terça-feira, março 30, 2010

_depoimento impagável


Eu quase nunca entro no Orkut, mas hoje, ao adicionar uma pessoa resolvi ver o que ela veria ao me adicionar. Dei uma passada naquele meu profile super bobo, olhei umas fotos e fui para os depoimentos. Na segunda página, me peguei gargalhando ao ler isso.


"Conheci a Mercedes como Melissa Zimmermann. Foi um mero acaso até eu descobrir que na verdade ela se chama Athina, uma milionária. Me apaixonei na hora.

Depois de conhece-la melhor, hoje tenho medo. Torço pra morrer sendo amigo dela... Se o Google fizer uma pesquisa e descobrir qual é o IP que mais faz pesquisas na internet, ele vai descobrir que é o de uma casa no Brasil que está sendo invadida por carrapatos Micuim e de Capivaras Silvestres. Onde a chefe de família precisa conciliar pegar a filha no colegio e matar uma cobra coral na cozinha. Bem que eu disse que não era facil morar bem na beira da Marginal Pinheiros.

Athina veio ainda criança do espaço. Seu Pai, milionario, comprou um disco voador em Pleide e ela veio sem querer entre os bancos... a primeira visão de sua mãe terraquea foi dela brincando com caca intergalática. Nesse momento nossos destinos se cruzaram para sempre: ela é a fralda, eu a caca.


Melissa é Athina, Athina é Mercedes. E Mercedes é da minha laia pra caralho!
"


Ah! que delícia de história!
Melissa Zimmerman foi uma fake que eu criei sei lá pra que. Provavelmente para fuçar algum perfil sem ser notada. Aí vou dar uma olhada nos e-mails de Melissa, sabendo que nunca haveria nada por lá, e TA DAAA! Uma mensagem. Oh! Como assim? E lá estava PL: "Nossa...quanto tempo!"
Fiquei com peninha de não responder...e respondi alguma bobagem, dizendo principalmente que eu era a Melissa errada, mas era um prazer anyway.
Isso virou uma sequência de e-mails engraçados, inteligentes, bobos e divertidos. Acabamos nos adicionando no Orkut, depois no msn, rindo até de madrugada, compartilhando bobagens engraçadas... Hoje PL é meu amigo, amigaço do meu filho, prometido em casamento para a minha filha (inner joke dos dois) e uma pessoa mais que querida.

Ah...e sem dúvida...Peele Lemos é super da minha laia!


Bom dia.

domingo, março 28, 2010

_sobre a fidelidade

É um mega dramalhão. A gente escuta mulheres, desde uma tenra idade, dizendo que jamais perdoariam uma traição. Homens, desde pequenos prometendo sangue em caso de infidelidade.
Aí eu, que sou meio que uma espectadora metida do comportamento alheio, fico aqui remoendo os meus botõezinhos...E se a gente pensasse direito?

Em primeiro lugar, como disse muito bem a Alice Salles, "traição" é a palavra errada para o caso.
Traição é revelar informação secreta. É emboscada desleal. Não deixa de ser um tipo de infidelidade, mas não sei...acho "traição" meio demais. Então vamos aos fatos (ou quase...vamos à minha usual elucubração sobre os fatos).

Para começo de conversa, a fidelidade vai contra todos os princípios da natureza humana. Já falei isso mais vezes do que deveria, mas é o que acredito. Na origem, o homem foi feito para inseminar tantas mulheres quantas passarem na sua frente. A mulher foi feita para encontrar um macho alpha por ano e com ele fazer um filho. Ponto. Depois nasceu a ética e com ela a mentirama.
Falando eticamente, todos nós deveríamos ser monogâmicos e monoteístas e negar toda a diversidade que esse mundo de meu deus oferece. Mas além de prometermos para nós mesmos que somos capazes de afogar a natureza e fingir que ela não existe, ainda transformamos tudo o que é natural em pecado...e fingimos que rezamos para um Deus só. É...um deus só de cada vez, se a gente for contar todos os santos e orixás, e amuletos, e orações alternativas no decorrer da vida.
Pós-ética, o que exatamente faz com que duas pessoas se casem? Amor, certo? Ou pelo menos deveria ser. Então, duas pessoas se amam, mas o câncer dessa sociedade é que as pessoas não se dão conta de que isso - esse amor - e só isso, as une. Nada mais une duas pessoas de verdade. Então, baseado nisso, pode-se dizer que o compromisso entre duas pessoas é afetivo. Sim, não tem papel que segure, não tem filho que segure: casamento é um compromisso AFETIVO e por isso acaba quando acaba o afeto, não interessa se, no papel, as pessoas continuam casadas ou não.

