quarta-feira, junho 10, 2009
e la nave va....
É um barco gigante, enorme e incansável, que viaja pelos oceanos todos, os milhares deles, como uma voadeira num rio sem fim.
E lá vai o barco abarrotado de amores,
de histórias, de quereres tão imensos,
de vida escrita em água e estrelas...
(testemunhas únicas da existência deste meu navio).
La alva nave de mim, viajando em silêncio,
buscando sempre o que não há como num conto de fadas, ou num navio fantasma.
Os quereres e amores são carregados de magia, de alegria e de um silêncio mortal...pesado...cansado...
Cansado de busca, meu barco? Cansado de amar em vão?
O barco não cansa...
(é o peito que cansa).
Cansa saber tanto e não pronunciar. Cansa amar tanto, amor de tanta paz, tanta paciência, tanta generosidade, e deixar que o amor se vá...Vai, meu amor...vai! Vai viver o que te espera que eu te espero pra sempre, na nave que vai também...
E vai desenhando no mar, como a voadeira no rio, como os quereres exaustos,
pesados,
calados...
E lá vai o barco para um lado e o amor para o outro caminho, ali do lado, onde eu posso ver, onde eu posso sorrir ao ver que o amor se faz...chorar ao ver que a dor lhe corta o peito...
e então meu barco navega em lágrimas que nem são minhas lágrimas...são o sal dos seus olhos que eu transformo e bebo pra que não veja que eu as percebi.
Ai ai...nem tanto assim...nem tanto...Mas há sim um barco abarrotado de amores, amores tantos, dos oceanos todos das minhas lágrimas...
...e você ali, no caminho ao lado.
(todo errado...) nem sabe de mim.
escrito em agosto 2006
terça-feira, junho 02, 2009
Sinto muito
Algumas notícias chegam e pegam a gente de surpresa. Geralmente a morte, nossa única certeza, causa um desconforto grande, seja quem for que tenha partido.
Ouvi da minha filha ontem "todo mundo vira deus quando morre". Nossa...ela só tem 15 anos e sabe que o ser humano tem falhas graves como essa.
Quantas vezes você já viu alguém que nem falava com o morto dizer: "Era um grande homem".
Eu não estou aqui para julgar os mortos, mas vou te dizer que assim como não consigo idolatrar nem meus próprios ídolos, não consigo endeusar alguém só porque morreu.
Eu tinha problemas com o Leminsky. Me processa! Tinha e sei de mais gente que tinha, e apesar de saber, reconhecer e concordar que ele era um poeta incrível, sua morte não fez com que eu passasse a gostar dele. Continuo achando tudo o que achava em vida, e não me acho nadinha importante por ter trabalhado com ele, até porque não fiz um único filme dele do qual me orgulhe. Penso dele o que penso de vários artistas brilhantes ainda vivos que trabalharam comigo. (um desodorante não mudaria em nada a arte deles!)
Mas então recebi a notícia da morte de uma das três únicas pessoas que eu odiei na vida. Uma das três únicas pessoas que realmente me fizeram mal e atrasaram o curso das coisas que estavam por vir para mim. Aí o que que diz? "Sinto muito"? Ai desculpa, não consigo...
Eu sinto muito pelos que podem ter sofrido com a partida dela. Eu sinto muito pela vida perdida. Mas ai...acho que só. Isso faz de mim uma pessoa má ou uma pessoa honesta?
Eu vivi os últimos 27 anos sem essa pessoa e ela não me fez falta, muito pelo contrário. Todas as vezes que me lembrei dela foi para contar do mal que ela me fez. Mas a minha formação de boazinha ridícula fez com que eu me sentisse um pouco culpada por "não sentir muito" a morte dela. Não é um alívio...não é um "graças a deus"...não é um "bem feito"...é só um "ah...é mesmo?".
Essa sensação esquisita de não sentir me fez pensar no dia que eu receber a notícia da morte dos outros dois. Hm...é mesmo? Pois é. Ah eu tenho certeza que todos os fofoqueiros de plantão vão correr pra me contar, loucos para ver a minha reação! Preciso urgentemente ensaiar uma cara para fazer, porque eu sei que simplesmente não vou ter reação alguma, afinal, já faz tanto tempo que eles morreram pra mim...já faz séculos que estão enterrados! Estranha seria a minha reação à notícia de que eles ainda estão vivos, zumbizando por aí...aí sim.
Eu sou um amor, sabe, mas tem uma coisa que pouca gente sabe sobre o meu lado negro: se você morrer pra mim, eu te enterro. E nunca vou voltar para colocar flores no seu túmulo.
Sinto muito.
*mas eu sinto muito pelas vidas perdidas no vôo da Air France, e boboca que sou, ainda acho que algumas pessoas podem ter se salvado de alguma forma...
Ouvi da minha filha ontem "todo mundo vira deus quando morre". Nossa...ela só tem 15 anos e sabe que o ser humano tem falhas graves como essa.
Quantas vezes você já viu alguém que nem falava com o morto dizer: "Era um grande homem".
Eu não estou aqui para julgar os mortos, mas vou te dizer que assim como não consigo idolatrar nem meus próprios ídolos, não consigo endeusar alguém só porque morreu.
Eu tinha problemas com o Leminsky. Me processa! Tinha e sei de mais gente que tinha, e apesar de saber, reconhecer e concordar que ele era um poeta incrível, sua morte não fez com que eu passasse a gostar dele. Continuo achando tudo o que achava em vida, e não me acho nadinha importante por ter trabalhado com ele, até porque não fiz um único filme dele do qual me orgulhe. Penso dele o que penso de vários artistas brilhantes ainda vivos que trabalharam comigo. (um desodorante não mudaria em nada a arte deles!)
Mas então recebi a notícia da morte de uma das três únicas pessoas que eu odiei na vida. Uma das três únicas pessoas que realmente me fizeram mal e atrasaram o curso das coisas que estavam por vir para mim. Aí o que que diz? "Sinto muito"? Ai desculpa, não consigo...
Eu sinto muito pelos que podem ter sofrido com a partida dela. Eu sinto muito pela vida perdida. Mas ai...acho que só. Isso faz de mim uma pessoa má ou uma pessoa honesta?
Eu vivi os últimos 27 anos sem essa pessoa e ela não me fez falta, muito pelo contrário. Todas as vezes que me lembrei dela foi para contar do mal que ela me fez. Mas a minha formação de boazinha ridícula fez com que eu me sentisse um pouco culpada por "não sentir muito" a morte dela. Não é um alívio...não é um "graças a deus"...não é um "bem feito"...é só um "ah...é mesmo?".
Essa sensação esquisita de não sentir me fez pensar no dia que eu receber a notícia da morte dos outros dois. Hm...é mesmo? Pois é. Ah eu tenho certeza que todos os fofoqueiros de plantão vão correr pra me contar, loucos para ver a minha reação! Preciso urgentemente ensaiar uma cara para fazer, porque eu sei que simplesmente não vou ter reação alguma, afinal, já faz tanto tempo que eles morreram pra mim...já faz séculos que estão enterrados! Estranha seria a minha reação à notícia de que eles ainda estão vivos, zumbizando por aí...aí sim.
Eu sou um amor, sabe, mas tem uma coisa que pouca gente sabe sobre o meu lado negro: se você morrer pra mim, eu te enterro. E nunca vou voltar para colocar flores no seu túmulo.
Sinto muito.
*mas eu sinto muito pelas vidas perdidas no vôo da Air France, e boboca que sou, ainda acho que algumas pessoas podem ter se salvado de alguma forma...
Assinar:
Postagens (Atom)