terça-feira, outubro 02, 2007

Efeito Brokeback Leibovitz


Eu já disse que eu choro?
Claro que já. Mas fazia tempo que eu não dizia. Só não fazia tempo que eu não chorava. Se eu fosse tentar mentir, vocês saberiam, porque ha dois post eu estava chorando. Pois é...porque eu choro!

Demorei para acordar hoje. Não assim, de acordar tarde. Acordei cedo mas já meio anestesiada. O dia de hoje já tinha uma cara de quem queria chorar. Tomei café, paguei conta (blegh! odeio o primeiro dia do mês), não li o jornal, entrei online...conversei um pouco e fui para a cama.
A porta do quarto estava aberta para o jardim, com um dia lindo e gelado lá fora. Um vento delicioso entrando e gelando as minhas pernas, então eu me cobri, fiquei sentada na cama e abri o meu presente de aniversário. Abri porque um livro se abre. E este é grande. é quase preciso usar as duas mãos para abrí-lo. Pois abri e comecei a virar as páginas esperando encontrar apenas o trabalho brilhante de um fotógrafo, mas encontrei bem mais. Encontrei o relado de uma vida. O retrato de um amor, da sua descoberta ao seu fim, se é que acabou. Não...se tivesse acabado não estaria num livro.
É o livro da Annie Leibovitz chamado "A photographer's Life", onde ela conta através de fotos, sua história de amor. Ou seriam várias histórias de amor e uma de grande coragem e generosidade?

As fotos mostram momentos de cumplicidade extrema entre ela e a escritora Susan Sontag. As viagens, o apartamento, a vista do estúdio, escritos de uma e fotos da outra...e vai de 1990, quando tudo começou, a 2004, quando Susan Sontag morreu de câncer no útero e leucemia. Ao mesmo tempo, vemos os pais de Annie envelhecendo até o aniversário de 90 anos da mãe e a morte do pai, também em 2005. É uma história de amor em família.

Quando a filha mais nova de Annie - Sarah - nasceu, Susan já estava doente. E as fotos registram passo a passo sua doença, mostrando uma coragem imensa das duas.
Conheço pessoas que acharíam absurdo fotografar a morte lenta da pessoa que amam. Mas folheando o livro, o que se vê é lindo. Mesmo quando Suzan não tem mais um dos seios, ela se mostra nua nas fotos. Quando faz quimioterapia, Annie está lá com a câmera. Quando precisa cortar o cabelo, quando está no hospital se preparando para uma cirurgia, quando a cama de hospital está vazia na sala de estar dos pais de Annie, quando Susan está morta, quando está vestida para o funeral. E Annie. E a câmera. E a atenção. E esse amor todo.

Dá para pensar que o livro é tétrico e fúnebre, mas não é. É editado de uma forma que se vê a vida passando e mudando durante 15 anos. Nas últimas 20 páginas, você já é parte da família e já sofre por ver Susan terminando aos poucos e Annie ao seu lado, ou melhor, na sua frente com a câmera. É incrível. Tudo isso sem texto...apenas com fotos de uma força imensa.

O dia passou calminho, ainda sob o impacto das lágrimas matutinas, e a noite chegou. Lá fui eu assitir Brokeback Mountain. Ai meu deus! Que tristeza! Quanto desencontro e quanta dor...Quanta delicadeza...Não preciso dizer o quanto eu me debulhei. O abraço dos dois, ao se reencontrarem quatro anos depois, foi uma das coisas mais eloqüentes que eu vi no cinema, em anos. E credo como eu chorei! E tem milhares de sentimentos engasgados e observações e coisas passando pela minha cabeça que não são traduzíveis. Não ainda. Não hoje.
E eu, que choro, chorei.

Então...este foi o meu dia gay. Será que os gays amam mais bonito que os héteros? Me pareceu.
Nem quero escrever mais. Meus olhos estão embassados e ardendo. Acho que preciso dormir, ou chorar mais um pouco e digerir o baque.

Bom dia.

9 comentários:

baratas disse...

Excelente os textos do teu blog. Arejados, articulados.
Procurava: http://caixapreta.blog.br/ e, acidentalmente, coisas que somente a internet permite, encontrei este mais do que intimista blog, mas sim, o teu próprio coração. Parabéns!
Saúde e paz!

www.baratas.tk

Franc disse...

Mercedes... vc está cada vez melhor.
Sempre admirei Suzan Sontag e claro as lindas fotos de Annie Leibovitz. Quando soube(a poucos anos) que as duas eram casadas, achei aquela mistura super interessante. Digna, daqueles romances bacanas, de filme independente! Fiquei muito curioso em ver esse livro. Será uma próxima compra com certeza esse livro.

Flavia Melissa disse...

ai, me... te entendo!
faz dois dias que só choro. vendo cachorros vira-latas brincando na praia, presenciando as brincadeirinhas romanticas da minha mãe com o namorado, ouvindo uma musica, assistindo a heroes.

não é mais tpm e ainda não é inferno-astral.

fiquei super curiosa com o livro.
e o café?

beijo beijo.

Edson Perin disse...

Não vi/li o livro mas vou correndo ver. E Brokeback me pegou fundo tbém, quando vi não consegui dormir depois.
Só de ler este teu texto me voltou aquele nó na garganta.
Beijo

Anônimo disse...

Mano,

Pois eu não consigo pensar na cena da camisa sem morrer de chorar. ai meu senhor...será que a gente ta ficando mole?

Alice Salles disse...

mer...ci...
merci por isso aqui...
meu coraçãozinho se enche de amor qdo eu entro na sua caixinha de resgistros...

te amo muito! (ai! EU que to mole!)

beijinhos

Edson Perin disse...

Me,
No fundo o que pega no Brokeback é o amor não realizado (que por acaso é gay). Putz...é de doer passar assim em branco pela vida, fugindo dos amores e de todas as alegrias e tristezas que vem junto. Acho que somos moles mesmo, deixa quieto...melhor assim.

Anônimo disse...

Pois isso é o mais impressionante nesse filme. O fato da história ser entre dois homens é só um detalhe. É um filme sobre amor complicado, amor difícil e desencontros, que faz qualquer criatura normal morrer de chorar, assim como Pontes de Madison, Cidade dos Anjos, essas histórias com as quais todo mundo se identifica em algum momento. Se não é por já ter sofrido, é por morrer de medo de sofrer um dia.

Madsen disse...

Este livro é emocionante mesmo. Não é um portfolio, mas uma biografia de duas figuras fantásticas.