Então estas pessoas se amam de verdade, mas um dia uma delas conhece outro alguém que a atrai, que a faz sentir como a lá de casa não faz mais, ou não está fazendo neste momento, não por culpa dela, talvez por sua culpa, ou da vida, ou dos dois...mas o fato é que "ai! a maldita natureza quando bate, bate forte". E há um deslize. Aí é que entra a minha opinião torta.
O que é infidelidade? Ceder à tentação, ou ser pego? Porque alguém só é oficialmente infiel quando é pego no ato, quando conta tudo, quando a amiga bacana vem e o entrega, ou quando a outra tem um pití e liga para casa do cara para contar tudo para mulher dele. A partir deste momento, o pobre incauto que acabou de cair da árvore e não é capaz de controlar o próprio bim-bim é oficialmente infiel e vai ter que aguentar o ataque da mulher.
A mesma coisa vale no caso inverso.
Então...talvez a traição seja o ato da amiga, ou da outra. Ha!
É...porque você estaria vivendo muito bem, obrigada, se a sua amiga não fosse fofoqueira. Agora você vive com uma pensão miserável, os almoços de domingo ainda são na sua casa, e é você quem fica com as crianças. Então...me conta! Quem traiu quem? A amiga.

Eu francamente não vou querer saber se um dia meu marido me trair. Ele que não venha me contar, porque excesso de sinceridade, meu bem, ou é falta de educação ou crueldade. Deus me livre! Me deixe na ignorância.

Eu não defendo a infidelidade. De jeito nenhum. O que eu defendo é a paz mundial. Pensa: aquelas duas pessoas se amam de verdade. Elas têm filhos. Elas construíram uma história juntos. Quem é você, cara pálida, para entrar no meio disso com uma bomba e espalhar dor por todos os lados? Quer fazer uma boa ação? Chama o traidor para conversar, não o traído. Mas saiba que ele vai falar para sua amiga que você andou dando em cima dele e, babau amizade. Juro.
Então eu acho que o problema da infidelidade não é a infidelidade em si. É a boca grande das pessoas. Juro para você que é isso que eu penso. Errar é humano. Viver em paz é uma raridade. Ser feliz é - às vezes - fechar os olhos e fingir que não viu certas coisas.
Você acha que seu marido anda dando umas voltinhas por aí? Quem sabe você para de ser chata, para de regular mixaria e dá uma canseira nele todos os dias antes de sair para o trabalho...duvido que sobre alguma energia para ele transar com outra. Seria legal também se você parasse de reclamar dos amigos dele, da mãe dele, das manias dele. Tudo isso estava no pacote quando você escolheu esse pobre coitado para viver com você para sempre.
Ah...é a sua mulher que anda estranha? Tá mais magra, toda arrumada, parece mais sexy, sorrindo mais? É...amigo...tem alguém rondando ali e fazendo com que ela se sinta mais bonita. Melhor você começar a fazer isso antes que a vaca vá pro brejo...porque eu vou te contar um segredo: mulher luta contra a tentação com todas as forças, mas se for vencida, ela se joga! Se ela for para cama com outro é porque gosta dele. Se ela gostar muito dele, você passa a ser o outro. Então flores hoje? Uma mensaginha de texto mais picante? Namorar, lembra como era? Acho bom.

De qualquer maneira acho isso sim: infiel é quem é pego. Então seguem três conselhos
1. Não traia. Tente melhorar o que você tem em casa, porque dificilmente você vai ter coisa melhor. (Dizem que a vida de solteiro anda complicada hoje em dia)
2. Quer fazer? Faz direito e não conta nem pro espelho.
3. Para de ser idiota que você não quer perder a pessoas que escolheu. (ah quer? Então quem você está enganando?)

Boa semana para você.
:)

quarta-feira, março 24, 2010

_OH MY GOD moments

Não mente...você já pagou micos homéricos nessa vida de meu deus e, mesmo que você se recuse a admitir, a gente sabe. Acho até que a gente viu.
Há momentos em que você duvida da existência de um Deus que te protege, ou um anjo da guarda que, pelo amor de deus, se existisse deveria estar acordado! Ele é pago pra isso: pra evitar que você passe por um momento lastimável que, pós-terceiro milênio, pode ter proporções estratosféricas com o advento da câmera-digital-na-mão-de-qualquer-imbecil.
(As lojas deviam ter psicólogos elaborando testes de imbecilidade em possíveis compradores de celular com câmera, ou mini-câmeras digitais baratinhas e discretas)
Anyway...alguns desses meus momentos eu tenho vergonha de lembrar. Talvez ninguém lembre, mas eu não consigo esquecer.
A eles.

