segunda-feira, dezembro 13, 2010

_I don't belong

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Não é complicado. É simples assim: I don't belong.

Eu simplesmente não pertenço à maioria dos grupos onde estive, que conheci, que convivi, que visitei. Não sou parte deles.

Por mais "dentro" de um determinado grupo, ou por mais próxima que eu seja das pessoas, o que eu sinto é que, de certa forma, eu pertenço a cada uma delas em separado, mas dificilmente sou ou serei como elas, como o grupo que as cerca, suas tribos, suas gangs, suas confrarias.

Sempre foi meio impossível, já deu pra sacar na infância.
A religião não trouxe os meus "iguais", embora meus pais tenham tentado. A escola também não. Mas eu cresceria e quem sabe a faculdade ou o trabalho... Não! Não aconteceu. Nem o esporte, nem o inglês, o francês, a vizinhança... eu não achei os meus iguais. Acho que igual é uma coisa que não existe na minha língua, ou pelo menos não na minha -- esta -- existência. Eu tenho amigos. Isso sim. Tenho muitos amigos e eles são sazonais, simplesmente porque eu não pertenço. Não que eu os esqueça ou deixe de amá-los, isso nunca. Mas eles ficam lá, nos grupos de seus iguais, enquanto eu passo. Eu só passo. Transito de grupo em grupo.

O fato é que eu amo rápida e facilmente a qualquer um que passe pela minha vida e preencha os requisitos básicos para me agradar. Em muito pouco tempo, aquela pessoa é minha. Isso... você me pertence. Muito provavelmente eu pertenço a você bem mais do que você pode vir a imaginar um dia, mas não se engane... eu não sou como você, não sou como o seu grupo. Vou me dar super bem com ele, mas é mentira que vou fazer parte de alguma coisa que não a sua vida. Não que eu não vá tentar. Mas eu vou estar lá, entre todos eles -- tão iguais a você, dividindo os mesmos gostos, as mesmas histórias, as mesmas experiências -- e eu vou olhar em volta com um sorriso e descobrir que não nessa vida, ou em outra qualquer, eu serei capaz de me sentir parte daquilo. Simplesmente porque não sou.

A sensação recorrente na minha vida é esta: sentar numa sala cheia de pessoas e procurar, nos olhos delas, alguma semelhança comigo. Eu me acomodo e me adapto como um vírus... mas não... nada muda. Eu continuo sendo um corpo estranho infiltrado num sistema que funcionaria perfeitamente sem mim. O sistema me aceita. Me deixa entrar e me instalar em todas as frestas, mas mesmo assim, eu não sou dali.

Sempre igual: muito maluca para andar com os certinhos, muito certinha para andar com os malucos. Sempre no meio do caminho, sempre em cima de um muro onde esqueceram de pregar a plaquinha.

Talvez um psicólogo resolvesse isso, mas hey! Não dói. Não dói e não é incômodo de maneira alguma. E depois, se a essa altura da vida um terapeuta me disser que eu perdi tempo, o que que eu faço? Me mato? Porque voltar é impossível!  Sem falar que o ele falaria em insegurança, necessidade de se sentir aceita, e outras bobagens que realmente não são o caso. Eu sei o meu lugar no mundo e acho que ele me recebe muito bem. Não é isso. Longe disso. Então deixa quieto, doutor.

Outro dia falei sobre domingos de novos amigos. Foi alguma coisa sobre um dia de sol com pássaros cantando, que me lembrou Domingos de adolescência em Curitiba. Daqueles em que alguém resolve ir para o aeroclube ver acrobacia aérea. Eu fiz isso várias vezes na vida, sempre com amigos novos. Os amigos do namorado, os amigos do namorado novo da amiga... whatever. Eu fiz. E os dias de sol ficaram marcados assim: dia de gente nova. Dia de tentar me encaixar. Dia de constatar que, por mais que eu queira, eu não me encaixo.

Agora as coisas se agravam um pouco. Além de ter ainda o mesmo probleminha sobre malucos e certinhos, eu me tornei muito diferente das mulheres da minha idade que, embora tenham a vida um pouco parecida com a minha, por alguma razão misteriosa, não têm os mesmos interesses, nem os mesmos gostos. Aí me tornei também muito mais velha do que as pessoas que compartilham dos meus interesses. Isso não seria problema se elas não fossem solteiras, ou se eu combinasse com os lugares que elas vão, ou com o que elas fazem nestes lugares. Não preciso continuar, você sabe...eu não me encaixo.

Então não é um gosto musical, não é o estado civil nem a quantidade de filhos, não é um jeito de se vestir, não é uma crença ou um talento em comum. Não é. Eu sempre senti que o mundo inteiro é dividido em grupos com diferenças muito claramente definidas que, no fundo, torna todos eles "grupos de pessoas menos eu".
Simples assim.
Aí eu pergunto... sou só eu?

