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Era quase verão no hemisfério sul, mas onde ela estava era impossível perceber as estações pelo cheiro, a não ser a primavera. Esta, ela sentiria até do fundo de um bunker, mesmo que o mundo tivesse acabado há décadas. De algum jeito, setembro traria a paixão e ela saberia. Paixão por qualquer coisa: uma saudade, uma vontade de escrever, uma mania nova. Sempre assim, ano sim ano não, até o ano do fim. E foi no ano do fim que o universo dela se fechou.
Pensando bem, agora sim ela vivia no fundo daquele bunker... Lacrada, vendo a paisagem por um telescópio, deixando de sonhar com flores porque elas não existiam. Não era ruim....Era confortável, era seguro, era feliz, mas não havia mais setembros nem primaveras. Anos e anos sem música e sem uma única folha de papel escrita.
Nem uma palavra. Nem um perfume. Nenhum setembro.
Numa manhã igual às outras, o cheiro no bunker mudou.
Jasmin?
Não. Era uma mistura de novembro e whisky, com um pouco de blues...
O bunker inteiro estremeceu quando ela quis abrir aquela porta selada há tantos anos.
E bastou um sim.
Será pra sempre, ou até quarta-feira?
Que seja até um dia que ninguém vai contar, desde que haja música e páginas escritas.
Um comentário:
Tomara que ela volte! Que traga manhãs, setembros, cheiros e... páginas escritas. E que seja pra sempre - enquanto houver música.
Saudades mega blaster dissaqui, viu?!
Beijo.
P.
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