sábado, abril 30, 2011

_complicando

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É. É complicado...
A vida prática nunca foi o meu forte. Passei esses poucos 49 anos sonhando acordada, delirando e acreditando que quando uma criança chama por fadinhas no jardim, as flores apararecem. Aí, aqui estou eu tendo que falar de dinheiro, pastilha, estruturas de ferro, esquadrias, etc. Eu - euzinha - negociando com o japonês malvadão com cara de kamikaze que vai colocar metade da minha casa de pé. Eu - euzinha - falando em números impossíveis e discutindo coisas mais ridículas do que o sexo dos anjos: "preto são gabriel ou preto absoluto?" "madeira naval ou chapa de ferro?" "beiral assim ou beiral assado?" Hello? Minha vida nunca teve beiral! Aliás, sem eira nem beira é o que eu sempre fui - nem pedigree eu tenho, quanto menos um habite-se.

Existe uma outra vida que eu desconheço, de pessoas feias e assuntos antipáticos (e vice-versa). Eu não gosto dela. Dizem que o nome é vida adulta. Estas pessoas falam de impostos, bolsa de valores, taxas de juros, preço do aço, metros quadrados, área construída, limite de recuo e NOP! Gente...vida adulta pra mim era outra coisa. Era ter filhos com problemas de adultos, assim: coração partido, escolha de carreira, revisão do carro, eleição. Vida adulta era consolar a sogra, conversar com a mãe, pagar conta, sentir saudade do pai. 

Nem quando eu quebrei, e minha vida virou de pernas pro ar, e perdi todas aquelas pessoas que me amavam incondicionalmente (lots of money, lots of friends), e me decepcionei com o universo e com a natureza humana, eu me senti tão fora do meu banquinho.
A parte boa é que é por um motivo nobre: a minha casa nova, a primeira conquista de um chão realmente meu depois de incontáveis mudanças na vida de cigana que eu achava boa. Meu pai queria que eu tivesse segurança, casa própria, emprego público, fizesse concurso pro Banco do Brasil. Virei as costas para essa idéia uma vida inteira, e sempre achei que quem tem raiz é árvore, quem fica parado é poste, e bom mesmo era aluguel, porque quando cansa é só ir embora...e o mundo é o quintal da minha casa. É mesmo. Ainda é. Só que do alto dos meus quase 50, acho que ter onde cair morta pode ser interessante. Finalmente. Não! Não finalmente cair morta. Finalmente "ter onde", só.
Cair morta é outro assunto: eu não quero, viu Seu Deus. Passo. Me deixa ficar pra semente que eu não me importo. Quero ficar velhinha bem velhinha, dirigindo um conversível na 101 em Los Angeles. Já disse isso tantas vezes, que você já deve estar criando o cara que vai abrir uma "elderly lane" na freeway só pra eu poder fazer minhas barbeiragens com segurança, to sabendo.

Fora tijolos, cimento e trenas, tem o Malvadezas. Ah o Malvadezas...este blog genial que mega deu certo, graças à querida da Carolina Mendes, que tem olhos de lince pra entender o que dá certo nesta vida online. O Malvadezas só me faz bem, mas também me faz cair na real quando vejo trocentos mil comentários em textos que estão tão longe dos assuntos que eu abordaria. Claro, to ficando velha, oras! Mas hey! Quem disse que eu queria me dar conta disso? Aí publico um texto Mercedístico lá, e fico nos 15, 16 comentários... ah eu devo ser um tédio, desinteressante, morna, sei lá. Então toda vez que vou postar penso que "dane-se", ne? Eu sou eu, e que culpa eu tenho de não ter problemas cabeludos ou não ser super moderna e querida pelos mudernos e... ah gente! Acho que eu amo mais ainda os 16 malvadezos por me fazer questionar tudo, de 15 em 15 dias,  antes de mandar meu texto para a Carol.
De qualquer forma, fico pensando se, mesmo tendo ralado uma vida inteira, eu não tive uma vidinha bem boa, e se isso é bom ou ruim pra quem escreve. Sei lá. Não sei. Passou.
Era isso.
Só um desabafo, como se eu fosse dada a desabafos.

Um beijo amigo no seu umbigo.


