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sábado, julho 03, 2010

_sobre cordões umbilicais


Não era possível uma gravidez depois de uma pelvio-peritonite que quase me matou aos 29 anos. O último ultrassom mostrava uma bagunça danada...trompas enroladas no ovário como um novelinho de lã, daqueles de desenho animado que tem gatinhos. Fora de cogitação. Mas aí havia um jovem diretor que repetia o nome da futura filha e se recusava a ouvir que não seria possível realizar este sonho, a não ser que ele escolhesse outra loira. Talvez uma que não tivesse filhos. Talvez uma mais nova do que ele. Talvez, talvez, talvez, mas ele não queria. Ele queria aquela, e uma filha, e o nome seria Natasha - desde pequeno ele sabia disso - e eu baixava os olhos pensando que, mais cedo ou mais tarde, teria que abrir mão dele em prol dessa teimosia de infância.
Mas também havia um sexto sentido gritando, dizendo que aquele mal estar não poderia ser gastrite. Um teste de farmácia, por que não? Eu não ia chegar no médico e pedir um exame, porque ele ia sorrir aquele sorriso doce e dizer: "Ô, menina...eu já falei que você não pode mais ter filhos...". 
Era noite, depois da filmagem (lançamento da primeira telefonia celular no Brasil). Enquanto ele analisava um rolo de filme que talvez tivesse se perdido, eu fazia o teste. Oh.My.God! Pensei estar daltônica. Tinha que estar, ou aquela linha cor-de-rosa era uma alucinação. 

Uma Natasha maluquinha. Desde pequena uma gritalhona engraçada, com músicas alegres de letras inventadas: "o petinho dadô dadô e o tapo icaiêta faiô o peti tiêta!"...chorona, exigente, mimada, sorridente, de olhos enormes eternamente brilhantes.
Da noite para o dia, o irmão mais velho tornou-se um adulto (tadinho...pesado) e ela, o nenem da casa, enchendo o lugar com seu barulho. A vida dos que a cercam passou a existir em função da dela, como se fosse um contrato firmado ainda no misterioso interior mágico do meu corpo auto-curante.

Ela cresceu, como era de se esperar, para desespero do pai que queria mesmo que ela tivesses 5 anos para sempre, mas a gente não conseguiu enxergar. Não tem como...caçula é caçula (palavra graficamente horrorosa). De uma hora para a outra ela tem 16 anos, um corpão e uma cabeça que pensa. Pensa e pensa forte, com opiniões duras e regras claras. Mas mesmo assim, nosso cordão umbilical parecia feito de alguma fibra indestrutível...or so I thought.
Ontem eu deixei essa menina alegre e cheia de vontades, num terminal aéreo do Aeroporto Internacional de Garulhos. Sem a menor cerimônia, ela sacou da tesoura e cortou o cordão. Assim, sem uma lágrima, olhando nos meus olhos. E eu sorri orgulhosa.
Tavez isso não tenha a menor importância para nenhum de vocês, mas eu nem ligo. Para mim, foi uma cerimônia de iniciação. Iniciação minha, como mãe de dois adultos. Iniciação dela, numa vida que, agora sim, vai começar.

Era isso.
Bom dia, flores do dia!
É. Eu sou feliz.

sábado, setembro 13, 2008

Contando os dedos

O rostinho dele ainda sujo na sala de parto ainda não saiu da minha cabeça. Eu lá, na minha cesária, esperando que algo acontecesse enquanto o Sena ganhava mais uma corrida e o Galvão - que já era chato naquela época - gritava feito uma gralha na TV...e ele chorou! Aquele chorinho já era ele, e o rosto encostado no meu, tinha olhos que durante muito tempo estaríam enfeitando a minha existência.
Depois de algumas horas, ele veio para o quarto e a primeira coisa que eu fiz foi olhar bem para cada detalhe dele. Abri a manta, tirei o tip-top, quis saber se tudo estava no lugar. De brincadeira, contei os dedinhos. "Ufa...dez nas mãos e 10 nos pés. Tudo sob controle!"

Quinta-feira, 11 de setembro, (já sexta) meia noite e quinze:

- Mãe, eu bati numa pedra na Marginal, não sei de onde ela veio, mas o carro não liga. Arrancou a tampa do carter, não anda de jeito nenhum.

Droga...a gente ia viajar de carro amanhã, mas ainda bem que ele não se machucou...liguei para o seguro, acionei o guincho e o telefone tocou de novo.

- Mãe, ta meio perigoso aqui. Mais quatro carros bateram na pedra...pede pra eles virem logo.

