domingo, agosto 24, 2008

Queimando o Protocolo


Definitivamente eu sou velha, rabugenta, elistista, pentelha, preconceituosa, e o que mais quiserem. Aceito. Aceito...mas não aceito que o protocolo de uma cerimônia importante seja quebrado. Toda vez que isso acontece, enquanto um monte de mané acha o máximo, eu morro de vergonha alheia.

Eu acredito no velho ditado "em Roma como os Romanos" e acho que é assim que é certo. Se eu vou numa casa não-fumante -- e os sinais são claros, falta de cinzeiro na sala, etc -- eu não fumo e fim. Porque não é o dono da casa que tem que mudar por minha causa. E isso serve pra muitas coisas nessa vida de meu deus, mas está cheio de gente mal educada por aí que nem sonha em pensar nisso um dia.

Estou eu sentada em frente à TV vendo a final do Volei feminino, fiquei feliz e emocionada com o ouro delas, lógico, foi sensacional! Aliás, eu chorei trezentas vezes durantes as Olimpíadas...E elas chegam para a cerimônia de premiação. Vamos começar analizando a palavra CERIMÔNIA? Diz aqui no meu dicionário:
Pompa e formalidades para maior brilho de solenidades oficiais; conjunto de formalidades de civilidade, de preceitos de cortesia entre particulares ou entidades;
Veja só que incrível! Toda "cerimônia" involte um "cerimonial" e é "sonele".
Mas alguém lembrou de explicar isso para Brasileiros em geral? Principalmente aqueles cuja profissão sempre acaba, de um jeito ou de outro, numa "cerimônia solene"?

Então as meninas do Volei entraram para a cerimônia pulando. Hm..até aí tudo bem, porque elas estavam felizes, mas a minha ingenuidade ainda dizia que já já elas ficariam quietas e respeitariam o que seria o apogeu de suas carreiras. Santa ingenuidade! Não aconteceu. Para meu desespero, elas receberam as medalhas, e uma delas sacou de um papel todo amassado e abriu um cartaz mal feito e pavoroso que não dava para ler. Para fazer isso ela se desfez do buquê de flores cheio de significados importantes para os chineses e para os atletas sérios.

- Vai acabar aí, né? Perguntava o meu coração já querendo se enfiar debaixo do sofá para não ver mais nada.
- Não! - respondia o Galvão Bueno achando lindo - Elas vão quebrar o protocolo! Elas vão quebrar o protocolo!

Não...elas estavam prestes a queimar o protocolo. O protocolo e a minha cara como Brasileira, em rede mundial, sem a minha autorização! Meu pai! Elas deram as mãos e abriram uma roda...eu aqui já me arrepiei inteira e fiquei de cabeça baixa pensando: "não....oração não! Não reza, não reza...não me envergonha!" Mas sem dar a mínima pra a minha cara chamuscada, elas gritaram "Obrigado Senhor!", morderam a medalha (acho) e se jogaram no chão!
Nãaaaaaaaaaaaaaaaaao! Não faz assim comigo!! Eu não aguento tanta vergonha alheia de uma vez! Eu quis me esconder...eu quis sair correndo...eu olhei bem pra ter certeza de que estava mesmo sozinha...aff...estava, graças a Nossa Senhora do Vexame Mundial.

Não satisfeitas com toda a família de micos, macacos, e afins, elas resolveram rolar no chão e fazer uma pilha humana grotesca de bundas para cima, deixando sem graça o presidente do Comitê Olímpico, o da Feredação de Volei (ou coisa que o valha) e eu!

Gente, que vergonha...por que a gente não pode ser normal? Por que brasileiro tem sempre que dar um show de falta de educação? Por que as pessoas acham bonito não ter postura? Alguém já viu um ator ou diretor ir receber o Oscar de bermuda e fazer o que fazem aqui no Brasil em festival de cinema? É igual aos prêmios de música: o diretor chega la no microfone com uma roupa bem meia boca, que ele deve usar também pra ir na feira, e grita: POOOORRAAAA!! DO CARÁAAAALEEEEO! POOOOOOORRRAAAA!