1
. Quando: aos 8 anos
. Onde: na casa da minha tia torta, que tinha uma piscina com apenas 30 cm de água.
. Testemunhas: minha prima e o sobrinho da tia torta - por quem eu era apaixonada
. Fato: Estávamos vestidos com roupas normais, conversando em pé dentro da psicina., água na canela.
Minha prima era magrinha e delicadinha, por consequência, tinha o poder de brincar com os meninos fazendo as mesmas coisas que eles. Ela também tinha vários irmãos mais velhos, o que fazia dela um tanto mais esperta do que eu em quase todos os assuntos - menos em se sentir sem sal e sem atrativos...porque eu era expert nisso.
Sabe deus qual era o assunto, quando eu resolvi fazer uma super demonstração de balet. Fiz todos olharem para mim e soltei uma frase que ainda lembro:
- Olha! olha! Aquelas mulheres assim ó!
Fiz uma pirueta e arrematei com uma grande e fantástica elevação de perna.
Adivinha? Escorreguei na piscina, caí de bunda e bati a cabeça. Quando abri os olhos, minha prima e o garoto que eu gostava estavam se matando de rir da minha cara.

2
. Quando: No mesmo dia
. Onde: no mesmo lugar
. Testemunhas: as mesmas
Depois das risadinhas, eu estava arrasada. A conversa mudou. Os dois, super espertos sabedores de todos os assuntos que eu não fazia a menor idéia, falavam coisas que pareciam grego e davam risadinhas que despertavam os meus instintos assassinos e suicidas ao mesmo tempo.
Quando de repente os dois me cercam no canto da psicina (eu com a roupa molhada, humilhada, arrasada) e ela pergunta de sopetão:
- Você é virgem? É sim, eu sei que é. Hahaahha! (risada malvadona)
Eu entrei em pânico, olhei nos olhos dele procurando por abrigo...mas não encontrei nada além do mesmo olhar acusador dela. Pânico! Pânico! Que diabo é isso? Virgem? Socorro, alguém me chama pra almoçar! E respondi:
- Claro que não, sua burra!

Oh deus...ainda quando lembro disso meu estômago vira. Juro. Se eu não tinha perdido o menino porque era desajeitada e tonga, perdi por que não era virgem, ou porque era bobinha demais pra saber que era. Oh my god moment.

3
. Quando: Algum momento entre 1986 e 1989
. Onde: No restaurante da minha amiga Joana
. Testemunhas: Meio mercado publicitário
Alguém teve a idéia de fazer uma festa brega. O restaurante seria fechado para nós. Por uma necessidade que eu não entendo, tínhamos que vestir a coisa mais brega já vista e comparecer ao restaurante da Joana na hora marcada para rirmos uns da cara dos outros. Oba!

. Figurino: colant verde água de lycra brilhante, com ziper na frente. Meias combinando, da mesma lycra e mesma cor. Jaqueta de couro preta, curta na altura do busto. Muitas echarpes indianas de todas as cores, penduradas no pescoço. Sandália dourada de plataforma, estilo Carmen Miranda (que hoje seria chiquérrima). Peruca castanha canecalon (?) até a cintura. Chapéu de palha com arranjo de flores. Sombra roxa. Batom rosa pink. Isso sou eu.
. Fato: Fiz uma entrada espetacular! Todo o restaurante olhou para a porta quando eu entrei. Mas o restaurante estava funcionando normalmente.
. A parte boa: ninguém me reconheceu...rolou até um concurso para ver quem seria o primeiro a dizer quem eu era. De qualquer forma...Oh my god moment.


