quarta-feira, maio 16, 2007

Crescer só por fora

gêmeas no cabo keneddy - 2005 - by myself
Meus pés nunca são muito limpos porque eu ando descalça - gosto de acordar e sentir a grama gelada nos pés.
Gosto de tomar café da manhã devagar. Pego fruta com a mão, lambo o dedo sujo de requeijão, lambo a gota que escorre pela xícara de café, tudo isso fazendo carinho nos gatos com o pé debaixo da mesa e o lendo jornal que fica na cadeira ao lado.
Depois escovo os dentes descalça e meio dançando e com tanto sono que mal abro os olhos. Olho os dentes no espelho como a gente faz quando é criança. Lambo pasta de dente. Uso enxaguante bucal, mas detesto, então eu roubo (de mim mesma ).Toda vez eu roubo. Não fico com aquele troço ruim dentro da boca o tempo que deveria...mas finjo que fico e to linda.
Vou para a minha mesa, de camisola. Só paro de conferir meus e-mails, meus blogs, e os blogs dos meus amigos, quando minha gata escala as minhas pernas, arranhando tudo, pedindo carinho. Eu paro tudo, todas as vezes que ela faz isso. Então eu falo com ela como se eu fosse criança e ela fosse uma boneca. Falo fino. Falo como se ela fosse um nenem. Eu, a mamãe de 10 anos de todos os gatos.
Depois eu dou risada lendo as coisas que eu gosto. Escrevo alguns e-mails bobos e outros eu não respondo. Deleto coisas sem abrir porque não vou ler corrente nem ver slideshow de power point - a vida é curta demais para perder com coisas burras.
Neste ponto, já estou atrasada faz tempo. Corro para o banho, canto no chuveiro, fico pronta pra treinar. Treino reclamando e rindo muito. Uma hora e pouco fazendo força, contando histórias e rindo um monte. Faço manha como se fosse criança. Reclamo de fazer ginástica de soldado e digo que sou menina...meninas não gostam disso. E rio mais.
Almoço sozinha quase sempre. Quase todos dias. E meu almoço é verde. Verde e azedo. Almoço alface temperada com limão, azeite e sal. Muito azeda é como eu gosto. Devoro todo o potão de salada como se fosse o manjar dos deuses e depois olho para ver se alguém está olhando. Nunca tem ninguém, então eu pego a saladeira e viro, bebendo o tempero escondido. Escondido de quem? Escondido de mim. Se eu - mais velha - vejo isso, ai ai ai. Se ninguém aparece eu ainda passo o dedo no fundo do prato para pegar uns pedacinhos de alface que ficaram, esfrego bem eles no tempero e lambo o dedo. Ai ai...adoro.
Jogo bubble trouble. Estourando bolhinhas coloridas eu penso na vida, crio histórias e corro para escrever. Às vezes não tenho paciência. Meus olhos se embaralham e é hora de jogar pirâmide. Dama e áz igual a treze, seis e sete, nove e quatro, oito e cinco, três e dez, quatro e nove, valete e dois. Ai, maldito valete. É sempre ele que empaca o jogo. Se não é ele é o dois, que não deixa de ser culpa do valete. Me irrito com o valete e escrevo mais uma cena.

Às vezes choro quando escrevo. Às vezes rio tanto, que tenho medo de publicar e ninguém achar graça...às vezes fico chocada com os comentários de um texto bobo. Acho que escrever é coisa do diabo! Atinge as pessoas de uma forma incrível. O que elas pensariam se imaginassem que eu escrevo descalça, com os dedos sujos de limão, com um gato no colo e de camisola? As pessoas que me levam a sério não podem saber que eu dirijo cantanto e bebo o tempero da salada no pote. As pessoas que se emocionam comigo não podem saber que eu tenho Orkut fake pra infernizar as comunidades e as pessoas que eu gosto. Se elas sabem que um personagem meu já despertou paixões avassaladoras e teve que morrer pra não me colocar em encrenca, vão pensar: "Mas que idiota! Parece que não cresceu..."

Parece. É verdade. Parece que eu não cresci.
Mas eu olho para as minhas mãos e acho que elas ainda têm o gosto da pipoca que eu lambi quando tinha 10 anos.
Eu olho para os meus pés e acho que eles ainda sabem gostar do toque da grama gelada de manhã.
Eu olho meus olhos no espelho, e mesmo com essas rugas e pés-de-galinha persistentes em volta deles, ainda vejo o mesmo brilho que tinham aos 14, quando eu tinha uma idéia genial para conquistar um menino do clube, fazer uma brincadeira, fazer um desenho engraçado ou escrever uma história.
Eu vejo meu cabelo quando o vento bate, e ainda vejo a menina que andava pela Comendador Araújo até a Aliança Francesa sentindo o vento encanado que só essa rua tem. E que parava na esquina - onde o vento enlouquecia - rindo dos cabelos para cima, rindo das saias das senhoras.
Eu olho para dentro de mim e vejo a mesma pessoa, ouço a mesma voz, sinto as mesmas vontades. Mesmo adulta, ainda rio da vida e não levo muito a sério o que penso. Exatamente como sempre...só levo a sério o que sinto.

