sábado, março 31, 2007

Sobre ser bonita.


Hoje recebi um scrap doce. The lil' sweet scrap.
Era do Solda, me contando que ele tem um blog, e que lá publicou uma foto minha.

Então vamos começar a tradução simultânea.
Solda: Cartunista Paranaense brilhante, que passou a fazer parte da minha vida no início dos anos 80. Naquela época em que a Hebe ainda não havia começado a ser restaurada, eu tinha meus 18 aninhos, cabelo com permanente, era meio hiponga e namorava um moço. Um moço. Nem tão moço. Hoje acho que ele era um menino...mas pra minha idade nos tempos do dilúvio, ele era um "namorado senior", beirando os 35. Eu mal tinha saído do mundo dos jardins de infância, onde trabalhava antes, e entrado no mercado publicitário. Fazia muito pouco tempo que eu usava um aventalzinho escrito "Tia Mety"...de repente fui promovida a Mercedes, convivendo com pessoas que tínham dois membros maiores do que tudo o que eu já tinha visto:
1. o cérebro
2. o ego.
Até então eu não havia mantido contato muito próximo com nem um dos dois.
Pois então. Foi o namorado (escondido), aquele senhor, quem me mostrou que existia alguém chamado Solda e fez eu me apaixonar pelo traço dele. Depois me casei com meu primeiro marido, que é irmão do Miran - um dos maiores artistas gráficos das últimas gerações. Miran me fez conviver ainda mais com o trabalho do Solda, quando nós editamos os primeiros números da Revista Gráfica.
Mais tarde, eu trabalhei com o Solda. Ele e Paulo Leminski formavam uma das duplas de criação da Exclam...mas não se enganem, não se deslumbrem, porque conviver com eles era mais engraçado do que genial. Na verdade eu sempre achei que a genialidade é uma coisa que se enxerga todos os dias, e é no humor que ela se revela. Foi um tempo genial, em que eu vivia cercada de pessoas geniais o dia inteiro, no almoço e no jantar. But..."Everything looks perfect from far away", mas de perto, éramos todos crianças.
Ser criança era o que o Solda fazia melhor. My own private comic relief! O mínimo que ele fez foi colocar sal de frutas no açucareiro da bandeija de café do segundo andar. Cada um que se servia...você já imagina! Era um tempo bom demais. Tempo em que eu podia olhar para a cara do Ernani Buchmann todas as manhãs e garantir boas risadas já cedinho. Tempo em que eu tinha na mesa ao lado o Edson Perin, meu eterno e amado amigo, padrinho da minha filha. Tempo em que eu ía pra sala da mídia dar risada com o Franc e a Meri Penas. Tempo em que o Crau Penas ainda estava se batendo no laboratório fotográfico. Éramos todos crianças felizes. Tempo impagável!
Foto minha: O Solda pegou aquela minha foto...e fez isso com ela. E aí, quando eu vi, suspirei bem fundo e lembrei de tudo o que significou "ser bonita" desde que eu era pequena. Não! Não estou dizendo que eu sempre fui bonita. Estou dizendo que nem sempre achei bom ser bonita. Vou explicar: Tudo começou quando eu nasci.... (brincadeirinha)
É que depois que eu cresci um pouco, e que decidi entrar no mercado de trabalho, passou a ser feio ser bonita. Passei por algumas coisas desnecessárias para a vida de uma profissional. Exemplo : Eu estava em contrato de experiência na UMUARAMA - agência que atendia o falecido Bamerindus. Eu namorava o tal "senior" que também era um criador "senior", uma estrela
"senior" da época , premiado "senior" , blablabla "senior" - senior pra mim, que era adolescente ainda. Ele trabalhava na agência concorrente. Um dia, meu chefe me chamou para dizer que sabia que não era eu quem escrevia os meus textos. HELLO??? A teoria da conspiração era a seguinte: eu me batia a manhã inteira, saía para almoçar com o namoradeeenho, voltava, sentava na máquina (máquina! Eu disse que era o tempo do dilúvio) e resolvia tudo rapidinho. So...durante o almoço, meu namorado fazia o texto pra mim. Ha!
Claro! Raciocínio básico: ela é bonita, loira, e namorada do cara! Wow!

