segunda-feira, janeiro 22, 2007

Se iludir menos?

Esses dias eu li em algum lugar que obviamente não vou me lembrar uma frase que martelou a minha cabeça por algumas noites: "Me iludir menos e viver mais".
Meu Jesus cristinho, como assim?
Como é que eu ordeno para o meu pobre cerebrozinho iludido: PARE DE SE ILUDIR?
Se eu fizer um balanço da vida, fora toda a realidade indispensável e inevitável, todo o resto foi pura ilusão - ou quase isso. Eu vivi 45 anos com a cabeça nas núvens e puxando todos os que me cercam para a realidade.
Sempre tive uma incrível competência para analisar a situação alheia e resolvê-la em poucas palavras, e sempre estive voando por aí no que diz respeito à minha própria vida. Eu nunca fui capaz de enxergar as pessoas que poderiam me prejudicar, mas foram incontáveis as vezes em que avisei a alguém para tomar cuidado com uma determinada pessoa. Sempre que me perguntaram por que, eu respondi a mesma coisa: "não sei, mas toma cuidado, ele/a vai te fazer mal." E eu nunca errei. Mas, céus! como eu já errei comigo mesma... Sempre na ilusão de que as pessoas mudariam, de que...imagina...uma pessoa tão legal não pode ser do mal. Sem falar nas vezes que eu menosprezei o inimigo, achando que ele JAMAIS me trairia, ou que "coitado...tão infeliz... o que custa dividir um pouco da minha felicidade com ele/a?" Credo...me dá até arrepio pensar nos nomes dessas pobres criaturas infelizes que não eram frágeis, tinham um plano e deixaram cicatrizes gigantescas em mim.
E a ilusão não para aí. Ela serve também para ver o mundo tão lindo...para o emprego perfeito...o chefe adorável...a colega e confidente de trabalho...e para sonhar.
Sonhar é o que eu passei fazendo. Desde a hora do relaxamento nas aulas de educação física na infância que qualquer 3 minutos de silêncio me levam para outro lugar. Tem sempre um diálogo incrível, uma viagem fascinante, um alguém especial que não resiste aos meus encantos, uma festa de prêmio, quem sabe um Oscar? Eu, a escritora mais fantástica do universo, a atriz mais talentosa, a personalidade do ano, a mulher que derrubou o presidente, a que emocionou multidões, a noiva mais maravilhosa, a plebéia que conquistou o príncipe, ai ai...e por aí vai.
Não tem como me transformar em outra coisa. Não tem. Sinto muito!
Se eu me iludir menos vou ter que mudar de nome, de familia, de RG, minha carteira de motorista vai ficar inválida, meu passaporte vai parecer falso, sem falar nos anos de análise para descobrir quem sou eu de verdade.

Meus momentos solitários (que nem são muitos) são preenchidos por pura ilusão. Eu lembro de uma vez há milênios - quando a Hebe só tinha feito 3 plásticas - que uma amiga chegou na minha casa e teve que me esperar tomar banho. Nós íamos sair...acho que tinha Festa de Babbete...não sei. Ela ficou na sala e viu meus papéis em cima da mesa, ao lado da máquina de escrever. Sim sim! Eu sou do tempo da máquina de escrever; foi onde eu aprendi a digitar. Já que eu ia para o banho, ela perguntou se podia ler as coisas que eu escrevia. Pois bem. Quando eu voltei, pronta, banhada, talqueada...ela me disse: "Quem é você, Me?"
Eu não entendi a pergunta, e ela explicou. Disse que eu sempre fui alegre, engraçada, faladeira, sorridente...Ela me conhecia há anos e nunca viu em mim aquela pessoa triste, que parece amar de uma maneira melancólica e morrer de saudade, estampada nas páginas e páginas de poemas que ela leu.
Naquela época eu ainda não sabia explicar que eu ando acompanhada dos sentimentos do mundo. Que meu coração dói de amor quando eu estou sozinha, de um amor por ninguém e por todos os príncipes encatados do planeta ao mesmo tempo. Que eu choro quando falo comigo mesma, e invento histórias tristes e doloridas como aquela ali embaixo (Insanity) onde existem encantos, feitiços, lágrimas e uma saudade sem fim. Mas assim que o texto se vai ou o telefone toca, eu volto a ser a mesma pessoa alegre e faladeira. Essa dor toda anda comigo desde sempre, como se eu fosse condenada a traduzir todas as dores em palavras fáceis, mesmo as dores que eu nunca vivi e as que nunca vou viver. E não dói. É uma tristeza enorme, e linda, que me faz entender melhor as pessoas, os sonhos, os sentimentos, o amor eterno, a falta de alguém...mas não é uma dor real. É pura ilusão.
E essa sou eu. Dúbia. E feliz.