Desliguei a ligação para continuar falando com o seguro, passei o telefone dele para que a moça entrasse em contato, liguei pra ele outra vez...não atendeu. Liguei pro CET pra eles irem pra lá, Liguei de novo pro Di:

- (gritaria..) caralho!!!

Meu coração gelou. Meu cérebro tentou, por alguns poucos segundos, me convencer de que era só uma confusão porque algum outro carro bateu na pedra, mas meu coração não se engana: alguém estava com o celular do meu filho naquela hora, e todas as cenas que eu vi e pensei quase me fizeram morrer.
Impotência! Impotência! Não tem como explicar um filho em perigo. Não tem como explicar que ele esteja em algum lugar que você desconhece, sofrendo, e você não esteja lá para colocar um band-aid, dar um beijo e dizer que vai passar. Não tem como explicar o ódio súbito de quem pode ter colocado as mãos nele, por um segundo que seja. Cada minuto é uma eternidade, cada passo de um lado para o outro é um caminho gigantesco, cada frase da oração que você não sabe parar de repetir é um terço inteiro, uma novena inteira, uma vida inteira, uma promessa, um compromisso eterno com deus ou quem quiser por favor trazer meu filho de volta pra mim. Foi horrível...a maior violência que eu jamais senti. Violência contra a minha alma!

Liguei para a polícia. Não queria ouvir que levaram meu filho. Tive medo de ser tratada com descaso. Tive medo de tudo. O policial me acalmou dizendo que o meu chamado já havia sido atendido porque outras pessoas tinham ligado, e várias viaturas estavam no local. Sim, a pedra foi plantada lá. Sim, era coisa de assaltante.
Perguntei pelo meu filho, o policial perguntou se meu carro era um picasso azul e deu a placa certa. Eu disse que era preto, mas era esse, e ele me informou que já estavam rastreando o meu carro. Mas calma! O carro não liga! "Ah...Então fique tranquila que não levaram seu filho. Ele vai entrar em contato logo." Tranquila? Não existe essa hipótese. Tranquila e filho na mesma frase, num caso desses é, no mínimo, erro de concordância.

O tempo passou arrastado e torturante enquanto o Cláudio foi tentar encontrá-lo, o Marcelo saiu de casa e foi também, o motorista do Cláudio bateu record ao fazer Carapicuíba - Alphaville em doze minutos, e eu não sei quantos recordes de pensamento e esperança eu quebrei. Fiquei em casa esperando alguma notícia, até que o telefone tocou de um número estranho e era ele! Ah! música nos meus ouvidos:

- Oi mãe...ta tudo bem, viu? eu estou com a polícia.

Ai...que dor! Que vontade de me transformar num para-quedas gigante e cobrir o mundo inteiro num campo de força tão poderoso que pudesse deixar todo o mal do universo longe dos meus filhos! Fiquei mais tranquila. Mas horas mais tarde, quando ele entrou em casa, eu queria abraçar e beijar, e conferir. Levaram o que ele tinha: dois celulares, a carteira com cinco reais, todos os documentos e um chiclete. Enquanto um assaltante revistou o carro, o outro fez com que ele se ajoelhasse de costas e manteve a arma na cabeça dele. Depois de pegar o que queriam, mandaram o Diogo correr...ele correu até o carro da polícia que estava chegando na outra pista. End of story.

Tudo acabou bem, pelo menos por enquanto, que eu ainda não sei se ele está bem psicologicamente (eu não estou). Mas o que eu quero mesmo dizer, é que certas coisas não mudam com o tempo. Se eu pudesse, teria tirado a manta e o tip-top, conferido parte por parte para ver se tudo estava lá, depois eu o enrolava bem apertadinho e ficava pra sempre com ele no colo.
Quando ele chegou, eu só queria contar os dedos.

Not a little cake...


importante:
1. atéia que sou, na hora do vamovê eu rezo!
2. a polícia militar de São Paulo, ao contrário do que dizem na TV, é educada, eficiente, extremamemte gentil e eu só tenho a agradecer.
3. a polícia civil de São Paulo tem um serviço de informação no telefone 197 que rocks! E a Delegada Malta da polícia civil é fodona e manda em policial metido que não quer fazer B.O.

sábado, junho 28, 2008

Em algum lugar da galáxia...

Por SMS, mãe e filho conversam:

Me: Vem almoçar!
Diogo: Vou.
Me: To indo pro banho.
Diogo: Ok...logo mais
Me: O q?
Diogo: Eu
Me: Ta vindo?
Diogo: Ta
Me: Que língua é essa????
Diogo: Simpolês
Me: Shhhhh...Os terráqueos podem ouvir...



(família normal é tudo de bom...)