da família Ripinica e el Salamito

Glamorous Julia

Pés de noivos


***Fotos by Rodolfo Vani com seu celular indiscreto.


terça-feira, novembro 06, 2007

Forma de um provolone gigante!!


Não aguento mais ver esse post da insônia na entrada do meu blog, mas juro que não tenho mais nada pra dizer. Mentira. Tenho sim. Mas eu ando preocupada com a quantidade de reclamações que eu venho fazendo aqui. Só mal humor! Só chatice!
Quem sabe então é hora de voltar a ser romântica e sonhadora? Mas tá difícil demais. Parece que tem um buraco negro aqui dentro para onde todas as palavras bonitas foram sugadas. Eu tento. Juro que tento. Abro o blog e fico olhando pro quadrado vazio do post mas as palavrinhas me fogem. Continuo com a velha música do Chris dançando entre os neurônios e não consigo escrever. Pelo menos já estou dormindo. Já é alguma coisa.
Os dias estão completamente ocupados pelo meu excesso de peso. Algum dia do ano passado eu fui dormir linda e magra; um outro dia deste ano eu acordei em forma de provolone gigante!
Ai meu saquinho! "O que você não quer ser na vida?" "GORDA!" Tá bom...aí papai do céu resolveu me irritar e me mandou pra São Paulo. E desde que eu cheguei aqui eu não sou nada além de gorda. Às vezes uma gorda ajeitadinha, às vezes uma coisa disforme. Neste exato momento estou na fase disforme. Ou nem estou...(mentira) eu sou grande, caramba! Mas sabe o é ser grande no Brasil? Ser gorda!
Fui comprar um vestido pro casamento dos meus amigos amados Marcelo e Gabi. Vou ser madrinha dos dois. Eles brigaram por mim e acabaram resolvendo que eu não posso ser madrinha de um só, então sou a didinha do casal. Certo, que lindo! Mas isso requer um vestido. E não pode ser preto. E não pode ser curto. Ai meu deus! Como assim?
Lá fui eu para a via sacra já conhecida de anos....muitos anos. Eu já não fui a um casamento uma vez porque não achei roupa, lembro...e eu nem estava gorda. Hm...será que a gordura está na alma?
Anyway...vou contar.
- Oi, eu sou madrinha de um casamento no sábado e preciso de um vestido que não seja preto.
Tudo parece lindo até a parte do briefing. Aí eu começo a mexer nas araras e ver coisas que eu gosto. Ha! Esse só tem P, esse é 40. Esse é 42. Esse é 38...e assim vamos. Tudo o que é bonito, arrojado, moderno, bacaninha, bontinho ou meia boca, é pequeno. Bom...esquece então e vamos aos grandes. Aff!
Sabe o vestido da vó da noiva? Azul royal, bordado, cheio de drapês pra disfarçar a total ausência de cintura, com uma echarpe pra tapar tudo o que sobra? Esse! E ele existe em várias versões: tomara-que-caia, de alça, decote em V, frente única...mas todos são o mesmo vestido. E o que ele faz com a silhueta é incrível. A cintura desaparece, o peito achata e transforma você numa nadadora olímpica com ombros e tórax gigantescos, o quadril achata, e para entender bem a forma que ele traz para o seu corpinho opulento, tente imaginar um salame da mônica em pé e sem embalagem. Isso! Você está linda!
Gente, que desespero! Entre os mais de 20 vestidos que eu experimentei, só um deixava que se percebesse que existia um corpo embaixo do tecido. Corpo assim...peito, bunda, cintura, braços. Todos os outros variavam entre salame e provolone, no máximo um lombinho.

E eu não vi isso acontecer. Sentei aqui na frente do computador e passei o ano escrevendo. Malhei quase todos os dias. Sei lá o que aconteceu. Talvez os 46 tenham batido na minha testa com mais força do que eu imaginava. Agora, lá vou eu de novo pro médico fazer regime...lá vou eu ficar na dieta líquida até sábado. Lá vou eu correr até ferrar a minha coluna lombar outra vez...
Se nada der certo, vou me jogar da ponte e nascer de novo. Quem sabe eu volto pra terra como viúva da seca pra nunca mais ser gorda.

Meu saquinho!!!