terça-feira, janeiro 29, 2008

Chuva


Já é tanta água que cai do céu, que a mim parece que ela brota do chão.
A grama está molhada e eu posso escutá-la crescendo.
O chão está mais frio, mais húmido, já não é mais tão bom andar descalça.
Os muros estão mais escuros e mostram seus largos desenhos escorridos que parecem lágrimas pedindo que a chuva pare.
Os lagos estão cheios e as tartarugas já não encontram um galho para fora d'água, onde possam subir para secar ao sol.
Os pássaros menores não cantam, escondidos, recolhidos, esperando um pouco de calor.
Os patos não passam fazendo arruaça sobre a minha casa ao pôr do sol, simplesmente porque ele não parece se pôr, como não parece nascer.
As cigarras calaram.
Eu ando na rua com o meu limpador ligado, e o "nhec-nhec" inevitável traz lembranças que são tristes. Sinto o cheiro daqueles dias de dor, quando a vida parecia suspensa por um fio e eu tinha a sensação de que, em qualquer um dos lados que eu caísse, o chão seria frio e duro.
De repente lembro de não ter esperança, e me dei conta de que eu já tinha esquecido que isso era possível.
Eu lembro de gostar de chuva. Lembro que muitas vezes as núvens carregadas acompanharam meu estado de espírito como se a minha tristeza mandasse nos ventos, e não o contrário. Quando a chuva vinha forte, eu gostava de parar o carro, desligar o limpador e ver as lágrimas escorrerem pelo vidro até lavarem a minha dor. Depois eu saía como se aquilo fosse o remédio para a cegueira que acometia o meu coração - que não via o caminho à sua frente.
Lembro de, pela única vez, achar que a morte fosse mais fácil e desejar a minha... ou outra. Esses breves segundos viajando com a chuva no tempo doem como a eternidade no inferno.

Já não é bom ver a chuva.
Não é bom pisar descalça no chão.
Não é bom ouvir o silêncio da ausência dos pássaros.
Não é bom sentir o vento.
Só é bom saber que eu tenho esperança de ver o sol, e que não há tartaruga nos lagos que vá desistir de esperar por ele.


Amém.


domingo, janeiro 27, 2008

Queimando a cara em praça pública


Aff...Eu não acredito que eu fiz isso, mas eu fiz!
Resolvi fazer uma experiência: gravar a publicar "Um Tango para George" no youtube, como um "booktube" ou um "youbook" ou sei lá como vão chamar isso.
Fato: coloquei minha cara pra bater, mais do que nunca antes. Voz e rosto + um pedaço da minha casa e da minha vida. Sim, porque enquanto eu conto a história de Lívia e George, você escuta meu msn...as pessoas entrando e saindo, avião passando, minha filha fazendo barulho com as amigas na cozinha, meus gatos miando, etc etc.
Ou seja...exposição extrema. Mas who cares?
Isso é um teste para ver o que acontece quando as pessoas escutam uma história ao invés de lê-la ou ver um filme. Pra fazer isso eu tive que jogar fora algumas coisas, como vergonha, medo do ridículo e o photoshop! Não foi exatamente fácil.

So...tá lá. O capítulo 1 foi dividido em 4 partes, porque é muito grande. E o capítulo dois é minúsuculo. Ambos já estão postados.
Então meus amados e fieis leitores, vocês são as pessoas em quem eu posso confiar. Se por acaso vocês assistirem e sentirem o que eu chamo de "VERGONHA ALHEIA", por favor me digam. Não esqueçam que "amigo é aquele que avisa que você está com um feijão no dente." Só não adianta me dizer pra olhar pra câmera, porque não vai acontecer! Eu sou péssima olhando pra câmera.

Conto com vocês e com os seus comentários. Please!

Todos os 5 vídeos aqui!

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Why are you sad?

. Porque o Heath Ledger morreu e ele sempre foi aquele que aparece na tela e eu penso: " esse garoto parece tão do bem..."
. Porque eu não o conhecia, mas quem de nós não o conhecia mesmo?
. Porque ele me fez chorar muito em Brokeback mountain e eu quis, com todas as minhas forças, nunca ter que sofrer uma dor igual à do personagem dele.
. Porque ele me fez rir muito em Irmãos Grimm e torcer pra ele o tempo todo.
. Porque uma menina que eu amo chorou, me contando que quando era pequena fazia montagens de fotos dele abraçando ela...porque ele era o sonho de menina que ela tinha. E eu chorei.
. Porque ele até namorou a garota estranha do Dawson's Creek.
. Porque ele me fez chorar de novo em The Four Feathers.
. Porque não é justo deixar uma menina de dois anos sem pai.
. Porque eu não acho certo alguém morrer aos 28 anos, com talento, sucesso e uma vida pela frente.
. Porque algumas pessoas, quando se vão, me estraçalham o coração.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Breakfast


Would you like some cafeine with your mood?