21 comentários:

Marina Pavelosk Migliacci disse...

não, não é só você.
eu nunca me senti parte de nada. Eu vou, conheço gente e lugares novos mas não me encaixo em nenhum deles. Observo. Já fui bastante azeda pelo excesso de autocrítica e a ironia sempre esteve aqui para me fazer companhia.
Mas eu gosto de não pertencer. Eu conheço um pouco de tudo e ainda tenho a eterna sensação de liberdade, de conhecimento, de busca.
Sempre vai ter muita gente apontando o dedo para mim e repetindo que eu sou estranha, sem entender direito se eu falo sério, se sou irônica ou sei lá. Acontece desde sempre e acho que vai continuar assim.
Eu estou feliz assim. Melhor agora, aliás.

Beijão e melhoras para a coluna!

ataulfo disse...

quem tem tribo é índio

Unknown disse...

Adorei e já estou te seguindo também, identificação instantânea.

Marilia - C8-H10-N4-O2 disse...

nope, não é só você. Eu tb sinto que passo pelos grupos, e eles passam por mim. Assim, sem rancor nem muito esforço em se enquadrar. As vezes é melhor ser parte do grupo eu sozinha, do que ficar engolindo sapos com cara de paisagem

Ana Nazareth disse...

Ah, que vc acha q sou senão um virus tal e qual?
Exatamente assim, desde pequena vivendo meu mundo e flanando pelos outros q cruzam minha vida.

Convivo deliciosamente bem comigo e a 'turma' que existe em mim mesma. Essa sim, sabe passar alguns bons momentos isolados com estes ou aqueles, 'visitar' este ou aquele grupo, todos tão diferentes quanto iguais... tanto faz.
Por vezes é como assistir um filme... participando. Há sempre algo que se aproveite, nem que seja aprender que ali nada se aproveita!

Sempre tb muito bom se ter certeza do que não se quer.

Nunca senti falta de estar 'inserida em'. Ovelha que nasce negra e feliz... segue pra bingo : )

E vc, e eu, e pessoas como nós, hão de ter um espírito atemporal... não vão ser filhos, idades, estado civil ou qq outro rótulo que nos fará encaixar seja no que for, não é verdade?

Sempre com um beijo pra vc,

Ana Nazareth
@comTHnofim

Anônimo disse...

Oi!
Você não está sozinha. I don't belong either...
Confesso que me identifiquei muito com seu texto.
A propósito, a maneira como escreve passa a imagem de uma mulher forte, perspicaz e com elevado autoconhecimento.
Querida, você pertence a si mesma e a Deus!
De alguma maneira, sinto algo especial em você...algo que simplesmente não pertence ao mundo dos mortais.
Com carinho, @komplimentas

Unknown disse...

Vc não tem um filho? Ele sabe que vc se sente assim?

Mercedes disse...

Puxa, parece que eu nunca estive tão bem acompanhada. Outsiders do mundo, uni-vos.

Mabel, não entendi...eu tenho um filho e uma filha, e os dois me conhecem profundamente. Sabem quem eu sou, como eu sou e o que eu sinto. Eles inclusive lêem o meu blog e têm acesso a textos que ninguém mais tem (os que não são publicados). Muitas vezes meu filho até escreve comigo.

Aliás, vamos combinar que se os pais mostrassem como se sentem, os filhos seriam mais ajustados, não?

Esse era o seu comentário? Não me pareceu um comentário, mas sim uma tentativa de crítica pessoal. Hm...estranha você.

beijinhos

Juliana disse...

Não é só você... Vivo assim a vida toda, só me encontro mesmo quando estou com meus filhos. Com eles eu tenho a sensação de pertencer a um grupo, mesmo sabendo que daqui a alguns anos, quando deixarem de ser crianças, talvez eles não se sintam mais parte do "meu" grupo.
Lindo texto!!
Beijos!

Edson Perin disse...

Eita...I feel the same!Transito fácil por vários grupos, mas no fundo tbém tenho esta sensação. Sempre,desde criança, me sinto assim meio deslocado. Gosto de ficar sozinho, de viajar sozinho, de ir ao cinema sozinho, sei que não é lá muito normal mas é assim que fico mais confortável. Tô escrevendo isso embora eu saiba que vc sempre sacou este meu "jeito meio estranho de ser". Lov u

Anônimo disse...

Não é só você. Estou me sentindo assim ultimamente, sentadinha lá em cima do muro vendo o povo desse lado e do outro. Estranho...

Beijo *_*
Edilene

Fabio Piva disse...

Alto lá.

Fiz questão de esperar um número razoável de pessoas se manifestarem antes de contribuir com meus dois cents para a discussão. Por que? Calma, já chegamos lá.

Antes de mais nada, gostaria de dizer que discordo da autora. Ahn? O que? O texto é sobre ela própria e você discorda? É. E como amigo, eu me sinto no direito de fazê-lo. E explico o porquê.

Tribo: Grupo de pessoas que se aglomeram por um objetivo/característica/gosto em comum. UM, DOIS no máximo. Todos? Nunca. "Cada um é cada um", já dizia o filósofo -- e isso significa algo tão simples e ao mesmo tempo tão complexo: Que não existe nesse mundão de meu deus duas pessoas iguais -- muito menos um grupo delas. Exemplo: Eu sou roqueiro. Eu visto preto, tenho tatuagens, cabelos longos e... bem, gosto de ouvir rock. E costumo frequentar ambientes onde outros roqueiros também se encontram aos baldes.

