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"- Então, Mercedes, o que você sabe fazer?
- Depende...quando?
- Como assim quando?
- É que um dia eu sei coisas que nunca mais vou saber. Amanhã já sei outras..."
- Depende...quando?
- Como assim quando?
- É que um dia eu sei coisas que nunca mais vou saber. Amanhã já sei outras..."
Não, não é que eu seja exatamente louca, é que as coisas mudam na minha vida de uma forma estranha. Sério! Eu sei fazer tudo e nada ao mesmo tempo, a não ser que eu precise aprender em tempo récorde alguma coisa que eu resolvi que é importante saber.
Complicado ainda? Ah...me deus...então eu vou ter que contar história.
Tudo começou quando eu nasci. Naquela época eu não sabia fazer nada e talvez isso tenha sido um pouco irritante. Eu cresci meio tonga, completamente sem agilidade para coisas de criança: eu corria mal, eu era péssima piloto de bicicleta, era atrapalhada, não andava em muro, não pulava corda decentemente, não entendia a maioria da brincadeiras, não tinha elasticidade... Então precisei me virar para saber muito muito bem as coisas que eram urgentes, como pular elástico. Campeã absoluta de pular elástico no recreio, hoje não lembro nem a sequência da coisa toda. Depois fiquei craque em subir em árvore, mas só em árvore, até que fiquei incapaz de subir num banquinho, quanto mais numa árvore.
Bom...as aulas de educação física eram uma tragédia, a não ser que fosse ginástica ritmica ou coisas relacio
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Na 5a. série, eu já estava exausta de não saber matemática - a verdade é que não sei até hoje - e eu odiava aquele professor coreano que tinha um bafo terrível que eu só vim a sentir de novo quando fui a primeira vez na Rua 25 de Março. Sim, na hora do almoço aquele lugar fede a sopa de pum, que era exatamente o bafo do meu professor. Para me livrar dele, eu aprendi logarítimo. Acho que eu sabia mais do que ele. Tirei 10 em todas as provas daquele ano. Eu - a rainha do logarítimo! Pois é...mas nas férias eu já tinha esquecido tudo. O meu outro truque, já que eu não tinha capacidade de decorar as fórmulas malditas de física e matemática era calcular as coisas usando o método "MY WAY", ou seja, eu olhava para o exercício e resolvia que ia dar um jeito nele...e ia calculando ao deus dará até chegar a algum resultado. E pasme! Nem sempre estava errado, embora estivesse. O tempo que eu levava explicando o meu raciocínio para o professor era suficiente para ele resolver que eu me esforcei. Bingo outra vez!
Para compensar todas as notas horríveis de todo o meu "ginásio" e segundo grau, eu escrevia. Minhas redações eram geniais assim como os trabalhos de história, onde eu dava um banho, não da história em si, mas da minha visão dela. Pronto! Achei o jeito de passar de ano: escrever muito sempre. Como isso nunca bastava, eu aprendi a falar. Falar passou a ser o meu principal talento: "deixa que eu apresento!" Na faculdade eu trabalhava e não tinha tempo para nada, então minha equipe fazia sempre um lazarento trabalho mal escrito, com conteúdo tosco...eu chegava na faculdade, matava a primeira aula, pegava os livros que serviram de fonte para o trabalho tosco e dava uma lida. Isso já dava para eu chegar la na frente e garantir um 10. Como? Falando, elocubrando, enrolando! Neste mesmo raciocínio fiz uma prova de biologia que tinha uma pergunta só, num papel almaço. Aff... justamente a pergunta que eu não sabia responder. Básico, comecei assim: "Isso eu não sei, mas se você me perguntasse como funciona o...." e quatro páginas de blablablas a respeito....pronto; outro 10.
A conclusão é que durante a minha vida escolar descobri meus dois únicos talentos duradouros: escrever e pensar.
Mas um dia vi um desenho feito pelo meu tio Marcilio e perguntei como ele conseguia desenhar. Ele respondeu: "segura o lápis bem lá em cima e desenha." Isso já era informação suficiente para mim. Peguei papel, segurei o lápis bem lá em cima e copiei uma foto da minha mãe. Deu certo. Aprendi a desenhar e a partir daquele dia passei a desenhar bem. Durante muito tempo desenhei, pintei quadros, retratei pessoas. Tive um namorado lindo, e um dia resolvi fazer um presente para ele; fiz um quadro que misturava colagem e desenho, com o rosto dele. Não me lembro bem como era, mas lembro que a colagem era com papel vermelho, o rosto dele com crayon e ficou genial. Nunca mais desenhei. Sei la porque.
Aos 14 anos me vi sozinha de castigo dentro de um quarto onde eu teria que estud
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Eu também fiz quadros em aquarela com desenhos infantis que contavam histórias em espiral. Lindos! Lindos! Se eu encontrasse pra comprar compraria todos. E o que eu fiz? Dei um para minha filha, um para minha sobrinha, outro pra filha de uma amiga, e nunca mais fiz nenhum. Muita gente perguntou por que eu não escrevia um livro infantil assim, eu achei uma idéia bonitinha, e desaprendi a pintar com aquarela...
Quis saber sobre kabalah, sobre anjos, sobre energia, sobre fengshui, sobre o poder do pensamento...fui atrás, aprendi tudo, usei tudo o que podia, fiz terapia de regressão, hipnose, aprendi a ler Tarot, me aproveitei de cada informação, resolvendo coisas ha muito abandonadas na minha vida. Um dia, minha irmã mais velha tornou-se uma mística... mais tarde um pouco, me ligou perguntando alguma coisa e eu disse a ela que não fazia a menor idéia. "Como assim? Foi você quem me ensinou tudo o que eu sei!" Foi? Nossa...eu não sei mais nada disso.
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Já pintei cerâmica, fiz vasos, pintei madeira, fiz suplats de natal, coisinhas country, já fiz pátina em móveis, já fiz blusas de tricot trabalhadézimas, já fiz cartões com colagens incríveis, já fui a melhor em cabalhota sem as mãos...já fui fotógrafa - vocês lembram!
E todas as coisas que eu sei, todas as que já fiz, todas elas vêm e vão, como se não passassem de uma necessidade momentânea. Eu aprendo rápido. Eu esqueço rápido. A única coisa que veio e nunca mais se foi, parece ser essa necessidade de escrever e pensar e especular e viver sonhando. Todo o resto é passageiro e vem preencher um espaço, quando o espaço existe.
Tocando Violão - By Zanicotti, 1974?
Fada - foto 2005
Vela - falta do que fazer 2003
Natal - idem, 2004
Fada - foto 2005
Vela - falta do que fazer 2003
Natal - idem, 2004
7 comentários:
Ainda bem que vc aprende!!!!
Tem gente que não consegue aprender e só vem pro mundo pra fingir que é útil pra algo!!! ARGH!!!
E qui linda vc tocando!!!!
beijinhos
Lembrei de outra coisa....lembra quando vc resolveu aprender a atirar? Fazia aula de tiro e tinha uma pontaria danada de boa, além de saber carregar as próprias balas. Sabe o que adoro? É que muitas destas coisas que vc aprendeu e desaprendeu eu estava longe mas acompanhando tudo com um carinho e orgulho enormes....lov u
Uma vida é pouco pra vc!
Essa é a verdade.
bjs
Como dizia Elis Regina...
Vivendo e aprendendo a jogar
Nem sempre ganhando
Nem sempre perdendo
Mas aprendendo a jogar
Água mole em pedra dura
Mais vale que dois voando
Se eu nascesse assim pra lua
Não estaria trabalhando
haahaahah 1001 utilidades... mas acho que a grande graça da vida tá nisso, ser curiosa, querer aprender sempre, mesmo que se desista depois!
qual vai ser a proxima loucura?
ai, me, só vc mesmo!
dei uita risada lendo tudo, porque cosigo imaginar exa-ta-men-te a menina mercedes pensando como vc escreveu.
já eu to tendo que aprender um troço difícil prá caramba e que - espero eu! - não poderá ser squcido depois...
Por isso o sumiço!
Saudades, sempre!
Apesar da ausência, continuo amando isso aqui. Eu sempre encontro um pouco de mim entre um texto e outro. E o que acabo de ler me parece o retrato do meu alterego que eu desconhecia. Eu só aprendo o que é importante e depois da urgência; esqueço!
Beijos.
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