Mas a frase que eu li me deu medo. Eu não sei quem eu sou, se eu não viver dessa ilusão.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Shake up

Ontem foi dia de acordar.
Eu, que vivo em meu castelo encantado, com minhas fadas e elfos, minhas flores e seres das águas, eu que durmo envolta num manto de borboletas levíssimas e acordo com canto de pássaros e a brisa mais leve tocando a minha pele...eu que moro em Neverland desde que me entendo por gente, tive ontem vontade de presentear o mundo com o meu mundo, para tentar curar um coração que me encheu de tristeza. E ao mesmo tempo adimirei a força de quem não tem mais de onde tirá-la, e que sofreu todas as injustiças do mundo em curtíssimo espaço de tempo. Eu mesma não seria ninguém. Acho que eu definharia, desintegraria, ficaria minúscula e talvez desistisse de deixar meu coração bater.

Ontem vi uma menina que poderia ser minha filha. E ela me olhou nos olhos tão profundamente que eu quis a dor dela para mim para tentar aliviar sua aflição. E chorei!
Aos 21 anos essa menina foi estuprada, viu sua própria filha morrer sem poder fazer nada, foi acusada deste assassinato, presa, humilhada, espancada, abandonada à própria sorte pelas autoridades que deveríam protegê-la...exposta a coisas que nem em sonho um de nós poderia imaginar. Quase morta, surda de um ouvido, quase cega de um olho - por consequência dos maus tratos na prisão - ela não enterrou a filha de um ano e meio, porque foi levada para a prisão sem poder se despedir. Não teve direito ao telefonema que todos temos, foi obrigada a aceitar o advogado indicado pelo delegado, assinou sem ler um depoimento que não continha as poucas palavras que disse, depois jogada às feras, como um monstro que deve ser devorado por outros monstros.
Mesmo depois de comprovar sua inocência, ela é apontada na rua como "monstro", insultada no supermercado, no restaurante, na padaria.
Ainda hoje ela acorda à noite chorando, quando sonha que o corpo da filha é exumado e ela vê que o nenem está vivo e chorando...Ainda hoje ela tenta fazer o filho de 3 anos entender que a irmã virou um anjinho, e que está sendo bem tratada no céu.
E eu que vivo num mundo tão bom, quis entregar para ela tudo o que tenho. Não tive palavras para dar esperanças. Todas as boas palavras que conheço deram lugar um silêncio dentro da alma, como luto, como dor. Como eu posso olhar para essa menina e dizer que "você é senhora do seu destino"? Como posso sugerir que ela imagine que pode ser feliz um dia? O que é toda esta dor?
O mais incrível é que em meio a toda essa desgraça, foi a Deus que ela se apegou. Será que eu teria a força, a fé necessária para crer que Deus existe num momento destes? Como ele pode existir e deixar que ela perca sua filha, que seja acusada de matá-la, e se isso não bastasse, ainda fosse espancada por 3 horas inteiras por mulheres enlouquecidas, e ter uma caneta enfiada em seu ouvido? Por que Deus permitiria toda essa atrocidade contra alguém que só fez dedicar-se à saúde frágil da filha caçula? Por que Deus deixaria que ela ficasse em coma, suja, rasgada por 4 dias numa UTI, longe da família impedida de se aproximar...sem que uma alma caridosa tirasse o sangue pisado de seus olhos, a caneta de seu ouvido, limpasse o sangue da pele, fizesse uma compressa nos olhos? Com ossos quebrados, largada como um cachorro atropelado na beira da estrada. Alguém me diz por que? Eu não saberia ter fé neste Deus. Mas ela, apesar dos olhos tristes, confia numa justiça divina. (Só na divina, é claro...da outra ela já desistiu.) E sua força me torna um NADA. Eu tive vontade de gritar, de esbravejar, de quebrar o mundo inteiro para tentar descobrir onde foi parar a justiça do meu país. Para tentar arrumar o que está errado, punir que tem que ser punido, trazer de volta a criança morta, fazer o tempo voltar, fazer a vida dela mudar.