Bom dia.
(Vai encarar?)

domingo, janeiro 20, 2008

Longe demais

Quatro cabeças e Nani, num momento de integração

Oh my! Oh my!
Sabe quando você se conhece tanto que até dói?
Está acontecendo de novo...eu estou derretendo.
Desde que a história ali embaixo caiu na minha cabeça, eu estou desconcentrada e chorona. A impressão que dá é que eu estou fora do chão. Passo o dia totalmente longe daqui, esquecendo tudo o que precisava ser feito na vida real - inclusive comida - e chorando à toa.

Ontem fui dormir e dormi, claro, porque chega uma hora que o corpo pede; mas o cérebro nem pensou em obedecer. Dormi dentro da minha história, vendo possíveis acontecimentos e corrigindo alguns deles, tipo..."não! isso não pode acontecer tão rápido!" e começando de novo.
Hoje acordei e fui tomar café em frente à TV. Estava passando Saia Justa e o tema era verão. As "velhinhas" lembrando histórias incríveis de infância, recordando cheiros e medos, fora a velha história de morrer na praia, que acontece com todos nós em todos os verões: o verão vai chegando e você, aos 15 anos, já imagina as festas, os amigos novos, o garoto por quem vai se apaixonar, faz planos incríveis, concretiza a maioria, e quando o frio chega... nada daquilo será verdade, até o verão que vem!
Até aí tudo bem...pra um domingo chuvoso. Mas o problema é que eu estou tão dentro da minha história que chorei o tempo todo! E tinha algum motivo? Não! Não, fora o fato da minha história acontecer num verão e numa praia. Não, fora o fato de falar do amor errado, que pode ser que morra na praia. Então lá fui eu...lágrimas em profusão.
E mais: antes de dormir, vi o trailer de Becoming Jane - filme que especula os motivos pelos quais Jane Austen (autora de Razão e Sensibilidade, Persuazão, EMMA e Orgulho e Preconceito) não se casou. Inventaram um amor para ela que ninguém sabe se existiu ou não. Na verdade ele - Tom Lefroy - existiu e, sim, os dois tiveram um namoro que não chegou em casamento por questões financeiras e acabou. De qualquer forma, o tamanho do amor dos dois é pura especulação.
O trailer me fez ir mais fundo e ver trechos do filme no YouTube. Ai ai ai...filme de menina, é claro! O amor de Jane é interpretado pelo "next big thing" escocês sujinho James McAvoy...e o final desilude tanto, que eu fui me deitar para dormir num mar de lágrimas.

Se eu contar tudo o que me fez chorar nos últimos dias, vocês vão me chamar de louca (novidade...). Chorei imaginando cenas, chorei escrevendo diálogos, chorei fritando ovo, chorei vendo Fantástico, chorei ouvindo música, chorei até em filme infantil! Qualquer palavra me emociona...e eu sei que isso vai acabar comigo, porque já aconteceu antes. Eu começo a entrar na história e entrar na história, e daqui a pouco estou tão dentro dela que o personagem principal já fala como eu, pensa como eu, e tudo vira uma semi-biografia. (Assim: biografia conta a vida de uma pessoa, como ela viveu e o que realizou; tipo um currículum vitae. Já a semi-biografia é como um resumé: tudo mais inventadinho pra dourar a pílula, mas com muita verdade. )
Então, embora a história não seja sobre mim, tenha personagens e fatos absolutamente inventados, Nani Gaya - a protagonista - tem voz e cheiro de Mercedes. Não consigo dar a ela outra que não a minha voz. Ela faz coisas que eu não fiz, outras que eu não faria, mas ela pensa pelo meu cérebro e, a não ser por ser magra e morena, até seu andar parece com o meu. Fico dividida entre o que eu penso e o que ela deveria pensar. Dou a ela três ou quatro cabeças para usar, mas até agora ela parece não querer nenhuma. E nós brigamos até ela concordar comigo.
Tudo bem... não vejo problema nisso porque acredito que exista muito do autor em todo personagem... tanto no herói quanto no vilão; o problema começa no momento em que eu vou até aquela praia e não consigo voltar. Exagerando muito a situação, parece que eu desligo o computador e desço a escada, e quando encontro meu marido lá embaixo, quase pergunto: Quem é você??

