domingo, agosto 08, 2010

_carta para não ser lida

Este texto é uma invasão da amiga Ella S.  - que há muito não aparece por aqui.


Uma vez terminei um namoro longo, do qual eu precisava me livrar de uma vez porque a fila anda, mas o meu quase-ex não entendeu, não aceitou e me mandava uma carta por dia, todas falando o quanto me amava e tal. Eu li as cartas da primeira semana, depois eu parei de ler, e confesso que só há bem pouco tempo abri os envelopes ainda lacrados daqueles dias. 
Então é assim que funciona: as coisas só atingem a quem quer ser atingido. End of story.

Mas ah! Eu preciso tanto falar! Por isso eu resolvi invadir o Caixa Preta e gritar. Eu até acho que não vai ser lido, se for não vai ser ouvido, se for não vai ser absorvido porque, meu bem, eu nunca conheci alguém tão teimoso. Já que você não vai ler, decidi que não vou escrever para você. É...não leia isso. Não é para você, não foi enviado para o seu e-mail nem para a sua casa. Você nem é um leitor do Caixa, é? Claro que não. Não sei.


Começa assim: 
Eu já fui exigente, já escolhi demais, já descartei pessoas pelo sapato que usavam. Eu já fiz questão de exclusividade absoluta. Eu já tive a ilusão de ter alguém só para mim. Mas isso era quando eu tinha vinte e poucos anos. 
Até os trinta e alguma coisa eu ainda achava que a vida de verdade era rígida assim, mas descobri que não é. Então, se hoje eu encontro um homem que fale diretamente com o meu fígado, eu não pergunto se ele é casado, noivo, anão, vesgo, ou comandante de um navio pirata. Porque olha...é muito fácil encontrar homens dentro dos padrões: tem homem que é bonito, tem homem inteligente, tem homem rico, tem homem trabalhador, tem homem interessante, tem homem de todas as formas, tamanhos e profundidades (ok...exagerei nessa última); mas não tem -- eu posso dizer porque eu procurei -- NÃO TEM homem que me dê frio na barriga só de me olhar. E não tem um homem neste planeta inteiro (nem Clive Owen, nem Johnny Depp, nem ninguém) que me faça sorrir por dentro e por fora, um sorriso inteiro e gigantesco, ao simples soar da voz. Só você -- mas eu não estou escrevendo pra você, lembra? 
É isso que eu chamo de falar com o meu fígado. É uma reação química completamente descompensada, que alguns idiotas podem chamar de tesão, mas tesão é uma coisa que a gente sente só no corpo, e essa coisa que eu sinto não se limita ao corpo. Ela invade os olhos e dentro deles, depois o cérebro, e vai até a alma e dá dez voltas olímpicas!...É uma enchurrada, uma enchente, uma tempestade avassaladora que -- ai droga! -- é grande demais para verbalizar.
Até aí, tudo lindo. Mas o que você ganha com isso, não é, meu bem? Como eu vou saber se algum dia você sentiu a mesma coisa por estar perto de mim, por me ver, por me ouvir falar. Espera...eu sei sim. Eu vi com esses olhos o que os seus falaram. Eu senti o seu sorriso tão perto da minha boca que eu pensei que fosse meu. Eu ouvi a sua voz falando (pro meu fígado) coisas que não eram de mentira. Então não sei....não sei se foi até a alma, mas foi bem lá dentro de você sim, seu teimoso, sua coisa mais burra desse mundo! E você resolveu negar.
Você tem motivos para isso. Milhares deles. Conheço um por um e até acho que você tem razão. Mas ao mesmo tempo eu não me conformo porque, meu anjo, eu escuto quando você pensa. É...você não conhece essa parte de mim....mas eu sei até quando você acorda, porque você ME acorda de manhã , assim que abre os olhos. Eu sei quando está aflito, eu sei quando está sorrindo, eu sei até quando você faz amor com alguém. Sei sim. Eu sinto. Azar o seu...tem mais gente na sua cama do que você imagina (note to self: something tells me that you'll like this line, you perv!). 
E eu não acho que esse tipo de ligação seja algo desprezível, descartável ou esquecível. Eu acho, de coração, que o dia que você se der conta da história que jogou fora, você vai sofrer, porque, meu amor, isso é para muito poucos...muito poucos. Isso é raro, raríssimo eu digo porque eu sei. Você mesmo diz que eu sempre sei. E é verdade.

Então eu acho que você não quer mesmo, mesmo jogar nada fora, não. Você precisa talvez. Você diz que sim, mas tem alguma coisa errada na maneira que eu escuto o que você diz. Até porque você sabe escrever que não quer, mas quando você fala comigo, você não sabe FALAR que não quer. Você está tentando, mas se você quisesse mesmo, eu não sentiria você pensando em mim no meio do dia. 
Sou louca? Pode ser. Mas você também é, baby. Mais do que eu. Você sabe disso. Só que neste momento, a impressão que eu tenho é que a sua loucura maior está sendo querer se afastar da loucura.
Tomara que você esteja fazendo a coisa certa, porque eu preciso muito de um bom e grande motivo para ficar sem você.
Era isso. 
Que bom que você não leu...Assim você consegue continuar na sua teimosia, e eu não passo por louca, ne? Pois é.


(Gracias pelo espaço, Mercedita)

3 comentários:

Alice Salles disse...

A Ella é uma mulher de visão...

Anônimo disse...

A Ella é foda. Sempre foi. Eu sinto muita falta do blog dela.
O que eu mais gosto é da total ausência de medos e constrangimentos...ela (ELLA) fala o que bem entende e quem quiser que a odeie. Adoro.

:)

Me

mariana heller disse...

bah, como eu senti sua falta ella... nao fica tanto tempo longe nao, a gente tem tanto em comum...