4
. Quando: 2007
. Onde: Coliseo, Roma.
. Testemunhas: minha filha e a torcida do Flamengo
. Fato: Andava eu deslumbrada pelas ruínas do Coliseo, admirando a grandeza e tentando sentir a energia histórica do lugar. O dia estava lindo e o vento quente de verão soprava forte, aliviando um pouco o ardor do sol tórrido na pele.
Eis que de repente, sinto um tapa na nuca. Me assustei, olhei para trás, não havia nada.
Mais três passos e outro tapa na nuca. Foi aí que me dei conta de que, quem estava batendo sem parar na minha nuca era a barra do meu vestido.
AH! Me tira daqui!
Eu estava há muito tempo aproveitando o ventinho gostoso nas pernas...e etc...sem perceber que estava dando um espetáculo pornô em pleno Coliseo. Sim sim...vestido na nuca. Você consegue imaginar. Tinha um monte de turista? Claro! era o Coliseo!
Logo atrás de mim, duas meninas se matavam de rir...os outro eu não sei, porque mergulhei na minha auto-defesa-instantânea - leia-se fingi que estava sozinha no deserto - e continuei apreciando a paisagem. Master oh my god moment.

Essa é a minha vida. Tem muito mais...mas eu conto mais tarde.
Bom dia flor do dia.

sexta-feira, março 12, 2010

_pensamentos negros

Linda Hamilton - Sarah Connor em Terminator II

Eu tenho pensamentos obscuros. Dark mesmo.
Fora meus sonhos acordada e meus delírios sobre histórias de amor com final feliz, cheias de romance e frases que ninguém ousaria dizer, um lado da minha mente é dark as dark can be.

Nos momentos dark eu penso em assassinatos horrorosos, em quase sequestros, enchentes, vendavais, traço planos completos de sobrevivência, penso nas coisas que eu devia estar aprendendo enquanto da tempo. Depois passa. Depois eu respiro fundo e solto o ar pronunciando a frase: "credo que horror!", e passa. Mas não posso dizer que isso só acontece às vezes. Isso acontece muito.
A primeira vez que me assustei com a minha cabeça foi quando estava escrevendo uma história para um roteiro e resolvi tomar um Red Bull de madrugada. Uma porta se abriu e eu disparei a escrever uma sequência que jamais pensei que fosse capaz. Toda uma tática de assalto, violência, bandidos falando com uma realidade que não sei de onde tirei, tiroteio, carcereiro morto, uma fuga fenomenal de uma delegacia, com um plano perfeito, na noite do ataque do PCC.
Quando terminei, foi como se a entidade tivesse ido embora. Li as 30 páginas, de cabelo em pé, assustada com o que havia saído da minha cabeça.
Mas isso não era tão novo. Eu sempre tive visões assustadoras.
De um tempo para cá eu penso no fim do mundo e no que a gente deveria saber para sobreviver a ele. Não que eu acredite que o mundo vai acabar como dizem os profetas do fim, mas anyway...

Em primeiro lugar, preciso aprender a fazer fogo sem meu zippo ou uma caixa de fósforo por perto. Eu já sou a pessoa que faz fogo na minha casa, mas ainda tenho dificuldade com a ausência de pólvora ou combustível. Segundo, preciso ter uma arma. Ou "umas". Não vai ser fácil sobreviver a todas as pessoas que vão querer roubar o que a gente tem...as pessoas vão matar por uma caixa de fósforos ou uma lata de salsicha. Ou bem pior: por sexo. Essa é uma das partes que me apavora...penso em como proteger a minha filha, e meu estômago revira quinze vezes em meio segundo, só por admitir que o pensamento passe de raspão por mim.
Também preciso proteger o meu marido dele mesmo, porque ele é criança de apartamento e não sabe nada da vida sem o conforto da tecnologia, sem falar nas aulas de física que ele matou na adolescência e hoje fazem falta em situações simples como passar uma mesa por uma porta, ou acreditar que um secador de cabelo ligado numa banheira cheia possa matar alguém. (Desculpa amor, não resisti.)

Então... fogo e armas. Preciso aprender a caçar e descarnar um animal. Saber que bicho pode me matar e qual pode ser comido. Que plantas são venenosas e quais podem me curar de alguma nhaca. O que pode substituir um antibiótico? e um antinflamatório?
Preciso de um carro de verdade. De verdade, leia-se um carro mecânico, sem perfumarias eletrônicas, sem computador de bordo, sem frescuras de segurança. Um carro que funcione mesmo que tenha um cabide de lavanderia no lugar do cabo do acelerador. Que não páre quando o airbag estoura. Que ande com gasolina, etanol, caldo de cana, whisky, elixir paregórico.
E preciso de uma bússola, um mapa impermeável, um tênis que dure pra sempre, um binóculo que funcione decentemente e não pese cinco quilos. Preciso de uma pá.