Há muitos anos, uns trezentos mais ou menos, eu morava sozinha com meu filho em um apartamento pequeno, trabalhava na Exclam, tinha 27, 28 anos, e uma máquina de escrever. Às nove da noite o meu filho já estava no décimo sono, e eu sentava na frente da máquina. Ali, a cabecinha doente de Mercedes Gameiro (não, eu nunca fui normal) voava tão longe que custava a voltar. Posso dizer que vivi para dentro durante uns bons dois anos. Tudo o que vinha de fora daquelas teclas era irreal. Só o que estava no papel era de verdade. Fuga? Será? Se for, eu não existo, porque passei grande parte da vida fugindo, seja para o teclado, seja para o espelho ou para o travesseiro. Vivi mais vidas do que Buda em uma vida só.

Melhor parar por aqui, porque não estou com a menor vontade de ser analisada. Qualquer coisa que seja dita a respeito dessas minhas escapadas eu já sei by heart. Não esqueça que eu comecei o texto dizendo: "Sabe quando você se conhece tanto que até dói?". Então...eu sei onde você vai chegar. Já estive lá! De qualquer forma, obrigada por tentar.

Era isso. Um desabafo. Estou chorona. Estou sofrendo pela pobre e sortuda Nani Gaya. Eu sofro a indignação dela, as dúvidas dela, os impulsos dela, e não vou conseguir exorcizá-la até terminar de escrever... ou desistir.


sexta-feira, janeiro 18, 2008

Mudou-se



Alguém anota aí?
Na terceira semana de Janeiro de 2008, a louca pegou o carro e saiu dirigindo.
Acendeu um cigarro, abriu as janelas, desligou o som, dirigiu como se fosse a última coisa a fazer na vida que escolheu. A penúltima tinha sido passar a noite tentando dormir, lutando com imagens que não iam embora. Não dormiu, mal acordou, tudo o que fez foi sem fazer, sem estar ali.
A louca pegou o carro e saiu dirigindo como se fosse a última coisa. Dirigia falando. -- A dança, as vozes, os olhares, a dor. -- Falava sozinha, repetindo o diálogo que o vento na cara ajudava a criar. Chorava, ria, via os rostos no salão, a mão que tocava as costas, repetia palavras sem parar.

Na terceira semana de janeiro de 2008, a louca viu em detalhes toda a história que quer escrever. Voltou para casa, sentou em sua cadeira branca, encarou a tela gigante, a página limpa e, pela primeira vez, escolheu um novo template do Final Draft: File > New> Text documents... dez segundos de hesitação...NOVEL. E mudou-se.

Agora, alguém aí acende uma vela para que seus dedos sejam eloquentes, para que seu cérebro não falhe, para que ela não fique longe por muito tempo. Se ela se transportar completamente, talvez sua família morra de fome, seus gatos fiquem sem água, seus leitores fiquem sem blog, seus amigos fiquem sem ela.

Anota aí e acende uma vela?
Obrigada

Bom dia, flores do meu dia...



* a próxima vez que eu escrever "hesitação" errado, alguém me mata!

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Mil e Vinte e Seis Beijos

você era lindo. quase um poema.
os olhos azuis, a pele clara, os lábios perfeitos.
era um mistério.
indecifrável desejo meu.

lembra quando você encostava na parede da sua sala ?
lembra seu jeito, seus movimentos, seu olhar?
(não era você deitado, em lençóis brancos, se espreguiçando e querendo beijar?)
lembra como eu olhava para a sua boca?
será que você via? será que percebia o meu constrangimento, o meu medo,
a minha vontade?
seus lábios perfeitos olhavam pra mim e diziam coisas que você nunca disse.
seu olhar era imã e atraía o meu medo.
eu tinha medo de querer.

o tempo passou e não havia mais paredes. só eu e a sua janela.
lembra aquele chocolate?
era um beijo.
lembra aquele restaurante, toda aquela gente, a sua mão na minha perna embaixo da mesa?
era um beijo.
lembra das visitas? do meu sorriso?
eram beijos.
lembra dos abraços?
eram beijos.

e dos beijos no carro?
o vidro embaçado, o gosto, o hálito, as horas?
não foi quase nada, ainda tanto,
há tanto tempo...
com o tempo a distância e com ela esse jeito de lembrar de você:
sempre perto do meu peito, sempre acima do tempo e de tudo.
mais que um desejo ou um amigo, mais que uma lembrança qualquer.

você era lindo...quase um poema.
ainda é.





