quarta-feira, novembro 26, 2008

Três - milord & milady


- Dança comigo? - disse oferecendo a mão para Nani.
- Será?
- Não se diz "não" pra um homem mais baixo.

Nani levantou sorrindo, apoiou-se levemente na mão de McAlister que agia como um perfeito cavalheiro.

- Você não é mais baixo do que eu.

Os dois entraram no salão como se estivessem num baile medieval: John com um braço para trás e o outro levantado, sustentando a mão de Nani que repousava suavemente sobre a dele. Ambos olhavam para frente e eventualmente um para o outro, enquanto conversavam.

- Daqui, você parece mais alta, Lady Gaya.
- Impressão sua, Lord McAlister. Se eu descer do salto, a vista será diferente. Eu sou uma anã.

John puxou Nani bruscamente trazendo-a para si numa meia pirueta e prendeu o corpo dela grudado no seu, com o braço ao redor da cintura, nariz com nariz.

- Mal posso esperar.

Nani se assustou mas não teve reação. Ele então sorriu, afastou-se um pouco e ofereceu sua mão a ela, para começar a dança.

- Me permite?
- Claro.

Começaram a dançar e Nani continuou:
- Mal pode esperar o que?
- Pra ver você descalça. Seu pé é bonito?
- Sei lá John...você não é muito normal, é?

Ele olhou para o chão e puxou o vestido de Nani para poder ver o pé que estava coberto.
- É lindo!
- Larga o meu vestido?
- Perdão pela insolência, Milady, não pude evitar.

Jonh e Nani dançaram conversando e rindo como se fossem velhos amigos. De tempos em tempos, era possível ver Nani escondendo o riso no ombro dele e ele gesticulando muito, sem parar de falar. Até que a conversa foi bruscamente interrompida pela fisionomia séria de John. Ele diminuiu o passo...

- Lady Gaya...
- Sim, Milord?
- Sinto informar que será preciso deixá-la.
- Sério? O que houve?
- Parece que alguém não está gostando da nossa dança.
- Quem? a sua namorada escocesa chegou?
- O dono da festa.
- Como assim? Onde?

Nani virou-se para olhar mas seu rosto foi detido pela mão de John em seu queixo.

- Não olha agora. Ele acabou de olhar para mim e pronunciar muito claramente as palavras "SAI FORA", junto com um gesto que, acho, significa cortar o pescoço de alguém.
Nani começou a rir.
- Mentira!
- Juro.
- Você é engraçado, Mac...
- Eu não quero largar você.
- Não larga. Vamos mais para o meio. Deixa ele com... - gesticulou com a mão em círculos - "...as meninas do Mitch".

Os dois se misturaram aos casais que dançavam no centro da pista. John ficou sério, olhando para ela com "o olhar" outra vez.

- Por que ele fez isso? - perguntou John, sério. - O que você tem com ele? Você disse que não era...
- Eu não sou uma das "meninas do Mitch". Nem sei nada delas.
- Então por que ele me mandou sair fora?

Nani hesitou para responder, e John respirou fundo, mais nervoso do que pareceria apropriado.
- Por que você não me falou que vocês estão juntos?
- Você não perguntou.
- Quanto tempo faz isso, Nani?
- Dois dias.
- Só isso? Então pode perfeitamente não ser nada...
- Não é bem assim.
- Olha... - disse John chateado, olhando para Nani com olhos estranhos. - Eu to na casa dele, Nani. Preciso ir até lá entregar você pessoalmente. Eu sou convidado e a minha educação não permitiria outra coisa.
- Você é um gentleman...
- Mas eu não queria ser não...não se engane! Se esse lugar não fosse a casa dele, eu ia embora daqui com você agora, mesmo que ele ficasse puto.
- Nem pense nisso.
- Nani...presta atenção.

O olhar de John começou a afetar Nani de um jeito muito mais grave do que aquele tiro na boca do estômago.
- Mac, posso te pedir uma coisa?
- Claro.
- Dá pra não me olhar assim?
- O que tem o jeito que eu te olho?
- Não...nada de errado, só...
Nani abaixou os olhos para não encará-lo.
- Olha pra mim, Nani.
- Não.
- Por favor?
- Então não me olha assim...
- Não tem como.
- Mac...eu não posso deixar isso acontecer.
- Fala meu nome de novo?
- McAlister...
- Não...
- Mac...- ela abaixou a cabeça encostando a testa no ombro de John. - Não me olha assim...

Ele segurou a cabeça de Nani contra o ombro e sussurrou em seu ouvido:
- Não dá pra evitar. Eu só consigo olhar pra você desse jeito. - John levantou a cabeça de Nani e fez com que ela olhasse nos seus olhos. - Você entende o que eu to falando quando eu olho pra você?
Ela fez que "sim" com a cabeça, ao que ele respondeu com um sussurro:
- Eu não posso evitar.
- Mac, eu vim do Brasil a convite dele...a gente tá começando a...

Num gesto rápido, John tapou a boca de Nani com a mão e chegou seu rosto tão perto, que pareceu beijá-la.
- Não diz isso. Não diz nada... - ele sussurrava.
- Pára! A gente nem se conhece e eu podia ser sua mãe!
- Não! Deus não faz isso com as pessoas!
- Mac, me escuta!...
- Me chama de Mac outra vez.
Ela desarmou de novo e sorriu.
- Mac.
- Linda...
- Vai. Se concentra, se acalma, volta pra realidade.

Ele puxou o corpo de Nani pra junto do dele, praticamente encostando boca com boca.
- A gente vai parar de dançar agora e eu vou levar você pro Mitch, como o gentleman que eu sou. Mas eu preciso ver você de novo. E eu não to fora da realidade.
- Me larga. Isso não tá certo.

Ele soltou o corpo dela lentamente, ainda com a boca muito próxima. Ambos tinham os olhos fixos nos lábios do outro. Ele deu um passo atrás, ela hesitou, aproximou os lábios de novo e, respirando fundo, se afastou. Os dois saíram do meio da pista lado a lado. Tinham os braços soltos ao longo do corpo e as pontas dos dedos se tocando, numa última tentativa de estar perto. Nani não se conformava por sentir uma atração tão forte por alguém que esteve com ela pouco mais de uma hora e meia. Ela travava naquele momento uma guerra sangrenta entre razão e emoção. John era um convite explícito à volta da Nani dos velhos tempos. Paralelo a esse sentimento intruso, havia Mitch e toda a estabilidade e o controle emocional que ele representava.
Ao se aproximarem de Mitch, John pegou a mão de Nani e entregou a ele. Cumprimentou solenemente com a cabeça.

- Your Lady, Sir.
Mitch puxou Nani para perto de si e beijou-a.
- Até que enfim, McAlister. Pensei que você fosse roubar ela de mim.
- Não sem um duelo.
- Pois escolha as armas.

Nani colocou as mãos no peito numa cena teatral.
John apertou a mão do amigo.
- Parabéns, cara. Pelo aniversário, pela festa, e pela namorada. Ela é genial.
- Obrigado. Gostou?
- Muito. Há muito tempo eu não via nada assim.

Nani franziu a sobrancelha repreendendo John que remendou:
- A festa...


continua abaixo...



**este texto é parte do romance inacabado "Três".

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