Muito muito triste. Meu coração está mais partido do que no dia 26 de dezembro de 2005, quando a maior Tsunami de todos os tempos varreu milhares de vidas da face da terra deixando crianças sem pais, pais sem filhos, dor e desturição. Naquele caso não havia culpados. Mas agora, estou falando de uma catástrofe natural: causada pela NATUREZA HUMANA...e inexplicável.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Frankstein

Então você se apaixona. Passa alguns meses sem querer comer muito, ou pelo menos não quer comer sozinho. Só pensa na outra pessoa: primeiro pensamento do dia, último da noite. Olha para o celular o dia inteiro, vê a cara dele (dela) em toda vitrine, todo filme, toda música, e nem percebe que isso se dá ao fato de você ter visto com ele (ela) toda vitrine, todo filme, toda música. Um grude infernal, só vou se você for, só quero se você quiser, se você gosta do meu cabelo eu não corto, se ela gosta da sua roupa vai esgarçar de tanto repetir, se ela gosta de homem de brinco você fura a orelha, se ele gosta de loira você pinta o cabelo, bla bla bla bla....
Lá vem casamento...ou não...lá vem filho! Ha!
Nos primeiros anos é incrível ver aquela pessoinha se formando. Primeiro é meio sem nexo...come, dorme, faz barulho, faz cocô e começa tudo de novo. Depois é a coisa mais linda do mundo, dá vontade de morder, de não largar, de ficar grudado, de filmar cada nova conquista. Depois já parece uma miniatura de gente...quase tem um caráter definido, o temperamento já é claro, a cara da mãe, o gênio do pai, a inteligência da mãe (cof cof), a determinação do pai...e vai ficando mais alto, e vai tomando forma, mas ainda não se sabe de que. Aquela pessoa anda pela sua casa...dorme e acorda no meio da sua vida. Sua cama está superlotada, seu carro está superlotado, seus CDs sumiram, seu DVD tem marca de dedo, seu sofá tem marca de nescau. Depois tem uma menina na cama dele, tem 5 meninas no quarto dela, 8 mochilas, 5 pares de sapatos, 4 toalhas de banho cor-de-rosa com estampados esdrúchulos, 3 colchões no chão...4 homens barbados cheirando a cerveja dormindo na sala, 1 que aparece no sábado e fica uma semana, um preservativo na mochila dele...um brinco no chão do carro...a foto de um menino no fichário dela...mensagens engraçadas no celular...festa, salão, vestido, salto alto, namorada firme, "não venho pra casa hoje", "mãe me empresta o seu pó da MAC, aquela bolsa preta, tem um brinco dourado?"Lágrimas quando namoro acaba, lágrimas quando as amigas fazem fofoca...ai ai...
Tudo isso vai acontecendo e você nem sente que o tempo passou. Você é ainda aquela mulher que usava saia muito curta e cabelo muito crespo, ainda se sente igual, ainda sente frio na barriga, tem acesso de riso, adora sexo, estar bonita, rock 'n roll, rap, dirige cantando alto, dança na cozinha, enfia o dedo no glacê do bolo, sonha com viagens e contos de fadas...E mesmo assim, sendo essa menina, existem pessoas que coexistem com você e não são mais pessoinhas fofas que dão vontade de morder. São PESSOAS como você, que merecem respeito, espaço, opinião, voz ativa, e muitas vezes dão conselhos de tirar o fôlego.
Durante anos você foi a única pessoa com voz ativa e permissão para dar conselhos. O alicerce da casa, o porto seguro, o oráculo. Agora, você convive com seres humanos prontos, que pensam; e eles aprenderam com você a pensar...logo não há de ser tão fácil derrubar suas opiniões, seus quereres, suas ambições (ou alguém derrubou as suas?). Aqueles que você criou estão vivos, independentes, com vontade própria.
A questão já não é mais o time pra que se torce ou o tipo de música que se ouve. A questão não é mais se é melhor ir na festa de terno ou se aluga um smoking. A questão não é mais se faz maria-chiquinha ou deixa o cabelo solto. Agora discute-se política, ética, homossexualismo, preconceito, comportamento, respeito ao próximo, aquecimento global....respeito. Discute-se o direito do pai de invadir o quarto quando ela está conversando com as amigas. Discute-se permitir ou não que a namorada ocupe o quarto do filho. Discute-se preservativos, aids e gravidez com as meninas, ídem com os meninos; carreira, trabalho, dinheiro com os meninos, ídem com as meninas... e a vida mudou!