*lembra: toda palavra escrita é um beijo.




segunda-feira, janeiro 14, 2008

Coisas da vida #5


Sobre Porcos e Generais


Então eram dias tranquilos.
As coisas corriam normais: do trabalho pra casa, de casa pro trabalho, eventualmente um jantar com amigos.
Mas ela nunca mudou aquele jeito de falar mais do que a boca, palpitar em tudo o que ouvia, impor sua presença mesmo sem querer pelos corredores da empresa. O simples fato de subir as escadas já dizia a todos quem ela era e a que veio. Mas como toda garota boba, achava que era só mais uma.
Mal sabia que deixava um rastro de perfume que inebriava os probres passantes. Mal sabia que deixava um gosto de inveja na boca das mulheres que tentavam imitá-la sem sucesso, querendo só um pouco de tudo o que ela era.
Aquele dia não foi diferente. Com sua blusa curta e sua calça larga, ela subiu as escadas balançando os quadris daquele jeito que só ela, entrou na sala, sentou-se à mesa, tomou seu café, pegou o telefone e começou o dia. O sol invadia a sala com força naquele verão, e quem passava pela porta não sabia ao certo de quem era a luz.
Foi num dia assim, de sol, que ele sentou à sua frente com seu sorriso e perguntou se ela estava bem. Oras, quem a conhece sabe que esta pergunta pode mudar o mundo. Ela era incapaz de responder com poucas palavras porque sempre foi incapaz de dar pouca atenção a quem quer que fosse.
Largou a caneta, pegou um cigarro e o isqueiro, e foi interrompida pela mão dele fazendo o tipo de gentileza a que ela não estava acostumada. Seu olhar, atencioso por natureza, ganhou um brilho de curiosidade. “O que ele quer?”
Ele era brilhante, engraçado, sarcástico, falante, atraente.

Parênteses: Vamos definir atraente. Atraente não é necessariamente bonito. Atraente é charmoso, instigante, cheiroso, de olhar bom. Olhar bom a gente define outro dia, mas já vou avisando que é tudo!

Não…ele não era bonito. Era alto, magro, cabelo despenteado, figurino casual… não! mais do que casual -- não era nada usual para a época. Ele era moderno demais para viver naqueles dias. Era muito mais velho do que ela, e feio. Sim. Feio: um de seus traços mais impressionantes. Mas em meio aos assuntos interessantíssimos, às gargalhadas constantes, aos olhares incríveis, a feiura desaparecia. Ela ainda o define como o homem mais interessante que conheceu.
Pos...naquele dia, ele roubou grande parte do seu tempo, mas mesmo que ela tivesse notado, não seria possível se livrar dele. Sua companhia era a mais agradável e o tempo ao seu lado passou sem existir.
Ok…de volta à rotina: do trabalho para casa e, hoje, sem jantar com os amigos.

Ela já estava deitada, lendo debaixo das cobertas, quando o telefone tocou.

- Alo?
- Oi, sou eu, Marcos.
- Oi…como você me achou?
- Ha! Tenho informantes…
- Então?
- Então vou te buscar em meia hora, ok?
- Uh? Buscar como?
- Buscar: dirigir meu carro até a sua casa, você entra no carro, eu te levo pra jantar. Assim. Ok? Fica pronta?
- Hey! Não!…espera. Eu não vou sair com você.
- Por que?
- Não. Você tá com a Laura, ela é minha amiga e eu não vou fazer isso com ela nem de brincadeira.
- Quem disse que eu to com a Laura?
- Ela!
- Ela tá completamente louca!
- Bom…isso é entre você e ela.
- Mas eu não tenho nada com ela, juro! A gente conversa bastante e …ai! Será que ela se apaixonou?
- Sei lá Marcos…Mas eu sei que vocês têm saído e que estão meio juntos. Eu não posso fazer isso. Vai dormir, vai? Era o que eu ia fazer.
- Hm…vou não. Eu quero ir jantar com você. Fica aí que eu já te ligo. Beijo

Ela abriu novamente o livro, rindo da situação, mas antes de terminar de ler uma página o telefone voltou a tocar.

