quinta-feira, julho 31, 2008

100000

CEM MIL HITS

eu disse: 100.000 vezes!


Pessoas entraram 100.000 vezes neste blog!
É pra ficar feliz, ou não?

Bom dia!

quarta-feira, julho 30, 2008

Coisas da Vida #7

Lembrança

Eu encontrei a carta que ela escreveu e fiquei triste de dor ao me colocar em seu lugar e entender o vazio enorme que vem da presença dele, tão forte e, ainda assim, inexistente.

"Foi lindo imaginar o dia que você entrou no meu carro e fomos para aquele lago, onde pela primeira vez consegui olhar nos seus olhos e manter os meus ali até me enxergar dentro deles. Ainda posso sentir o resto do vinho no gosto da sua boca. Foi lindo dormir com você ao meu lado, sentir suas mãos, saber de manhã que o seu beijo me acordaria e depois de novo, e de novo, para me mostrar que estou viva. Ainda sinto o frio do lago subindo pelas minhas pernas e o toque do cobertor aquecendo os ombros, enquanto olhávamos as estrelas se despedirem da noite. Ainda tenho seus cabelos entre os dedos, o seu cheiro na minha pele, o calor do seu peito no meu rosto.
E depois, depois de anos, ao ver você de novo, seu perfume, seus olhos, seu jeito incrível, seus gestos, tudo...cada movimento seu me fez sorrir por dentro: as pernas dobradas, o pé no banco do carro, a blusa tirada pela cabeça despenteando o cabelo, o sorriso, os braços, a pele, as mãos...Ah! as suas mãos...e os olhos negros que eu amo...
os olhos negros que eu amo...
os olhos negros que eu amo e não sei encarar.
Mas foi lindo imaginar que eu entraria no seu carro e olharia dentro deles outra vez até me enxergar ali, e você me beijaria. O seu perfume colando outra vez nas minhas mãos...o seu sorriso falando baixo, quase dentro da minha boca, e o seu gosto em mim mais uma vez. A conversa deliciosa, a sua voz, o seu sotaque forte, o lençol bem passado com cheiro de ferro quente, sua pele quente, sua saliva quente, seu suor quente, seu calor...e eu. Nossas pernas se confundindo de novo, o ar da sua boca em meus ouvidos, sua boca no meu corpo, o seu corpo em mim... E agora, depois de tantos anos, eu não sei mais o que é verdade e o que sonhei. Eu tenho seu cheiro aqui, eu sei, eu sinto! Eu sinto o seu gosto, sim! Eu vejo seus olhos que eu amo e eles são negros, como é negro o vazio da incerteza. Eu não quero saber. Não quero que me contem. Me dá sua mão...me deixa ouvir a sua voz...posso deitar no seu peito?...canta de novo pra mim?...me diz que é tudo verdade. Não quero saber que cada segundo das minhas lembranças é só um fragmento do meu delírio.
Traz os seus olhos pra mim..."



Bom dia.

terça-feira, julho 29, 2008

Speechless

O solo de algumas guitarras têm o poder de me tirar a voz.
As palavras somem e eu simplesmente inexisto. Sou só ouvidos e alma por algum tempo, como anestesiada, extasiada, sei lá.
Aconteceu algumas vezes...só algumas.
Não adianta você chegar aqui com uma lista de guitarristas, de deuses, de virtuoses...porque só acontece como a música deve acontecer: sem lógica...puro instinto.
Não sei porque, mas só é assim quando é uma guitarra. Nenhum outro instrumento.

Quer a lista dos homens que me tiraram o fôlego? Pega aí:
Eric Clapton. David Gilmour. Slash. B.B.King. Geoff Farina. Prince. Zakk Wylde. E agora John Mayer.

Eu sei eu sei! Frank Zappa, Jimi Hendrix, Eddie Van Halen, Stevie Ray Vaughan não estão na minha lista! Sinto muito...reclama pra minha alma. Isso não é consciente...é uma coisa ouvida no coração e na boca do estômago. Se for para o ouvido não vale.

