quarta-feira, novembro 03, 2010

_férias, primos, praia...oh wait!

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Agora lembrei. Lembrei como era ir ao Rio todo ano para passar o Ano Novo e as férias de Julho. Tinha "oba" sim. Tinha porque eu esquecia sempre das coisas de sempre. Mas tinha as coisas de sempre. Então eu nem vou falar da parte óbvia, que era ver os primos da minha idade, fazer um monte de coisas gostosas, ser milhões de vezes mais livre do que eu era em Curitiba: cinema, boteco, sorvete, passeios...

Vamos então às coisas de sempre.

Eu nunca fui magra. Também nunca fui gorda antes dos 45 anos, quando virei este provolone gigante que vos fala. Eu era ajeitadinha, mas não era carioca. Não mais. Isso era chato. Depois de anos em Curitiba, eu já não tinha aquele ar praiano que a gente tem quando vive muito tempo no Rio. Já não sabia muito bem como me comportar em cima de um par de havaianas, nem como andar de mão abanando. A carioca tem um jeito de tirar a canga/short/saia que só a carioca tem. A gente se cria no Rio e aprende. Depois que a necessidade de se despir em público acaba, a gente não é mais tão charmosa. Isso é problema? Não... aparentemente não... a não ser que você seja eu, é claro, e como sendo eu, você odeie não pertencer, ou pior... como eu, talvez você odeie chamar a atenção pelos detalhes errados.
Pois bem. Eu não era gorda, não era magra, não era carioca e era BRANCA -- branca de neve, de bochechas vermelhas e sem nenhuma marca de biquíni whatsoever, como se tivesse acabando de nascer.
E como uma sina, assim que eu chegava ao Rio, o comitê de recepção estava me esperando para ir à praia. Mas não era tão simples. Não podiam ir à praia ali no Leblon, pertinho de casa, onde eu pudesse voltar antes, quando a coisa ficasse feia - e ficava. Não..! Tinha que ser em São Conrado. Claro. Super mais legal, praia limpa, menos farofeiros, mais gente cool. Só esqueciam de um detalhezinho: eu não era cool.
Então eu chegava de uma viagem de 12 horas de ônibus leito, com a pele marcada pelo jeans e pelo elástico do sutiã, a pele absolutamente transparente, e ia para São Conrado exibir o corpinho na frente de todos os caras mais cool do sul do mundo, e um sem número de mulheres lindas com cabelos idem e bronzeado impecável.
Lembre-se: naquela época, filtro solar era pasta d'água ou hipogloss, mas era ridículo.e eu que não ia fazer papel de ridícula. Não...well, com 40 minutos de praia eu era um pimentão gigante. O mundo não é bacaninha, sabe? Ou eu seria a única pessoa a perceber a minha cor. Daquele instante em diante, eu passava a escutar as palavras "pimentão", "camarão", "lagostinha", "holofote", e todas as outras coisas que lembrassem "escandalosamente vermelha e luminosa".

O dia seguinte não era melhor. Eu amanhecia inchada, com o dobro de marcas no corpo -- porque a pele inchada em contato com o lençol amassado vale por uma fotocópia de lençol amassado. Agora eu era de um rosinha pálido quase nada...quase transparente outra vez, só que doendo muito.
E assim passava a primeira semana: rosa-choque, rosa-bebê, rosa-choque, rosa-bebê. Na segunda semana, quando eu começava a parecer saudável e quase viva, descascava. E mais piadinha.

Este sempre foi o problema de ir ao Rio. Não pense que mudou. Ainda semana passada, eu sofri ao lembrar que teria que passar o feriado lá e rezei para chover. Se fizesse sol eu não escaparia da praia e ainda ficaria eternizada no álbum do casamento do meu primo, como camarão.
Papai do céu foi legal dessa vez, mas tenho certeza que não vai me deixar escapar na próxima.

Resumo do trauma: ir ao Rio é ardido...mas é bom.

5 comentários:

Hugo Pires Teixeira (@hugopt) disse...

Tô indo ao Rio esse fim de semana, textinho pegou bem...
Beijo


@hugopt

marcos freitas disse...

ahahaha quiótemo!
...nusss, faz muuuuito tempo que não vou ao Rio... como andará...?

bjs

heller disse...

que coisa, pra mim ferias era em florianópolis! a mesma coisa q tu, primos, branquela, depois virava um boto rosa... ahhahahahahahahhhahahahahahhaha
q terrivel, hj em dia é vela de batismo, branca, mas toda ornamentada hahahahahhahahahaha

Fabio Piva disse...

Então... entendo. Não só entendo como compartilho desse sofrimento todo, que só aqueles quase desprovidos de melanina conhecem. E aproveito esse espacinho para demonstrar, com experiências pessoais, alguns prós e contras bizarros sobre a branquelice:

1) A gente passa protetor solar 50 quando está nublado. "Ah, que exagero"! É. Mas eu aprendi isso quando passei uma manhã inteira -- meio dia incluso -- na praia e voltei pra casa branquinho, porque usei protetor. De tarde, o tempo fechou e o sol se foi. Fui empinar pipa. Long story short, por causa disso eu passei aquele Reveillon com ensolação leve, com febre e de cama. E vermelho -- MUITO vermelho.

2) Praia, pra mim, só antes das 8am ou depois das 4pm. Como considero levantar antes das 8am uma ofensa pessoal grave, chego na praia sempre às 4:30pm e volto ao anoitecer.

3) Os olhinhos de qualquer tatuador brilham quando vc chega no estabelecimento. Dizem que somos telas vivas (por alguma razão não me sinto confortável com a definição).

4) Nenhuma enfermeira, NUNCA errou minha veia ao enfiar qualquer agulha no meu braço. Talvez porque ela seja perfeitamente visível.

5) Ninguém te cata no ar quando vc desmaia. Minha teoria é que é porque ninguém nota quando você empalidece.

6) Passei sete dias no Rio, fui parar na enfermaria duas vezes por sol na cabeça. Não existem branquelos no Rio por puro darwinismo.

É. Quis contribuir porque sei onde aperta o calo da brancura.

Fabio Piva
http://paciencianegativa.blogspot.com/

Pedro Rocha disse...

Realmente. Tenho de concordar, apesar da minha aparente vantagem: a "criolice". Melaninas a parte, o calor daqui é sobrenatural e eu não me dou muito bem com essa parte.

Um beijo carioca!