8 comentários:

Alice Salles disse...

AWWWWWWWWWWWWW
"Exatamente como sempre...só levo a sério o que sinto."

Você entende bem que escrever é uma coisa do diabo... e é. E ser dele e ser gente dele, e ser da família dele é delicioso... viver assim, entrando aqui e vendo só coisa que preenche me faz tão bem...
aliás, faz tanto que é mais que bem....

é ruim também. PQ VICIA!

Anônimo disse...

Fala a verdade...viver é bom demais!!!
Dias atrás eu estava tão zen que cheguei na casa dos meus pais de pijama.HAHAHAHAHA
E tem gente que deve achar que somos loucas ou falsas.Adoro ver aqueles rostos expressando esse pensamento:"por que ela ri tanto?"
Porque eu sou feliz oras bolas!!!
Beijoooo

Anônimo disse...

Marilia,

Eu não tenho a menor dúvida de que é mesmo o que muita gente pensa. E mais: "Ela tem tempo sobrando pra pensar besteira"

O que não sabem é que meu cerebrozinho doente se desenvolveu dos 13 aos 42 - tempo que eu morria de trabalhar. Hoje eu sou só o resultado daqueles quase 30 anos. Tenho todo o direito de andar descalça e rir à toa!

Beijo

Flavia Melissa disse...

li 4 vezes e fiquei pensando em escrever alguma coisa profunda, tocante, algo que combine com o rio de emoções que jorrou aqui dentro lendo da tua rotina, e percebendo que a tua vida é exatamente o que imaginava que fosse olhando fundo nos teus olhos.

mas essa semana de preguiça deve ser fenômeno mundial e eu não ando conseguindo ser profunda em nada!

a verdade é que me orgulho muito da pessoa que você é, mesmo tendo te conhecido outro dia. me orgulho por saber que há tanto de mim em ti, tanto de ti em mim e tanto de nós em todas essas e esses que se esforçam para transformar a realidade através de palavras. que se esforçam em enxergar no mundo o mundo que se quer enxergar. que se esforçam sem se forçar, e conseguem lidar com a realidade como se ela fosse, eternamente, um punhado de borboletas brancas e coloridas fazendo festa dentro do estômago.

"o melhor que se pode fazer é inspirar uma pessoa" - james dean.

You inspire me!
Adoro!

Bjinhos :)

Alice Salles disse...

awwwwwwwwwwww
you aaaaallll inspire me!

Alice Salles disse...

Mer!
Tem umas pessoas no IRÃ q visitam seu blog!!!! hahahahahahah Q loucura!

Anônimo disse...

HA HA HA elas que fiquem pensando!!
Eu morro de trabalhar até hoje e mesmo quando estou maluca não deixo de sorrir.Faz bem pra minha alma!!
Beijoo

Ricardo Lemos Freire Gameiro disse...

A vida inteira eu deixei a vida entrar pelo nariz.
Não uso gravata nem em casamento, mas trabalho como um jumento.
Mas meu trabalho é leve, pois por alguma coisa genética esqueci de envelhecer.
Meu corpo coitado, esse sim faz isso, mas me olho no espelho da minha alma, e me vejo o mesmo menino que era na infância. Pode ser que eu tenha a síndrome de Peter Pan. Mas quer saber nem me importo.
Eu e a minha mulher brincamos de fazer micagem do nada e rimos até não podermos mais respirar, quando ta calor e cai chuva de verão eu vou pra rua me molhar e volto pro trabalho todo molhado, e se me enchem muito o saco eu vou pro bar e bebo como um adolescente pançudo.
E o meu grande segredo acho até que é loucura, de manhã depois do banho quando eu vou me vestir na frente do espelho, imagino que sou um guerreiro medieval me vestindo com a armadura de guerra.
Entro no meu carro imaginando que ele é uma Biga e quando o portão eletrônico fecha eu entro em uma arena. Daí venho pro futuro guerrear no mercado.
É isso sou louco infantil e todas essas coisas e daí?
Continuo feliz, nunca se quer tomei um antidepressivo.
E creio eu que o grande barato da vida é esse.
Ser feliz.
É isso aí mety.
Beijos