Enjoy

terça-feira, julho 22, 2008

Sobre amor, beleza e outras manias...


Eu lembro de ser bem pequena, de saia curta, sapato de verniz branco, meia três quartos, e sonhar com o dia que eu seria Miss Brasil. Lembro de querer ser bonita muito mais que todas as outras coisas que as pessoas queriam. Lembro que nunca me vi como os outros me vêm. Nunca tão brilhante. Nunca tão bonita.
Eu não quis ser nada importante, na verdade quis muito poucas coisas e ser alguma coisa me assustava como boa libriana: "hey! mas eu vou ter que escolher?" Como sempre fui incapaz disso, a vida foi me levando...eu já falei sobre isso por aqui e não quero me repetir...só quero chegar ao ponto: eu não quis nada, eu tive tudo, mas a desgraça da beleza nunca deixou de me assombrar. E o tempo passa... e o tempo é cruel - o tempo, a gravidade, a gravidez...
O culto ao intelecto do meu tempo, fez com que achássemos que o corpo era só um meio de transporte para o cérebro, nos matando mais cedo, nos trazendo marcas precoces, nos detonando aos poucos (e aos montes). Fumamos tudo e bebemos todas para conseguir filosofar mais claramente, ter mais talento, ser mais interessantes. Alguns de nós ainda resgataram a saúde a tempo, sem achar feio, sem achar que ficariam mais burros ou menos dignos. Outros não. E aí houve uma inversão tão perigosa quanto a primeira: minha geração cuidou demais do corpo, se plastificou, se encheu de botox, ficou neurótica, e era a academia ou a depressão, o personal ou o sentimento de abandono, a seringa ou o medo de ser mais velho do que todos os seus iguais. Enquanto os sedentários criticavam e viam a diabete e o colesterol chegarem, os novos atletas pareciam se conservar em formol.
A minha geração correu atrás de uma aparência impossível, porque não inventaram nada para trazer de volta a pele dos vinte anos. Preenche-se tudo, mas perde-se a identidade. Troca-se tudo...peito por silicone, ruga por restyline e botox, pernas finas e bundas chatas por próteses, maridos por meninos, esposas por modelos, famílias por aventuras.
E eu tenho medo de descobrir mais tarde que toda uma geração se perdeu ao perder a maturidade, por achar que a adolescência não precisava passar. Medo que todo mundo se olhe no espelho daqui há um tempo e descubra que está disforme, irreconhecível, e...sinto muito...ainda assim, velho!

Já bem tarde na vida, encontrei um homem cinco anos mais novo do que eu. Vampira que sou, guardei ele para mim, garantindo a porção de juventude que podia me faltar um dia. E nós crescemos juntos. Ao lado dele eu virei uma matrona várias vezes. Ao lado dele eu cheguei aos quase 90 quilos. Ao lado dele eu jamais escutei uma crítica referente ao meu corpo ou às marcas do tempo. Se saí correndo para malhar, para fazer regime, para fazer uma lipo, para fazer um laser, foi sem que ele jamais sugerisse nada. Aí...no fim desse meu regime enlouquecido, em que já dei adeus a quase todos os quilos a mais, eu olho para ele e percebo que para ele tanto faz. É a mim que ele ama! Ele não quer saber se eu tenho músculos ou flacidez, se minha pele tem manchas, rugas, celulite...ele quer saber se eu estou feliz. Ele está envelhecendo ao meu lado e a história de vida que temos é muito mais valiosa do que uma injeção de botox que vai durar no máximo quatro meses. Ele sabe que olhar no espelho e gostar de mim mesma me faz feliz, mas isso só serve para ele apoiar as minhas loucuras, e seguir sorrindo, porque para ele, seja velha ajeitadinha ou velha carcomida, o importante é que eu esteja lá.
Um amigo me disse outro dia que as mulheres não têm idéia do quanto são lindas aos cinquenta anos...veja só...quem diria? Quem sabe ele nem é louco. Quem sabe nós, mulheres, é que exigimos demais de nós mesmas. Ao ver aquele cartão no Post Secret desse Domingo, me lembrei do meu amigo, e do meu marido, e do quanto o tempo passou...o quanto ele deixou marcas, e o quanto o tempo faz parte de mim...e eu dele.

