sábado, janeiro 24, 2015

_ dança das lembranças


.
o medo era tão grande quanto  o desejo. 
eu me lembro.
era um querer diário pelas escadas e corredores, 
um inspirar profundo do teu perfume, 
das tuas palavras, 
da dança dos teus passos.

era, sim, uma dança perfeita: meus olhos dançando nos trejeitos do teu falar.
um pas des deux secreto, que eu coreografava sorrindo, sem saberes.

e o medo que me flagrassem neste delito de te desejar.

hoje vens, disfarçado de poeta e me fazes descobrir que ainda quero tanto
e temo tanto
ou ainda mais.

é nas tuas palavras que me afogo. 
elas parecem mais fortes agora do que quando me assombravam. 
agora elas rabiscam o papel, carregadas do que não existia: 
um carinho antigo, uma vontade histórica, um beijo fossil – escondido entre as sombras do tempo.
eu me deleito no que teria sido, no que poderia ser,  no que seria 

se fosse…

meu balet secreto é agora uma orquestra inteira de notas complexas, tocando frenética para um milhão de bailarinos, que desenham com piruetas sem fim, uma tapeçaria de tramas mágicas.
é o tear do tempo. 
a música do sempre. 
a dança das lembranças.


*texto antigo para um poeta antigo

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