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Deixa eu falar quem eu sou.
Talvez muito pouca gente saiba de uma parte de mim que não sai por aí se revelando, simplesmente por não ter um "por aí" para se revelar.
Eu fui criada, de certa forma, respirando arte. Minha mãe trabalhou na Escolinha de Arte do Rio de Janeiro com o Augusto Rodrigues, ouvi desde sempre histórias sobre peças de teatro, quadros, pintores, escultores, movimentos e revoluções. A Semana de Arte Moderna visitava minha casa de tempos em tempos em conversas infindáveis, e havia os livros. Livros e mais livros cheios de figuras incríveis, feitas pelas mãos de homens e mulheres incríveis.
Depois fui para a escola. Estudei uma vida inteira naquele lugar onde se tinha sete horas/aula de arte contra duas de matemática por semana. Comecei a aprender história da arte muito cedo, quando mal e porcamente sabia escrever meu nome, e fiz isso até me darem um diploma de magistério com especialização em história da arte. Ponto.
Saí dessa vida.
Aos dezessete anos fui trabalhar em agência de propaganda, fui redatora, RTV, coordenadora de produção, atendimento de produtora, dona de produtora...(todo mundo conhece o meu CV), até chegar em São Paulo, há quase dez anos, e resolver só escrever.
Mas o que está no DNA não morre jamais.
Eu cresci e pude viajar. E eu sou aquela louca que chorou dentro da Catedral de Madrid. Aquela, e aquela outra que sentou num banco do Museu do Prado, de frente para uma gigantesca tela de Velasquez, e chorou feito criança. E que escolheu passar o dia no Metropolitan em Nova Yorque vendo só o que foi feito antes de cristo, e andava pela parte do Egito entre paredes pintadas e múmias coloridas, rindo como se fosse a Disneylandia.
Eu enganei a minha familia cansada dentro do Louvre, inventei que sabia onde era a saída, só para poder ver tudo o que queria. Eu sentei no chão em frente a uma escultura do Rodin e agradeci por ter chegado até ali. Eu fiquei nas ruínas de Roma até o sol se por, respirando séculos de história, e não queria ir embora. Eu chorei batendo o pé na frente do Musée Dorsay porque estava fechado e eu tinha que ir embora no dia seguinte. Eu fiquei furiosa na Basílica de São Pedro e no Museu do Vaticano, por ver tantas coisas incrivelmente lindas, conquistadas com o sangue de tantos inocentes.
Essa sou eu. A arte e a história me emocionam a ponto de me tirar do chão. A arte e a história exercem um poder sobre mim que nenhuma paixão arrebatadora seria capaz de exercer.
E eu contei tudo isso por um motivo: hoje, eu estou feliz como uma criança que achou uma mina de doces e brinquedos: eufórica! histérica! Porque um amigo me mandou o link para o Google Art Project.
Depois de fotografar o planeta inteiro e a rua da sua casa, o céu e as estrelas, o fundo do mar e seus navios naufragados, o Google fotografou os museus do mundo. Agora, a gente pode andar dentro deles, ver os quadros em detalhes (os museus não permitem que se chegue tão perto) com zoom tão poderoso que é possível ver as pinceladas de Van Gogh e até as pequenas rachaduras na tinta.
E por isso eu sou feliz! Sou estranha?
Agora eu posso ser a louca que chora na frente do computador e ninguém vai poder me julgar. Ha!
Google, seu lindo!
9 comentários:
O melhor de tudo, é que mesmo que você chore só em frente ao computador, em algum momento você nos contará isto num texto maravilhoso.
Que o Google, as artes e o mundo sigam te emocionando, e que você siga nos presenteando!
beijos
Eu costumo chamar o seu lindo de Santo Google e sou uma fervorosa devota, nos surpreendendo a cada dia esse lindo!!
Beijão, Edilene
DUAS crianças felizes!
PÔ! Post para fazer inveja de quem ainda não teve tempo (aka, cacife) para viajar o mundo. Chata, hein?
Mas sério, eu tive a oportunidade de conhecer alguns desses santuários que você tão apaixonadamente visitou. O Louvre talvez tenha sido o mais impactante, pra mim. Eu sou o cara que, depois de enfrentar um furdunço imenso para ver a Mona Lisa, passou em todas as outras salas apreciando obras tão belas quanto -- e por que não dizer, até mais do que -- a musa "pop" do museu, produzidas por autores menores. E estas estavam às moscas. Mas eu estive lá, e me emocionei com tantas, tantas dessas maravilhas quase "anônimas".
Google é DEUS. Amém.
Fabio Piva
http://paciencianegativa.blogspot.com/
Ótima notícia. Não sabia da existência do Google Art Project. Vou lá dar uma conferida. Da minha parte a maior emoção foi ver O David de Michelângelo na Dell'Academia em Florença. Beijo
Desculpe a demora na visita. Andei ausente..
PAPIROS DE ALEXANDRIA
http://papiros.zip.net/
três...!!!
thanks GODgle, pois "os museus não permitem..." mesmo!!!
bjs
ah, como eu sinto saudades dessa borbo e de seus textos cheios de imagens fabulosas!
Muito obrigado pelo link e pelas palavras tão bonitas e carregadas de tanto sentimento.
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