Então eu quis ser miss, eu quis ser musa e esse querer não tem, no fim das contas, nada a ver com beleza. Mas eu, boba, não sabia.



Um beijo amigo no seu umbigo.


PostSecret é aqui.

terça-feira, julho 15, 2008

Acordar...

...e abrir a porta do quarto, sempre reserva surpresas.
É um tatu nadador na piscina, um gato escondido nas lavandas, pulando para dar bom dia, ou uma visão mágica qualquer.
Se isso não é "Bom Dia", o que há de ser?

Depois de uma cena assim, nada é capaz de estragar o dia que começa.
Combinado, dia?
Faz favor!


Bom dia!

quinta-feira, julho 10, 2008

Dear Therapist,


Depois do post aí embaixo eu achei injusto dizer que você leria os textos balançando a cabecinha e fazendo tsc tsc. Acho que seria justo economizar o seu tempo e dar de uma vez a lista das conclusões que você vai tirar ao adentrar as portas da minha intimidade pública. Assim você não precisa ler os 237 textos postados aqui. Veja que bacana que eu sou. Tentemos uma análise por post.
Vamos à lista:

1. Um Tango para George - mini-novela em 9 capítulos e meio:
Você vai dizer que eu projetei uma história que eu gostaria que acontecesse comigo, porque falta algo na minha vida, blablabla. Juro que eu nunca pensei em ficar com o George Clooney. Sério.

2. Protect me from what I want
Você vai ficar feliz por eu ter consciência da minha esquizofrenia light.

3. A Mão Grande do Amor da Minha Vida
Você vai achar que eu preciso de proteção paterna...que eu me sinto desamparada...mas eu te adianto que se eu "desamparar" o resto da casa cai, minha nega.

4. Daren e Mariana
Vish...no mínimo vai chamar o hospital psiquiátrico. Mas eu quero levar o clubinho junto!

5. Eu que sou chata?
Você não vai dizer nada porque eu aposto que você também manda uns pps. hehehe

6. Medo
Divirta-se com esse. É sério e tem trabalho pra você nele.

7. Se iludir menos?
Você vai dizer que eu vivo à busca de uma outra realidade, como se ela fosse a minha referência de vida, mas não necessariamente a vida que eu quero. E que isso é um leve sintoma de esquizofrenia...não...bipolaridade? Não...talvez só uma infantilidade mesmo, mas vamos falar sobre a sua infância...

8. Insanity
Oh my God, essa vai te arrepiar os pelinhos da orelha! Pobre, pobre, pobre e atrapalhada Mercedes, perdeu a bússola há anos e nem se deu conta. Ou se deu conta mas está achando graça do que pode na verdade ser terrível.

9. Pessimismo
Sim sim, você vai dizer que eu nego o comportamento das mulheres da minha idade porque eu me recuso a envelhecer, amadurecer, enchatecer, etc...Não é verdade. Eu só não sou igual a elas. Period.

10. Vida leva eu...
Talvez você cale como até eu calei agora quando reli este texto.

11. Desabafo de Ella Spotlesmind
Ai ai ai...vai ser um saco ouvir tudo o que você vai ter pra dizer. Vai ser péssimo ouvir o que eu já estou careca de saber. Céus! Eu tenho 47 anos; se eu não me conhecer, quem há de?
Mas hey! Ella não sou eu...Ha!