- Alo?
- Oi. Eu de novo.
- Oi.
- Pronto. Tudo resolvido.
- O que?
- Com a Laura.
- Do que você ta falando?
- Eu liguei pra ela, deixei bem claro que a gente não tem nada e nem vai ter.
- Você não fez isso por telefone!
- Ué…fiz. Agora você não precisa mais se sentir mal por jantar comigo. Vambora?
- Meu deus, você é louco! Eu não vou. O fato de você ter ligado deve ter deixado a Laura super triste. Ela jamais me perdoaria se eu saísse com você.
- Escuta…eu nunca tive nada com ela. E eu tenho o direito de sair com quem eu quiser. Ela é carente, só isso. Como eu dou atenção pra ela, ela já acha que a gente vai casar em 3 meses.
- Bom…ela me falou que vocês estão planejando comprar uma casa na Lagoa em Floripa.
- O que? Ela pirou MESMO!

Bom, eu não vou contar a história inteira, mas o fato é que ele e sua lábia incrível, fizeram-na rir muito, falar muito tempo ao telefone, e acabaram conseguindo levá-la para jantar, com a condição de ser um jantar de amigos e não um encontro.
O restaurante estava cheio e ela estava linda. Espera de 30 minutos, de pé, sem ter onde colocar as mãos, mas ainda assim ela sentia uma certa superioridade, pelo fato dele ter insistido e praticamente mendigado que ela saísse com ele. Ela estava segura, embora pouco desconcertada pelos olhares dele, e pensava sem parar a mesma coisa: “Se ele acha que vai me ganhar está enganado. Eu vim, mas ele não vai ter nada de mim.”
An hã! Tá bom.
No meio daquela multidão espremida no bar do restaurante mais concorrido da cidade, ele começou a contar uma história.
- Sabia que em Bora Bora, quando um casal resolve ficar junto, existe todo um ritual super bonito para os dois dizerem um ao outro que querem compartilhar a vida, seja casando, seja namorando?
- Ah é? Acho que existe uma certa dança do acasalamento em todo lugar.
- Não…nada assim grotesco. É lindo. Eles dão bouquês de bouganville um pro outro, porque bouganville é o símbolo da fertilidade; e tomam água juntos num pote de cerâmica em forma de porco, porque o porco é o símbolo da fartura. Assim, os dois prometem compartilhar da fertilidade e da fartura que o amor proporciona, e isso garante que eles fiquem juntos pra sempre.
- Nossa! Mas por que você lembrou disso agora?
Ali -- apertado entre todos os integrantes do concurso por uma mesa de canto, fumante, longe do vento frio da porta -- ele tirou do bolso um micro-potinho de cerâmica em forma de porco e disse:
- Eu queria tomar água aqui com você…pode ser? O bouganville murchou no carro...

...


Pelo amor dos três porquinhos, alguém chama o lobo mau! Aquilo puxou o chão com tanta força, que nossa amiga quase despencou. Quer dizer…quase? O desmoronamento instantâneo dos seus ombros naquela hora só mostrava que, lá dentro, o comando central gritava: “Descer ponte elevadiça! Recolher canhões! Desarmar catapulta!”
A Rainha rendeu-se ao exército vizinho!
E agora? E agora? Desarmada, rendida, muda, abobalhada, a Rainha perde a magestade e se joga no fosso dos crocodilos? Ela precisava de uma palavra, de um cigarro, de um copo na mão para dar um gole, alguma coisa para procurar uma reação. Nada! Lá se foi toda a teoria da amiga leal…lá se foi a mulher super resolvida de durona! Ela abaixou a cabeça sorrindo e ele foi buscar seu queixo. Comandante velho de guerra sabia que a batalha estava ganha. Com um só dedo – esforço menor do que nunca – ele levantou o rosto dela com um meio sorriso e disse.
- Acho que ouvi um sim.
Ela, ainda abalada, piscou longamente e sorriu, entregando o rosto para que o novo rei pudesse beijá-la.

End of Story.

É claro que isso só durou o tempo da mágica do potinho. Mas foram alguns meses de dias incríveis e noites interessantes. No fim, o Rei saiu para lutar por outros castelos por odem da própria Rainha, que já não tinha sede da água do porquinho. Talvez um pote maior tivesse resolvido a questão tempo. O fato é que os dois são ainda hoje gratos pelos dias em que passaram momentos deliciosos.
Por muito tempo ainda, ela foi espectadora das batalhas que ele enfrentou dali para frente. “É sempre um prazer observar as táticas de um grande General.”

