quarta-feira, janeiro 05, 2011

_uma carta

(from Ella to her beloved ghost)

Oi, meu bem.

Já é 2011, sabia? O tempo passou mais rápido do que eu sonhava, no meio de toda a dor que eu pensei sentir, mas os dias se arrastaram, um a um, desde aquele em que você ligou o motor e saiu antes de mim e se foi, meio que pra sempre. 
Nossos sempres, sempre tão efêmeros...
Daquele dia em diante, a sua ausência foi a mentira maior.
A gente não se viu mais de verdade, mas quem disse que eu preciso ver para saber? Quem disse que não acredito no que é invisível? Se ao menos você soubesse ser invisível. 
Eu senti o seu cheiro quase todos os dias, de alguma forma. Mesmo com a vida andando e as coisas  sendo feitas como manda o tempo, eu vi você todos os dias - se não em pensamento, em sonhos. Encontrei você nos meus textos e nos dos outros. Encontrei seu olhar em filmes, suas palavras em livros...e na vida real. A vida real apontava seu carro na rua, seu bar preferido, seu restaurante de hábito, a rua da sua casa, seu parque, seu céu e suas músicas...Tem também a sua hora - aquela em que o céu está vermelho e a cidade começa a acender todas as luzes e cantar alto, uma música qualquer que me aponta o seu lugar.

O ano passou inteiro desse jeito, e eu que tinha medo de estar congelada ali, inerte, não estava. Eu estava viva. Mais viva. Muito mais viva do que nunca antes, e de alguma forma você estava lá  dizendo que a vida é hoje, que tudo é agora e só por isso esperar não dói. Paradoxal, parece? Mas não é.
E eu esperei, confesso. Andando e vivendo, eu esperei todos os dias, e você vinha, porque não era possível de outra maneira. Você passou a mão nos meus cabelos e me beijou antes de dormir. Você sorriu para mim com cara de sono, ao amanhecer. Você andou ao meu lado, me olhando, enquanto eu dirigia cantando. Você esteve aqui, quase mais do que eu.
Parece loucura, eu sei, mas não...essa sou eu. Você não foi embora porque não quis, mesmo querendo tanto, e eu não deixei que você fosse. É isso.
Já é outro ano e eu continuo ao seu lado, você sabe.
Eu e meus exageros, eu e a minha intensidade, eu e a minha paciência infinita...continuamos ao seu lado. De uma maneira maluca, talvez equivocada (duvido), eu sei que você sabe que eu nunca liguei o meu carro, nunca saí daquele lugar, nunca perdi o seu cheiro que continua em mim, e gosta disso.

Já é 2011 e o que fica do ano passado é a impressão de que tudo se transformou. Não existe mais dor alguma, não existe nada, nem saudade...não existe nada além dessa presença forte -- você em mim, eu em você -- que nunca vai desaparecer porque o que está feito está feito: de um jeito bizarro eu sou sua e você é meu, mesmo não sendo verdade, mesmo não sendo mesmo. E vai ser sempre assim, enquanto não houver ausência -- não no peito ou no pensamento.

Close your eyes...I'm there.