12. Inexistência
- Mercedes, me conte esta história....
- Nunca! "Não quero falar de você. Não lembro. Não sei quem é."

13. A Outra História
...

14. Coisas da vida 1, 2, 3, 4, 5, 6
...

15. Feijões
"Quem você pensa que é para tornar tudo tão simples?"

Olha, eu tenho certeza que você tem muito mais o que ler.
Não adianta ler os meus textos tentando me analisar. Em cada um deles eu estou inteira. Em cada história, cada frase, cada linha.
Não há como dissecar algo que se apresenta inteiro. Para facilitar o seu trabalho, vou dizer: em duzentos e poucos textos, mais o TPM, o in english e os outros, eu sou eu e sou muitas. Não há Aaron Beck que possa mudar isso. E se ele tentar eu grito!

Still crazy after all these years


Hoje fui ao médico. Na verdade médica. Fui me pesar e descobrir quanto tempo falta para eu me olhar no espelho e ficar feliz. "Quanto tempo é 4 kilos?" Conversando com ela, eu acabei dizendo para mim mesma o que está acontecendo comigo: eu estou feliz demais para escrever. É isso! Eureka! Preciso de algo que me deprima, urgente! "Dá um remedinho?" Como eu posso escrever coisas emocionantes se eu dirijo até o consultório dela cantando alto e sorrido feito uma doida? Se eu dou risada o dia inteiro? Se meus ataques de brabeza não duram mais do que cinco minutos e, não conta pra ninguém, eu não fucking tenho do que reclamar!

Por falar em dirigir, a trilha sonora no meu carro hoje esteve meio vergonhosa por alguns minutos, mas eu não pude evitar. Juro que não pude!

"Hello...is it me you're looking for?
I can see it in your eyes...
I can see it in your smile..."

Meu pai! Eu só tenho perdão porque não era o Lionel Richie cantando. E lá vai Mercedes na Marginal Pinheiros, vidro aberto, cigarro na mão, óculos escuros, berrando: I can see it in your eeeeeyes...

E as pessoas querem que eu escreva? Você tem noção do quanto eu dei risada da minha própria trilha sonora? Como eu vou chegar em casa depois disso e escrever um texto sério? Inventar uma história de amor? Contar uma lembrança singela de infância? Impossível! A verdade verdeira é que há duas semanas eu tive uma decepção gigante que me tirou o chão de um jeito, que depois dela eu fiquei leve. Juro. Estou leve e feliz como...como...hmmm...sabe namorado novo? Assim. Como se eu tivesse namorado novo. Não tenho, viu? Tenho aquele de sempre, que acorda aqui em casa todo dia, mas adoooouro!

A outra coisa que eu lembrei quando estava conversando com a minha little médica (sim, ela é meio miniatura), é que na primeira conversa com a terapeuta nova da Natasha, eu acabei falando que eu escrevo. Ai meu deus, eu e a minha boca grande! Já menti tanto nessa vida de meu deus, fui falar a verdade logo pra terapeuta...Pois ela perguntou do meu blog e você não sabe o que eu fiz. EU DEI O ENDEREÇO DO BLOG PRA CRIATURA. NÃAAAAAAO! PRA TERAPEUTA NÃAAAAO! Depois eu só faltei bater a cabeça na quina da mesa até sangrar! Você pode imaginar a terapeuta com aquele jeitinho meigo e professoral de falar, lendo esse blog? Isso não vai prestar... Eu tenho certeza que ela vai ler post por post balançando a cabecinha e fazendo "tsc, tsc, tsc" com olhar de "hãn...está explicado". Quando ela me chamar para entregar o diploma negro da mãe deformadora de filhas, eu vou mandar dizer que fui pro Tibet passar sete anos com o Brad Pitt. Pra Londres cuidar dos cachorrinhos da rainha! Pra Colômbia, me juntar às FARC e comer minhoca na selva por 10 anos! Ai jesus me leva!

Então, senhoras e senhores, é isso por hoje. Eu realmente sinto muito se não tenho nada de muito útil para dizer, mas a culpa é do Lionel Richie.

Um beijo amigo no seu umbigo.

terça-feira, julho 08, 2008

Meus Não Gostares

. Não gosto de legume refogado. Tem cheiro de hospital e casa de velho.