Vocês não podem imaginar como aquilo bateu nos meus ouvidos. Aliás não...in my guts! Eu tive ódio daquela criatura de cara amassada que não abria os olhos.
Pensa comigo: tem que ser muito boa mesmo ne? Então o cara tem 500 mil jobs pra resolver, mas por meia duzia de beijinhos na hora do almoço ele (não almoça e) resolve o meu job. Wow! Isso é que é namorado bom. Eu ganhava um décimo do salário dele, então logicamente pagava com sexo. Vai ser boa no inferno!
Pois...tive um chilique e fui contratada em caráter definitivo no dia seguinte. Mas - droga! - tive que ter um chilique!
E muita coisa foi assim... muito chefe me convidando pra passar férias em Cancoon. Muito diretor de agência achando que estava falando com a minha bunda (grosseiro, pero verdadeiro). Muita colega de trabalho achando que eu fui contratada porque era lanchinho de alguém. Com essas coisas todas acontecendo, minha prioridade passou a ser esfregar na cara das pessoas a minha competência. Precisei provar que tinha um cérebro entre as orelhas. Para isso, muitas vezes precisei me fingir de burra. Fingir que não entendia insinuações, sorrir como quem não entende uma piada.Foi suado...mas eu consegui. Depois aprendi a chegar chegando, falar grosso e pôr o pau na mesa. E era desconcertante para os velhos babões ver aquela loira falar mais grosso que eles. Funcionava.
Por essas e por outras, desde de a adolescência eu preferi não ser bonita. Beleza era uma bobagem que acaba rápido, ou acostuma rápido...não é eterna e, embora útil, tinha que ficar em segundo plano. Graças à reação de homens de gravata e mulheres mal vestidas à beleza de uma profissional, a primeira vez que tive coragem de usar uma saia curta, eu já tinha 26 anos. E depois disso, eles tinham mais uma coisa desconcertante para olhar.
Hoje faço questão de ensinar minha filha a não ser nem só bonita...nem só inteligente!


Aí... quando eu vi o blog do Solda fiquei feliz. Feliz por saber que estou tranquila quanto a isso, finalmente. Aos quase 46 anos...ufa! Já posso aceitar um elogio. Pode me achar bonita sim. Adoro!
De qualquer forma, feliz, feliz, adorei a homenagem do Solda. Não só por fazer bem para o meu ego, mas por vir dele - essa pessoa adorável.

Um beijo amigo no seu umbigo


6 comentários:

Rafaela Pedro disse...

Oi Mê!
Quantomais eu leio seus textos, mais eu vejo como vc tem histórias maravilhosas na sua vida. Passo a acreditar cada vez mais no "o que não me mata, me fortalece!"
Sim, vc é linda!
Não, não tô puxando o saco... falo por sentir isso de verdade. SENTIR: melhor do ver!
bjo

Rafaela Pedro disse...

Sim... eu digitei tudo errado, deve ser praga!
Hehehe

Alice Salles disse...

Ah...
Moça bonita, linda!
Não demora muito para se ver, só com meia dúzia de fotinhos que você realmente é linda, talvez até mais do que imagina ser e mais do que jamais aceitaria ser e realmente aceitar ser bonita é algo difícil, especialmente quando se tem que provar qualquer coisa nesse mundo onde é difícil aceitar que mulher gostosa pode ser possuidora de uma inteligência tremenda e que não precisa de macho que puxe os fiozinhos da bonequinha de pano...

Besos, Moça Linda Mercedes

Anônimo disse...

Mas Mercedes...além de imaginar quem jantava, elas deveriam morrer de raiva!!!
Loira...linda...inteligente e com um parque de diversões de dar inveja a qualquer um...coitadas!!!hahahahahahahhahahahahahhahahahaha
Beijooooo

C. Garofani disse...

Mais uma das boas e más coisas de ser mulher, não?
Eu também tive que ouvir em agência que "a gente tinha certeza que vc entrou aqui pq era sobrinha de algum cliente poderoso e pq vc é peituda". Que raiva!!

Felizmente provar meu talento sempre consegui - ja aprendi que os outros sempre julgam o livro pela capa. É bom saber que tenho cérebro pra sustentar o lado de fora. Palhaçada aqui não!

C. Garofani disse...

E ai Mê... dá licença, você é uma gata!