E eu sei onde me esconder se alguém chegar na minha casa hoje. Tem um lugar para enchente, um para ameaças humanas, um para proteção temporária...E na casa que eu estou construindo tem um mini bunker. Claro que não foi construído para isso, mas dá para passar uns dias.
Eu sei...isso é loucura. Será?
Há séculos alguém inventou a chave, a arma, a polícia, e a gente sabe que deve trancar a casa antes de dormir. Todo mundo tem portão e guarda noturno. Mas a questão é que onde eu moro as casas não têm muros nem portões. A maioria tem zero segurança, confiando na portaria cheia de meganhas armados, câmeras de segurança, rádios e carros de ronda. Mas e se um dia dá uma caca generalizada? Ninguém está mais ao deus dará do que nós, pessoas dentro dos condomínios, sem trancas e sem grades nas janelas.
O que eu sei é que esses pensamentos me incomodam e, mesmo ponderando, a única frase que me passa pela cabeça quando avalio tudo e me acho louca, é: Noé construiu a arca ANTES da chuva.
Pois é. Não custa...
Sei lá.

...


O dia amanheceu mais triste.



*charge de Marcos Miller - homenagem ao Glauco - http://universohq.blogspot.com/

segunda-feira, março 08, 2010

_os soutiens que perdemos no incêndio



Dia Internacional da Mulher. Como foi que ganhamos um dia?

Acho que para responder a essa pergunta, temos que voltar no tempo. Não...não no tempo em que nossas ancestrais recentes foram para as ruas queimar seus soutiens de enchimento, muito mais lá atrás.

Tudo começou debaixo daquela árvore.
Nós demos trela para uma serpente falante e ela nos convenceu de que o conhecimento era melhor do que a vidinha besta que estávamos levando como um simples pedaço de costela customizado. Pois bem, usando nossos artifícios primitivos, seduzimos o rapaz aquele que nos forneceu sua costelinha e fomos embora do Paraíso.
Com ele, claro, porque nós tínhamos o cérebro, mas ele tinha a força, logo éramos mais espertas, logo alguém tinha que fazer o trabalho sujo. Básico.
Mas sabe como é homem...tivemos que pagar pelos serviços prestados, com a moeda disponível na época, o que fez com que acabássemos enchendo esse planeta de filhos. E filhas.
Adão era desocupado e tinha energia sobrando. Muito sexo = muito filho, o que resultou em um número de filhos homens maior do que filhas mulheres, e, sabe deus como, eles resolveram que nós precisávamos da sua força mais do que eles de nossos cérebros, e se rebelaram.

Ai ai ai...aí um deles que era mais inteligentinho - acho que era gay - resolveu dar um trucão. Eva já estava velhinha, entediada, coitada, já não prestava mais muita atenção a nada, e deixou passar a historinha que seu descendente inventou.
Well, o rapazinho saiu falando para todo mundo que Deus - esse foi o nome que ele deu para a cientista que usou seu próprio DNA (costela) para criar um clone que saiu errado a quem chamou de Adão, e numa segunda tentativa, usou o moço para fazer um clone feminino - Deus era um homem, ele disse.

No início Eva até pensou: "Esse menino é retardado. Quem vai acreditar numa barbaridade dessas?"
Pobre Eva, morreu sem saber que a mentirinha colou. Aff.
Agora imagina...um monte de troglodita cheio de músculos com nenhum cérebro, se achando poderoso - imagem e semelhança do criador, etc etc. Boring! Boring e dolorido, porque eles eram fortes.
"Ah, não vai obedecer? Hoje eu não caço para você."
"Quer ficar com o outro olho roxo?"

Mais tarde um pouco, um outro maluco desceu de uma montanha com algumas tábuas de pedra dizendo que Deus - aquela? Duvido! - ditou suas regras e quem não obedecesse iria para um tipo de sala de castigo eterno sem direito a ver a luz jamais outra vez; e nomeou seus comandantes - todos homens.
Bom, nós mulheres nunca tivemos muita paciência, então rapidinho descobrimos que fingir submissão era mais barato do que um motim. Com a dose certa de carinho teríamos casa, comida e roupa lavada (mais ou menos), nossos filhos seriam aceitos mesmo quando fossem daquele bonitão que passou pela aldeia ano passado, e um decote mais ousado poderia nos tirar daquele buraco direto para a tenda do Bam Bam Bam, onde a comida era mais farta, as roupas mais quentes e, principalmente, ninguém ousava invadir.
Essas coisas que hoje tiram comerciais do ar, eram bem úteis naquela época.