. Não gosto de gente que fala olhando para baixo. Geralmente são pessoas enrustidas que se fazem de humildes, mas humildade não é submissão. Espero sempre a punhalada, e ela vem!

. Não gosto de quem anda como gato, sem fazer barulho, se esgueirando pelas portas, que pede licença pra existir. Gosto de gente espaçosa que pisa firme e fala grosso.

. Não gosto de dirigir com som muito alto: entro em transe e saio do chão. É perigoso demais. (eu nasci chapada, lembra?)

. Não gosto de olhar para baixo quando estou em lugar alto. Meu medo de altura supera toda a razão do universo.

. Não gosto de pagar contas. Acho injusto pagar para comer. Já disse isso antes: devia ser proibido pagar por qualquer coisa que dure menos de 7 dias ou vire cocô de alguma forma.

. Não gosto de sentar no banco do passageiro, ou atrás. Quero o volante na minha mão, e isso cabe a todas as áreas da minha vida.

. Não gosto de montanha russa, carrocel, pêndulo, trapézio, chapéu mexicano e das coisas que divertem a maioria das pessoas. Mas qualquer prazer me diverte. (Eu disse "prazer". Frio na barriga e tensão não me dão prazer nenhum, muito pelo contrário).

. Não gosto de pimentão cozido, banana crua, doce de laranja, limão depois de meia hora, torta de requeijão, carne bem passada, azeite que não seja de oliva, bebida muito seca, perfume muito doce, melado com farinha, goiabada com queijo, pão doce, coisas à califórnia a não ser eu...na Califórnia.

. Não gosto de música repetitiva. Mesmo os maiores gênios da música são capazes de me irritar profundamente com um instrumento repetindo a mesma nota, que você nem sabia que estava lá. Isso serve também para refrões, solos infinitos, jazz ou rock progressivos, finais de música que repetem a mesma letra: "Tá bom! Já ouvi! Cala a boca, praga!"

. Não gosto de amigo folgado que acha que o que é meu é dele: meu celular, meu cigarro, minha máquina fotográfica, minha grana.

. Não gosto de esperar resposta no msn.

. Não gosto de gente que fala fala fala e na minha vez tem que sair.

. Não gosto de pagode, sertanejo, sambinha mal cantado, nem daquela voz de carpideira das mulheres da velha guarda da mangueira. Também não gosto desse novo-emo-rock-brasileiro-mal-cantado-pra-carái-com-letra-ruim-demais.

. Não gosto de filme de terror. Cinema não é pra passar mal.

. Não gosto de perder o controle, não saber o que falo ou faço, não estar firme para caminhar ou raciocinar. Por isso nunca me dei bem com as drogas e detesto tomar calmante. Pra mim é um "prazer-terror", igual às montanhas russas e etc. Não entendo essa sensação de "liberdade" incompreensível. Sou super livre com meus pés no chão. Rio, me divirto, crio e saio da realidade sem precisar de agentes externos. Bem...já mensionei que nasci chapada?

. Não gosto de ingratidão.

. Não gosto de um monte de outras coisas pequenas que na verdade não fazem muita diferença na minha vida. Sou tolerante o bastante pra aguentar até cheiro de abobrinha refogada. Mas só de vez em quando!

. Ah...não gosto de falta de assunto. ;)

Bom dia.

terça-feira, julho 01, 2008

Multitalentos Sazonais.



"- Então, Mercedes, o que você sabe fazer?
- Depende...quando?
- Como assim quando?
- É que um dia eu sei coisas que nunca mais vou saber. Amanhã já sei outras..."