Malvadezas é AQUI

sábado, abril 09, 2011

_dois pesos

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Quem é mesmo você para julgar alguém? Vamos ser sinceros, assim...sinceros de verdade? Quer brincar?
Então presta atenção. Você acha que a sua amiga não educa os filhos direito, que está criando monstros sem limites, que não sabe dizer não, que parece ter medo dos filhos e tal? E você, tem filhos? Se tem, você tem tempo para educá-los de fato ou deixa isso para a escola, a avó, a empregada, e assume à noite e nos finais de semana? Você tem certeza que seus filhos, fora de casa, são exatamente como quando estão com você? Tem certeza que os outros acham seus filhos super normais e educados como você acha?
Não. Você nunca vai saber a resposta, porque ninguém vai reclamar dos seus filhos para você. Só a escola. Talvez. Caso seus monstrinhos sejam interessantes, porque se forem mal educados porém mortinhos, a professora não vai reparar muito neles, sabe? Desculpa, mas é verdade.

E a filha gay daquele seu conhecido? Aquela que você diz que a culpa é dos pais. Você tem certeza absoluta que sabe o futuro dos seus filhos? Você acha mesmo que a “opção” (ninguém opta por ser gay) da menina, é fruto da educação que teve? Então amiguinho... prepare-se para se surpreender.
Sabe, a vida não é fácil. Na verdade é, mas o que complica são as expectativas irreais que as pessoas criam. Seus filhos serão profissionais de sucesso? Serão corretos? Serão honestos? Ser hétero está na sua lista de “elogios”?
Eu tenho uma surpresinha pra você. Senta aí:
A vida é imprevisível. Mesmo cagando regras, tendo convicções fortíssimas, mesmo regendo sua família com punhos de aço e livros de psicologia embaixo do braço, você não sabe o que o futuro reserva para ela...nem para você.
Reviravoltas não acontecem com macacos e girafas no reino de Simba. Só acontecem com humanos, aqui mesmo na cidade grande, ou naquela menor. Acorda, Alice!
Eu não estou livre de ser traída, de ser trocada por uma gostosinha de 25 anos que acabou de sair da faculdade de cinema e acha Mr. Director “bárbaro” (sim, elas aprendem a falar bárbaro nas faculdades de cinema). Você não está livre de ser trocado por um garotão, nem por um velho pavoroso que você não entende como, meu deus, como?! Você mesmo pode se apaixonar, ou trair sua mulher numa escapadinha inocente, e ser pego. E você sabe: não existe traição na ignorância, longe dos olhos longe do coração, blablabla, mas quando te pegam...ai ai ai.

A gente não sabe se nossos filhos serão gays, se casarão com uma mocréia rancorosa, ou um mal caráter interesseiro. Se vamos sofrer um acidente, parar numa cadeira de rodas e precisar daquela vaga no mercado - aquela onde você estacionava “só um minutinho” e aquele aleijado que espere.
A gente não sabe se vai ter três derrames, virar um semi-vegetal e ser cuidado justamente pelo marido pobrinho e “meio encardido” da filha...aquele loser que a gente julgou e falou mal a vida inteira.
Vai que, na velhice, acaba dividindo o quarto com a sogra da filha? Aquela mulher pedante, brega que usa perfume doce, e vai acabar sendo sua melhor amiga. Também tem a hipótese de engordar 40 quilos por causa de uma disfunção hormonal e ficar igualzinha àquela vizinha “porca” que não se cuidava e era uma “baleia”, lembra?
Então... desculpa incomodar a essa altura das suas certezas, mas acho que você não devia nem guardar seus julgamentos para si mesmo: devia descartá-los. Varrer todos eles. Deixar de ter LAMA por dentro e, finalmente, ter ALMA - é só trocar uma letrinha de lugar.
Uma vez ouvi uma frase que adotei para sempre: quando você aponta um dedo, outros três estão apontando para você. Tenta aí...aponta e olha para a sua mão.
É bom lembrar que a lingua é o chicote da bunda e a vida, como dizia Gump, o Forrest, é como uma caixa de bombons: a gente nunca sabe o que tem dentro deles. Não tem nada mais feio do que ter dois pesos e duas medidas: se é feio na casa dos outros, é feio na sua. Ponto. Então é melhor não arriscar: senão por ética, ao menos por precaução, fecha essa boca.

Beijo.