domingo, agosto 22, 2010

_quando ela esteve aqui

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Me contou que sente tanto a falta da sua risada, porque "warms my heart"-- foram as palavras dela. Disse que a sua voz a acalma como música e ouvir você dizer o nome dela é o melhor remédio para quase tudo.
Disse que dava um braço para ver você fazer cara de preocupado e franzir a testa num semi-ensaio de rugas que ainda nem sonham em chegar, e ela então beijaria entre as suas sobrancelhas e sorriria aliviada por saber que você está ali. Disse que acha lindo quando você faz isso e desvia o olhar para o lado como se pensasse no que dizer. Você preocupado, ela encantada...querendo beijar a sua testa um milhão de vezes para dizer que está tudo bem.
Ela disse que lembra do seu perfume como se o tivesse sentido hoje, e lembra melhor quando fecha os olhos e sente o rosto no seu peito, sua camisa aberta, seus pelos, e o cheiro que jamais a deixou. 
Do que mais sente falta ela não sabe dizer...não sabe se é da força das suas mãos - que segundo ela a pegavam com força, mas ao mesmo tempo com carinho hipnotizante; ou se do seu beijo...dos lábios, do gosto, da maneira que você a cheira roçando o nariz de leve por tudo, explorando, brincando, beijando o que encontra pela frente.
Disse que o mais difícil é lembrar do último dia. Aquele em que ela foi embora com os olhos cheios de luz e uma vontade enorme de não ir. O dia que você contou porque ela tinha que estar ali, naquela hora, quando tudo era dela, tudo para ela...e não era certo que não estivesse. Ela disse que foi nesse dia que decidiu que você valia o risco dela se machucar horrivelmente, que valia cada minuto de desassossego, que era o melhor sonho, o desejo inimaginável. Mas que foi neste dia também que ela perdeu você.

Ela não estava triste, mas tinha algo diferente nos olhos. Eu consegui ver que era um tipo de paixão partida, que não estava completa, que faltava um pedaço do brilho que ela sempre teve nos olhos.
Por isso resolvi te falar.
Ela veio aqui me contar que tem lutado com muita força, mas que não vê como seguir em frente como se a vida fosse ainda a mesma. Que ela não entende como isso foi ficar tão forte, se não estava nos planos dela, nem nos seus. Que tem tentado ver você em outra pessoa, mas que não existe alguém capaz de reproduzir qualquer coisa sua. Ela tinha uma lágrima...uma só, em um dos olhos, quando disse que não pode acreditar que "tudo o que se tem seja só o que foi", porque não é assim que ela sente. Ela sente que é maior, que não acabou, que mal começou, e que a saudade que às vezes ela não pode evitar, faz com que ela queira correr até você, mas que ela simplesmente não pode, porque se sente amarrada, forçada a ficar longe, por você.
Mas que ela gosta de acreditar que você a quer, mesmo sabendo que é só um delíro...porque se não fosse, essas coisas todas não seriam só lembranças.
Ela não estava triste quando esteve aqui, mas eu senti que ela esconde uma dor. Juro que senti.

Era isso. Não sei o que você vai fazer com essa informacão, mas eu achei que devia contar.

Bom dia.


4 comentários:

Anne disse...

Chorei, simples assim!

Fabio Piva disse...

Droga, não acredito que você a viu e eu não estava por perto. Então, me faça um favor: Quando você a vir novamente, diga-lhe que às vezes a graça de uma história não está em como termina, mas sim em como começa. Diga-lhe ainda que às vezes, e só às vezes, um roteiro é tão bom, mas tem um desfecho é tão sem graça, que é melhor parar de ler antes da última página -- e ficar com a impressão de que os protagonistas vencem no final. Diga-lhe que a lágrima vai secar, o desassossego vai sossegar e o brilho vai voltar aos olhos dela -- mesmo que ela nem tenha se dado conta dessa opacidade sutil que você notou.

Diga-lhe isso e diga que fui eu quem mandei dizer.

Beijos,
Fabio Piva
http://paciencianegativa.blogspot.com/

Anônimo disse...

Eu vou ali cortar os pulsos e me acabar de chorar... Depois eu volto pra comentar os outros posts.
Jacque

Pedro Rocha disse...

Cara, texto delicioso! Tudo.
Congratulations! Dou 10 pra você.