domingo, janeiro 13, 2008

O Novo Rei da Escócia

Eu tenho um novo ídolo. Um novo queridinho. Um novo amor cinematográfico. Eu já tinha ficado impressionada com ele em O Último Rei da Escócia, depois vi mais alguma coisa que eu não me lembro, onde ele fazia um papel menor, e agora, depois de ver Atonement (Desejo e Reparação), rendo-me!
É James McAvoy, 29 anos, nascido em Glasgow, Escócia. Ele vem sendo indicado e premiado repetidamente desde 2005 na Inglaterra, Cannes e Estados Unidos. É indicado este ano para o Globo de Ouro -- melhor ator em filme dramático por Atonement -- e provavelmente o será para o Oscar.
Depois deste filme, estou convencida de que o mundo ganhou MESMO um grande ator. Ele não tem uma carinha bonita, está longe do padrão de beleza estabelecido, mas assim como Harrison Ford, Patrick Dempsey e mais alguns, tem cara de homem. Não se sabe se ele é bonito ou só irresistível. Parece um bom moço mas é extremamente sexy. Parece um escocês azedo mas transborda charme. Parece um menino branquela, mas uma metamorfose mágica acontece assim que se movimenta.
Na cena da bliblioteca com Keira Knightley, ele provoca um silêncio mortal no cinema lotado, que pode ser traduzido como um grande suspiro coletivo, abafado ninguém notar.
Pois então, senhoras e senhores, não percam um só gesto de James McAvoy. Vale a pena!

Fora isso, Atonement é um filme belíssimo, com uma história surpreendente, sensível, que me levou a lágrimas sem fim e silêncio pós-filme. A trilha é genial, os atores irrepreensíveis (sem falar num casting farto em figuras ultra fotografáveis), figurino e reconstituição de época perfeitos, cenário excelente, e um filmaking impecável. Cinemão com cara de filme francês só que com tudo na dose exata. O filme foi indicado a 7 Globos de Ouro e tem mais 5 prêmios e 22 indicações around the world.
Direção de Joe Wright, com Vanessa Redgrave, Keira Knightley, James McAvoy e uma garota incrível - Saoirse Ronan.

**Os últimos dois filmes que me deixaram com inveja de roteirista:
Read my Lips (sur mès levres), com o genial feio-sujinho-cool: Vincent Cassel
A Guide to Recognizing Your Saints (Santos e Demônios), com mais um ator genial: Shia LaBeouf - de Transformers, Indiana Jones IV e Disturbia.

Atenção: Toda esta intelectualidade cinematográfica se auto-destruirá em cinco segundos.
5
4
3
2
BOOM!