Acho chique...acho que um cara desse não respeita o prêmio que está recebendo. Acho que alegria não se manifesta assim. Acho que uma pessoa que lutou para chegar até aí deve ter um vocabulário um pouco mais extenso - espera-se. Acho um vexame!
As meninas do Volei perderam, na minha opinião, uma grande oportunidade de entrar para história pelo seu feito extraordinário. De minha parte, elas serão lembradas por queimar a cara em rede mundial. Uma vergonha, no que me diz respeito.

Mas eu sou chata.

Buenas!

sábado, agosto 09, 2008

Muitas Mulheres - by Ella Spotlessmind

Eu me pergunto sem parar que tipo de pessoa eu sou e todas as vezes que faço isso, encontro alguém diferente.
Uma vez, de brincadeira, eu disse que sou muitas e sou única e sempre haverá mais de mim. Foi a verdade mais profunda que jamais saiu de mim. Eu posso contar um milhão de histórias de mulheres completamente diferentes, que o mundo juraria que nem se conhecem, e a surpresa final seria saber que todas elas sou eu.
Eu sou essa pessoa que imagina histórias e as vive e vice-versa. Algumas são puro besteirol e eu me mato de rir lembrando delas, outras são tristes de arrancar lágrimas de um iceberg, outras tão românticas, emocionantes e empolgantes a ponto das pessoas dizerem “ah…como eu queria viver algo assim.” E eu vivi.
Vivi mais “Coisas da Vida” do que a Me pode escrever. Vi a lua em vários lugares do mundo e fiz dela testemunha das minhas loucuras -- e só ela viu o que eu vi, só ela ouviu o que eu nunca vou esquecer.


Vivi paixões e histórias tórridas que colocariam "9 Semanas e Meia de Amor" no livro da Mamãe Gansa. Acordei ao lado de amores antigos que eu não veria nunca mais, adormeci no peito de quem estaria ali para sempre.
Amei incrivelmente, homens com caráteres, personalidades e histórias diferentes. Amei escondido, amei errado, fui a outra, fui a única, fui mais uma. Desejei pessoas que nem sonham com meus desejos, outras que sabem de cor meus pensamentos mas jamais me tocaram – e não tocarão. Chorei no carro, no meio fio, na escada do prédio, no elevador, na cama, na estrada, no ombro do desconhecido, de amor, de tristeza, de alegria, de emoção, de decepção profunda. Fui santa, fui perversa, fui pervertida. Fui rainha e fui ninguém.

A cada história que conto, lembro-me de outra que não contei. Fiz coisas não-contáveis, incontáveis vezes e de novo. Fui à igreja, ao centro espírita, ao terreiro de umbanda. Rezei para deus, Cristo, Santa Rita, Iansã e Maria Padilha. Sentei na mesa dos nobres, bebi com a burguesia, andei com os pobres. Vivi todas essas mulheres toda a minha vida e elas foram felizes. Elas brincaram com fogo mais vezes do que eu sozinha poderia. Traíram e foram traídas, amaram e foram amadas. Disseram verdades que ninguém acreditou, contaram mentiras que jamais foram descobertas, omitiram fatos, revelaram tudo. E foram loucas!

Umas amaram meninos, outras conquistaram prêmios, umas criaram deuses, outras beijaram demônios. Em algumas me reconheço, em outras mal me vejo…mas todas tinham um traço em comum: a minha alma – essa alma imensa, capaz de abraçar o mundo inteiro sem distinguir certo e errado. Essa alma feita dos milésimos de segundo do pensamento do universo, que insiste em se deitar, se espalhando pelo mundo como um véu transparente, que acha que pode dividir-se em milhares e doar-se, e mesmo assim, estará inteira.
Toda vez que alguém se espanta com algo que vivi, eu me pergunto que tipo de pessoa sou . Eu sou isso: Única e muitas…um véu transparente encharcado de vida, feito dos pedaços diversos de mim.