Me sinto rodeado por semelhantes? De forma alguma.

Porque apesar das semelhanças, eu conseguiria nomear um sem-número de características que me fazem completamente incompatível com cada um daqueles serezinhos maloqueiros. E estou certo de que cada um deles poderia dizer o mesmo.

Tudo isso para dizer que: Você faz sim parte de um grupo. Um grupo composto por cada uma das pessoas que pisam nesse planeta, e que como todos os demais grupos, tem algo em comum: O fato de sentirem-se deslocadas de qualquer grupo. Não entendeu? Observe os comentários desse texto.

Ah sim -- eu tb me enquadro nesse grupo. Olá, colega.

Beijos,
Fabio Piva
http://paciencianegativa.blogspot.com/

Mercedes disse...

Fábio Piva.

As vezes eu quase te odeio. hahahaha! Ninguém pode ser tão racional.

Mas eu te amo, you know. :P

Mercedes disse...

Ana querida,

Eu comentei o seu comment sim, mas acho que fechei sem publicar ou foi algum erro aqui.

Lembro bem que a primeira palavra era: ESQUIZOFRÊNICA! hahahahahaha
Mas sei bem como é ter essa turminha dentro de si. Velha amiga essa turma.
É o que eu sempre digo: ninguém é melhor companhia do que eu mesma. Fico bem comigo, embora adore estar em bando.

Um beijo enorme pra você.

Anônimo disse...

Me,

Hahaha tem um monte de gente se sentindo assim... me either...

Sentir e assumir isso é ter intelecto pra lidar com suas contradições.

Os que não nos entendem que se danem...

Deby Schwarz

marcos freitas disse...

paradoxo...
estamos todos sós e no mesmo barco!
ahahahah

bjss
m.

Pedro Rocha disse...

Opa, opa! Partilho dessa mesma “dificuldade” em pertencer a tribos, grupos, enfim, coletivos. A coisa já é meio formatadinha, aí a gente chega, encontra tudo pronto e com um monte de regras serem seguidas (e, às vezes, não questionadas), que é justamente onde começa a perder a graça. Então a solução é ser um transeunte que faz amizades, mas preza o total direito de ir e vir.

Beijos

Unknown disse...

Como nossa "musa", poderíamos lhe dizer que você é assim por ser simplesmente única. Pronto!

Já pelos comments, sacamos que tantos outros passam por espaços, momentos e conotações que emparelham a seu lado. Por quê?

São muitos que estão a buscar o instante à frente sem desgostar do instante de agora.

Qualquer que seja a interpretação, também, nunca encontrei a resposta. Claro, eu sou assim, não me encaixo.

Gosto dos lugares que passei, tenho o carinho das pessoas que ouvi e daquelas que me deixaram falar, gosto das lembranças boas e que não se apagam com esse caminhar rápido de nosso tempo. Só não tenho o porque de voltar.

De tudo, eu tenho a consciência de que estou sempre passando, que vou colhendo e, às vezes, semeando.

Tenho a certeza de que vou crescendo e aprendendo sempre um pouco, e é só.

Luiz Roberto

L F Imperator disse...

tem uma música do Bowie que não é exatamente o que vc diz, mas talvez tenha algo a ver:

-Conversation Piece-
I took this walk to ease my mind
To find out what's gnawing at me
Wouldn't think to look at me,
that I've spent a lot of time in education
It all seems so long ago
I'm a thinker, not a talker
I've no-one to talk to, anyway

I can't see the road
for the rain in my eyes
Ahhh ...

I live above the grocers store,
owned by an Austrian
He often calls me down to eat
And he jokes about his broken English,
tries to be a friend to me
But for all my years of reading conversation,
I stand without a word to say

I can't see the bridge
for the rain in my eyes
Ahhh...

And the world is full of life
Full of folk who don't know me
And they walk in twos or threes or more
While the light that shines above the grocer's store
Investigates my face so rudely
And my essays lying scattered on the floor
Fulfill their needs just by being there
And my hands shake, my head hurts,
my voice sticks inside my throat
I'm invisible and dumb,
And no-one will recall me

And I can't see the water
for the tears in my eyes

http://www.youtube.com/watch?v=T54kkF_V4oE

Raisa Bastos y Rodrigues disse...

Não, se isto lhe conforta (embora, para mim, conforto não é necessário e acho que nem pra você)somos iguais no não-encaixe. Eu já achei que sou uma pecinha de lego com defeitinho, já troquei de escola, faculdade, amigos, namorados, mas sou sempre eu e eu sou o problema, sempre. e isto não é problema algum :)

Anônimo disse...

Bom, já acompanho seus textos há alguns anos. Mas esse me identifiquei de maneira especial. Deixei de me sentir uma E.T. nesse mundo... rsrs Muito bom! Ah tb concordo com vários comentários...