Quem enchia a casa de perguntas agora chega com as respostas.
E eu...ainda sou aquela menina...agora orgulhosa das sementes que plantei.

Bom dia!

domingo, janeiro 07, 2007

Profecia

Dito. Eu previ o futuro! George Clooney não foi a Buenos Aires, não conhece a Patagônia, não faz idéia de quem seja Lívia, muito menos Mélia. Perdido, coitado...desorientado no mundo, ouvindo o insconciênte coletivo, as preces da multidão, ele saiu correndo para atender à voz que soprava em seus ouvidos: "Faça a coisa certa, George...faça o que tem de ser feito!"
Aquela voz projetava em sua mente uma palavra: TANGO.
Pobre George...achou que a coisa certa seria comprar um carro caro pra burro, feio pra burro, mas políticamente correto. Lá se foi a última esperança de Lívia...George não correu para as ruas de Buenos Aires. Ele comprou um carro elétrico: Tango.

Tá aí...Que anta!!

Morning, kids.

Já é 2007

English version of the e-mail I sent to my Orkut friends for holiday greetings

Wow! Quem diria?
Quem diria que chegaríamos a 2007 sem o mundo acabar?
E agora? Será que os pobres coitados que ficaram esperando o fim -- os que se mataram, os que rezaram sem parar, os que pararam a vida, os que decoraram a bíblia -- será que eles sabem o que fazer daqui pra frente?
Será que se deram conta de que então - veja só que maravilha - a vida deles acaba de começar do zero? Nossa! É preciso correr então...muito foi deixado para trás, muito foi abandonado já que era o fim do mundo...
E Jesus não desceu do céu? E Deus não mandou sua ira? E o arrebatamento? Alguém recebeu um e-mail avisando pra quando foi adiado? Dammit! Não se acaba mais com o mundo como antigamente...estes deuses modernos são muito desorganizados...vish!

Ai ai ai, que peninha que me dá, daqueles que acham que só vai para o céu que reza...que só anda direito que anda na igreja...que só será salvo aquele que crê no que mandaram, sem questionar...Que pena me dá de quem não enxerga que o mundo vem acabando todos os dias no Oriente Médio há séculos. E que o mundo de algumas pessoas acaba de um dia pro outro sem elas terem tempo de rezar, se redimir ou lembrar de andar direito uma vez na vida. E o mundo de outras...das que andam direito eternamente, por índole, acaba também. Porque não há o que controle o fim das coisas. E não é nenhum deus quem desce do céu para salvar alguém: são seus gestos, seus atos, seus sentimentos. A única salvação esperada é paz de espírito, tranquilidade, sorriso na alma.
Ai ai ai que peninha dos que esperam. Ficam esperando que a vida valha a pena e esquecem de fazê-la valer.
Muitos dirão: a fé é um presente, Mercedes...um dom...pena de você que não a tem.
A eles eu só posso responder: Olhe mais perto. Mais perto...ainda mais perto. Veja a fé que me move e que vem de dentro de mim...entenda o que eu entendi para acreditar e buscar o que só existe em você. Não olhe para cima...olhe para dentro! E não sofra: você não está perdendo sua muleta. Só está ganhando força verdadeira.

Feliz 2007.
Não permita que seu mundo acabe. Você já nasceu salvo.

Bom dia