Colaboração: Ella Spotlessmind

quarta-feira, agosto 06, 2008

Corta pra lareira

Escrevendo o meu livro aquele que parece que eu nunca vou realmente escrever, eu descobri que tenho um bloqueio gravíssimo: eu não sei falar de sexo. Não...calma...eu sei FALAR de sexo, mas não sei escrever cenas de sexo.
Sabe aqueles filmes dos anos 50 que mostravam o casal, o beijo, e cortava para lareira, para o copo, para o cigarro queimando no cinzeiro? Então...é isso que eu faço. Eu levo o casal até a cama...e corto para a lareira! Hello?! Todo mundo sabe o que eles vão fazer depois que ele tirou a roupa dela!

Certo...seria perfeito se isso não estivesse me incomodando brutalmente.
Aí ontem à noite resolvi escrever um conto erótico. Ha! eu sou péssima! Nossa Senhora da Psicoterapia me salve! Fala pinto, penis ou bimbim? Eu suei frio para escrever. Ai gente...comofas? Por que eu vejo a cena e não descrevo assim...direito? No comprendo.

Desisti. Quase. Vou fazer mais uns "exercícios", e se não rolar eu vou cortar pra lareira!


segunda-feira, agosto 04, 2008

Post my Secrets?


Como todos os domingos, acordei, peguei uma mega-caneca de café e vim para o computador entrar no Post Secret - tarefa número 1 de domingo para xeretas em geral que gostam de saber o que passa pela cabeça alheia.
Sou uma fã ardorosa do Frank Warren, - o maluco diabólico que criou o PostSecret.com - e mudou a maneira das pessoas desabafarem sobre coisas que não podem contar para ninguém (a mãe dele diz que o que ele faz é diabólico). Tenho os três livros que ele lançou com os segredos alheios, entro no site todo domingo, e agora que a coisa não para de crescer, confiro o site alemão, o francês, o em espanhol, o Facebook e o blog no Myspace. Toda vez que faço isso, fico pensando se eu teria paciência de fazer um cartão postal manualmente, endereçar ao PostSecret e ir até o correio enviar. Depois disso penso o que eu diria ao Frank Warren e ao mundo se tivesse paciência para tanto. Pensei um segredo..."hmm, esse eu já contei pra um monte de gente!", pensei outro..."Hm...já contei esse também!"
Gente, entrei em crise! Será que eu sou uma pessoa sem segredos? Um livro aberto? Uma porta de banheiro público? Um outdoor ambulante? Deixa eu ver...olhando aqui pra minha lista do MSN, vejo que fulano não sabe o que eu contei pro ciclano, aquela outra nem sonha o que a lá de baixo sabe...mas cada um desses nomezinhos sabe algum segredo meu.
- "Hey! Será que você manda pro postsecret pra mim? É porque eu não lembro mais qual segredo te contei."
Que complicado...Fiz as contas, voltei uns anos, aí...lembrei que eu escrevo. Eu escrevo em meu nome, no nome dela, dele, da outra, em inglês, eu fotografo, eu sonho, eu misturo tudo, eu rio de mim mesma, eu digo tudo o que sinto, eu conto histórias, histórias, histórias...como eu poderia guardar um segredo?
Como eu poderia guardar um segredo se eu tenho todas as ferramentas para exorcisar os meus demônios todo o tempo, e ainda rir da cara deles? Que tipo de pessoa eu teria que ser para cozinhar histórias dentro de mim por tempo suficiente para que se tornassem segredos pesados, que só um terapeuta ou o PostSecret fossem capazes de me fazer cuspir? Eu lá tenho caráter pra isso? É...porque é preciso ser perseverante para guardar amarguras, rancores, tristezas, traumas...eu não sou capaz de colecionar nada, muito menos amarguras. É preciso ser muito mais "gente" do que eu para isso. Eu daria uma péssima suicida inclusive, praticamente um vexame! E para postar segredos eu teria que inventar dramas...ai que chato.
Frustrei. Não tenho nada pra mandar, e se mandasse, com certeza receberia algumas mensagens dizendo: "Nossa...vi um segredo seu no PostSecret."
Que lástima!



Se você é mais gente do que eu, este é o endereço: