segunda-feira, abril 07, 2008

Sobre Bichos-Grilos e Bruxas Malvadas

Gente boa da melhor qualidade: Elder, Izabel, Sirley


Socorro!
Fui literalmente invadida...quer dizer...minha caixa postal foi invadida por um grupo enorme de pessoas que me conheceram quando eu era bicho grilo. -- Cabelos o vento, calça jeans, bata indiana, alpargata. Quando não, pelo menos uma bandana no pescoço era de lei. Camiseta do Solidarnosk, bota de camurça amarrada, quadro do Che na sala de casa, muito show ruim...muito evento chato...muito amigo artista...total poncho e conga. Ai! Agora eles vão contar o meu segredo por aí.
Não! Não acreditem na bichogrilice (isso é uma palavra?), mas podem confiar nas pessoas, porque eu só tenho lembranças boas daquele tempo.
Pera aí...só? Será?
E aquela bruxa malvada que chegava de cara amassada e se maquilava com o espelhinho encostado na máquina de escrever, limpando as pontas dos dedos na barra da calça a cada troca: do pó pro blush, do blush pra sombra, da sombra pro batom, da-lhe colorir a barra da calça por dentro! Deixa eu lembrar se eu tenho boas coisas pra contar sobre ela... é.... err.... hum....Não!
Mas há frases célebres:
"Dê graças a deus de ganhar pouco, Mercedes. Você nem imagina a quantidade de descontos na fonte que eu tenho...a soma dá muito mais que o dobro do seu salário."
Obrigada! Essa informação me fez realmente feliz! Quero ganhar pouco pra sempre...
"Agora você é magrinha, bonitinha, quando você tiver os meus trinta anos, vai ver o que é bom."
Hello? Isso é uma praga? Fiquei tão apavorada, que aos trinta eu estava muito melhor do que aos dezoito.
Ela era tão bacana tão bacana, que um dia foi dizer pro nosso chefe que não era eu quem fazia os meus textos. Coitada...Disse que eu passava a manhã empacada, ia almoçar com o meu namorado (que era um criador premiado da época) e voltava com o texto resolvido. Gente!!! Vai ser boa no inferno pra escravizar um redator e fazer ele trabalhar "de grátis" só pra você. Wow! Poderosa...
Passado isso, a bruxa malvada resolveu dizer que pra cada três jobs que ela entregava eu não fazia nenhum. Sim sim...certo, se você desconsiderar o fato de que ela era a pessoa que me passava os jobs, e eu passava dias e dias implorando por unzinho e recebendo sempre um "já vai" como resposta.

Deixemos a bruxa, mudemos de assunto.
No momento em que a minha caixa postal foi invadida eu fiz uma viagem no tempo e fiquei tentando descobrir quando exatamente eu deixei de ser aquela menininha boba porém gostosinha, para me tornar essa mulher esperta porém gorducha! E lembrei de muita gente boa da melhor qualidade, que fazia a bruxa malvada ser quase um pum em meio a um universo de gases nobres. Foi ruim isso? Uma nota destoante em meio a uma orquestra sinfônica. Melhor? Uma pequena deformação na natureza perfeita da... da... diversão no trabalho. Foram dias divertidos, sem dúvida. Eu não sabia nada! Caí ali como o último patinho a chegar na lagoa e aprendi demais.
. O que me fez conseguir tão cobiçado emprego?
- Ser protegida dos dois únicos colunistas de propaganda da época - Ney Alvez e Silvia Dias - e indicada por eles.
. Como me tornei protegida deles?
- Não faz pergunta difícil...eu não faço a menor idéia! Deve ser o meu jeitinho...
. O que me fez ter problemas com a Bruxa Malvada?
- Provavelmente o namorado pintoso que eu arranjei super sem querer numa outra agência, ou um quadril de tamanho aceitável (relaxa, isso mudou!).
. Qual era o meu talento mal aproveitado?
- Escrever...
E foi ali que eu tive que aprender na marra que não posso escrever só o que eu quero. Foi ali que eu tive que transformar toda a poesia do mundo em folheto de produto bancário: você sabe escrever? Então escreva sobre seguro de vida! Escreva sobre CDB! Escreva sobre inauguração de agência bancária em Coxipó da Ponte! Muito bem! Muito bem! Ah, que vida engraçada! Tudo isso sob o olhar fulminante da Bruxa Malvada do Leste e a proteção da linda e carinhosa Rosicler, que sentava logo atrás de mim e era doce como um anjo. E eu, Dorothy, crente que o mundo era cor-de-rosinha, tadinha, me divertia horrores com o resto da agência.
Ali eu usava um papel de rascunho amarelinho inesquecível. Era um papel de seda, quase transparente, onde eu escrevia à máquina textos de trabalho, mas também escrevia poemas, cartas e letras de música. Hoje, quando abro a pasta onde eles estão guardados, morro de rir, porque faltam muitas partes das folhas de papel. Milhares de pedaços foram recortados por amigos que fumaram tudo o que havia em volta dos meus poemas e deixaram só as letrinhas. E eu, que nem fumava, guardo até hoje o resultado de milhares de baseados enrolados em partes de poemas de qualidade questionável! Neurônios queimados? Eu duvido. Neurônios adubados. Ah! A vida é sim engraçada!

Época fecunda aquela, por falar em adubo. Época em que ainda havia romantismo e alguma arte na propaganda. Época em que havia espaço nas agências para meninas de dezoito anos curiosas e com a cabeça na lua. Época da máquina de escrever, de nankin, ecoline, letraset, arte final, revisão no overlay. Época da invenção do Marketing, pode-se dizer, quando ainda eram poucas as gravatas e quase não se ouvia falar em MBA. Ainda se usava o instinto. Ainda valia ser artista. Aquelas pessoas com sotaques diversos inventaram uma agência que inventou a imagem de um banco incrível, que começou com um fazendeiro visionário e terminou com outro fazendeiro visonário. Tudo aquilo era, na verdade, uma comunhão de loucos visionários.
Eu não passei muito tempo ali, talvez um ano ou um pouco mais, o suficiente pra eu poder me gabar.
Agora, minha caixa postal vem trazendo todos os dias um pedaço daquele tempo. Com isso eu descubro que alguns algozes hoje me parecem doces*. A menina bicho-grilo me parece engraçada e muito mais bem intensionada do que eu achava que era. A vida me parece rica de histórias boas. E vendo as fotos, os anos 80 me parecem cheios de bigodes.
Olhar para aqueles dias me traz lembranças incríveis. Até a barra da calça maquiada da malvadona me faz sorrir.
Bom demais.

Um beijo amigo no seu umbigo.

*(menos a bruxa malvada que eu ainda acho malvada)



4 comentários:

Anônimo disse...

Eu não sou da era bicho grilo...
Mas queria ter visto (queria?) a cara da bruxa malvada.
Hehehe!
Adoro como você aprecia o que passou, sem pintar tudo de pink!
bj

MgMyself disse...

Hahahahha! Rafa, como? como? como? Como eu poderia pintar a bruxa malvada de pink? Impossível!

A Izabel me mandou um e-mail ótimo reclamando da foto dela no post. Tipo : COMO OUSAS? hahahah!
Fez ameaças gravíssimas, como conseguir fotos horrorosas minhas com a Rose e espalhar por aí.
Socorro!!!

:)

Alice Salles disse...

adoro quando você conta as suas histórias passadas...
podia contar maaaais né?

Edson Perin disse...

Putz...o pior é que eu esqueci quem era a bruxa malvada e fiquei curioso...quem era mesmo?