Não, não é que eu seja exatamente louca, é que as coisas mudam na minha vida de uma forma estranha. Sério! Eu sei fazer tudo e nada ao mesmo tempo, a não ser que eu precise aprender em tempo récorde alguma coisa que eu resolvi que é importante saber.
Complicado ainda? Ah...me deus...então eu vou ter que contar história.
Tudo começou quando eu nasci. Naquela época eu não sabia fazer nada e talvez isso tenha sido um pouco irritante. Eu cresci meio tonga, completamente sem agilidade para coisas de criança: eu corria mal, eu era péssima piloto de bicicleta, era atrapalhada, não andava em muro, não pulava corda decentemente, não entendia a maioria da brincadeiras, não tinha elasticidade... Então precisei me virar para saber muito muito bem as coisas que eram urgentes, como pular elástico. Campeã absoluta de pular elástico no recreio, hoje não lembro nem a sequência da coisa toda. Depois fiquei craque em subir em árvore, mas só em árvore, até que fiquei incapaz de subir num banquinho, quanto mais numa árvore.
Bom...as aulas de educação física eram uma tragédia, a não ser que fosse ginástica ritmica ou coisas relacionadas a dança e teatro. Então grudei na minha amiga bailarina e ninguém dizia que eu não fazia balet com ela. Aprendi coreografias que ela passava o ano ensaiando e...Bingo! Aprendi a dançar. A partir dali, sempre que tinha uma apresentação na escola, eu fazia parte da equipe que coreografava e estava sempre na primeira fila. Isto me rendeu alguns dos maiores micos da minha vida, como aprensentar uma dança sobre a Gralha Azul num congresso de educação em Fortaleza, onde eu e mais duas meninas éramos pinhões. Foi assim que desisti da dança...E continuava estabanada e desengonçada para a maioria das coisas.
Na 5a. série, eu já estava exausta de não saber matemática - a verdade é que não sei até hoje - e eu odiava aquele professor coreano que tinha um bafo terrível que eu só vim a sentir de novo quando fui a primeira vez na Rua 25 de Março. Sim, na hora do almoço aquele lugar fede a sopa de pum, que era exatamente o bafo do meu professor. Para me livrar dele, eu aprendi logarítimo. Acho que eu sabia mais do que ele. Tirei 10 em todas as provas daquele ano. Eu - a rainha do logarítimo! Pois é...mas nas férias eu já tinha esquecido tudo. O meu outro truque, já que eu não tinha capacidade de decorar as fórmulas malditas de física e matemática era calcular as coisas usando o método "MY WAY", ou seja, eu olhava para o exercício e resolvia que ia dar um jeito nele...e ia calculando ao deus dará até chegar a algum resultado. E pasme! Nem sempre estava errado, embora estivesse. O tempo que eu levava explicando o meu raciocínio para o professor era suficiente para ele resolver que eu me esforcei. Bingo outra vez!
Para compensar todas as notas horríveis de todo o meu "ginásio" e segundo grau, eu escrevia. Minhas redações eram geniais assim como os trabalhos de história, onde eu dava um banho, não da história em si, mas da minha visão dela. Pronto! Achei o jeito de passar de ano: escrever muito sempre. Como isso nunca bastava, eu aprendi a falar. Falar passou a ser o meu principal talento: "deixa que eu apresento!" Na faculdade eu trabalhava e não tinha tempo para nada, então minha equipe fazia sempre um lazarento trabalho mal escrito, com conteúdo tosco...eu chegava na faculdade, matava a primeira aula, pegava os livros que serviram de fonte para o trabalho tosco e dava uma lida. Isso já dava para eu chegar la na frente e garantir um 10. Como? Falando, elocubrando, enrolando! Neste mesmo raciocínio fiz uma prova de biologia que tinha uma pergunta só, num papel almaço. Aff... justamente a pergunta que eu não sabia responder. Básico, comecei assim: "Isso eu não sei, mas se você me perguntasse como funciona o...." e quatro páginas de blablablas a respeito....pronto; outro 10.
A conclusão é que durante a minha vida escolar descobri meus dois únicos talentos duradouros: escrever e pensar.