sexta-feira, janeiro 11, 2008

On the Phone


Ela: Alô?
Ele: Quem fala?
Ela: Eu. Quem fala?
Ele: Você sabe...
Ela: Nem.
Ele: Vai ter que adivinhar...
Ela: Ah. você é o Brad Pitt me dizendo que tá exausto da Angelina e daquelas crianças todas, e quer que eu fuja com você pra Fidji.
Ele: Hmmm...não.
Ela: Não? Droga!
Ele: Tenta de novo...
Ela: Assim: se você não disser logo, eu desligo.
Ele: Você me pediu...
Ela: Pedi o que?
Ele: "Canta pra mim....?"
Ela: hmm...
Ele: Depois me encontrou num sonho...dançou comigo...uma praia...o seu cabelo...
Ela: Não foi na praia.
Ele: Claro que foi!
Ela: Não...era um restaurante, um clube, alguma coisa assim.
Ele: Eu tava com você na praia.
Ela: Bem feito! Então você não sabe nada do sonho.
Ele: Me conta.
Ela: Nah!...não aconteceu nada.
Ele: Conta.
Ela: Pra que?
Ele: Eu quero saber o que você sonhou.
Ela: Aliás...como você sabia o meu telefone?
Ele: Você me deu.
Ela: No sonho? Ta doido?
Ele: Não...no e-mail. Você mandou pelo telefone.
Ela. O que? Ele manda o número? Eu não sabia! Gente! Preciso mudar isso...
Ele: Obrigado...
Ela: Não! Ainda bem que eu não mudei ainda...senão...ah...você entendeu!
Ele: Quer que eu desligue?
Ela: Nunca!
Ele: Você sabia que eu ia ligar. No sonho eu liguei.
Ela: Você é do tipo que liga depois?
Ele: Depois do sonho? Claro!
Ela: hahaha!
Ele: Sabe que foi na mesma noite?
Ela: O que?
Ele: O sonho. Eu também sonhei!
Ela: Você nem dorme quando eu estou dormindo...
Ele: Então você não sabe onde eu estou?
Ela: Como assim?
Ele: Em Buenos Aires.
Ela: hm...so close, yet so far!
Ele: Vou anotar.
Ela: O que?
Ele: So Close, Yet So Far. Nome de música.
Ela: Hahahahha! Vai fazer uma pra mim?
Ele: Vou. Contando aquele beijo.
Ela: Que beijo?
Ele: O beijo. Eu te beijei...
Ela: Mentira.
Ele: Na praia. Lembra?
Ela: Não foi na praia! Foi na mesa, no canto do restaurante!
Ele: Viu como teve beijo?
Ela: Hahahahhaha! Você é péssimo.
Ele: Eu sou ótimo! Com você, sou perfeito!
Ela: Ai que fraco...cantada de tiozão...
Ele: Já somos tiozões.
Ela: Mesmo assim...Foi fraquinho...
Ele: Lembra do elevador? Aquilo não foi fraquinho.
Ela: Elevador? Não tinha elevador!
Ele: Como não? A hora que eu abri a sua blusa? Foi no elevador.
Ela: Claro que não! Foi na porta do quarto!
Ele: Ha! Bingo!
Ela: Ai! O que?
Ele: Eu abri a blusa. Viu? Eu sei!
Ela: Eu não disse isso.
Ele: Mas eu abri, eu lembro!
Ela: Pára...você não sonhou nada!
Ele: Tá...não precisa contar a parte do champagne...
Ela: ...
Ele: Nossa...se você contar, acho que eu morro aqui.
Ela: ...
Ele: A idéia foi sua...aí, desculpa...não tinha como parar.
Ela: ...
Ele: A gente precisava de água, teve que ir pro chuveiro...ainda dá pra sentir o cheiro da champagne, misturado com com a água quente do chuveiro...
Ela: Pára!
Ele: Desculpa. É mentira?
Ela: Não! Não....mas não tinha como você saber isso. Eu só contei que sonhei com você!
Ele: Eu disse: eu também sonhei.
Ela: Como?
Ele: Não sei, mas foi lindo! E foi uma delícia abrir meu e-mail depois desses dias todos pensando no sonho, e saber que você sonhou a mesma coisa. E descobrir o número do seu telefone jogado lá, foi o máximo!
Ela: ai...
Ele: o que?
Ela: Fiquei vermelha.
Ele: Por que? Porque eu sei?
Ela: É...
Ele: Então eu vou deixar você mais vermelha.
Ela: Impossível.
Ele: Eu chego amanhã.
Ela: Onde?
Ele: At you door, babe.
Ela: Ahn?
Ele: Meu vôo faz escala aí. Posso pedir pra você ir me ver?
Ela: Não sei...será? Tem certeza?!
Ele: Muita.
Ela: Vou ficar mais vermelha.
Ele: Hahaha! Que linda! E eu quero champagne...
Ela: Pára...
Ele: E chuveiro.
Ela: Pára! Não é porque a gente teve um sonho coletivo que vai acontecer alguma coisa entre a gente...
Ele: Ah, claro! Não é porque a gente sonhou a mesma coisa no mesmo dia...Afinal, acontece com todo mundo!
Ela: Sei lá se acontece com os outros, mas mesmo assim. A gente não vai ter nada por causa disso.
Ele: Isso foi especial. Quer dizer alguma coisa.
Ela: Não. Foi só um sonho.
Ele: A gente é especial.
Ela: Não.
Ele: Há quanto tempo a gente se conhece?
Ela: Eu nunca vi você.
Ele: Há quanto tempo a gente se conhece?
Ela: A gente não se conhece...
Ele: Faz muito tempo que a gente se conhece.
Ela: Mas é diferente...
Ele: Muitos anos. E eu não quero perder mais nenhum.
Ela: Mas a gente nem se conhece...
Ele: Até amanhã.
Ela: Não!
Ele: At your door.
Ela: Não faz isso...
Ele: Eu ligo.
Ela: Não!
Ele: Não existe essa hipótese. Dorme bem...sonha comigo.
Ela: Eu to sonhando.
Ele: Eu sei. É coletivo...