Durante milênios foi assim. Mulheres se fazendo de burrinhas e frágeis para se agasalhar, comer melhor, e ter alguém que trabalhasse para elas. Até que...parece que Eva reencarnou.
E reencarnou burra!
Foi quando a mulher resolveu que não podia mais ser assim. O tempo passou, o mundo evoluiu, a mulher já não precisava mais dos músculos do homem e a coisa desandou. A essa altura a sociedade havia se organizado de forma que o homem detinha todo e qualquer poder, enquanto a mulher mantinha-se no aconchego do lar sendo sustentada, promovendo saraus e lendo bons livros, sem poder dar palpite em nada.
Ah a ganância feminina...até o aconchego do lar estava ok. O problema foi o "não dar palpite". Como assim?

Uma geração de Evas rebelou-se e resolveu que tinha que votar. Que não era certo que os homens pudessem escolher aqueles que iriam decidir o futuro de seus rebentos e criar leis que não eram lá muito justas com elas. Mas era só isso Dona Eva. Só isso! O resto estava dando certinho.
Mas não...algumas Evas resolveram querer mais. Queriam ser iguais aos homens, como se fosse possível reverter a natureza - nunca seríamos tão fortes, nem eles tão lindos e brilhantes. Isso a essa altura queria dizer: trabalhar, ganhar dinheiro, ter poder de decisão na vida pública de seus países, ser presidentes, primeiros ministros, ficar mais feias, e outras cozitas más, nem todas dignas.
Então soutiens foram queimados. Sim, soutiens, símbolo máximo do cativeiro feminino, o soutien pagou o pato.
E as gerações futuras também.

O que estava implícito na revolta das Evas era que elas queriam sua dignidade de volta. Nada de homem mandando, nada desse equívoco durar mais tempo. Mas o que elas não sabiam é que há um fator na natureza que faz com que tudo volte à essência de tempos em tempos. Então elas lutaram, se descabelaram, queimaram langeries carésimas, se indispuseram com seus maridos, filhos, pais, padres, rabinos...para tudo voltar ao que era, meio século mais tarde, com algumas pioras.
Aconteceu que a mulher foi trabalhar. Conquistou seu direito à igualdade, mas com funções acumuladas. Agora ela é tratada como homem, mas ainda tem cólica e músculos mais frágeis. Agora ela vai para a guerra e morre como um homem. Sai para caçar por comida, mas ainda precisa cuidar da caverna. Algumas não conseguiram ter o marido, mas tiveram os filhos. Conseguiram o emprego mas não o respeito. Conseguiram o dinheiro mas não o poder. O poder, mas não o sono tranquilo...e assim por diante. E agora precisamos de um Dia Internacional da Mulher para lembrar-nos uma vez por ano que somos mulheres, que lutamos por um lugar no mundo, que ainda temos mais conquistas pela frente, e que tudo isso seria bem mais simples se nos uníssemos aos homens ao invés de combatê-los. Opa! Opa! O que eu acabei de dizer? Que ficamos rancorosas e combatemos o que nós mesmas criamos? Céus acho que precisamos de mais dias da mulher pare tentar descobrir outra vez onde foi que erramos.

Ta. Acabou aí? Não! Ainda não falei o que quis dizer com “tudo volta à essência”.
Uma nova geração de Evas nasceu, olhou em volta e pensou: "O que? Moi? Nunca que eu vou ser trouxa igual à minha mãe."
Então saíram e compraram soutiens de enchimento, roupas mais justas de decotes mais amplos; super-valorizaram o corpo, elaboraram coreografias sensuais, mudaram o rumo...e agora permitem tudo o que revoltou as segundas Evas, em prol de casa, comida e roupa lavada. Se fingem de burras - ou são, não sei ainda - jogaram fora as cinzas dos soutiens passados e fazem do sexo seu principal instrumento de segurança e conforto. São milhares. Dezenas de milhares de mulheres que vão levar o nome de Eva para o lixo junto com camisinhas previamente furadas - garantia de uma gorda pensão em curtíssimo prazo - e dançar até o chão, chão, chão (é eu sei...eu exagero).
É claro que ainda existem milhões de Evas batalhadoras e bem sucedidas, mas outro tanto não funciona bem assim. Essas são as que estão retrocedendo para a idade média, só que com menos roupa.

E o que virá depois? Voltamos todos para a caverna, ou para o tubo de ensaio, antes que seja tarde. De novo.

Espero que a primeira Eva ressurja das cinzas.



(não me xingue...é só uma elucubração)