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É. É complicado...
É. É complicado...
A vida prática nunca foi o meu forte. Passei esses poucos 49 anos sonhando acordada, delirando e acreditando que quando uma criança chama por fadinhas no jardim, as flores apararecem. Aí, aqui estou eu tendo que falar de dinheiro, pastilha, estruturas de ferro, esquadrias, etc. Eu - euzinha - negociando com o japonês malvadão com cara de kamikaze que vai colocar metade da minha casa de pé. Eu - euzinha - falando em números impossíveis e discutindo coisas mais ridículas do que o sexo dos anjos: "preto são gabriel ou preto absoluto?" "madeira naval ou chapa de ferro?" "beiral assim ou beiral assado?" Hello? Minha vida nunca teve beiral! Aliás, sem eira nem beira é o que eu sempre fui - nem pedigree eu tenho, quanto menos um habite-se.
Existe uma outra vida que eu desconheço, de pessoas feias e assuntos antipáticos (e vice-versa). Eu não gosto dela. Dizem que o nome é vida adulta. Estas pessoas falam de impostos, bolsa de valores, taxas de juros, preço do aço, metros quadrados, área construída, limite de recuo e NOP! Gente...vida adulta pra mim era outra coisa. Era ter filhos com problemas de adultos, assim: coração partido, escolha de carreira, revisão do carro, eleição. Vida adulta era consolar a sogra, conversar com a mãe, pagar conta, sentir saudade do pai.
Nem quando eu quebrei, e minha vida virou de pernas pro ar, e perdi todas aquelas pessoas que me amavam incondicionalmente (lots of money, lots of friends), e me decepcionei com o universo e com a natureza humana, eu me senti tão fora do meu banquinho.
A parte boa é que é por um motivo nobre: a minha casa nova, a primeira conquista de um chão realmente meu depois de incontáveis mudanças na vida de cigana que eu achava boa. Meu pai queria que eu tivesse segurança, casa própria, emprego público, fizesse concurso pro Banco do Brasil. Virei as costas para essa idéia uma vida inteira, e sempre achei que quem tem raiz é árvore, quem fica parado é poste, e bom mesmo era aluguel, porque quando cansa é só ir embora...e o mundo é o quintal da minha casa. É mesmo. Ainda é. Só que do alto dos meus quase 50, acho que ter onde cair morta pode ser interessante. Finalmente. Não! Não finalmente cair morta. Finalmente "ter onde", só.
Cair morta é outro assunto: eu não quero, viu Seu Deus. Passo. Me deixa ficar pra semente que eu não me importo. Quero ficar velhinha bem velhinha, dirigindo um conversível na 101 em Los Angeles. Já disse isso tantas vezes, que você já deve estar criando o cara que vai abrir uma "elderly lane" na freeway só pra eu poder fazer minhas barbeiragens com segurança, to sabendo.
Fora tijolos, cimento e trenas, tem o Malvadezas. Ah o Malvadezas...este blog genial que mega deu certo, graças à querida da Carolina Mendes, que tem olhos de lince pra entender o que dá certo nesta vida online. O Malvadezas só me faz bem, mas também me faz cair na real quando vejo trocentos mil comentários em textos que estão tão longe dos assuntos que eu abordaria. Claro, to ficando velha, oras! Mas hey! Quem disse que eu queria me dar conta disso? Aí publico um texto Mercedístico lá, e fico nos 15, 16 comentários... ah eu devo ser um tédio, desinteressante, morna, sei lá. Então toda vez que vou postar penso que "dane-se", ne? Eu sou eu, e que culpa eu tenho de não ter problemas cabeludos ou não ser super moderna e querida pelos mudernos e... ah gente! Acho que eu amo mais ainda os 16 malvadezos por me fazer questionar tudo, de 15 em 15 dias, antes de mandar meu texto para a Carol.
De qualquer forma, fico pensando se, mesmo tendo ralado uma vida inteira, eu não tive uma vidinha bem boa, e se isso é bom ou ruim pra quem escreve. Sei lá. Não sei. Passou.
Era isso.
Só um desabafo, como se eu fosse dada a desabafos.
Um beijo amigo no seu umbigo.
Malvadezas é AQUI