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terça-feira, janeiro 08, 2008

Solução


Assim não dá!
Eu já terminei a 6a. temporada de 24 horas. Estou vendo Six Feet Under e Weeds, morrendo de medo de ver todas as temporadas rápido demais. Parei a segunda temporada de Heroes no 11º episódio e não tem como baixar o 12º porque ele nunca foi ao ar. E agora?
Aqui em casa, já estávamos preparando as toneladas de pipoca para a Red Carpet Season que ia começar...domingo é dia de Golden Globe, oba!!! Era!
A greve do WGA (Writers Guild of America) está começando a interferir na minha vida. Como assim cancelaram o Golden Globe? Que graça tem saber dos vencedores pelo jornal, ou pela internet, sem ver homenagens fervorosas, penteados pavorosos e nossos ídolos subindo no palco? E o Oscar, o Emmy? Vão cancelar também? Assim não dá!
Uma por uma, as séries de TV foram sendo canceladas por falta de roteiristas. Depois os Talk Shows (parece que o Jay Leno voltou pro ar porque violou todas as normas do sindicato e todas as exigências da greve. Nenhum roteirista sindicalizado trabalha pra ele?) E agora as festas de prêmio? Como? Como? Como? Como eu vou sobreviver? Já é difícil esperar uma semana para baixar um episódio de Heroes, como vai ser esperar para sempre? Já foi terrível esperar alguns meses pelo lançamento da 6a. temporada de 24 horas. Como vai ser esperar mais de um ano pela sétima? E o que os americanos vão ver na TV se essa greve não acabar? Barrinhas coloridas ao som de "píiiiiiiiii"?

Então, conversando com o Cláudio, surgiu uma idéia para salvar a televisão e o cinema mundiais. Ha! Não contavam com a nossa astúcia!!
O plano é o seguinte: vamos escrever para as principais emissoras de canal aberto sugerindo uma programação de emergência: Segundas-feiras, no prime time, Os Maias. Terça, a Casa das Sete Mulheres. Quarta, Minha Nada Mole Vida. Quinta, Os Normais. Sexta, A Muralha, e sábado - a grande surpresa: Zorra Total! Eeeeee!
Senhoras e senhores, os americanos vão assistir a séries brasileiras - legendadas para não perder a incrível interpretação dos atores (principalmente da Camila Morgado).
Para o cinema o plano é mais simples: Festival Xuxa nas principais redes de Cinema: Fuscão Preto, O Trapalhão na Arca de Noé, Super Xuxa contra Baixo Astral, Lua de Cristal, Xuxa Popstar, Xuxa Requebra...e por aí vai.
Nos cinemas alternativos, só cults: Amor estranho Amor, Dama do Lotação, Rio Babilônia, Festival David Cardoso, e O Magnata (obra prima do Chorão). Sessão extra, segundas as 10 da noite, só para atores: OLGA!

Pronto! tudo resolvido! Tenho certeza que, em tempo record, os grandes estúdio vão entender por que é urgente acatar às exigências do sindicato e dar tudo o que os roteiristas precisam - e em dobro - para que voltem ao trabalho ontem antes do almoço.
O único mistério que eles, com certeza, não serão capazes de decifrar, é por que quando um personagem de mini-série brasileira envelhece, a maquiagem dele é tão fake. Mas ok...talvez eles também finjam que não repararam, como a gente faz aqui há séculos.

Agora, relendo o que escrevi, eu acho que uma carta não vai resolver. Devemos invadir as emissoras e os cinemas e simplesmente colocar as bombas no ar!
E relendo mais uma vez, decidi me esconder por uns dias porque estou prevendo a quantidade de comentários que serão postados me chamando de preconceituosa, vendida, americanizada, etc etc etc...ai meu saquinho! Afinal...as mini-séries e filmes acima citados são verdadeiras obras primas. Outra vez: ai meu saquinho!


Volta WGA!!!!!!

***Quem me xingar está condenado a assistir A Muralha 3 vezes! Se mesmo assim não se comportar, vai receber em casa um DVD da obra do Gerald Thomas!


segunda-feira, janeiro 07, 2008

domingo, janeiro 06, 2008

Sinais de Ano Novo

Top Ten fatos que provam que o ano é novo e já começou:

10. Você viu fogos de artifício, pelo menos na TV
9. Misteriosamente, do nada, alguém canta um samba-enredo
8. Você ou alguém da sua família exibe um bronzeado mesmo que discreto
7. Big Brother? Já?
6. Muita gente nos shoppings, mas todas com sacolas amassadas, trocando os presentes
5. Contas com vencimento em janeiro
4. Você subiu na balança e ela resolveu inventar dois números a mais
3. Você foi trabalhar mas seu chefe está de férias
2. preencher um cheque parece uma tarefa difícil
1. Bundas e samba em vinhetas de TV


Ok...texto sem graça! Mas foi só um favorzinho que eu tinha que fazer pra Rafa Pedro que me mandou esse scrap: Rafa:Escreve um texto novo, coloca um velho que eu não tenha lido, qualquer coisa no caixa pra fazer a internet valer a pena!
Ta aí, Rafa...qualquer coisa pra você. Feliz ano novo!