sábado, outubro 13, 2007

Saudade

self portrait


Saudade do tempo em que a vida era tão imediata que a saudade quase não existia.
Saudade de não saber planejar, nem pensar no futuro, quando um ano eram imensos 365 dias. Impensável eternidade! Estrada quase sem fim! Saudade da irresponsabilidade e das dores passageiras; das vontades pequenas, por isso imediatas.
Saudade de quando a morte era uma entidade. Uma coisa distante que só acontecia com os outros, só longe de casa, e lágrimas eram associadas a broncas e abstinência de pequenas bobagens. Saudade de nunca ter ido a um velório, nunca ter pago um caixão, nunca precisar enxugar lágrimas que não fossem minhas, nunca morrer de pena de uma mulher que chora a falta do marido, simplesmente por nunca ter visto uma. Saudade de não precisar abraçar uma menina de 18 anos como se eu fosse adulta. Saudade de não ver amigos queridos sofrendo. Saudade de quando a perda mais grave era de um passarinho, ou um peixinho dourado. Saudade de não entender a tristeza, de não ter medo, de não conhecer a dor...

Existe uma tranquilidade em amadurecer. Maturidade vem junto com uma calma assustadora. Um ano é pouco tempo. Uma semana quase não existe. Olhar um rosto adolescente angustiado traz um sorriso tranquilo que diz : " tadinha, já passa...essa dor praticamente nem existe." Amadurecer traz a mãe de todas as paciências. A gente aprende a esperar as mudanças, esperar pelo tempo, esperar que os filhos cresçam, esperar que alguém entenda, esperar, esperar, esperar. E nenhuma destas esperas é dolorida. O tempo se torna amigo e as mudanças de estação existem para distrair os olhos, não para contar os meses.
Vem a primavera com as flores, vem o inverno com céu azul, vem o outono todo amarelo, vem o verão com suas meninas coloridas...e você só sorri. Às vezes dizem que ainda há tempo, às vezes que o dia está chegando, mas quem se importa? Elas distraem os olhos e o coração de quem está vivo para ver.

Crescer traz coisas lindas e coisas chatas. A parte da tristeza alheia me destrói mais do que se fosse minha. Eu enxergo dentro da alma de quem é triste e tenho vontade às vezes de roubar a tristeza para mim. "Deixa que eu sinto pra você!" Eu queria ter a alma do mundo numa caixinha para não deixar ninguém sofrer, ou voltar a ser criança para simplesmente não perceber que existe dor.



4 comentários:

Pedro Rocha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Rocha disse...

Bem, deixe-me ver... Acho que dessa vez nao vou te parabenizar. Nao, dessa vez nao. Prefiro te agradecer, obrigado por essas palavras, por esse texto maravilhoso! Honestamente, nao ri nem chorei, apenas li... E fui tocado pelas suas palavras, como me acrescentaram...

O tempo passa e nao nos damos conta pois muitas vezes damos lugar à ansiedade, ao imediatismo, às preocupações(coisas de jovens cheios de "pressa") e nos mantemos ocupados com o futuro, com esses "ladrões" que nos roubam o PRESENTE.

Eu, apesar dos meus modestos 2.2 aninhos, tambem sinto saudades(de poucas coisas, mas sinto)
Saudade de chorar só porque tinha de dormir cedo, de nao querer acordar pra ir ao colegio, de me apaixonar pela estagiaria de colegio e por aí vai.

Bons tempos aqueles...

Alice Salles disse...

Ai...
essa foto e esse texto doeram, mas doeram de um jeito tão compreensivo, tão extensivo que me fez acreditar! acreditar em crescer...

Beijos

Anônimo disse...

Saudade de voce!!!!