quinta-feira, dezembro 04, 2014

_desejos

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Fui dormir às três da manhã.
Jurava que dormiria até as dez...pedi por isso, precisava disso.
Mas não aconteceu. Eram quase sete quando abri os olhos e precisei salvar em algum lugar um pensamento: os desejos de uma vida, a alguém que acaba de nascer.
O pensamento apenas me veio. Talvez para a Aurora, porque desejo uma vida intensa para ela...porque é assim que é bom viver. Ou Emily e Hayley, que também merecem tudo de mais apaixonante no universo.
De qualquer forma, este deveria ser o nosso desejo para qualquer vida que comece.
E era assim:

Que seu diário tenha eventuais manchas de lágrimas e algumas gotas de sangue. Que haja nele coraçōes pintados de carmim e negro, alguns partidos, outros impiedosamente flexados. Que as músicas nele guardadas sejam belas, mas tristes, e falem de dor e amor eterno. E que as fotos estejam amassadas de raiva...e beijadas de paixão.
Desejo dias intensos, anos realmente novos, recomeços e amores.
Pedras estrategicamente colocadas no caminho, e cachoeiras refrescantes.
Jardins, muitos...dos selvagens, com portões trancados e muros para pular.
E amoras silvestres, colhidas com picadas de abelha seguidas de beijos curativos.
Que sua vida seja escrita com a narrativa de um romance bom, e mereça, acima de tudo, ser chamada de biografia.



segunda-feira, novembro 24, 2014

quarta-feira, novembro 19, 2014

_ in the bunker

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Era quase verão no hemisfério sul, mas onde ela estava era impossível perceber as estações pelo cheiro, a não ser a primavera. Esta, ela sentiria até do fundo de um bunker, mesmo que o mundo tivesse acabado há décadas. De algum jeito, setembro traria a paixão e ela saberia. Paixão por qualquer coisa: uma saudade, uma vontade de escrever, uma mania nova. Sempre assim, ano sim ano não, até o ano do fim. E foi no ano do fim que o universo dela se fechou.
Pensando bem, agora sim ela vivia no fundo daquele bunker... Lacrada, vendo a paisagem por um telescópio, deixando de sonhar com flores porque elas não existiam. Não era ruim....Era confortável, era seguro, era feliz, mas não havia mais setembros nem primaveras. Anos e anos sem música e sem uma única folha de papel escrita.
Nem uma palavra. Nem um perfume. Nenhum setembro.

Numa manhã igual às outras, o cheiro no bunker mudou.
Jasmin?
Não. Era uma mistura de novembro e whisky, com um pouco de blues...
O bunker inteiro estremeceu quando ela quis abrir aquela porta selada há tantos anos.

E bastou um sim.
Será pra sempre, ou até quarta-feira?
Que seja até um dia que ninguém vai contar, desde que haja música e páginas escritas.