quinta-feira, setembro 09, 2010

_pode?

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Pode? Não, não pode. 
Tem muita coisa nessa vida que não pode e a gente sabe muito bem. 
Não pode matar. Não pode maltratar as pessoas. Não pode fazer aos outros o que a você não quer que façam a você. Não pode roubar. Não pode ser desonesto. Não pode um monte de coisas porque não é justo, não é correto, porque sem ética a gente não sobrevive nesse mundo que ainda é selvagem, porque a nossa natureza é selvagem e isso eu não vejo como mudar.

Mas tem coisas impossíveis de controlar. Você simplesmente não manda nelas e, acredite, tudo seria muito mais fácil se a vida fosse controlável.
Se fosse controlável ninguém ficaria doente, ninguém morreria de coisas incuráveis, ninguém jamais ficaria triste, a gente aceitaria a morte -- não importa o que ou quem morreu. 
Quando uma pessoa vai desta para a outra vida, quem fica sente que o chão lhe foi tirado. Fica um vazio imenso que não pode ser preenchido por nada...nada vivo, nada material, nada. 
Quando um amor acaba, acontece a mesma coisa, com a única -- e não tão grande -- diferença de que o grande buraco será preenchido mais cedo ou mais tarde, mas ali há de ficar uma cicatriz.
Quando uma promessa de alegria se desmancha no ar é um pouco diferente: era só uma ilusão, você sabe disso, mas dá uma tristeza infinita e passageira. Assim: tem dias que é infinita, tem dias que nem existe. A alegria ilusória muitas vezes é bem mais intensa do que a felicidade real. Ela vem forte, ela gera expectativas, ela tem cheiro e gosto de promessa de vida. Aí, quando se desfaz, você tem a impressão de que não é merecedor de algo tão bom. Não é como a dor da perda...é como a dor de não ter tido.

Aí, nos dias em que está triste, você vai buscar a lembrança da ilusão, porque ela ameniza a dor das outras perdas. 
Pode isso? 
Pode sim...com certeza pode.


Um comentário:

Fabio Piva disse...

A dor de nunca ter tido é a pior -- não encontra anestesia nem mesmo nas memórias de outrora. Porque não há passado, não há memórias -- só há vazio. Não há fim, não há lacinho sobre o pacote de algo que terminou e agora vai para o sótão. Não há o que clocar no sótão -- mesmo que você JURE que havia.

Excelente texto, me lembra algo na mesma linha que li estes dias: http://bit.ly/cIKUKH

Beijos,
Fabio Piva
http://paciencianegativa.blogspot.com/