Mas um dia vi um desenho feito pelo meu tio Marcilio e perguntei como ele conseguia desenhar. Ele respondeu: "segura o lápis bem lá em cima e desenha." Isso já era informação suficiente para mim. Peguei papel, segurei o lápis bem lá em cima e copiei uma foto da minha mãe. Deu certo. Aprendi a desenhar e a partir daquele dia passei a desenhar bem. Durante muito tempo desenhei, pintei quadros, retratei pessoas. Tive um namorado lindo, e um dia resolvi fazer um presente para ele; fiz um quadro que misturava colagem e desenho, com o rosto dele. Não me lembro bem como era, mas lembro que a colagem era com papel vermelho, o rosto dele com crayon e ficou genial. Nunca mais desenhei. Sei la porque.
Aos 14 anos me vi sozinha de castigo dentro de um quarto onde eu teria que estudar três horas por dia durante as férias inteiras. Dammit! Fora eu e os livros, o quarto guardava um violão. Pronto...peguei o violão e resolvi que ia tocar. Foi difícil, fiz bolha dos dedos, não estudei nada mas consegui. Depois ficou muito difícil tirar as músicas que eu gostava, sem o menor conhecimento de nada, então eu, que já escrevia, comecei a compor. Ha! Que fácil! Não sei se as músicas eram boas, porque esqueci todas elas, mas sei que ganhei um festival no colégio, e que me divertia tocando para as minhas amigas que sabiam todas as músicas de cor. Quer saber se eu ainda toco violão? Impossível! Nem quadradinho de dó! Nada! Nem Stairway to Heaven, que o universo inteiro sabe! Ensinei meu irmão, algumas amigas, meu primo, fiquei sem violão e desaprendi completamente. Hoje aqui em casa tem dois violões e uma viola...e nada!
Eu também fiz quadros em aquarela com desenhos infantis que contavam histórias em espiral. Lindos! Lindos! Se eu encontrasse pra comprar compraria todos. E o que eu fiz? Dei um para minha filha, um para minha sobrinha, outro pra filha de uma amiga, e nunca mais fiz nenhum. Muita gente perguntou por que eu não escrevia um livro infantil assim, eu achei uma idéia bonitinha, e desaprendi a pintar com aquarela...
Quis saber sobre kabalah, sobre anjos, sobre energia, sobre fengshui, sobre o poder do pensamento...fui atrás, aprendi tudo, usei tudo o que podia, fiz terapia de regressão, hipnose, aprendi a ler Tarot, me aproveitei de cada informação, resolvendo coisas ha muito abandonadas na minha vida. Um dia, minha irmã mais velha tornou-se uma mística... mais tarde um pouco, me ligou perguntando alguma coisa e eu disse a ela que não fazia a menor idéia. "Como assim? Foi você quem me ensinou tudo o que eu sei!" Foi? Nossa...eu não sei mais nada disso.
Nesse mesmo clima de "preciso saber" aprendi inglês sozinha...só porque eu quis. O Francês que eu aprendi na escola, esqueci. Mas costurei. Muito ajustei meus próprios jeans. Já fiz enfeites de natal de matelassê com moldes próprios: papai noel, anjinho, botas, estrelas, pinheirinhos...além de fofos e recheados, eles tinham bordados e apliques. Duraram milênios. Foram feitos há 25 anos e minha mãe ainda tem alguns. Se hoje eu sentar na máquina de costura, embolo toda a linha e sequer consigo traçar uma linha reta. Esqueci!
Já pintei cerâmica, fiz vasos, pintei madeira, fiz suplats de natal, coisinhas country, já fiz pátina em móveis, já fiz blusas de tricot trabalhadézimas, já fiz cartões com colagens incríveis, já fui a melhor em cabalhota sem as mãos...já fui fotógrafa - vocês lembram!

E todas as coisas que eu sei, todas as que já fiz, todas elas vêm e vão, como se não passassem de uma necessidade momentânea. Eu aprendo rápido. Eu esqueço rápido. A única coisa que veio e nunca mais se foi, parece ser essa necessidade de escrever e pensar e especular e viver sonhando. Todo o resto é passageiro e vem preencher um espaço, quando o espaço existe.


Tocando Violão - By Zanicotti, 1974?
Fada - foto 2005

Vela - falta do que fazer 2003
Natal - idem, 2004